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Poesias-->O calado do navio -- 26/02/2003 - 20:56 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O calado do navio

Antonina

quando era menina andava descalça

e vestida de mar.

Antonina

era toda faceira,

caminhava ligeira

quebrando os joelhos a se rebolar.

Era cheia de graça e de rima

querida Antonina, no teu preamar,

era assim que era "çá menina"

que até o Bagrinho te vinha espi(nh)ar.

Antonina hoje é velha menina

que não perde a rima

porque põe-se a lembrar.

Antonina! que dor tão salgada,

que mágoa pesada,

levou o teu sonho pro fundo do mar?

........................................................................

Os tempos viraram, teus marinheiros calaram

e muitos se foram na viração

Alguns outros, não menos homens, ficaram

mas só choram nos bares tua recordação.



Às tuas amarguras, chamaste de aventura

que bebeste toda água do mar.

Teus homens sedentos

choram nos mares,

marinheiros violentos que

bebem nos bares,

canções da tua história,

virações em tua memória

e chamam teu nome no silêncio do copo virado:

Calado de um navio afundado!

Levanta do teu passado!

Acorda! não existe um tesouro enterrado.

Não existe capitão e nem sonho dourado.

Acorda da agonia em que tu dormes!

Desleixada no estaleiro te consome.

Tu não tens remédio, por isso te embriagas

tanto ...

que é porque sabes

que teu sonho é um Banzo.

Um canto desses metais

que o tinir do ferro de um estaleiro condenado

grita teu nome em berros,

na cadência de teus carnavais.

Mas precisou chamar de aventura

às tuas amarguras

e enfeitar com alegorias

a tua nostalgia.

Acorda! acorda de um sonho salgado.

A corda que prende o pesadelo

da âncora que te apoitou...

Teus homens que te queriam de zelo,

partiram seus lábios azedos

depois que tudo afundou.

........................................................................

O que te resta cemitério salgado?

se doces eram tuas serestas,

tua casa e teu corpo perfumado.;

mas partiram também tuas festas.

O que te resta "Cemitério de Navios"?

Pendurada no estaleiro,

Antonina sonha distante.

Te recordas de teus mastros? de teus lastros?

Só um poetastro te fará viver por um instante.

........................................................................



Ouviu-se um apito de navio

e toda a terra, todo o mar,

coloca-se no cio.

Antonina abre sua Baía,

oferecendo seus seios ao prático que guia.

Não mais que um sonho,

um sonho de navio.

Nua e cansada de esperar

por esse gozo profundo,

por que não te jogas então

teu corpo nos braços do mar?

Só assim deixarás esse afago.

Vagabundo que nunca te fez gozar.

Um sonho com um homem tatuado,

marinheiro queimado

da viração.

Romântica! É o que te resta.

Romântica! Em tua festa,

a esperar o desejo de uma embarcação.

Nem porto nem navio,

nem águas de teus rios

consolam tua sede faminta.

Mesmo que finja,

que minta

ter o maior acalanto,

a dor de teus marinheiros no bar,

bêbados em cada canto.

Inebriados em canções de banzo.

Romântica! é só o que te resta, lembrar?

inventando amores e encantos,

se ainda tens o mar

e a esperança de um porto ...

Romântica menina

só te resta poemar,

Inventando poemas para um morto?

........................................................................



Dorme Antonina

como uma criança esquecida que a noite fechou teus olhos

longamente

porque tomaste pelas águas à deriva,

goles de amargura e aguardente.

O Bugio (1992)

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