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Ensaios-->POR PARTES -- 31/08/2009 - 22:57 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POR PARTES


Não sei como cada escritor planeja a sua obra e vai construindo o enredo e os personagens. Acredito que cada um tem o seu método. Para o leitor isso não faz diferença, pois o que importa é a obra concluída. Ele apenas quer ler a obra cuja história tenha um começo, um meio e um fim. Para o escritor no entanto pode ser escrita de diversas formas: pode-se escrever o fim para depois escrever o começo, pode-se escrever um capítulo aqui, outro acolá, pode-se escrever apenas alguns diálogos principais a medida que a ideia ocorre e depois encaixá-los nos devidos capítulos. Enfim cada autor pode usar dos mais variados recursos para construir sua obra, embora a maioria prefira escrevê-la de forma linear e cronológica. Aliás, na mais das vezes este também é o meu caso. Contudo, de quando em quando, procuro construir alguns diá-los em separado, quando a ideia me vem à cabeça. E embora saiba para quais personagens são aqueles diálogos, o local exato onde deva ou não ser inseridos fica para depois. E foi assim por exemplo com os trechos abaixo. O primeiro foi escrito pouco depois de definidos os personagens e o que cada um representaria no meu romance “A MENINA DO ÔNIBUS” e o segundo quando a obra estava quase no fim e o referido trecho haveria de pertencer a um capítulo escrito muito antes.

1o. Trecho – A personagem Roberta explica para o personagem-narrador o seu ateísmo
– O homem tem uma capacidade incrível de criar aquilo que necessita. Se precisa de algo e aquilo não existe, no mesmo instante ele dá um jeito de criá-lo. Não gostamos de passar necessidades. E o pior de tudo é que depois ainda acreditamos em nossa própria criação como algo superior a nós. Por isso criamos um Deus. Necessitávamos de acreditar em algo superior, numa divindade, em algo que explicasse não só a nossa origem como também a nossa morte, pois era (e ainda é) doloroso demais para o homem aceitar a morte como fim de tudo. E foi assim por milhares de anos. Agora a crença em nossa própria criação está tão enraizada em nossas mentes que já se incorporou ao nosso subconsciente. Por mais que alguns de nós não acreditamos em Deus, ainda sim, nosso subconsciente insiste em acreditar. E então muitos de nós ficamos na incerteza e de vez em quando nos perguntamos: E se eu estiver errado? E se Deus realmente existir? Quantos e quantos de nós que dizem não acreditar em deus tem essas dúvidas? Muitos. Alguns conseguem superar essas dúvidas, mantendo firme suas convicções, mas a maioria fraqueja e preferem aceitar a existência de Deus mais por fraqueza e comodidade do que pela crença em si. E são esses falsos crentes que me aborrecem, porque além de hipócritas são oportunistas. Ora dizem acreditar, ora dizem não acreditar, dependendo da conveniência.

2o. Trecho – O personagem-narrador explica para Maria Rita sua oposição ao casamento.

