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Ensaios-->SARAMAGO: A VIAGEM DO ELEFANTE -- 13/01/2009 - 12:47 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

SARAMAGO: A VIAGEM DO ELEFANTE

João Ferreira
Porto, 13 de janeiro de 2009




SARAMAGO, José. A Viagem do Elefante. Conto. São Paulo: Companhia das Letras, novembro de 2008.

Na minha bagagem de Brasília até à cidade do Porto, POrtugal, trouxe comigo a edição brasileira de 'A Viagem do Elefante', o novo livro de José Saramago. Foi uma boa ideia. O livro é muito interessante e acabei de o ler agora mesmo. No momento me pareceu adivinhar que os leitores mais ligados à literatura gostariam de ler algo sobre o livro. Vou fazer isso.
Logo de entrada diria que José Saramago, aos 86 anos, continua a surpreeender-nos com sua vitalidade literária. Mostrando uma incrível fidelidade ao ofício da escrita e à aura nobelística que o coroou em 1998 em Estocolmo, Saramago presenteia-nos desta vez com um livro não previsível que se chama 'A Viagem do Elefante', já editado em Portugal e no Brasil. A capacidade ficcional e a extraordinária arquitetura narrativa fazem deste livro um texto interessante sob todos os aspectos. Classificou-o, ao nos dar o título, como um conto. Embora não seja propriamente uma short story para que possa ser um conto tout court, no sentido da crítica literária tradicional, devemos dizer entretanto que também não há, na teoria aberta da arte literária, nada que possa impedir essa classificação, e até, e sobretudo, porque essa foi a opção do criativo autor. No fundo, no fundo, o que mais se desenha no livro, é a simultaneidade ocorrente de uma história(225), de uma crônica(237) e de um relato(94,225) que são conjuntamente vivificados e sustentados por uma narrativa (11,225. Esta narrativa passará a enriquecer, por outro lado, a expressiva literatura de viagens que já existe em grande destaque na literatura portuguesa do século XVI. A esse século pertence também o núcleo da história da viagem do elefante Salomão.
O núcleo narrativo, segundo a confissão do próprio Saramago teve origem num conjunto de circunstâncias que ocorreram numa visita que ele fez à cidade austríaca de Salzburgo. Entre essas circunstâncias está um jantar no restaurante 'O Elefante', em Salzburgo, que lhe proporcionou o conhecimento de um conjunto de esculturas em madeira, dispostas ali de tal forma, que davam a idéia de um itinerário. Como resposta à sua curiosidade de visitante, foi-lhe explicado que essas figuras representavam a história da viagem de um elefante oferecido de presente pelo rei português D. João III em 1551 a seu primo arquiduque Maximiliano de Áustria. Esse elefante empreendeu uma longa viagem de Lisboa a Viena. E essa foi a história que Saramago aproveitou para sua narrativa, ajudado por algumas indispensáveis informações históricas fornecidas pela Professora Gilda Lopes Encarnação, leitora de Português na Universidade de Salzburgo, a quem agradece na abertura do livro.

A arte literária de narrar

O tom especial da escrita de Saramago tem seu ponto alto na arte de narrar ou de contar. Quando define o livro como conto, o autor aponta na direção do gênero com que quer caracterizar sua prosa. Seu propósito é contar a história da viagem do elefante de Lisboa a Viena. Mesmo que essa arte de contar seja pura narrativa, nela convivem e se misturam os processos retóricos especiais com a especificidade de detalhes distribuídos em arquitetura literária muito próprios da singularidade literária de Saramago. Uma história que poderia ser comum e até banal, se nos viesse apenas dizer que um elefante empreendeu uma viagem por terra e mar de Lisboa até Viena de Áustria transforma-se numa narrativa que tem seus momentos profundamente épicos e também líricos e também dramáticos. A epopeia está nessa viagem gloriosa de um elefante que é representação e símbolo do exotismo dos descobrimentos. A política real portuguesa de D. João III mostra um encontro de civilizações, e um elefante vindo da Índia, com seu tratador especial, um cornaca, imbuído de conceitos místicos de tratamento e respeito pelo elefante, pela figura de ganeixa, o deus elefante. A viagem será épica pela organização, pelo brio do comandante, pelo orgulho e selo português da caravana, pela confronto político e sagacidade do comandante português com o comandante dos couraceiros em Castelo Rodrigo. Esta é uma das partes altas do livro, escrita perfeita em termos de diálogo e contenção verbal mostrando o que pode ser a nata da habilidade política e castrense em momentos decisivos. Líricos por outro lado são todos os lances do tratamento do cornaca ou subhro para com o elefante. Dramáticos são todos os momentos de tensão vivida na fronteira entre os couraceiros vindos de Valladolid e o comandante da caravana. Saramago consegue criar discursos à altura. E é nesse momento que uma simples história se torna história de profundidade literária.

ESTILO LITERÁRIO

A crítica costuma atribuir a cada escritor um estilo próprio. Ou seja, assim como há uma maneira oral de falar, assim também há uma maneira própria de escrever. A isto se chama estilo. A maneira própria de falar carrega todas as características individuais próprias do indivíduo. Sendo assim, Saramago teria também seu estilo próprio. Mesmo sem entramos muito a fundo no estilo literário de Saramago, alguns detalhes podem ser observados como formas de identificação de sua maneira de escrever.
O primeiro detalhe seria a forma minuciosa e rigorosa com que ele tece a intriga de seus livros. De maneira própria desenha a curvatura da história e leva-a até ao fim com formalidade projetada. Outro detalhe está na singularidade com que constrói os diálogos entre seus personagens. No âmago desse diálogo como linhas de fronteira entram os sinais de pontuação. Os célebres sinais de pontuação de Saramago. O uso da vírgula com múltiplas funções e o confuso amontoamento de frases e partes variadas do discurso sem pontos finais, sem parágrafos, orientados apenas pelo fio interno do sentido do diálogo, nem sempre apreensível na primeira leitura dadas as reais circunstâncias em que o leitor se encontra para se concentrar e ler fluidamente o discurso literário que lhe é apresentado. Aliás este é um ponto estranho porque ao mesmo tempo que usa a benevolência dos leitores em decifrar seu texto, ele próprio não faz esforço em produzir um texto próprio para as escolas de língua portuguesa todas elas usuárias de um sistema de pontuação próprio do sistema da língua ensinada no mundo das comunidades de língua portuguesa.
Outro detalhe cada vez mais presente na recente obra de Saramago é o recurso a abundantes empréstimos linguísticos, sejam eles extraídos do latim, do francês, do italiano, do espanhol ou do alemão.
Empréstimos latinos
Canis lúpus signatus [lobo ibérico] 104
Ad libitum 112
Casus belli 113
Ipso facto 134
Alter ego de Salomão 148
Rara avis 163
Emprésimos franceses
Vol d’oiseau 193




(A CONTINUAÇÃO ESTÁ EM ELABORAÇÃO... LOGO, LOGO ESTARÁ AÍ...)

João Ferreira
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