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Contos-->A ESCOLHIDA -- 27/12/2002 - 22:25 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ESCOLHIDA (conto)

Paccelli M. Zahler








Menção Honrosa – Concurso Literário JK, Brasília,2002










DEDICATÓRIA

Dedicado a C., musa inspiradora e protagonista desta história.









PREFÁCIO
Von Steisloff ¹


Aqueles que se aventuram para colocar em letra-de-forma os textos imaginados nos momentos de inspiração literária, almejam ocupar um dia o pódio de escritor. Até mesmo este prefaciador tem experimentado as tentações para alcançar, pelo menos, uma modesta posição na seleta equipe olímpica de conquista do degrau dos mais lidos. Quão ingrata, e difícil, tem sido a luta em todas frentes dos jovens escritores emergentes: no mundo conturbado não lhes sobra mais o tempo para dar asas ao pensamento criador. Por outro lado, quando as idéias vicejam e as tintas da imaginação dão forma às suas obras, escasseiam os meios e as facilidades de caminhos para o prêmio da visão editada em letra-de-forma.
Venho acompanhando a maratona discreta do estimado confrade Paccelli em direção ao topo. Admiro-lhe a capacidade de transmudar-se de homem das ciências exatas, e frias, para a área dos escritos filosóficos e das emoções. Sei também que essas habilidades do Paccelli são raríssimas. Sinto, por experiência pessoal, que esta qualidade transformista pode, às vezes, ser até incompreendida: “Como pode – devem estar perguntando alguns – O austero engenheiro agrônomo, Mestre em Ecologia e Especialista de Defesa Sanitária Vegetal, escrever essas ”coisas”!?” Vejam, por exemplo, da sua lavra as excelentes “coisas” como Imperata, Amaryllis, Typha, Ceres, Cycas e, de quebra, uma do árido campo técnico-científico como Defesa Sanitária Vegetal!
Têm razão os que se assustam com a versatilidade do escritor que surge. Vejam o primor literário do clima de verdadeiro suspense adotado no “A ESCOLHIDA”. Ab initio Paccelli adentra, inteligentemente, nas narrativas históricas dos alvores de Brasília. Sugere até mesmo que, lá nas distantes Memoriæ Biograficæ referentes ao santo de Turim, pode ter sido omitido o registro especial do personagem central do presente conto. Dando asas à sua arte criadora, Paccelli procede tal como um experimentado teatrólogo: “Pano rápido!” Brasília foi inaugurada! E, de repente passa à incrível narrativa principal. Ficamos a interrogar: serão reais os contatos imediatos de primeiro grau entre o personagem central, a esquecida massagista Marta dos sonhos-visões de Dom Bosco e os extraterrenos (ou do mundo espiritual) os “alemães”, doutor Hans e sua assistente Frida?
Só o escritor Paccelli poderá nos explicar o fascinante enigma do Planalto Central ou mesmo a senhora Marta, do Cruzeiro Velho em Brasília, Distrito Federal, caso ela exista!
Leia e delicie-se com mais esse conto que o escritor dispõe agora virtualmente para os que têm acesso aos modernos recursos da eletrônica.




¹ Von Steisloff é autor de diversos romances, contos e crônicas e tem também a mesma formação profissional básica do engenheiro agrônomo Paccelli M. Zahler, residindo em Brasília desde 1967.



A ESCOLHIDA

Paccelli M. Zahler

Turim, Itália, 1883.

