Respeito a condição do meu leitor,
Que rouba do seu tempo para mim.
Não posso, pois, apenas descompor,
Querendo ver o lado mais ruim,
Mas devo consolar quem sente a dor
De perceber que as coisas têm um fim,
Mostrando que, no etéreo, existe vida
Tanto melhor p’ra quem cumpriu a lida.
Se esta palavra não causar conforto,
Dês que duvida o amigo da verdade:
— “Por que pensar na vida estando morto,
Se é outra, lá no etéreo, a realidade?”
Aí, irei sofrer com esse aborto,
Que a prova se dará sem que se agrade:
Um dia, o corpo irá p’ro cemitério
E a alma voltará, sem refrigério.
É bom ouvir a voz do outro mundo,
Embora se duvide dos conceitos.
Há sempre quem revide: — “Eu não confundo,
Entre os chamados, quais serão eleitos.
Ao se hesitar apenas um segundo,
Os mais-ou-menos não serão aceitos.
Assim, vou duvidar de qualquer verso
Que queira, na Doutrina, ver-me imerso!...”
Essa postura deve ser revista,
Pois o poeta sofre a cada rima,
Porque esta guerra é guerra de conquista,
Por não se ter razão, sem ter estima.
Não há de se estranhar que a gente insista
Na tese de que a morte reanima
O anseio de existir, em plena forma,
Segundo os bons padrões da eterna norma.
— “E quais são os exemplos que nos dão
Os que tartamudeiam nestes versos?”
São poucos, na verdade: a “devoção”
Pelos irmãos insanos e dispersos,
Que têm também o afeto mais loução
Dos que pairam no Além, em luz imersos,
Pois todos são de Deus filhos diletos,
Não havendo, entre todos, prediletos.
Mas devemos lembrar-nos de Jesus,
Que nos disse p’ra amar-nos mutuamente.
É certo que o pusemos numa cruz,
Mas esse não foi crime permanente.
“Perdão” é uma palavra que reduz
A nada a acusação que mais se sente.
A eternidade abre-se de todo:
Ninguém há de ficar preso no lodo.
Eis a fé, a esperança e a caridade
Resumidas em verso bem tacanho.
Tomara que o leitor dele se agrade,
Porque não lhe sei dar outro tamanho.
Só posso inocular nele saudade,
Pois na Terra vaguei, tempos de antanho,
Co’as mesmas dubiedades de caráter,
Sem ver, na lei do amor, “celula mater”.
Também senti a força da matéria,
A me arrastar nas sombras dos tais vícios,
Tanto curti a riqueza e a vil miséria,
Vindo a cair, depois, nos precipícios,
Pois a maldade aqui é coisa séria
E o bem exige duros sacrifícios.
É como os versos que se põem na linha:
O último me alegra.; o outro espinha.
Estou aqui agora, e sofro um pouco
(Reminiscências tristes que despertam),
Ao demonstrar que, um dia, já fui louco,
Pois os que querem tudo não acertam,
Necessitando ter ouvido mouco
Para as palavras boas que se ofertam:
Atendimento dou, em pobre rima,
Esp’rança de que amor o mal sublima.
Mas tenho bem sabida na cabeça
A melhor das lições que posso dar:
Espero que o leitor jamais esqueça
Que todos vão compor, neste lugar,
Um verso arrependido que ofereça
A clara idéia de que está num lar
Regido pelo Pai, eterno amor,
Cuidado pela turma ao seu dispor.
|