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cronicas-->A Festa da Usina VI -- 24/09/2002 - 23:26 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por Rodrigo Contrera

Mas a festa continuava e enquanto isso o Contrera acordava, esfregando os olhos e tentando distinguir que trambolho era esse que vinha por aí, irresistível, a passos de elefante, trincando espelhos, quebrando louças, tal qual elefante em loja de cristais, afastando esbaforidas as garotas em minúsculos biquínis, fazendo toda a turma fugir em polvorosa.

Parecia o demónio da tasmània, esse tão simpático personagem dos falecidos Hanna e Barbera, parecia aquele redemoinho que invadia o quadro do Patolino, parecia aquele terremoto que quase mata a mãe no sul do Chile, tempos idos aqueles, parecia os traumas passados que mal deixaram neurónios restantes em sua cabeça desgastada, parecia a subida vertiginosa do dólar (aposto que vai a 4), parecia o Air above mountains do Cecil Taylor, mas não. Era um quadro. O quadro de detritos.

Corporificado em amaldiçoadas palavras, expressões desgastadas, rimas ignorantes, eis que o quadro de detritos agora tornara-se carne, e osso, e bílis, e vómito. Não era a bolha, não era a folha, era a invasão do quadro inexpugnável, do quadro que pega, mata e vomita.

Restos de cadáveres jaziam em volta do quadro que gritava, possesso, exigindo que o ouvissem. Cadáveres de alguns que teimaram em respeitar a língua, esses coitados, cadáveres de gente honesta que só queria informar seus compadres, de outros que mal sabiam onde estavam mas que viam a que ponto chegara o rumo das coisas. Enquanto isso o quadro dejetava piadas infames, esboçava esgares matutos, ameaçava matar este ou aquele, ora vai tomar no cu seu orelhudo!!!!!! O quadro dominava agora a cena, muda, emudecida, reluzente de merda fedendo ao relento.

Agachado por detrás de um enorme vaso de palmeira (palmeira em vaso? vá lá), o Contrera só observava. Pois ele sabia o que via, via o que soubera existir mas que jamais reparara em carne e osso, estupidificado agora sentia a que ponto a maledicência pudera conduzir o bando de salafrários que dominava a cena.

Refletia então: o que o Domingos acharia disso tudo? Diria que enlouqueço, que imagino o que vejo, que esses restos de gente não são nada, que é preciso sair da toca e meter-se a lutar por um mundo melhor, em meio a palavras, palavras! Que ainda valia a pena, que negócio mesmo era tocar a minuta, resplandecente candidata a premiação por iniciativa cidadã, que negócio mesmo era deixar a indiferença fluir, que de nada adiantaria perder valioso tempo desperdiçando tantas esperanças em tão vãos esforços da lucidez esconderijo de bonomia graciosa. Nada. Tudo.

Então ele acha que a conta é minha, o último a sair que apague a luz. Diria que sou pinóquio, confundiria meu nariz inquisitivo com um outro arquetipado.

Pois sim. Ficar agachado não daria muito mais. Pois para algo seria necessário atacar.

Não havia vivalma por perto. Nem os ratos atreviam-se a correr em busca de dejetos a apropriar em seu nome. Dominava o alto som dos detritos amplificados. Os detritos caíam na piscina e estragavam tudo em que ousavam meter o dedo.

Mas cadê o síndico? Tim Maia, cadê o Tim?

© Rodrigo Contrera, 2002.
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