Em uma noite de agosto de 1883, Dom Bosco estava muito apreensivo. Sentia-se cansado. O trabalho com a educação da juventude marginalizada de um dos piores bairros de Turim vinha sendo bem sucedido. Naquela noite, porém, sentia-se inquieto, agoniado, cansado.
Após um banho reconfortante, jantou, fez as suas orações noturnas e foi dormir.
Em pouco tempo mergulhou em um sono profundo. E mais uma vez, seu espírito desprendeu-se do corpo, flutuou no espaço e viajou pelo mundo.
Teve a impressão de ter cruzado um grande oceano, adentrado em um país continente e vislumbrado uma terra situada ente os paralelos 15° e 20° Sul, às margens de um lago.
Essa terra seria o centro de uma grande civilização do Futuro, concentraria e emitiria uma grande quantidade de energia e seria visitada por seres celestiais.
Uma nova comunidade, uma nova visão seria criada nessa terra e haveria Paz, curas para todas as doenças, comunicações avançadas e...
Com um grito, Dom Bosco acordou sobressaltado, suando muito. Não podia acreditar que este tinha sido mais um dos seus sonhos proféticos.
Desde pequeno ele sonhava com fatos e acontecimentos que no decorrer da sua vida acabavam se tornando realidade. Ele não conseguia uma explicação plausível para isso.
Como havia se tornado um sacerdote, atribuía esses fenômenos a um dom divino, a uma missão que deveria cumprir na Terra.
Sentiu-se feliz ao vislumbrar uma terra de paz e harmonia que seria uma guinada em toda a humanidade, todavia, recusava-se a acreditar que sua visão final viesse a se concretizar.
“Que Deus não permita!”, repetia para si mesmo várias vezes. “Pobre criatura, que Deus a proteja!”







A INAUGURAÇÃO DE BRASÍLIA, 21 de abril de 1960.

Mesmo antes da Independência do Brasil, havia preocupação com a segurança nacional, tendo sido sugerida a transferência da Capital para o interior de modo a evitar o acesso de invasores estrangeiros.
Após a Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva apresentou à Assembléia Constituinte uma proposta de transferência da Capital, Rio de Janeiro, para o interior do país com o objetivo de incentivar o desenvolvimento de áreas pouco povoadas. Esta foi incorporada à Constituição em 1891 que, em seu Artigo 3°, determinava a demarcação de uma área de 14 mil quilômetros quadrados no Planalto Central para onde seria transferida a futura capital do Brasil.
No ano seguinte, uma expedição chefiada pelo astrônomo Luís Cruls, chamada Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, composta por geólogos, médicos, botânicos, engenheiros, entre outros profissionais, percorreu mais de 4 mil quilômetros quadrados catalogando a fauna, a flora, a topografia, o solo, o clima e outros dados relevantes.
O relatório da expedição, conhecida como Missão Cruls, foi entregue em 1894 com a demarcação de um quadrilátero no paralelo 15° Sul, batizado de Quadrilátero Cruls, correspondente à área onde se encontra hoje o Distrito Federal.
Em 1948, o presidente Eurico Gaspar Dutra, preocupado em dar cumprimento ao preceito constitucional de transferência da Capital do País, instituiu a Comissão Poli Coelho para a realização de novos estudos.
A Comissão Poli Coelho concluiu que a área demarcada pela Missão Cruls era a mais adequada para a instalação da nova Capital.
Em 1955, o presidente Café Filho determinou a delimitação de uma área de 50 mil quilômetros quadrados para a construção da Capital.
A partir de 1956, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira começou o processo de instalação da Nova Capital, que se tornou realidade em 21 de abril de 1960 com a inauguração de Brasília às margens do Lago Paranoá.
Dessa data em diante, começou um fluxo migratório de pessoas para o Planalto Central em busca de trabalho e de melhores condições de vida.
O sonho de Dom Bosco foi resgatado e, no ponto exato do paralelo 15° Sul foi construída uma Ermida em sua homenagem.
Uma parte de sua visão estava cumprida.




DÉCADAS DE 1960/70.

