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Contos-->PERIPÉCIAS ROCAMBOLESCAS DE OSÍRIS. -- 21/12/2002 - 03:09 (COELHO DE MORAES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PERIPÉCIAS ROCAMBOLESCAS DE OSÍRIS.
( uma novela do cão )

1) Osíris era um gato siamês que vivia entre ladeiras do Ingá e os muros das casas, mas, maior prazer não tirava se não aparecesse enfronhado em lençóis e abraços de sua Senhora-Amiga-Confidente. A particularidade maior, no entanto, estava no fato de que Osíris identificava-se como um gato oriundo do Sião, das terrenosas áreas do Entre-Rios, de requintado gosto judaico, apesar do nome divino e egípcio. Era muito chegado a mordomias, como se ainda estivesse acostumado a perambular pelos antigos palácios de Tebas ou Karnac, lado a lado a Faraó, ou então, pelos luxuosos salões de propriedade dos Tretarcas da Galiléia, antes da invasão dos Romanos, se assim fosse possível. Osíris sonhava com tudo isso, como a relembrar uma de suas vidas.
Mas, na realidade, Osíris tinha que se conformar com os muros das ruas sujas de Niterói, bem como os abraços pegajosos de sua Eternamente-Deleitosa-Transtornada-Mãe artificial e, de vez em quando cair de lambidas sobre sua paixão: a Gata Kristh, de origem germânica, apesar de inocentada em Nuremberg, mas, evidentemente, causadora de dissabores e alguns trissabores ao nosso herói, como veremos no transcurso da história.

2) Nesta aventura aparecerão uns cães de má índole que moravam na residência ao lado. Várias vezes observados por Osíris. Da mesma forma, os tres dálmatas olhvam o passeio do felino, como um gatuno, sobre os muros, com passadas leves que deixavam a platéia canina em polvorosa. Latidos e ranger de dentes era o que mais se ouvia por aquelas plagas, mas, o gato, nem aí. Osíris passava e nem se dava ao luxo de olhar o azáfama no meio da cachorrada pintalgada de preto ao rés do solo, se bem que prestasse bastante atenção no caso de novidades. Passava e ia pisando pelica, sobre as almofadinhas de suas patas; quando muito, parava para dar uma lambida na cauda, arrumar os bigodes, para em seguida retomar o caminho que o levaria para os pelos de Kristh.
Muita gente pediu para que não se contasse o tal segredo, mas, o escritor em questão não pode privar os leitores das verdades que se propõe a contar. E, o segredo escondia, por sua vez, o seguinte: "Havia no bairro, muitos outros gatos, os quais se dispunham a cortejar Kristh felpuda, que não lhes dava corda para tanto. Ela estava caída pela elegancia, pelas cores, pela origem e descendencia do gato Osíris ( consta que ele tinha lá o seu arvoredo genealógico -- toda a linhagem desde Tutmés III até os dias atuais, quando suas tribos tiveram que escapar do cão nazista, ou seja, um certo pastor alemão que alvoroçou a Germania ), enfim, o que se sabe ao certo é que uma horda de felinos inamistosos percebeu que só teriam a Gata Kristh caso Osíris falecesse e, para abreviar o caminho até a pulverização do gato odiado, os inimigos contrataram os serviços --- olhe e atemorize-se, caro leitor! Pasme! Até onde pode ir a animalidade! --- e, eu dizia, contratou os desatinados serviços de um canil cheinho de cães, é óbvio, mas, daqueles que comem até o osso do vizinho e, não digo o osso da alimentação, mas, o da perna mesmo, tamanha a ruindade.
Por motivos de pura inveja e recalque, Osíris viu-se em palpos de aranha, se bem que aranha mesmo não houvesse uma, mas tal é o que se ganha quando se utiliza expressão idiomática num texto. Subia ele a rua Presidente Pedreira, voltando do escatada deem Nuremberg, mas, evidentemente, causadora de dissabores e alguns trissabores ao nosso herói, como veremos no ranscurso da história.

