O CÉU DOS QUADRINHOS
Não devia ser nem seis da manhã... o céu estava meio cinza, meio dourado... carregado como uma ilustração de batalha espacial das revistas de quadrinhos dos anos 70. E depois de rastejar até a ponta do colchão me convenci a levantar, abrir o armário, pegar a máquina fotográfica e tirar pelo menos uma foto daquele céu dos quadrinhos que a vista da sala me permitia ver tão bem.
Acabei tirando meia dúzia e ao invés de voltar a dormir, sentei no chão da sacada … e ouvi o “tec-tec” começar...
“Até que ponto eu realmente me aproximaria de mim mesma? Mergulharia, assumiria, confessaria, fecharia os olhos para o bochicho, para o cochicho, para o julgamento alheio e seguiria em frente observando o rastro do meu próprio nariz ?
Até que ponto eu me permitiria sangrar para limpar as feridas infectadas por um silêncio que só cultivou mágoas?
Até que ponto eu suportaria a dor de não ser o que prevejo &
8722; ou seria desejo? &
8722; antes de me entorpecer com drogas, bebidas, remédios…; de me tornar hipocondríaca, maníaca depressiva, uma louca varrida, uma esquizofrênica sem eira, sem beira e sem saída?” .
Na ausência de uma resposta divina, oriunda do céu já carregado pelas seis horas da manhã, voltei pra cama parcialmente frustrada e dormi profundamente até as onze.
Nicole Rodrigues
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