A chegada do homem à Lua em 21 de julho de 1969 promoveu um grande avanço nas comunicações por satélite.
Nessa época, estava em andamento a Guerra do Vietnã (1959-1975). A população mundial ficou impressionada com as imagens do conflito trazidas pelos repórteres de televisão.
Os jovens, principalmente estudantes, começaram a se revoltar contra o sistema. A violência e a repressão tomaram conta das ruas.
Jovens norte-americanos recusavam-se a lutar na Guerra do Vietnã e, juntamente com os demais civis, promoviam manifestações de rua contra a participação de seu país no conflito.
Os estudantes franceses criticavam a incapacidade do sistema universitário para introduzir no mercado de trabalho um número cada vez maior de estudantes formados, culminando com uma manifestação pública em 13 de maio de 1968, juntamente com nove milhões de trabalhadores.
O movimento repercutiu em várias cidades de todo o mundo. Entre as várias manifestações ocorridas no Brasil, destaca-se a Passeata dos Cem Mil, que reuniu estudantes, intelectuais, trabalhadores e artistas em contestação ao governo instalado a partir do Movimento Militar de 1964.
Nesse período, ganhou força o Movimento da Contracultura que acompanhou a reinterpretação política das teorias de Freud, promovida por filósofos como Herbert Marcuse, Wilhelm Reich e Norman O. Brown; valorizou o visionarismo místico e os estados alterados de consciência, como descritos nas obras de Carlos Castañeda e Theodore Roszak; e deu origem ao Movimento Hippie.
Em um ambiente de contestação política, da busca de novas alternativas e de novas experiências psicodélicas, de busca de respostas para os problemas humanos através de estados alterados de consciência, foram idealizadas sociedades alternativas, onde todos poderiam viver em paz, amor e compartilhar bens comuns. Grupos alternativos se deslocaram para o Planalto Central, principalmente para Alto Paraíso de Goiás e arredores do Distrito Federal em busca de experiências místicas.
Com a notícia de que satélites norte-americanos haviam detectado pontos de emissão de energia no Distrito Federal como a Ermida Dom Bosco e os Evangelistas localizados em frente à Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, surgiu a hipótese de que a região está assentada
sobre um grande cristal que, por sua vez, emite uma grande quantidade de energia, tendo como ponto de maior concentração o município de Alto Paraíso de Goiás.
Isto foi o suficiente para que videntes, ufólogos, espiritualistas das mais diversas tendências, umbandistas, católicos, evangélicos, “hare krishnas”, budistas, bahai’s, enfim praticamente todas as tendências religiosas e filosóficas acorressem ao Planalto Central e convivessem em harmonia, trabalhando na construção de uma civilização avançada, conforme antevisto por Dom Bosco.


PIRACANJUBA, GOIÁS, 1963.
Com a notícia da inauguração de Brasília e de abertura de novos postos de trabalho, Marta, que sonhava em estudar, arranjar um bom emprego, casar e ter filhos, despediu-se de seus pais e com a cara e a coragem tomou um ônibus para a Nova Capital do País.


BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, 1963.
Chegando em Brasília, como todo migrante, Marta teve algumas dificuldades de adaptação. Sentia muitas saudades de casa. De vez em quando vinha aquela vontade de comer arroz com pequi, comida típica da sua região e o desejo de voltar aumentava ainda mais.
Com esforço próprio, conseguiu um emprego de massagista no Hotel Nacional. Fez alguns cursos profissionalizantes, o salário foi melhorando, formou clientela, o que lhe permitiu trazer a família (pai, mãe e irmãs) para Brasília.
Sua vida transcorria tranqüila. Alimentava o sonho de ter uma clínica própria, ser dona do seu próprio negócio sem ter que depender de patrão.
Sua especialidade era a massagem terapêutica. Quantos doutores e oficiais militares tensos pela vida agitada dos corredores palacianos, ainda mais depois do Movimento Militar de 1964 em que havia uma verdadeira neurose com um possível ataque de subversivos e com o combate ao socialismo, haviam passado pelas suas mãos, sem falar nos hóspedes estrangeiros?



