Espíritos formosos vão depressa
Em busca das paragens mais distantes,
Mas, para ser honesto e bom à beça,
Muito hão que auxiliar aos semelhantes,
Sem esperar que o bom Jesus lhes peça
P’ra que “se mude no quartel d’Abrantes”,
Pois, se estivesse certo o proceder,
Ninguém viria aqui cobrar dever.
A linha mais gentil do pensamento
Permite que o leitor se reanime,
De modo que se torne mais atento
E que o melhor conselho logo estime,
Sem se lembrar de nos dizer: — “Agüento!” —,
Porque falar do bem é luz sublime,
Que inunda o coração de resplendor,
Na festa universal do Criador.
Um só defeito que nos reste n’alma
Há de impedir que o Reino venha a nós.
P’ra que se alcance a glória dessa palma,
Havemos de rogar de própria voz,
Que a luta contra o mal tão-só se acalma
Estando os inimigos juntos, sós,
Sentindo que o destino é bem comum,
Que a dor afeta os dois e a paz, nenhum.
Não tenho compromissos co’a maldade,
Por isso peço ao bom leitor que fique.
Se uma palavra ao mal o persuade,
Se um só suspiro dá tal “tremelique”,
É bom pensar bastante em caridade,
P’ra que o trabalho a vida mais estique,
Sem precisão de dar com a cabeça,
P’ra que o rigor das leis se estabeleça.
Mas, se o convite feito bem lhe agrada
De examinar o tema com candura,
Venho propor-lhe que não sinta nada,
Que torne a pregação em água pura,
Para viver a fé raciocinada,
Pois n’alma o amor assim bem mais perdura,
Que é como Allan Kardec a nós ensina,
Seguindo, passo a passo, a sã Doutrina.
Falamos de Jesus um pouco acima,
Lembramos a Kardec, o professor,
Citamos a virtude mais opima:
A caridade feita com amor,
Quisemos do leitor a sua estima,
Sem medo de falhar ao se compor,
Sabendo que o Senhor nos dá a bênção
Com que estes corações os males vençam.
Aproximei-me muito da verdade.;
Não quis, contudo, dar uma de bom.
A mim, me basta ver que alguém se agrade,
Sem se ocupar do exame deste som,
Porque sentir amor somente há-de
Quem reconheça noutro o mesmo dom:
O sofrimento não se compartilha,
Nem quando um simples verso ele estribilha.
Ao resgatar o tema para o verso,
Fazemos com que tudo se esclareça.
Aí, a rima faz-se com “perverso”,
Pois não se tem nenhuma na cabeça,
Conquanto a infinidade do Universo
A rogar ao Senhor nos favoreça:
É que a pobreza d’alma é manifesta,
Embora a trova esteja sempre em festa.
O regozijo do escrevente é claro,
Quando, veloz, atinge cada tecla,
Mas, ao pensar na rima, é que reparo
Que tenho de fazê-lo meu assecla,
Pois reconheço nele o melhor faro
Para fazer um bolo só de féc’la:
Eu quis brincar e dei tremendo fora,
Sem me lembrar da lei que aqui vigora.
Peço perdão ao médium pelo erro.
Prometo que co’as “teclas” já não brinco:
Não quero presenciar o meu enterro
(O número lembrado chega a cinco),
E o mal que cometi não faço a perro,
Que esta parede não suporta trinco.
Assim minha poesia se desfaz,
Escombros de esperança, fé e paz.
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