Nós brasileiros temos alguns traços e costumes que são nossos. Só nossos. O carnaval, maior espetáculo da terra É Coisa Nossa! O futebol arte É Coisa Nossa! Mulatas esculturais com pernas roliças e bumbuns lindos É Coisa Nossa!
Já se vão alguns anos quando o refrão ‘É Coisa Nossa’ era sucesso no programa do Sílvio Santos. Sílvio dizia o nome de uma personalidade e o auditório respondia mais ou menos assim: É Coisa Nossa. Vai que vai vai. Vai que vai êêê!
O Sílvio Santos
é Coisa Nossa!
Sérgio Malandro
é Coisa Nossa!
O Nelson Rubens
é Coisa Nossa!
Aracy de Almeida
é Coisa Nossa! Vai que vai vai. Vai que vai êêê!
Pedro de Lara
é Coisa Nossa!
Wagner Montes
é Coisa Nossa!
A Silvinha
é Coisa Nossa! Vai que vai vai. Vai que vai êêê!
O Auditório
é Coisa Nossa!*
Há poucos dias o país foi sacudido com o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria/RS, onde morreram mais de 230 jovens. As primeiras investigações apontam que a razão de tantas mortes foi a falta de portas de saídas de emergência. Esse incêndio provocou uma onda de fiscalização nas casas de shows pelo Brasil. Dentre as reportagens a que assisti, apenas uma casa em São Paulo estava preparada para evacuar as pessoas em caso de grande tumulto. A falta de fiscalização, a propina para liberar os alvarás e o jeitinho também É Coisa Nossa!
Hoje é terça-feira gorda de carnaval. Acabei de assisti na televisão algumas reportagens de acidentes com carros alegóricos dos desfiles no Rio e em São Paulo. Os carros são sempre muito altos. Um deles se enroscou numa árvore. A dançarina se agarrou num galho, não aguentou e caiu. Outro atrasou a saída da passarela porque, de tão alto, teve que improvisar uma manobra para desviar da plataforma de cimento reservada aos fotógrafos. Outro, muito alto, bateu na rede elétrica e quatro pessoas morreram eletrocutadas.
Em todos os casos acredito que faltou profissionalismo. Alguém com conhecimentos de fora do barracão para exigir uma ‘reconstituição antecipada’ do trajeto para evitar acidentes, pequenos ou fatais. Parece-me que o “jeitinho brasileiro” superou a técnica apurada e o estudo.
Para ganharmos a copa do mundo de 2014 a Confederação Brasileira de Futebol contratou dois grandes especialistas em vitórias mundiais, o técnico Felipão e Parreira, como seu assistente. Pode até ser que não ganhemos a taça, mas o time está nas mãos de pessoas que sabem o que fazem. Ganhar uma Copa não combina com jeitinho.
Neste ano comemoramos nossa ascensão econômica. Agora somos a sexta potência mundial. Só nos sustentaremos nessa posição se todos formos profissionais o bastante para firmarmos os pilares do nosso crescimento. Crescer não combina com jeitinho.
Depois de séculos de improvisos, causadores de acidentes e lágrimas, já chegou a hora de dizermos que o “jeitinho brasileiro” não é mais “Coisa Nossa!”