2) Nesta aventura aparecerão unes de má índoloe que moravam na residência ao lado. Várias vezes observados por Osíris. Da mesma forma, os tres dálmatas olhvam o passeio do feinol, como um tuno , sobre os muros, com passadas leves que deixavam a platéia canina em polvorósao. Latidos e grranger de dentes era que mauis se ouvia por aquelas plagas, mas ,, o gatnquanto o choro brotava. Mais atrás, em sua casa, ja alimentada, preparando-se para dormir, pensando oniricamente em Osíris e futuros gatinhos, a puequena Kristh pressentiu que algo não ía bem.
Osíris percebeu que só um milagre o colocaria fora das mandíbulas destruidoras daqueles irracíveis mercenários e, foi com os nervos à flor da pele que ele esperou pelo pior.

3) Os anais não garantem se foi pior ou melhor, mas, o fato é que não se sabe como, nem se aparição era terrestre ou não, no entanto, a aparição apareceu. Um milagre... um ser... um alienígena... veio, caminhando, a medida que os doentios olhos dos cães foram se abrindo desmesuradamente, ficando em estado de total estatelação! O sombrio ser se aproximava e, os cães o temiam, e ele vinha, dormindo ou acordado ( era difícil de saber ), em estado sonambúlico ( aparentemente ), se bem que muita gente dizia, as más línguas, que não havia diferença entre a viagem e o sono para tal ser. As boas concordaram. Surgiu, das trevas da noite, para a salvação de Osíris, para despeito dos felinos traidores, para horror do mastim venal, eis ( ! ) que surgiu o Leviatã adormecido, o gigante tórpido, muito mais conhecido como Anselmo, candidato consorte de Tetê, que muitas vezes se fazia passar pela irmã da Extasiada-Edípica-Electra-Amantíssima- Mãe do gato herói, como já sabemos.
"Ah! Felicidade. Onde estás que não te vejo?"Juro que tais foram os pensamentos que passaram pela mente argurta do gato. Num triz ele zarpou pela rua, pulando montículos de barro e crateras de asfalto, para finalmente sorver o oxigênio puro à janela do apartamento de um casal simpático e amigo que morava na rua perpendicular. Como agradecido pela presença, pelo menos em espírito, do Leviatã, Osiris desejou-lhe dar-lhe algumas lambidas e pôs-se a contar estrelas, enquanto tal momento não chegava.
É escusado dizer que a carrochada desapareceu na noite, ganindo horrorizada, o que ratificava sem a intenção de enfiar um rato nesta história, mas, sim no sentido de garantir a lenda popular de que cães tem uma sensibilidade bastante apurada, de modo que podem sentrir vibrações, energias e fantasmagorias diversas no recôndito das trevas e dos corpos dos seres, coisa que para o humano não passa de invencionice de quem é portador de terrivel deformidade mental. Podemos até aventar a hipótese de que teriam, os cães, identificado na criatura Anselmo um ascendente, o qual superior e sábio viesse para puní-los. Nunca se saberá. Mas a procupação maior, sim, e aí era necessária muita cautela e cuidados, visto que os felinos logrados, ao mesmo tempo que bradavam contra os quadrúpedes fujões e suas mães prediletas, já arquitetavam a desforra, com sutis violências.

4) A hitória poderia parar por aqui, livrando o leitor insígne de conhecimento atrozes. Mas, de que vale o poder e a iniciativa de escrever, se não se conta tudo? Não posso favorecer o leitor mais fraco evitando acontecimentos agros, em detrimento da verdade. Custando o que custar, ei-la, fria e crua, como se apareceu.
Osíris, descuidado, enquanto tentava pegar uma borboleta amarela no jardim, não percebeu a origem dos psius. Não percebeu que quem fazia psiu-psiu, era um dos dälmatas. Ora junte-se um pouco de curiosidade ao descuido e temos o desatre. Osíris foi ver o que era. Saltou sobre o muro e sorriu. Lá embaixo, numa bela clareira no meio do jardim do vizinho, havia uma aglomeração que foi facilmente identificada como um congresso ou simpósio de entre artrópodes. Sim. Com jeito era possível que, se não fosse uma invasão de insetos de Urano, com certeza tratava-se do desfile anual de taturanas, uma das coisas que deixava Osíris bastante embevecido e, sempre esperançoso de que algum dia tivesse a honra de ver o nascimento de taturanas sem aquele horrível manto ardente, completamente inibidor de abocanhações e similares. Ingênuo, pulou e juntou as patinhas, olhando o grupamento alí parado.