– O problema do casamento não é o casamento em sim. Mas o instinto de posse é que faz com que nos sentimos o dono da pessoa amada. Achamos que temos todos os direitos sobre ela e sobre sua vida como um bem que adquirimos. E isso na maioria das vezes anula a individualidade do outro, tornando-o escravo de nossa obsessão. Queremos controlar todos os momentos de sua vida até mesmo seus pensamentos. E isso acaba gerando uma frustração muito grande. Nos sentimos sufocados e perdemos nossa identidade como indivíduo. É aí que o amor acaba. Essa frustração faz com que desejamos nossa liberdade de volta. E assim passamos todo o tempo a questionar nosso relacionamento. Então esse questionamento vai aos poucos esfriando aquele sentimento pela pessoa amada, até que chega um momento em que não mais a suportamos. Pois vemos nela a culpada por nossa desgraça, a responsável pela privação de nossa liberdade e por nos impedir de viver. Aí o que fazer? Para alguns, aqueles que ainda possuem um pouco de dignidade e destemor, tomam coragem e põe fim a esse relacionamento nefasto; outros, talvez por conveniência ou por acomodação, deixam as coisas correrem soltas para ver o que vai dar. Então procuram uma amante, alguém capaz de lhe dar por alguns momentos a sensação de que está livre de que pode fazer o que bem entender. Mas na realidade estes também só estão enganando a si mesmos, pois estão apenas fazendo de conta que está tudo bem. Mas há ainda aqueles que são fracos demais para encontrar uma solução. Estes preferem se anular, dispor de sua vida, de suas vontades e de seus sentimentos; preferem continuar a viver conformados com o destino, tal qual aquele que ficou cego e é obrigado a se conformar com a sua cegueira. Aliás, são justamente estes que buscam, como um consolo, refúgio na religião .
– Então você não se casaria por amor?
– Não digo que não me casaria, mas o amor jamais seria o único único pelo qual me casaria com alguém. É preciso muito mais que o amor para me dispor de minha liberdade.
– Mesmo que o casamento fosse um casamento liberal?
– Não existem casamentos liberais, principalmente num casamento por amor, nem mesmo aquele entre Sartre e Simone de Beavouir. Qualquer tipo de união implica algum tipo de compromisso. E por menores que sejam esses compromissos, o fato de ser um compromisso já é uma privação da liberdade.
– Nossa que radicalismo?
– Não é radicalismo. É a lógica. Em algum momento, a pessoa sentirá necessidade de fazer algo e estará impedida por estar casado com alguém.
– Mas tudo tem um preço.
– Exatamente. O casamento traz alguns benefícios, como status social e segurança por exemplo, mas também tem o seu preço.
– Então você só se casaria por conveniência?
– Não digo por conveniência, mas sim com o intuito de construir um futuro e até mesmo pensando na velhice. Pois devemos pensar não na primeira fase do casamento, como fazem a maioria das pessoas hoje em dia, mas mas daqui a dez, quinze, vinte, trinta anos. É pensar na velhice.
– Isso é casar por conveniência?
– Se você ver a coisa por esse lado, então é.
– Eu não seria capaz de fazer uma coisa dessas.
– E quando o amor acabar e você descobrir que a pessoa com quem casou não era aquilo que você pensava? Você se sujeitaria a viver ao lado de alguém que na suporta mais? Porque é isso que acontece quando se casa por amor. Quando ele acaba descobrimos que nos casamos com a pessoa errada, que por causa da cegueira da paixão casamos com um ser imaginário.
– Quando se ama de verdade o amor nunca acaba.
– E você acredita em amor eterno? Então você acredita em coelhindo da páscoa e papai Noel. Que piada! Pode-se prometer atos, mas não sentimentos. Sentimentos duram apenas um determinado período de tempo, nuns mais, noutros menos, mas não por muito tempo.
– Não é piada não! Acredito sim que as pessoas podem amar por toda a vida.
– Então você está ferrada. Talvez realmente se possa amar alguém por toda a vida se transformar o objeto do amor num deus e fizer disso um culto. Ou seja: uma religião. Mas desde que os dois não vivam debaixo do mesmo teto. Porque a convivência, mais cedo ou mais tarde porá fim a esse amor. A convivência envenena uma paixão.
– Mas casar sem amor não seria pior?
– Claro que não. Você não se casaria com uma ilusão, com uma imagem que você mesmo criou da pessoa amada, ou seja: com um ser imaginário. Você saberia realmente com que está se casando. Além do mais não haveria tanta cobrança. Não se exigiria um do outro mais do que o que foi combinado. Pois quem ama vê o outro como uma posse, como uma propriedade.
– Não. Não penso assim. Aliás nem faria uma coisa dessas. Não me sujeitaria a viver com um homem sem amá-lo.
– Por quê não? Você aprenderia a gostar dele assim como ele a gostar de você. Vocês apenas desfrutariam o lado bom do amor: a compreensão, o diálogo, o companheirismo e a busca do mesmo objetivo.
– Eu preferia o amor, a paixão.
– Aquela chama que se apaga rapidamente e só deixa as cinzas.
– Pois nem morto!

OS PRIMEIROS CAPÍTULOS DA OBRA PODEM SER LIDOS AQUI




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