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Artigos-->NLM - O Falso Crente -- 12/03/2002 - 19:47 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Falso Crente





Ponto de partida: Estação Carrão

Destino: Estação Tietê



Durante a minha fase da adolescência, participei de diversos bailes de formaturas de amigos, em salões localizados em diversos locais da cidade. Como eu era menor e ainda não tinha carro, a única forma para me locomover pela cidade era através do transporte público. Eu tinha as opções de escolher entre o Metrô ou o ônibus, porém sempre coloquei o Metrô como a minha primeira opção. Ônibus só em casos onde o destino não há Metrô por perto.

Como todo baile de formatura, o traje para entrar – normalmente – era o social e isto deixava eu e meus amigos todos agitados com a situação, pois quase todos não tinham sequer um conjunto de roupa social (inclusive eu) e por isso passávamos os dias que antecediam a formatura, caçando roupas sociais para vestirmos. Era engraçado ver aquela cambada de moleques vestidos todos bonitinhos (de gravata, terno e sapato), parecíamos com crentes de igrejas evangélicas.

Na época, desfrutávamos aquela fase dos 16 para 17 anos, onde só queríamos saber de bagunça, sem se importar com que as pessoas pudessem pensar sobre os nossos atos. E em uma formatura festejada no clube Tietê, que nem me lembro de qual escola foi, fomos da estação Carrão até a estação Tietê, eu fazendo o papel de falso pastor de igreja evangélica e meus amigos de fiéis seguidores. Hoje me arrependo do pecado que cometi, mas na época, não posso negar que foi muito divertido e engraçado.

O meu pecado ainda foi maior, pois ainda levei um bíblia de bolso para ler – em voz alta – dentro dos vagões, entre um estação e outra. O relógio marcava 21:00 horas de um sábado à noite e por isso o Metrô não estava muito cheio. Entramos dentro do vagão na estação Carrão e aquele comboio de falsos fiéis junto comigo (mais ou menos umas 30 pessoas) se sentaram, enquanto eu continuei em pé, me posicionando no início do corredor do vagão com a pequena bíblia de bolso na mão.

Comecei a ler os salmos, enquanto alguns de meus amigos gritavam aleluias e salves. As pessoas que já estavam no vagão, não sabiam o que estava acontecendo, mas todos riam de forma espontânea da nossa interpretação. Eles não sabiam o que ainda esperavam.

Depois de muitos salves e aleluias, chegamos ao cume da situação. Um dos meus amigos fingiu estar possuído por algum ser maligno em seu corpo, dando xiliques e pulos de uma forma muito engraçada, me obrigando fazer uma interpretação de exorcismo em pleno vagão do Metrô. Eu mesmo não conseguia conter as gargalhadas. Nesta hora eu também ria com a interpretação de meu amigo sendo exorcizado. Algo digno de um Oscar ou um convite para uma possível continuação do filme o Exorcista.

No final consegui fazer com que aquele ser maligno fosse embora do corpo de meu amigo (tudo interpretação, pois de pastor e exorcista eu não tenho nada) e todos – inclusive as pessoas que não estavam com a gente – batiam palmas e gritavam aleluia. Foi algo marcante ver todas aquelas pessoas que não tinham nada a ver, participando da nossa bagunça generalizada. Foi cômico.

Algo, que talvez pouca gente saiba, é que desde aquele dia eu nunca mais fiz brincadeiras envolvendo religião. Sei que tudo foi uma brincadeira, mas naquela mesma noite, um fato estranho aconteceu e entendi o acontecimento como um aviso. A pequena bíblia de bolso que estava comigo, misteriosamente sumiu. Eu tinha certeza que havia guardado dentro da parte interna do meu paletó antes do exorcismo e depois do ato, fui pegá-la no bolso e ela simplesmente não estava mais lá. Se a perdi, eu não sei, mas preferi nunca mais brincar com as forças divinas das religiões.



Aleluia!!



Nota: Hoje eu sou um católico ativo, respeito todas as religiões e a fé que cada uma prega. A história que descrevi foi real e peço desculpas para toda a comunidade evangélica do Brasil pelos atos impensados que tive quando ainda adolescente, mas que hoje não fazem mais parte das minhas atitudes.



(Este texto faz parte do livro "NAS LINHAS DO METRÔ - MARCEL AGARIE)
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