O ENCONTRO.
Certo dia, foi procurada por um casal de “alemães” que se diziam chamar Dr. Hans e Dra. Frida. Ambos submeteram-se a sessões de massagem com Marta, gostaram muito do seu trabalho e a convidaram para um curso de aperfeiçoamento.
Ela respondeu que gostaria muito de se aperfeiçoar na profissão, afinal queria montar uma clínica própria, contudo, não tinha dinheiro suficiente para bancar um curso de massagem, principalmente com professores estrangeiros pois deveria ser muito caro.
Eles lhe disseram que não. Como haviam gostado muito dela, não lhe cobrariam nada, inclusive lhe pegariam em casa no próprio carro.
Marta ficou dividida. Estariam eles falando sério? Seria alguma brincadeira? Não houve como recusar.
O CURSO.
Por três meses, ela freqüentou o curso de massagem terapêutica em uma das casas do Cruzeiro Velho, uma das cidades satélites de Brasília.
Eles a pegavam em casa às 7 horas da manhã em ponto. Ela aguardava o carro chegar junto com o filho mais velho que, na época, tinha seis anos de idade, despedia-se dele, entrava no carro e era levada para uma casa no Cruzeiro Velho.
Chamava-lhe a atenção o fato de não observar carros durante o trajeto. Normalmente, o movimento de carros que vinham de Taguatinga, outra cidade satélite de Brasília, era muito grande nesse horário. Mas, para quê preocupar-se com isso? Já estava freqüentando as aulas que eram as que ela mais queria.
Os professores eram bastante exigentes. Ensinaram-lhe lições de anatomia humana, os pontos de “do in” e acupuntura, massagem “shiatsu”, e a ver e sentir os pontos de fluxo e bloqueio de energia do corpo humano.
Nos intervalos, era-lhe servida uma comida semelhante ao que ela costumava comer. Uma comida simples, porém um pouco insossa.
Os olhos da Doutora Frida chamavam-lhe a atenção. Eram de um azul diferente. Por vezes era surpreendida admirando-os no exato momento em que o Dr. Hans pedia-lhe para prestar mais atenção ao que estava fazendo. Ele era muito rígido quanto à disciplina.
Terminado o curso, ela esperou pelo diploma, entretanto, os doutores lhe disseram que um diploma não seria necessário, pois ela já estava pronta para cumprir a sua missão.
- Missão? Que missão? , perguntou.
- Você saberá no devido tempo! , respondeu o Dr. Hans.
- Puxa vida, sacrifiquei minhas manhãs, minhas tardes por três meses para ter um diploma e montar minha própria clínica de massagens e vocês ainda me falam de missão? , argumentou frustrada.
- É o preço do curso! , disse-lhe o Dr. Hans. “Mas não se preocupe, você terá a sua clínica”, completou.
Frustrada, ela voltou para casa. Queria chorar, gritar e não conseguia. Como havia sido tola! Ninguém dá nada de graça! Que missão seria essa? Alguma contravenção?
Era muito grata aos doutores Hans e Frida, pois havia aprendido muita coisa nova, seu trabalho estava melhor e era muito elogiado.
OS FENÔMENOS.
Passado algum tempo, começou a ver coisas que ninguém via, a pressentir acontecimentos, a mover objetos só com o olhar. Parecia que seu corpo ficara mais energizado e isso lhe causou um certo temor.
Procurava controlar-se ao máximo, todavia as coisas começaram a escapar do seu controle e a causar medo nas pessoas que a cercavam, inclusive em sua própria família. Bastava olhar um copo e ele se quebrava; observava uma lâmpada e ela queimava; olhava o motor de um carro e ele pegava fogo.
Sua família não teve dúvidas – ou estava louca ou possuída pelo Cão (não ousavam pronunciar o nome do Coisa Ruim).
Seguiu-se um período de romarias por igrejas católicas, evangélicas, centros espíritas, terreiros de umbanda, médicos, psiquiatras e toda sorte de charlatão.
Um dia, cansada de tanto buscar respostas, conheceu uma vidente que logo se tornaria sua amiga. Era Carla.
Carla teve a paciência de ouvi-la e rememorar passo a passo todos os acontecimentos, dando-lhe uma explicação lógica para cada fato. Baseada em suas experiências como vidente, concluiu que ela havia entrado em contato com um casal de extraterrenos em missão no planeta Terra.
- Isto é um absurdo! Eu não acredito!, disse Marta.
- Então levante os fatos e verá que tenho razão!, disse-lhe Carla. – Eu também tive um contato semelhante e minha missão é orientar as pessoas. A sua poderá ser curar uma vez que eles lhe deram um curso de massagem terapêutica, completou.
Aceitando a sugestão de Carla, Marta conversou com seus familiares sutilmente para não alarmá-los. Perguntou-lhes se a viam sair todas as manhãs. Responderam-lhe que sim, só que, depois que ela passava da porta, não a viam descer as escadas para tomar o carro que a levava para o local do curso.
Intrigada, resolveu ir pessoalmente até a casa onde o curso havia sido ministrado.
- Boa tarde, o Dr. Hans ou a Doutora Frida está?, perguntou.
- Como? , perguntou uma senhora gordinha e baixinha que havia aberto a porta.
- O Dr. Hans está? , voltou a perguntar.
- Desculpe-me, mas acho que a senhora errou o endereço. Moro aqui há 15 anos e nunca ouvi falar dessas pessoas.
- Estranho, eu tenho certeza que foi aqui que eu vim no início do ano para fazer um curso de massagem terapêutica e...
- A senhora só pode estar louca!Doida varrida! Esta casa é minha, fui eu quem construiu com muito sacrifício e nunca saí daqui. Tome seu rumo ou vou chamar a polícia, esbravejou a dona da casa.
Envergonhada, Marta teve o cuidado de passar na casa ao lado para saber notícia do casal de “alemães”, mas a senhora que atendeu disse-lhe que nunca tinha visto ou ouvido falar neles, pois a única moradora da casa era dona Creusa, a senhora baixinha e gordinha que conversara com ela.
Marta sentiu-se como se tivesse um nó górdio no cérebro.