Parado. Realmente parados. Taturanas, Taturanões, Taturaltos e outros da parentalha, não se moviam! "Algo estranho por estas bandas", pensou Osíris. A sua cabeça dava tratos e permitia que as orelhas tentassem captar sons suspeitos. "Não estou gostan..."
TABÉFE!!
Tabéfe foi o barulho que fez apenas uma patolada e, o pequeno gato foi parar contra o muro, para ele o das lamentações, deixando uns pelos colados na parede caiada. Estava tonto. Não notara que fora uma cilada. E, olha que não despregava os olhos da televisão. Devia conhecer todos os truques.
Os tres dálmataz -- Cão, Canicho e Canaz -- armaram uma arapuca onde o herói acabou caindo como um passarinho, para ficar mais irônico. Enquanto se erguia, ou pelo menos tentava, pensou nas taturanas que serviram de isca para a sua captura, mas, não teve tempo de terminar o pensamento... TABÉFE! Outra bofetada bem dada fez o gato rodopiar mil vezes ao som das gargalhadas incessantes dos dálmatas e dos gatos, funâmbulos, sobre o muro.
Canaz caiu de mordidas sobre o pêlo brilhante de Osíris, o qual pêlo, em poucos segundos ficou empapado de vermelho. Cão, o do meio, seguindo as pegadas do irmão mais velho, puxou Osíris usando as orelhas do gato, girando no ar, para em seguida largá-lo e vê-lo cair sobre o tanque de lavar roupa, previamente preparado com sal, aguarrás e soda cáustica. Osíris não sabia nadar e, enquanto se afogava, como é de praxe nestas circunstâncias de desencarne, tudo o que foi vivido passou pelos pensamentos de Osíris, pesando seus erros e correções, rememorando os dias e as noites, suas açoes e miadas, seus saltos mal dados e seus namoros imorais; memorava os inúmeros filhotes espalhados pela vizinhança e orou para que o deus-gato, o FÉLIS CATUS MÁXIMUS, pedindo para o seus inimigos não se vingassem dos petizes. Apesar dessa flagrante exteriorização de bondade, Osíris fez a chantagem usual, a barganha cósmica, suplicando pela sua vida ( na sua conta ainda faltavam tres, das sete ) em troca do quê ele mudaria de conduta, diria preces para a lua todas as quintas-feiras, uma vez que a lua, mãe dos poetas e lunáticos, dos notívagos e vagamundos, clareava as noites e não deixava que Osíris enfiasse a pata em telhas soltas.
Mas os cães não pretendiam vê-lo afogado, pelo menos, por enquanto.
Canicho, o caçulinha e, diziam, o pior dos tres pois estava na fase de auto-afirmação, pescou, por assim dizer, Osiris do tanque antes que esse pudesse perceber o gosto do Terebintoe, enquanto enchia-o de palmadas e pequenas mordidelas só para treinar, carregava-o para os lados de um formigueiro, sob a ovação da gataria sobre o muro.
Era um formigueirode saúvas grúdas, sob umas pedras pintadas debranco. O interesse de canicho, no entanto, não eram as formigas, mas, as pedras. Umas pontudas, outras rombudas. Sua intenção era, definitivamente, acabar com a brincadeira e calcar uma pedra na cachola do gato. Osíris percebeu e foi com desespero que lutou sua última batalha.
Os gatos inimigos o vaiavam.
Retirando, porém, energias suficientes para ser considerado o Gato do Ano, Osíris crispu os dedos das patinhas, arrepiou os pêlos, contraiu a musculatura, riscou o ar com suas unhas afiadas e, num movimento convulsivo, rabiscou a cara de todos os cachorros que apareceram na sua frente. Havia tres mas, Osíris, à essa altura do campeonato já via uns quinze.
A platéia estatificou-se. Era impossível que ainda se salvasse aquele biltre! Se não fossem inimigos até aplaudiriam o arroubo! Depois de tanto apanhar ainda reunia forças para a luta!?
