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Ensaios-->A água que comemos: os custos da irrigação -- 06/07/2009 - 14:01 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/a-agua-que-comemos-os-custos-da-irrigacao/

03/07/2009 - 17:11:18

A água que comemos: os custos da irrigação

Gülçin Karadeniz*

Todos os bens e serviços que utilizamos, dos campos de golfe aos livros, passando pelo azeite ou as vacinas, bem como muitas das nossas atividades cotidianas, necessitam de um recurso vital: a água. Um novo relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA) confirma que, em muitas partes da Europa, a água é utilizada de forma insustentável e formula recomendações sobre uma nova abordagem da gestão dos recursos hídricos.

O recente relatório da AEA intitulado “Os recursos de água na Europa - confrontando a seca e escassez de água” (Water resources across Europe - confronting water scarcity and drought) evidencia que, embora os maiores problemas, em termos de escassez de água continuem na Europa do Sul, o stress hídrico também está aumentando em algumas regiões do Norte. No futuro as alterações climáticas estarão na origem de um aumento da intensidade e da frequência das secas.

“Gastamos mais água do que podemos. A solução de curto prazo para a escassez de água consiste em captar quantidades crescentes de água dos nossos recursos hídricos de superfície e subterrâneos. Esta sobreexploração não é sustentável. Tem um impacto considerável na qualidade e na quantidade da água que nos resta, bem como nos ecossistemas que dela dependem”, afirmou Jacqueline McGlade, Diretora Executiva da AEA. “Temos de reduzir a procura, minimizar a quantidade de água captada e aumentar a eficiência da utilização dessa água”.

A agricultura vem impondo um enorme e crescente fardo aos recursos de água da Europa, uma ameaça que já produz escassez de água e danos ao meio ambiente. Para atingir um nível sustentável de uso da água é preciso que haja incentivos, orientações apropriadas e assistência aos fazendeiros. Os alimentos estão intrinsecamente ligados ao bem-estar das pessoas. Apesar da importância do consumo de bons alimentos para garantir uma boa saúde, e do prazer proporcionado pelo próprio ato de comer, a agricultura também é responsável por sustentar a felicidade individual de cada um e incentivar a economia.

Em nível europeu, 44 % da água captada é utilizada para o resfriamento das usinas de energia elétrica, 24% na agricultura, 21% no abastecimento público de água e 11 % na indústria. Porém, estes valores escondem diferenças significativas de utilização da água a nível setorial, no Continente. As águas de superfície, tais como a dos lagos e rios, fornecem 81 % do volume total de água doce captada, constituindo a principal fonte de água utilizada na indústria, na produção de energia e na agricultura. O abastecimento público de água, em contrapartida, baseia-se principalmente nas águas subterrâneas, devido à sua qualidade superior. Quase toda a água utilizada na produção de energia é devolvida a uma massa de água, ao contrário do que acontece com a maior parte da água captada para fins agrícolas.

Além disso, a água não vem sendo proporcionalmente distribuída. Em algumas regiões do Sul da Europa, a agricultura consome quase 80% das águas extraídas pelo Continente. E o pico das extrações tipicamente ocorre durante o verão, quando a água é menos abundante, maximizando o impacto de escassez. O informe da EEA descreve muito bem os graves impactos da extração excessiva de água. A superexploração de tais recursos aumenta a possibilidade de escassez severa durante os períodos de seca. Significa a redução da qualidade da água (pois assim os poluentes estão menos diluídos) e o risco de invasão de água salgada nas reservas subterrâneas das regiões costeiras. Os ecossistemas de rios e lagos também podem ser severamente afetados pela falta de água, prejudicando e matando plantas e animais quando os níveis baixam ou secam por completo.

Esses resultados são evidentes nas regiões do Sul da Europa. Por exemplo: 1) Na Bacia Konya, na Turquia, a extração de água para irrigação - grande parte feita através de poços ilegalmente perfurados - diminuiu drasticamente a área de superfície do segundo maior lago do país, o Lago Tuz; 2) Na planície Argolid, na Grécia, as folhas apresentaram queimaduras e as árvores desfolhação devido ao contato com o cloro gerado pela introdução de água salgada na área; e poços previamente perfurados secaram ou foram completamente abandonados devido ao excesso de salinidade; 3) No Chipre, severas secas em 2008 forçaram o governo a importar água usando grandes tanques, impulsionando um aumento significativo nos preços.

