Para iludir minha desgraça, estudo
Intimamente sei que não me iludo
Para onde vou? (o mundo inteiro nota)
Nos meus olhares fúnebres, carrego
A indiferença estúpida de um cego
E o ar indolente de um chinês idiota
A passagem dos séculos me assombra,
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo louco de eletricidade?
Caminho e a mim pergunto na vertigem:
- Quem sou? Para onde vou? Qual a minha origem?
E parece-me estás em sonho a realidade
E quando vi que a morte vinha vindo
Eu fui caindo, como um sol caindo.
De declínio em declínio.; E de declínio
Em declínio, como a gula de uma fera,
Quis ver o que era, e quando vi o que era,
Vi o que era pó, vi que era esterquilínio.
Ao terminar este sentido poema
Onde vazei minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos,
Rola-me na cabeça o cérebro oco
Acaso, meu Deus, estarei louco?
Doravante não farei mais versos
Alegria tristonha
Do que pelo mundo vai
Se um sonha, e se ergues outro cai
Se um cai, outro se ergue e sonha
Mas, desgraçado do pobre
Que em meio da vida cai
Esse não volta, esse vai
Para o túmulo que o cobre
A lampeja a estirar linguais vermelhas
Lambe o ar, bruto horror me arrebata
Como um degenerado psicopata
Eis-me a contar o número das telhas.
*** AUGUSTO DOS ANJOS ***
PS: Poema gentilmente enviado pelo amigo Rafael "Morcego".
A voce um grande beijo.
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