Osíris, sem perder sua constante ingenuidade, subindo pelo muro com loucura selvagem, estendeu as patas para os gatos que o olhavam lá do alto, supondo que a espécie falasse mais profundamente no coração. Contudo, a única coisa que fizeram foi segurarem suas patas apenas o tempo suficiente para Osíris perder o pique da arrancada. Após, uma bela chacota, largaram o herói dentro da boca de Canaz, que não perdeu mais tempo e o mastigou, assim como não quer nada.
Mas, parecia, a divindade estava ao lado, imensamente protetora. Os pródigos sempre serão exaltados e os maus destruídos. No alto, sobre o peitoril da janela, fazendo menção de pular, a modos de quem limpa vidraça, uma sublime visão! No momento em que Canaz se preparava para a segunda mastigada, tendo aberto a boca ao máximo, com olhos voltados para o céu, saboreando o manjar com prazer inaudito... ele vê... sim, ele vê... vê e para... seus irmãos acompanham seus olhos medrosos... Osíris cai-lhe da boca que não mais se fecha e sai manquitolando, com as patas nos quadris. Bem sabe que os cães pararam porque a exelsa criatura, possívelmente um enviado de FÉLIS CATUS MÁXIMUS, o leviatã adormecido, não lhes sai da pupila canina de cada um. O horror chega aos tres dálmatas que se não sabem se fogem ou se prostam alí mesmo, em adoração ao deus supremo, ou ao que julgam ser a deidade máxima, perambulando aêsmo, batendo a cabeça numa e noutra parede.
E, é no atonismo da cena, sob, o olhar boquiaberto dos gatos inimigos que Osíris escorrega, indo para longe, esconder seu corpo alquebrado e mal tratado, num desses socavões do terreno, sómente conhecido por ele e Kristh.
Afinal, o que leva essa turba de felinos a odiá-lo? Uma única resposta é esperada. O amor íntegro de kristh, voltado totalmente ao nosso herói. A gata ronronante, de pêlos longos e sedosos... Kirsth com a boca cheirando a sardinha... Kristh das lambidas úmidas e movediças...
Kristh dos encontros fortuitos e noitadas festivas. Kristh dos bigodes sensíveios e dos abraços que o aga( ta )rravam fortemente... Kristh bela... Num último pensamento Osíris quase sucumbe... "Kristh, querida Kristh... Não tome todo o leite...", e, desfalece.

5) De fato, Kristh foi encontrá-lo pela manhã, e lá estava o gato no buraco, gemendo de imensas dores ferinas. Rapidamente, com a ajuda de amigos, Kristh levou-o para junto de sua Senhora-Mãe-Eternecida-Protetora já por nós conhecida.
Contar o sentimento profundo e a sensação pungente que atracou, esta é bem a palavra, a alma da mãe adotiva de Osíris é impossível. Podemos dizer que vários baldes de plástico, usados em limpeza, não poucos, foram completos até a boca só com o pranto cascateante vertido pela Mãe-Adorada-Importuna-Repressora, por ocasião do encontro ao mesmo tempo terno e doloroso. Não se sabia sobre a gravidade do estado do animalejo infeliz. Era necessário que um douto fosse chamado para as devidas consultas.
Assim foi. Apesar disso, Osíris foi perdendo, lentamente, e de certa forma, faces de enfermo do corpo para, aos poucos, um semblante de enfermo da mente. Para a Materna-Suplicante-Ensimesmada-Pranteante, isso não podia ser, afinal, é do conhecimento de todos que o chamado Amor imenso e sublimado leva as pessoas a não raciocinarem, ao mesmo tempo que pensam em ajudar, quando na verdade atrapalham. E, ela, Mãe-Senhora-Sublime-Fervorosa, não acreditava, por conveniência própria também, que o bichano predileto estivesse abestalhado. Desculpe, leitor, mas eu diria, sucumbindo em seu estado psíquico. De moribundo a alienado, não havia escolha. Que se fizesse o desenlace vital, o trespasse desta para melhor o mais rápido possível, mas, louco ( ? ), ela se perguntava, louco não ( ! ), ela se respondia e, o caso ficava sem definição. Para a mãe, o fato de usar brincos no rabo ( falo do gato ), não era sinal de loucura, mas, talves ele apenas estivesse assumindo uma postura moral diferente, apenas. Contudo ela percebia que tentar o menor contato com ele, Osíris se tornava arisco, apimentado, salobre ao extremo, evitando o relacionamento familiar e íntimo, de modo que a mãe permanecia com as pernas abertas à toa.
