Entrego-me, feliz, a este trabalho
E ponho a melhor verve em cada rima.
Não sei se mereci tal agasalho,
Mas sei que compor versos reanima.
Então, não vou dizer jamais: — “Eu falho” —,
Por receber de todos tanta estima.
Muito obrigado, irmãos, por seu afeto.;
Gratíssimo, Senhor, que hoje poeto!
Não vou deixar passar esta ocasião
De demonstrar que estou mais responsável.
Eu sei que os bons amigos julgarão
A trova mui mesquinha, abominável,
Porém, meu sentimento não é vão
E o meu esforço é bem considerável,
A ponto de lembrar-lhes que Jesus
Exige que aceitemos nossa cruz.
P’ra cada sofrimento que se passa,
Existe recompensa de valor.
O que se considera uma desgraça
É vir ao mundo e a vida descompor,
Nos enleios da droga ou da cachaça,
Quando se quer que apenas haja amor.
Sob o domínio dos transtornos d’alma,
Ninguém virá do mundo com a palma.
Existe quem mantenha a fé desperta,
Enquanto faz o bem ao inimigo,
Trazendo o entendimento mais alerta,
Porque Jesus nos disse que há perigo
Em só deixar a nossa porta aberta
A quem demonstra ser fiel amigo:
Não há qualquer vantagem em ser bom
A quem nos acompanha nesse dom.
Por isso, vim pregar, com esperança
De ver o meu leitor incomodado.
Só adesão o verso não alcança,
Porque não sei fazê-lo com agrado,
Mas como o povo aí jamais descansa,
Sem uma só estrofe pôr de lado,
Proponho, desde logo, um desafio:
É levar a leitura ao fim, com brio.
Não sei se compreenderam a postura
De me fazer de vítima constante,
P’ra receber de cada criatura
Um voto, que o valor sempre garante,
Que é perdoar a pobre ditadura
De quem se põe do público diante,
Sem que se possa defender jamais
Da acusação de estar sem bens morais.
Devo, então, vir contar-lhes a historinha
De quem não quis ouvir um bom conselho,
Dizendo que o sermão é que aporrinha,
Que deveria ser simples espelho.
Quando a morte do tolo se avizinha,
Pensa em Deus e se põe num só joelho,
Querendo e não querendo confessar
Que ocupou muito mal o seu lugar.
Eu me confesso, sim, contrariado
De ser aquele a quem no mal pintei,
Mas, nem por isso, aqui fico de lado,
Porque, p’ra caridade, existe lei.
Devo contar que um bem logo arrecado,
Quando demonstro ser fiel à grei
E ao trabalho socorrista isento
De preconceito, por estar atento.
Não pretendo burlar o bom leitor,
Dizendo que esta estrofe é só poesia.
Quem entende da arte de compor
Sabe que não se metrificaria
Um pensamento simples, sem valor,
Apenas como exemplo de harmonia.
Mas a felicidade, junto à mesa,
Me leva a realizar a tal proeza.
Agradeço ao Senhor esta leitura,
Que o leitor se propôs a ter mais brio.
Vai perdoar-me pela diabrura,
Mas saiba: pela ponte passa um rio
Cuja água serena, mansa e pura,
Está sujeita a um forte rodopio:
Quem não transforma a fé, com mais paciência,
Vai enlear-se em túrgida consciência.
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