A DOR ENSINA A GEMER
É como dormir uma noite inteira e ainda assim acordar cansada. Você quer levantar, quer andar, quer abrir a janela e ver a luz do sol, mas os olhos pesam, as pernas tremem, a cabeça gira. É uma mistura de frio e calor...
Você ouve vozes lhe dizendo que é preciso buscar forças em algum lugar, mas você não tem a força que é preciso para levantar da cama e buscar mais força, onde quer que ela esteja. E quando a voz vira um vulto que invade o seu quarto, segura a sua mão e começa a lhe falar sobre uma força interior, em silêncio você pensa: “Dentro de mim não há nada, além de confusão e angústia...”.
Todo o resto parece ser anulado, parece estar abafado... Não existe espaço para o amor próprio, nem para o amor próprio, e o sofrimento se transforma na força motora dos dias que se arrastam um após o outro, como uma fila indiana de maus presságios.
Você não quer dormir, mas manter os olhos abertos é tarefa cada vez mais difícil. Você não quer desistir, apenas não consegue continuar. E é aí que você começa a pensar em prédios altos, objetos pontiagudos, cordas e armas de fogo...
E nesse estágio, viver passa a ser qualquer coisa parecida com cortes que sangram por dias a fio... E de repente você se pega desejando que tudo fosse mais fácil, e rápido, inclusive dar um fim à própria vida. Mas nada é. Nunca é. E você finalmente percebe que até para chegar ao fim é preciso sentir dor.
Nicole Rodrigues
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