Mesmo a namorada-amante, a macia Kristh, ficou desapontada ao notar modificações no carater do gato. Seu amor por ele não diminuiu, não morreu, é claro, mas ela se preocupava pois havia muito gato até pelas quadradesas, o que não seria de importância maior caso o período de cio não estivesse se aproximando.
Osíris, medroso e estremecido, via dálmata por todo lado e não poucas vezes testemunhou-se brigas homéricas entre Osíris e a vassoura de pêlos.
Enquanto isso, a Mãe-Avassalada-Insatisfeita, pensava que apenas o seu rim ( falo do gato ) é que estava fora do lugar. Nem mesmo a presença do Leviatã adormecido ajudava na melhoria do felino. É bem verdade que as ataduras que enrolavam a cabeça do Leviatã modificasse um pouco suas feições, sendo que havia aquela cabeça totalmente enfaixada e os óculos sobre os panos, de modo que o gato dificilmente reconheceria seu salvador através dos óculos. Não tivesse o Leviatã caído da escada, numa de suas incursões noturnas e seria possível pensar em salvação para Osíris.
Em poucos dias ficou demonstrada a traumatizante verdade de que Osíris penetrara nos recônditos domínios da psicose-maníaco-depressiva e, todos esperavam que de um momento para outro ocorresse um suicídio, principalmente profetizado pela Mãe-Abnegada-Chorosa-Lacrimejante, moradora da Maestro Ricardo Ferreira, cujo perfume favorito deveria aromatizar segundo o Musgo, doméstico ou selvagem, mas, que se fosse presente poderia ser qualquer um.

6) Finalmente marcou-se o dia da consulta com um médico psicanalista de gatos que, por coincidência, visitava o Brasil, país dos gatos, gatunos, gaturamos, mãos de gato, para passar as férias de verão, que para ele eram de inverno.
No começo o tal médico tentou se esgueirar, fugir da responsabilidade, copiando os nativos, dizendo que não entenderia a língua do gato, uma vez que o paciente era morador das terras tupiniquins desde muito tempo. Deixou perceber que tinha ojeriza por gatos judeus, apesar do nome egípcio para confundir, já que ele, o tal doutor, era de origem teutônica e, não ficava bem cuidar de um de seus arqui inimigos de política e raça. Por outro lado, o doutor Duerf, deixou bem claro que dissera tudo aquilo para que os jornais não propalassem que um austríaco da Morávia havia se entendido com um israelista tropical e, ele não corresse perigo de uma vez voltando à sua terra se ver marginalizado, reputação abaixo de zero, solidificada pela descoberta de que ele, Duerf, que estudou a muito custo em Viena, também era hebreu e, que na volta à terra natal o pau comeria.
Mais tarde ainda o renomado doutor confessou que adorava gatos siameses, no entanto não mudaria de idéia, por dinheiro nenhum.
Mais tarde ainda disse tinha dúzias de gatos em casa. De qualquer tipo e raça. Gostava de ficar espirrando quando os pêlos se amontoavam em seu travesseiro e adentravam pelo nariz durante o sono. Concordou em tratar do Osíris.
Aceitou o caso e, no dia 23 de setembro, ano de 1983, o aloprado bichano foi conduzido para o apartamento do médico, sob todos os cuidados; narcotizado, amarrado com uma leve camisa de força e uma viseira, sob um belo capacete metálico de motociclista, para que seus inimigos não o reconhecessem, e, vice-versa.
Para não prolongarmos a história temos de fazer sumários do tratamento aplicado e as importantes conclusões deixadas pelo doutor Duerf Freiberg:
26 de setembro - o paciente continua arisco. Mas, foi possível ganhar um pouco da sua confiança no momento em que o coloquei frente a frente a meu fiel auxiliar vindo da Lapônia, o qual, não sei se importante, parece um verdadeiro cão São Bernardo, cujo barrilzinho de conhaque está representado pela própria barriga do rapaz, que de vez em quando arrota. Fisiólogico. Mas, ao vê-lo, Osíris acalma-se. Contudo faz dez horas que canta pirulito-que-bate-bate e ainda não parou.
