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Ensaios-->EUA: A guerra privatizada -- 26/10/2010 - 12:44 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JB Online - 26/10/2010

Indústria Militar

A Guerra Privatizada

Empresas tomam o lugar do Exército num mercado que movimenta US$ 100 bilhões por ano

A enxurrada de documentos secretos do governo americano divulgada na sexta-feira passada mostrou o crescimento de uma tendência perigosa nos novos conflitos globais: o uso de forças mercenárias no campo de batalha.

Segundo os arquivos vazados pelo site Wikileaks, a Guerra do Iraque contou com cerca de 100 mil “contratados”, termo usado para designar os funcionários de uma guerra terceirizada. O contingente mercenário só perdia para os americanos e era superior em número aos soldados dos outros países da coalizão. Na Guerra do Golfo, em 1990, esse número não chegava a 10 mil.

A indústria da guerra privatizada está entre os negócios mais lucrativos do mundo. Hoje, estima-se que as multinacionais voltadas para campos de batalha movimentem cerca de US$ 100 bilhões por ano.



Fim da Guerra Fria impulsionou indústria de exércitos privados

O mercado de serviços militares tem poucos números oficiais. O Sipri, instituto internacional que estuda zonas de guerra, elabora anualmente um relatório com as 100 maiores empresas do setor militar que também inclui centros de pesquisa e indústrias. Em 1996, dez empresas mercenárias estavam na lista. No ano passado, esse número subiu para 18.

Terceirizar a guerra pode ser um excelente negócio, mas levanta uma série de questões sobre a conduta dos exércitos contratados para atuar em zonas conflagradas.

Grande parte dos incidentes divulgados pelo Wikileaks envolve multinacionais militares ou milícias iraquianas em atos de violência não investigados. Em vários documentos disponíveis no site, a constatação de “investigação desnecessária” encerra a maior parte das denúncias de abuso. Em outras, o fato de envolver mercenários desqualifica uma apuração mais detalhada.

– O grande problema de empregar essas forças mercenárias é que elas não são regidas pelas leis de guerra internacional – argumenta o especialista em guerra e política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Alair Figueiredo. – Isso tira a responsabilidade dos países que contratam PMCs. Se elas cometem crimes, o contratante pode simplesmente dizer que demitiu o mercenário para não ser responsabilizado.

O grande exemplo disso na Guerra do Iraque foi quando agentes da empresa Blackwater, uma das mais famosas do ramo, abriram fogo contra uma multidão, mataram 17 e não receberam qualquer punição.

O crescimento acelerado do uso de forças mercenárias também obriga o contratante a saber lidar com o risco de não se submeter a uma dessas empresas. Alair observou ainda que esse aumento pode ser uma tendência fruto da Guerra Fria.

– O aumento exagerado no emprego de mercenários aconteceu várias vezes ao longo da história da humanidade, sempre após o fim de uma guerra ou de um período de alto investimento militar. A Guerra Fria gerou mão de obra e tecnologia militar muito qualificadas e que não encontram mais mercado nos seus países – avalia Alair Figueiredo. – Não dá para saber se as empresas de guerra serão o futuro dos combates, tudo vai depender de como elas se estabelecerem agora.



Especialistas veem potencial humanitário nas forças mercenárias

As questões éticas envolvendo o uso de companhias militares privadas ofuscam o lado positivo da atividade. Segundo um estudo divulgado pela instituição International Peacekeeping, que faz pesquisas sobre tropas em missões de paz, a Organização das Nações Unidas (ONU) terá que repensar seu conceito sobre o assunto.

Hoje, a Convenção Mercenária da ONU (também conhecida como Resolução 44/34) considera ilegal o uso de qualquer atividade mercenária. Os Estados Unidos e a Inglaterra não são signatários do tratado.

– O contraste da eficiência das companhias militares fica mais em evidência quando comparado com os custos das operações de paz da ONU – relata o estudo de Adekeye Adebajo e Chandra Lekha Sriram. – Em Serra Leoa, uma empresa militar gastou US$ 40 milhões para derrotar os rebeldes da região. Já as missões da ONU na região gastaram US$ 90 milhões tentando mediar o conflito, e a previsão é a de que esse valor aumente.

A eficiência de algumas dessas empresas também surpreende seus próprios contratantes. De acordo com a International Peacekeeping, o que impede a comunidade global de aceitar o uso de exércitos privados é o risco potencial que eles representam.

– Esse preconceito só deve acabar quando as operações de paz da ONU em Serra Leoa e no Congo comprovarem como o modelo atual está muito atrasado em relação aos exércitos privados, bem mais eficientes – conclui o estudo.





Caos Terceirizado

Com pouco treinamento e supervisão frouxa, soldados contratados também foram responsáveis por abusos no Iraque, segundo vazamento de documentos

James Glanz e Andrew W. Leheren THE NEW YORK TIMES



Os primeiros tiros passaram por policiais iraquianos em um posto de observação, que saíram em três carros do esquadrão, com as sirenes ligadas.

Era o início da Guerra do Iraque, em 22 de dezembro de 2004. Depois, descobriu-se que os tiros não vieram de rebeldes ou criminosos. Os policiais foram atacados por funcionários da empresa americana de segurança Custer Battles, de acordo com relatório em um arquivo de mais de 300 mil documentos militares secretos divulgados pela organização WikiLeaks.



