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Ensaios-->Voltando à Cantiga de Amigo -- 17/11/2010 - 13:02 (Júlio Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pois nossas madres van a San Simon
de Val de Prados candeas queimar,
nós, as meninhas, punhemos de andar
con nossas madres, e elas enton
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos todos lá irán
por nos veer, e andaremos nós
bailando ante eles, fremosas en cós,
e nossas madres, pois que alá van,
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos irán por cousir
como bailamos, e podem veer
bailar moças de bon parecer,
e nossas madres pois lá queren ir,
queimen candeas por nós e por si
e nós, meninhas, bailaremos i.
Pero de Viviãez, CV 336, CBN 698
( http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/trovador.htm )

Intrigante e curioso, hoje, para nós, leitores do século vinte e um, o texto deste poema galaico-português, pois estamos dele culturalmente separados por uns bons oito séculos. Intrigante, antes de qualquer coisa, porque escrito por um homem que ficciona uma voz feminina e o seu possível psiquismo. Curioso porque desejamos entender, apesar da singeleza do texto, os mistérios que carrega.
Duas categorias femininas estão em cena: as madres e as meninhas, ou seja, velhas e moças. Para as senhoras só resta “queimar candeas” e às meninas vale dançar. Enquanto umas “queimam” o fim da vida, as outras “queimam” a sexualidade. Os amigos lá estarão para observar com prazer (cousir) como as meninas requebram. As meninas têm certeza do sucesso do jogo da atração, pois seus corpos são atraentes (bom parecer).
Estamos diante de um pequeno hino à sexualidade com referências a uma prática ritualística estranha (para nós, os leitores), pois ocorre em um espaço religioso (San Simon de Val de Prados). Possivelmente esta cantiga seja herdeira de hinos populares que, em tempos ainda mais remotos, celebravam o acasalamento ou à fertilidade.
Entre as muitas teses que procuram explicar este cancioneiro, há aquela que lhes atribui uma origem em remoto cancioneiro folclórico que cantava a união mulher X homem e suas consequências. Mas, fica a pergunta, porque o Eu - lírico é sempre uma mulher? A pergunta já estava antecipada pelo “intrigante” que iniciou este trabalho. Vamos especular...
Às mulheres cabiam várias obrigações, como, por exemplo, lavar a roupa, colher a água etc. as mulheres animavam suas tarefas entoando canções em que se lamentavam de tantas obrigações, diziam de suas esperanças e, entre elas, louvavam o prazer de um namoro e ao próprio prazer louvavam. Algumas deveriam ser entoadas em rituais religiosos, em lugares sacramentalmente marcados para tais finalidades e, possivelmente, sinalizados por animais totêmicos como o cervo (um simbolismo herdado da cultura dos Celtas). Não custa lembrar as Cantigas de Amigo de Pero Meogo em que os cervos “turvavam” as águas.
As Cantigas de Amigo, neste Cancioneiro, são as únicas a apresentar uma estrutura poética singela e marcada por um “refrão”. Esta Poética é típica da canção popular. O que lamentamos é não termos mais como reconstituir sua melodia, pois isto poderia acrescentar outros dados para as nossas especulações e, no caso desta, uma “Cantiga de Baile” conhecermos a sua “música” seria muito interessante.
O Cancioneiro Galaico-Português nos seus oitocentos anos continua a apresentar condições para merecer nossa atenção.
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