A BUSCA DE UMA EXPLICAÇÃO.
- O que aconteceu? , perguntou à Carla.
- Muito simples, quando você saía de casa, você passava para outra dimensão! , respondeu-lhe Carla.
- Você está brincando! Está querendo me deixar com medo!
- Não, absolutamente! , tranqüilizou-a Carla. – As pessoas não a viam descer a escada e tomar o carro, não é mesmo?
- É!
- Então, a paisagem era a mesma, o local era o mesmo, mas o tempo era outro. É difícil dizer se era passado ou futuro, podia até ser o intervalo entre um segundo e outro, só que para você tudo transcorria normalmente - disse-lhe Carla.
- Ah, então por isso eu saía de carro na hora de maior movimento e as ruas estavam desertas? – perguntou Marta.
- Exatamente! – respondeu Carla. – E você deve ter percebido o quanto eles eram rígidos na disciplina, o quanto você tinha que prestar atenção nas tarefas e trabalhar duro, não é mesmo?
Marta sinalizou com a cabeça que sim e acrescentou:
- Teve um dia que eu puxei conversa com a Dra. Frida, mas o Dr. Hans me disse para prestar mais atenção ao que estava fazendo. Como sou do interior, nunca tinha visto uma pessoa com a pele tão lisa, mais parecendo uma boneca de louça como a Dra. Frida. Seus cabelos eram dourados e brilhantes, mais pareciam fios de ouro; e seus olhos, então, eram de um azul tão bonito. Eu queria olhar nos seus olhos mas o Dr. Hans sempre interferia e pedia para concentrar-me no que estava fazendo. Eu ficava um pouco chateada, contudo o jeito era obedecer, afinal eu estava ali para aprender e era uma oportunidade única.
- Pois enquanto você trabalhava, na certa eles a examinavam e verificavam se você tinha o perfil adequado para a missão que eles pretendiam que você cumprisse – completou Carla.
- Que missão será essa que eu não descubro? – voltou a perguntar Marta.
- Talvez ajudar as pessoas. Segundo pesquisas que realizei e contato que mantive com ufólogos e com pessoas que também tiveram contatos imediatos de terceiro grau, entre os extraterrestres existe todo o tipo de pessoas, da mesma forma que entre os humanos. Alguns são evoluídos, visitam a Terra, vindos de uma imensidão do espaço ou de outras dimensões, do Futuro, quem sabe, mantêm contatos, estudam as pessoas, as respeitam e trazem idéias para a melhoria da humanidade. Dizem que os grandes mestres e cientistas foram orientados por seres mais evoluídos embora eles não tenham consciência disso. Outros extraterrenos são verdadeiros animais, talvez piratas, que vêm para seqüestrar (a palavra da moda é abduzir), violentar, matar, traumatizar e mutilar as pessoas e animais. Aliás, você já deve ter ouvido muitas histórias a respeito por meio de jornais e revistas especializadas em Ufologia. Acredito que você tenha mantido contato com pessoas boas. Como você tanto quis aperfeiçoar-se em massagens terapêuticas, eles devem ter sentido pureza e honestidade em seus propósitos e decidiram ajudá-la. Pense: Por que você e não outra pessoa?
- Realmente, por que eu? Poderia ter sido a Teresa, a Inês, a Telza, o Ivan ou o Seu Rui, que também trabalhavam comigo no Hotel Nacional. O que me intriga é a tal de missão. As pessoas não são livres para decidir a respeito de suas vidas?
- Algumas são e outras pensam que são! Todos temos uma missão a cumprir. Todos os místicos e esotéricos acreditam que nenhum encontro entre pessoas se dá por acaso porque sempre as pessoas aprendem umas com as outras e com elas cumprem missões cármicas. Quando essas missões terminam, está na hora de partir para outra dimensão. É nesse momento que nosso corpo retorna ao pó e nosso espírito vai em direção à luz. Sua missão talvez seja ajudar as pessoas através de massagens terapêuticas. Por que você não tenta abrir a tão sonhada clínica? Meus guias dizem que este é o momento certo.
Desse dia em diante, Marta começou a trabalhar duro para realizar o sonho de ter uma clínica de massagens terapêuticas. Paralelamente, passou a dedicar um dia por semana para a realização de um trabalho espiritual, sem fins lucrativos, resolvendo casos que psicólogos e psiquiatras não conseguiam resolver.
Graças às qualidades adquiridas no contato com o casal de “alemães”, podia, ao tocar nas pessoas, ter um retrospecto do sofrimento das mesmas, dos pontos de tensão e de energia do corpo e, intuitivamente, saber qual o tratamento mais adequado.
Depois de ter aberto sua clínica, os fenômenos que a incomodavam e assustavam as pessoas praticamente desapareceram. Porém, algo interessante aconteceu – as pessoas que precisavam ser ajudadas eram para ela atraídas como se houvesse algo espiritual a ser resgatado.

