Eu não prometo mais que simples versos,
Na tentativa útil de ensinar.
Assim, se quase todos saem perversos,
Não percas tempo, segue devagar.
Nada é pior do que manter dispersos
Os que sustentam juntos o lugar,
Que a vibração maior vem do poeta,
P’ra que a tarefa fique mais completa.
O caro médium, sim, deve entender
Que concentrar-se exige muita paz.
Aqui chegando, p’ra cumprir dever,
Deve saber como é que a turma faz,
Pois não lhe cabe um mínimo sofrer.;
Apenas escrever, o que é capaz,
Sem esperar que o verso soe bem,
Nem que se ajeite ao gosto de ninguém.
Quando reclama, o médium tem razão,
Pois este tema é muito cansativo:
Sem variar a rima ou o refrão,
Não há dizer que sou bem criativo.
Aí, as trovas não comportarão
Um sentimento d’alma muito vivo.
Há de valer o metro pelo metro
E o rei carrega inutilmente o cetro.
— “Eu sou Jesus e digo que vos amo!” —
Vai duvidar o povo e pôr de lado
Este meu verso, que é onde reclamo
De que ninguém se alegra co’o ditado.
Um simples fruto verde neste ramo,
Ninguém quer esperar fique dourado,
Mas, se Jesus vier p’ra versejar,
Que outra rima irá pôr no lugar?!...
Sabido o companheiro que verseja
E diz que tudo está em seu lugar.
Crescesse, cá na pele, brotoeja,
Diria para nunca as apertar.
Até um cheio copo de cerveja
Saberia ao leitor recomendar,
Dizendo que Jesus, se aqui estivesse,
Poria os sentimentos numa prece.
De pé, encontra meios de escrever
O médium, que me diz que não tem pressa:
Queria só cumprir o bom dever,
Sabendo que os compassos atravessa,
Ao intentar dispor, com seu poder,
A rima, nesta estrofe má à beça,
Julgando que a tal chave abre a porta
Da alma que se encontra meio morta.
São leves os meus versos, finalmente:
Flutuam neste espaço como plumas.
Assim é que eu queria que esta gente
Fizesse muitas rimas, digo, algumas,
Já que o poeta vibra, ri e sente,
Na beleza sutil destas espumas,
Que existe mais nobreza em fazer rir
Do que pintar mui negro um mau porvir.
Quem tece o seu destino com bondade
Não vai temer futuro em desalinho.
Quem queira que do verso meu se agrade
Não poderá ferir-se neste espinho,
A menos que relembre, com saudade,
Da estima da mamãe, do seu carinho,
Mas isso não compete mais a mim,
E nem o sentimento é tão ruim.
Se o verso conservar este jaez,
Será que obterei a nobre estima
De alguém que irá sentir-se meu freguês,
Posto repita tanto a mesma rima,
Ou posso terminar logo, de vez,
Pois nem assim a dor cá se sublima?
Em nome de Jesus, requeiro paz,
Pois tudo quanto fiz, qualquer um faz.
Se reconheço a minha lentidão,
Se o verso aqui declaro, mau, sem jeito,
Se a rima o mais que exige é o teu perdão,
Se o meu refrão não te requer respeito,
Amigo, faze um verso muito são,
Daqueles pelos quais eu cá espreito,
Inunda este poema com tal luz
Como se aqui estivesse o bom Jesus.
Dirias, certamente, um verso lindo,
Ao modo dos poetas sempiternos.
Lembrarias Jesus, de amor infindo,
Com seus ensinamentos justos, ternos.
As leis revelarias, sempre rindo,
Sem ameaças de eternais infernos.
Que o teu perfil da vida lembre um velho
Em paz, pela certeza do evangelho.
Vou declarar-me, assim, arrependido,
Por ter flanado, tolo, na poesia.
Caso estivesse bem, teria tido
Um sentimento rico de alegria.
Ainda bem que não estou perdido,
Pois reconheço que melhor faria,
Se desse ao pessoal da minha grei
O modo de aplicar na vida a Lei.
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