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Poesias-->O RECOLHER -- 03/03/2003 - 22:27 (João Ferreira) |
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O RECOLHER
Jan Muá
3 de março de 2003
Farei um recorte da massa perceptível para entenderes minha emoção
No ar estilizarei moléculas
Visitarei o patamar da onda acústica
Onde orquestrarei meu mundo em viva voz
Irei por aí para escutar
O alarido da palradora jandaia
E dos maracanãs em agitação
Na coroa da cajamanga
Figurarei um estúdio para me ouvires em plena campina ou selva
Disposto a reviver os caminhos de um cedê
Onde nascem e renascem sons
E imagens que se amplificam
Adorei concentrar-me na lagoa
Serena sem ondulação
E nos juncos nas libélulas e nos ribeirões que a encinturam
Agora todo me mobilizei para não perder nenhuma nota deste fremir nervoso
dos pássaros na campina
numa ampla e transmissora onda perdida no céu a escurecer!
Sem gravador me sinto cercado de céu livre
de espaço livre e de terra livre
Feliz por registrar em meus neurônios o instintivo movimento da mobilização
dos pássaros em fim de tarde
É emocionante todo este rodopio da agitação de árvore para árvore
E de canto para canto
Toda esta concentração de centenas de gritos e pios inquietos e aconchegantes na ramalharia dos bambus
No afã de se livrarem das cascavéis e dos urutus
Das raposas e dos chacais
É um rodopio cheio de filigrana por parte dos periquitos coloridos
e das jandaias falantes,
dos bem-te vis inconvenientes e das pombas adormecedoras
Urge por isso registrar. Registrar esta invasão de vida.
Esta onda de muita vida. De vida selvagem, que explode sem ensaio. Esta força latente que não tem outra voz senão o movimento e a instintiva força.
Vida primitiva que se junta à força da germinação no brejo e ao viço das árvores reluzentes de húmus junto ao ribeirão.
Vida conjugada à expressão forte da natureza cheia de abismos de mistérios de perigos de agressividade e também de ternura e de graça!
Vida que me congraça e me liberta em seu fluir solto,
vida que me dilui em suas nascentes e caudais de água, que me encanta em sua biodiversiddae.
Vida que me enamora no visual e me deslumbra nos ritmos e cadências das águas e dos sons.
Vida que me faz companhia que me embebe e me defende contra a solidão.
Vida que me dá alma desejos e satisfação.
Vida que me preme e me impele para os gostosos frutos tropicais e adoráveis sombras refrescantes.
Vida panteísta e total onde sou adorador de todos os meus deuses
e onde todos os deuses tocam as cordas harmoniosas de minha harpa
no embalo incônscio desta terrenez que não sei!!!
Jan Muá
3 de março de 2003
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