TENDÊNCIAS DA CRÍTICA LITERÁRIA EM PORTUGAL NOS FINS DO SÉCULO XIX
João Ferreira
No final do século XIX há preocupações da crítica literária portuguesa em mostrar a avaliação estrangeira sobre a literatura portuguesa e particularmente sobre a geração nova, preocupando-se com problemas, tendências e correntes da alma moderna e das formas de arte que a refletem. É o que mostra a revista “Arte” em dezembro de 1895, Tomo I, n. 2, pp. 51-54. Entre as tendências do tempo comenta-se o realismo e o objetivismo sueco através da colaboração de Göran Björkman (PP.60-64) e dá-se um Boletim Internacional com os movimentos literários de alguns países (França e Brasil), bibliografias (Grécia, Espanha, Inglaterra, Itália, Suíça, Turquia e Alemanha) e estudos sobre a moderna literatura suíça (Cf. Arte, Ib. 105).
A revista “Arte” reflete “os movimentos literários de seu tempo”, o movimento internacional e cosmopolita, portanto. Alfred Gold, na colaboração publicada em “Arte” sobre a Evolução da Nova Literatura Austríaca preocupa-se em destacar o novo, o moderno, o vivo, o próprio [nacional], as “aspirações de regeneração” da “nova literatura” e sua relação com a vida, a “cor especial”, a “nova geração”, a “larga evolução”, a geração do “moderno”, a “reforma literária, as “inovações”,a “Moderne Dicthtung” (Poesia Moderna). A propósito, cumpre lembrar que a reforma literária estava em pleno movimento na Alemanha por este tempo, conforme se pode ler em Arte, Vol. I, nº 8 (Coimbra, junho 1896, pág. 341). É um tempo em que se fala de “Moderne Rundschau” [Panorama Moderno], dos “novos” [“Nós, os novos”], da nova escola literária, do contemporâneo e do vivo.
Por sua vez, a “Revista de Estudos Livres”, de inspiração positivista, publicada em Lisboa nos anos de 1883-1884, sob a direção de Teófilo Braga e Teixeira Bastos, ao mesmo tempo que procura a aliança mental entre Brasil e Portugal, combate a inércia católico-monarquista e aposta no “progresso” e na “modernidade”, procurando realizar uma revista de divulgação das “descobertas e dos resultados científicos modernos”, dos “acontecimentos actuais”, para os “julgar e poder deduzir deles as condições de progresso”. Nessa mesma revista, Júlio Lourenço Pinto discute perante seus leitores portugueses as teorias de arte literária do tempo (realismo e naturalismo) desde Balzac até Camilo Castelo Branco, assim como o método a seguir na aplicação do realismo à arte (Ib. pp. 35 e segs; 78 e segs e 117-119). Reis Damaso fala sobre Júlio Diniz e o Naturalismo, concluindo ser Júlio Diniz o introdutor do Naturalismo em Portugal.
Porto 1993
Brasília 2010 |