1o de outubro - o paciente teve uma melhora, uma vez que depositou suas produções orgânicas sobre o tapete do consultório, o que é muito natural.
Ainda assim ele confunde o bom auxiliar lapão e, é preciso muitas vezes, retirar o auxiliar da gaiola ratoeira, por tres motivos: ter sido perseguido pelo paciente, a necessidade que tenho de seus serviços e, para que não acabe com meu estoque de queijo.
2 de outubro - é domingo e fui à praia. O lapão ficou tomando conta do bichano em tratamento. Quando saí os dois estavam trancados no banheiro escovando os dentes.
2 de outubro - noite. Terrível desastre. Osíris quase afoga o auxiliar na banheira, depois de ter-lhe cortado as barbas, a sombrancelha direita, os cabelos a nível de occipital, os cílios da parte de baixo, os pêlos dos ouvidos, tudo isso apenas usando uma lixa de calos. Tentei desesperadamente fazer o auxiliar contar como tudo aquilo acontecera mas , só mais tarde percebi que ele tinha um sabonete incrustado no larinx, o que explicava as bolhas que saíam do ouvido esquerdo da vítima. Não entendi o sorriso de Osíris.
5 de outubro - o tratamento com choque não alterou a disposição. É bem verdade que um olho pisca alternado com o outro, mas, isso não interfere no processo de reassociação mental que tento empregar para a cura.Estou quase certo de que a histeria ora instalada é oriunda de um acometimento tramático ocorrido no passado. Digo isso pois o futuro ainda é desconhecido pela Ciência. De outra forma eu diria que a causa ainda está para acontecer, tamanha a complexidade do caso. Ainda não descobri porque o animal tem medo de geladeira.
13 de outubro - à minha revelia o lapão carregou Osíris para um banho de mar nas imediações. Na volta, o auxiliar, sem perceber, trouxe um peixe na coleira onde levara o gato. Mandei-o de volta, preocupado e com uma leve ponta de irritação. Trouxe de volta o peixe e retirou o famigerado gato de dentro do peixe. Não sei mais onde está minha cabeça. Só espero que Adler não saiba deste episódio em minha vida.Acho que começarei com a hipinóse imediatamente. Esse animal é impossível e, quanto mais ele ficar desacordado, melhor. Marquei hora com um analista do Brasil para que me reequilibre desta enfermidade tropical.
18 de outubro - cometi um erro. Deixei meu auxiliar lapão dentro da mesma sala e após algumas horas de sessão com hipinóse, em que já teria atingido uma idade embrionária do gato, o auxiliar iniciou uma série de miados em língua estranha. Joguei água fria em seu rosto, mas, ele continua se lambendo. Fazendo Osíris voltar ao estado normal de vigília, o lapão também retornou, o que me leva a concluir que os dois são ligados por alguma associação sensitiva paranormal, que não é meu campo. Ou o lapão ou o gato é um médium poderoso. Apesar de normal, o lapão continua irremovível em sua atitude de beber leite no pires, debaixo do fogão. Mais de uma vez pude vê-lo retirando pulgas com a pata trasei... ( desculpem! ), com o pé.
25 de outubro - um mês de tratamento e Osíris já consegue receber carinhos sem se exaltar e nem pular como se fosse de borracha. Da última vez, caiu no colo de uma senhora moradora do andar de cima, que tricotava, e, no fim, o gato me fora devolvido em forma de bonita blusa. Fiquei tentado a deixá-lo assim, confesso. A ética, no entanto, essa maldita consciência exterior, falou muito mais alto. Hoje porém, está muito melhor ( falo do gato e não da ética ). De vez em quando dá gargalhadas insuportáveis, mas, é só. O lapão não mais foi visto. Temo que tenha fugido.