O SEGUNDO ENCONTRO.
Estando já estabelecida em sua clínica, os filhos crescidos e enfrentando alguns problemas familiares, Marta sentiu-se cansada e pensou em largar tudo. Depois de trinta anos de trabalho, já estava na hora de parar.
Esgotada, deitou-se na maca e pareceu cochilar. Sentiu abrirem a porta, perguntou quem era, e ouviu a voz de sua vizinha médica que havia combinado em passar na sua clínica para pegar um objeto. Permitiu que ela entrasse, ouviu a porta fechar.
Quando entreabriu os olhos, viu a sua volta o Dr. Hans e a Dra. Frida. Assustou-se.
- Frida, ela está querendo desistir de sua missão!
- Não é possível, Dr. Hans, é claro que ela não vai desistir! Se ela desistir, ela sabe o que vai acontecer, não é Marta?
- Ah, ah, eu não vou desistir, eu não vou desistir!
- Bem, se desistir nós voltaremos! – disse o Dr. Hans.
Voltou a si sobressaltada e bastante amedrontada. Bateram à porta e era sua vizinha médica.
- Patrícia, você esteve aqui agora há pouco e fez alguma brincadeira comigo? – perguntou.
- Não, Dona Marta, por que?
- Nada, nada! Deve ter sido um sonho ou pesadelo.
- Algo que eu possa fazer?
- Não, obrigada!
Seria este caso uma prova de que estamos limitados pelos nossos sentidos e de que existe algo além da nossa vida rotineira? Ou é a energia de Brasília que mexe com a vida e a sensibilidade das pessoas?
Com certeza, Dom Bosco anteviu o fato em seu sonho-visão sobre Brasília, relatado aos membros do Capítulo Geral da Congregação Salesiana na reunião de 4 de setembro de 1883.
O sonho visão foi transcrito pelo Padre Lemoyne e revisto por Dom Bosco, o qual fez algumas modificações de próprio punho.
Segundo pesquisadores, algumas descrições deixaram de constar da transcrição publicada no volume XVI da “Memória Biográfica” do Santo. E a história de Marta pode ter sido uma delas.



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