Novo (e falho) sistema também foi adotado contra os afegãos

O comboio da empresa partia para o sul em Umm Qasr, cidade portuária perto do Golfo Pérsico. Os homens do comboio atiraram no pneu de um carro civil que se aproximava. Deram cinco tiros em um miniônibus lotado. O tiroteio só parou depois que a polícia iraquiana, a segurança do porto e uma unidade militar britânica finalmente alcançaram o comboio.

Apesar do número de balas voando, ninguém se feriu, e os seguranças encontraram uma forma rápida de evitar tumulto. Jogaram dinheiro para os civis iraquianos e foram embora.

Os documentos esboçam, com riqueza de detalhes, uma mudança essencial na forma como os EUA travam a guerra: o caos nas operações dos primeiros dias da Guerra no Iraque anteciparam a era do segurança particular, sem uniforme, mas lutando e morrendo na batalha, reunindo e disseminando inteligência, e ainda matando supostos rebeldes.

O problema não se deu só no Iraque. Também em conflitos de americanos no Afeganistão houve muitos abusos, incluindo mortes de civis, a ponto de o governo afegão trabalhar para proibir completamente os seguranças de fo ra .



Soldados insuficientes

O uso de seguranças contratados deve crescer à medida que as Forças Armadas dos EUA encolhem. Um relatório da Comissão sobre Contratação em Tempos de Guerra, do Congresso americano, calcula que o Departamento de Estado vá precisar de mais do que o dobro do número de seguranças contratados atualmente para proteger a embaixada e os consulados americanos no Iraque.

Seguranças eram necessários no início da Guerra no Iraque porque não havia soldados suficientes. Em 2004, sua presença se tornou o símbolo do caos – como quando quatro seguranças foram mortos em Falluja.

Mesmo agora – com muitos contratados desacreditados por tiroteios injustificados e falta de responsabilidade descrita nos documentos –, os militares não podem viver sem eles. Há mais seguranças do que integrantes atuais do Exército servindo no Afeganistão.

O arquivo descreve episódios que mostram falhas do novo sistema. Como, por exemplo, o fracasso de coordenação entre os seguranças, as forças de coalizão e as tropas iraquianas, e o fracasso no cumprimento de regras de comprometimento que unem os militares – o que pôs em risco civis e os próprios seguranças. Os militares eram muito hostis aos seguranças, por estes serem amadores, receberem salários altos e gostarem de dar o primeiro tiro.



Ineficientes, seguranças acabam atrapalhando mais do que ajudando

Seguranças, em geral, atiram sem muito critério – e com poucas consequências – em civis desarmados, em forças de segurança iraquianas, em tropas americanas e até em outros seguranças, espalhando medo e minando grande parte dos objetivos das forças de coalizão.

A desordem incluiu um episódio, relatado em março de 2005, quando houve uma batalha envolvendo três empresas de seguranças. Em um posto de observação perigoso na estrada principal para o aeroporto de Bagdá, um caminhão de cimento invadiu uma pista reservada para os veículos do Departamento de Defesa. Um guarda da Global, empresa britânica, deu um tiro de aviso, e quando um homem, inicialmente identificado como iraquiano, abriu a porta para escapar, guardas da torre atiraram nele também. Depois, os integrantes de uma equipe de segurança iraquiana privada, estacionados próximo do local, também abriram fogo, atirando no peito de um funcionário da DynCorp International, firma de segurança americana. Quando o motorista do caminhão foi finalmente questionado, descobriu-se que era um filipino chamado José que trabalhava em uma terceira empresa, KBR, gigante de segurança e logística dos EUA.

A conclusão tirada desse caos, para o autor do relatório: “Acredita-se que o motorista tenha invadido a pista do Departamento de Defesa por acaso”.



Inabilidade presente

Devido ao desafio enfrentado por todos os seguranças – o Iraque estava repleto de homens fortes, com barbas e jaquetas de artilharia – e a todos os debates em torno da necessidade deles, está claro, segundo os documentos, que os seguranças são visivelmente ineficientes na proteção deles próprios e das pessoas que devem proteger.

Na verdade, os documentos confirmam uma observação comum durante todos esses anos: longe de fornecer segurança contra morte súbita, as picapes e os utilitários esportivos, facilmente identificáveis e vulneráveis, dirigidos pelos funcionários das empresas de segurança, são ímãs de rebeldes, milícias, iraquianos descontentes e qualquer um que busque um alvo.

A maioria dos documentos é composta por relatórios e corresponde ao que se sabe dos poucos casos que vieram a público, embora não seja um registro completo dos incidentes envolvendo seguranças. Durante os seis anos cobertos pela papelada, pelo menos 175 seguranças contratados foram mortos. O auge ocorreu em 2006, quando 53 morreram. Rebeldes e outros malfeitores sequestraram, pelo menos, 70 seguranças, muitos dos quais foram mortos depois.

A Aegis, firma de segurança britânica, teve a maioria dos funcionários mortos, mais de 30. A maioria deles era composta por motoristas, guardas e outros funcionários iraquianos. Não somente os militares mas também jornalistas e prestadores de ajuda humanitária confiaram em seguranças para ajudar a protegê-los.

Em julho de 2007, segundo outro relatório, dois foram mortos quando um caminhão de armas, operado pela empresa britânica ArmorGroup, voou 50 metros pelo ar, girando aproximadamente seis vezes, depois de uma enorme bomba improvisada explodir debaixo dele no norte do Iraque.


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