A dessalinização é uma alternativa às fontes de água tradicionais que está a ser cada vez mais utilizada, nomeadamente em regiões da Europa onde existe stress hídrico. Porém, na avaliação do impacto global da dessalinização no ambiente, deve-se ter em conta as elevadas necessidades de energia deste processo e o volume de salmoura produzido.

O uso de água na agricultura evidentemente já se tornou insustentável em certas partes da Europa, sugerindo que os mecanismos de regulamentação dos preços falharam em atender de modo eficiente a demanda europeia. Os fazendeiros usavam métodos de irrigação intensiva para aumentar a produtividade de ganho devido a oferta de mercado. Na Espanha, por exemplo, o uso de 14% das reservas de água na irrigação de terras agrícolas alavancou em 60% o valor total de todos os alimentos lá produzidos.

Claramente, no entanto, os fazendeiros só aumentaram a quantidade de uso de água em suas terras após receberem ajuda de custo para a instalação de sistemas de irrigação e extração de água. Tendo dito isto, fica claro que as políticas nacionais e europeias criaram incentivos bastante inoportunos nessas regiões. Os fazendeiros raramente pagam pelo impacto que provocam ao meio ambiente, tampouco os custos de recursos exigidos pelo enorme uso do sistema de irrigação público (especialmente se as Leis do país que protegem ou limitam a extração não forem implantadas de maneira eficaz). E até as recentes reformas, a UE incentivava, através de subsídios, o cultivo agrícola com uso intensivo de água. A soma da quantia de água desperdiçada é alarmante. Na Espanha, o WWF analisou o sistema de irrigação em quatro colheitas no período de 2008 e constatou que quase um bilhão de metros cúbicos de água - o equivalente ao consumo doméstico de mais de 16 milhões de pessoas - estavam sendo usados apenas para garantir a produção de estoques que excedessem às cotas da UE. E as mudanças climáticas devem piorar ainda mais esta situação. Inicialmente, verões mais quentes aumentarão a pressão sobre os recursos de abastecimento de água. Depois, se a UE cumprir com a promessa de até 2020 substituir por biocombustível 10% de toda sua frota de transporte, e se a crescente demanda por bioenergia for suprida por essa primeira geração de combustíveis limpos, o uso de água na agricultura aumentará.

A agricultura é o pilar central de economias locais e nacionais em certas regiões da Europa. Nestas áreas, sustar o abastecimento de água para irrigação pode levar ao abandono das terras assim como gerar severas implicações econômicas. O uso de água na agricultura, portanto, deve ser feito de maneira eficiente não só para evitar a escassez, mas também para ajudar o fazendeiro comum a manter um meio ambiente equilibrado e incentivar outros setores da economia. O preço da água pode representar o âmago do mecanismo que incentivará o uso efetivo da mesma, equilibrando os objetivos da sociedade econômica, ambiental e socialmente. Pesquisas demonstram que se o preço da água refletisse seu custo real. se houvesse uma fiscalização que evitasse perfurações clandestinas de poços e se água fosse paga pelo volume do seu uso, os fazendeiros adotariam medidas que reduziriam o uso de água na irrigação para torná-la mais eficiente. Subsídios nacionais e da UE, com incentivos adicionais, também têm a capacidade de fornecer eficientes tecnologias contra o desperdício de água. Uma vez que esses incentivos forem dados, os fazendeiros poderão escolher dentre uma variedade de tecnologias, sistemas e grãos que reduzam o volume de irrigação em suas fazendas. Os governos, mais uma vez, têm uma enorme responsabilidade, pois precisam distribuir informação, fornecer orientação e educação aos fazendeiros, demonstrando que há opções viáveis para a redução do consumo e também para levar em conta as ações de cunho ambiental. Uma atenção particular deve ser prestada à nova geração de combustíveis naturais que estão sendo introduzidos na agricultura. É preciso que eles reduzam a demanda de água, ao invés de aumentá-la.

* Gülçin Karadeniz é jornalista da Agência Européia do Ambiente - AEA

(Envolverde/Revista Eco21)


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