O meu amigo Hélio, chegou um dia lá em casa, e me disse :- Jose
Angelo, agora sou um fazendeiro ! Eu disse : - verdade, que bom.
Mas pensei, com essa desposição, quantos jovens abandonaram
os estudos, para viver de aventura perigosas em negócios. Vou
criar boi ? Plantar soja ? - indagavam com simpatia os que conheciam.
Ele falava, não esqueça de que sou antes de mais nada um sulista;
me criei no campo, lá passei os melhores dias de minha infância,
sei tudo que um fazendeiro precisa saber. Pura mentira , sem a
menor idéia do que era negociar como fazendeiro, fazer de uma
fazenda um negócio, explorar aqueles bens que um simples acaso
ou uma fatalidade, um casamento ou uma herança punham em suas
mãos. Creio que só tinha consciência de que nunca seria negociante
de gado. Nem de coisa alguma. Não era movido pelo instinto de lucro,
e sem isso qualquer negócio não passa de uma bolha de sabão ,
que logo rebenta e se dilui no ar e da bolha apenas pode cair,
às vezes, uma lágrima do sonho desfeito, do fracasso. Meu amigo
Hélio, começou tentando arranjar o dinheiro para movimentar a
fazenda. Mostram as escrituras, tudo registrado e garantido.- Muito bem,
concorda o gerente do banco, amigo do seu pai. O que pretende
fazer ? - A fazenda é grande e a zona rural, onde está situada, é
especial para o gado, soja, milho, cana, porque aqui em Guaira; as
terras são boas e fértil. Hélio, você não está pensando em plantar ?
- Perguntava o gerente do banco, sorrindo simpaticamente, assim
como se estivesse preocupado com a vida do meu amigo Hélio
Ferreira Cipriano. Na verdade desejando protegê-lo para ele, um
intelectual, não arriscar o dinheiro na agricultura ou melhor no plantio
arriscado. - Respondeu Hélio Ferreira Cipriano ; - conforme já lhe
disse, o que desejo é criar gado. Preciso sim, pensar no pasto
artificial... O gerente do bamco, nada desconhece da vida rural ;
sabe que o tal pasto é nutriente fraco, não se alastra como faz a grama
e que mesmo uma criação relativamente pequena acaba com ela ;
em pouco tempo, o chão nu aparece embaixo.- Bem , acho isso
tudo muito certo, mas veja só . Vou falar como amigo. Não me agrada
ver um poeta como você , um intelectual, metido em coisas fora dos
seus hábitos de vida. Se você é um advogado, deve ser advogado ;
se é médico, deve ser médico, e assim por diante. Ser um estudioso
como você é, um homem de Letras, querer se meter a criador de
gado, com toda a senceridade, não vai dar certo. Não neste momento
você está se concedendo. E quem sabe ? ...Pode até sair-se bem...
Vou lhe dar uma quantia, não a que me pediu, isso é impossivel.
- O que pretender fazer com este dinheiro ? - Com tão pouco não
poderei fazer grande coisa. Primeiro preciso de uma reforma na
sede, preparar a casa, para mudar. Sem perda de tempo, vou
conversar com o dono de uma propriedade próxima das minhas
terras. Realmente, um filho ou neto de fazendeiro não adormece,
ele fica esperando sua vez, numa espécie de hibernação a um
tempo econômico e biológico. Eu Acompanhei a experiência de
um criador que , no fundo, era apenas um poeta bucólico, virgiliano,
e criou gado como quem elabora canções, e jamais deixou de
ver as coisas do campo e da terra senão poeticamente, sorrindo
para a inocência e a sinceridade dos bichos, que até morrem sem
saber que morrem. E o poeta fazendeiro teve sucesso em sua
empreitada.-José Angelo Cardoso.-Poeta, contista, artista plástico.
Presidente-fundador da Academia Guairense de Letras.
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