29 de outubro - trabalho incessante. Utilizando o método da associação livre, desconfio e descubro alguns traumas causadores dos distúrbios. Têm fundo puramente sexual. Sexual reprimido, talvez. Pelo que pude constatar, Osíris ama uma certa gata, mas, ao mesmo tempo é obisidiado pelo amor da Mãe-Adotiva-Enternecida-Encantadora. Sendo assim, impossibilitado de levar a termo a relação com a mãe, por motivos óbvios de incongruências anatômicas, se bem que a Mãe-Obsequiosa-Defensora não ligue para os pêlos na boca, ele se liberta, limitadamente, sendo infiel com muitas gatas ao mesmo tempo, com o fito de inibir o sentimento de castração que o persegue. A gata que ele ama é a sublimação do Amor. A mãe é o amor carnal inatingível. Na verdade, ambos inatingíveis. Caso a cura se faça, a tendência será alcançar a monogamia, com Kristh ou com a Mãe. Aí não sei. Mas, por outro lado sei que se formou o conhecido triplexo temporal: o de Édipo, quando o gato tenta manifestar seu amor pela mãe, mas, apenas recebe palmadinhas e tapinhas nas costas, quando na verdade ele queria outra coisa. Isso o frustra em demasia. Em seguida o Éradipo, tendo o gato se apaixonado pela Mãe-Adorada-Maravilhosa desde pequeno, confundindo o amor carnal com o filial. Por fim, o de Serádipo, relacionado com o futuro ou, seja, a manutenção da descendência, coisa que só acontecerá com seres da sua própria espécie, objetivado o interesse em Kristh, numa tentativa de integridade específica já que como não consegue como indivíduo.
Ah! Descobri o auxiliar: estava preso no guarda-roupa e disse que não gritou para não incomodar os vizinhos.
Ainda não sei porque contratei esta personagem.
2 de novembro - finados. Dia de finados. O dia chuvoso, o ambiente triste, talvez, inflenciaram sobre Osíris e houve uma recaída. Um ameaço. Seu moral só se elevou quando viu o auxiliar esquecer o dedo na tomada de força da televisão, mudando de cor em vários canais, passando em segundos do verde mais intenso para o adorável roxo, aterrizando no azul da prússia numa elegante voltagem. Aproveitei o ensejo e coloquei Osíris num processo de cartase acentuada, visando uma melhora definitiva. Acho que estava correto. O gato parece completamente curado. Antes de devolvê-lo à sua Senhora-Ama-Amada-Amante preciso fazê-lo desistir de usar a capa preta e a ridícula máscara de Zorro que conseguiu não sei onde.
7 de novembro - parto amanhã, consciente de terminar meu trabalho. Cumpri adequadamente a missão, espero. O avião leva minha douta pessoa para a velha Áustria e, eu mesmo levo folhas e mais folhas de um relatório importante que apresentarei no congresso de Copenhaguem, no bissexto de 84. O lapão sumiu novamente, mas, desta vez eu o vi descer pelo ralo da cozinha e, numa hora como esta deve estar boiando entre porcarias orgânicas variadas no meio desta imensa baía da Guanabara, onde outrora baleias vinham dar à luz

7) Voltando ao lar, após despedir-se do doutor Duerf, Osíris não poderia se preocupar com outra coisa a não ser rever Kristh, que não mais aguentava o assédio dos gatos. Uma vez Osíris, sempre Osíris e, foi com amor aparado pelas fabulosas técnicas da psiquiatria e muita relaxação, que se encontraram no sacovão de interlúdios, à meia noite de uma época quente e tentadora.
A Mãe-Adorada-Idolatrada-Confidente-Esperançosa-Arfante, passou a dormir bem, uma vez que
o gato, não raro, se instalava entre suas pernas, durante as madrugadas.
Cães e gatos, sabedores do restabelecimento e cura total do felino herói, armaram novo golpe, alicerçados em planos e estratégias dos melhores generais, mas, desistiram quando se lembraram da constante presença, quase divinal, onírica, soporífica, tetraóptica, do fantasmagóricamente alvo ser, que sempre exercia peso a favor do gato Osíris. No momento oportuno lá estaria ele, o Leviatã adormecido, com seu passeio sonambólico, assombrando suas ínfimas vidas animais. Resolveram, cães e gatos, confraternizarem e esquecer. Discutir, sim, mas, outros assuntos de menor importância, deixando de lado Osíris e Kristh. Resolveram encher a cara num barzinho chamado, ironicamente, "Quatro Gatos", na esquina e aproveitaram para cantar jingo-bel, uma vez que já era Natal e, o que ia sobrar de perna de perú por alí, não estava no gibi.

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