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Ensaios-->Crise: Dois textos do economista Nivaldo Cordeiro -- 04/12/2008 - 22:45 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CRISE DA ESTUPIDEZ

Nivaldo Cordeiro

28/11/2008

Entendo que a abordagem de autores como Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca e Robert Michels ao estudar a formação das elites se esgota no aspecto descritivo. Esses autores constataram a existência de elites econômicas e políticas ao longo de história e o mais óbvio, que não há como existir um corpo social sem que uma elite dirigente seja constituída por qualquer critério, legítimo ou ilegítimo.

Outra coisa é compreender a responsabilidade que as elites constituídas carregam em si. Elas precisam legitimar-se, servir como representação existencial das gentes, mas precisam também conduzir os destinos do conjunto social. Para isso servem. Por isso a obra de Ortega y Gasset se torna muito importante para sublinhar que essa dita elite precisa ser egrégia, carregar os valores da tradição, ter presente em si a consciência histórica. Ser elite é ter responsabilidade diante de todos e de cada um e pressupõe essa diferenciação moral que faz do integrante da elite um ser humano distinto, capaz de tomar as melhores decisões.

Na mesma linha, a obra de Irving Babbit sublinha a necessidade vital para a ordem democrática da emergência de lideranças ativas, conscientes de seu papel moral enquanto dirigentes. Seu livro DEMOCRACIA E LIDERANÇA é especialmente instigante por conter a mais sólida crítica à filosofia de Rousseau (capítulo II) já escrita, que na prática demonstra a incompatibilidade de uma liderança moral, comprometida de fato com os valores superiores, e a igualdade geral defendida pelo genebrino. Babbit é atualíssimo e precisa voltar a fazer parte dos currículos universitários, se é que algum dia o foi no Brasil.

É fundamental a idéia de que o líder precisa conduzir a sociedade e não se deixar conduzir por ela. Basta olhar em nossa volta, com a eleição de Barack Obama e de Lula por aqui, para se perceber o abismo em que se encontra o mundo. Não é mais o cachorro que balança o rabo, é o rabo que balança o cachorro. O bordão “Yes, we can” é esse grito da multidão para o falso líder, que não tem o preparo adequado e nem a disposição de impor às massas as decisões necessárias para o bom governo da sociedade.

E tenho que comentar de novo a obra de Voegelin, HITLER E OS ALEMÃES, porque nela o autor mostrou que o fenômeno do nazismo pode ser lido como uma constatação do aviltamento da elite dirigente ao nível das massas, isto é, a estupidificação da elite. Voegelin vai mais longe, ao qualificar essa elite pervertida de “ralé”, sem tirar nem pôr. É precisamente o que estamos a ver nos EUA (e entre nós também, mas seria tema para outra reflexão).

A crise econômica que explodiu com a bolha do subprime é exatamente o resultado do uso ilegítimo dos poderes do Estado para a satisfação do imediatismo do apetite das massas. É a omissão das elites e até mais: é a perversão das elites. Os fatos: 1- a lei da escassez existe e não pode ser extinta; 2- Há uma hierarquia social que é determinada fundamentalmente pelas habilidades e aptidões individuais. Procurar a equalização prática de toda a gente é a grande e violenta ilusão socialista; 3- O monopólio da emissão da moeda dado a si pelo Estado impõe a responsabilidade de ser o guardião da moeda, apesar de tudo e de todas as pressões.

A bolha imobiliária foi criada porque políticos e burocratas bem intencionados quiseram abolir a lei da escassez, quiseram impor arbitrariamente o acesso ao crédito de forma artificial para quem não deveria ter, praticaram uma frouxa e artificial política monetária, que alimentou uma expansão econômica impossível de ser mantida. A inflação nos EUA só não aumentou muito porque eles são (ainda) os emissores mundiais de moeda conversível, houve grande aumento da produtividade ligado às novas tecnologias de informática e de telecomunicações e a China entrou para valer no mercado mundial ofertando mão de obra barata. Esses fatores benéficos, todavia, não servirão mais de contrapeso à crise que chegou.

O sonho acabou, a realidade se impôs. A isso é o que chamamos de crise. Sua origem está na elite dirigente dos EUA, que violentou as leis econômicas e se recusou a conduzir as massas, passando a ser por elas conduzidos. Veja, caro leitor, essa promessa de Obama de universalizar o acesso à saúde. É impossível de ser honrada: serviços de saúde são um bem econômico caro e o Estado norte-americano, mesmo rico, não é rico o bastante para abolir sua escassez. Faz-me lembrar os socialistas que, anos atrás, quiseram implantar a Tarifa Zero nos transportes coletivos de São Paulo. Não passaram das intenções porque é pura maluquice.

A conclusão é que está no poder uma elite irresponsável e estúpida, que não cumpre o seu papel e não tem a estatura moral para ser condutora do Estado. Tem sido assim de há muito, mas o singular do momento é que a concentração de estúpidos no poder nunca foi tão grande. A eleição de Obama é esse coroamento da estupidez, do hermetismo da alma, do sonho gnóstico de recriar o homem dentro de um paradigma que nega a antropologia. A sucessão de “pacotes” para o resgate da crise mostra essa ausência dos egrégios: estão a praticar as maiores iniqüidades com o dinheiro público e com a moeda, em nome de uma falsa ciência econômica, que não pode justificar atos estúpidos.

A experiência nazista (e a comunista também, da mesma natureza, portadora da mesma estupidez criminosa de sua elite) redundou em um cataclismo mundial. Como o mundo idealizado não se ajusta ao real, a falsa elite tenta moldá-lo à força e para isso só dispõe dos instrumentos de Estado, que é violência concentrada. Temo pelo que virá. Se em Obama não estiver a alma de um estadista, disposto a contrariar as massas e seus cabos eleitorais, como a família Clinton, qualquer coisa pode acontecer.

***



A QUESTÃO CENTRAL DA CRISE

Nivaldo Cordeiro

03 de dezembro de 2008

Qual é a questão central da crise econômica mundial? Não é nem a sua origem, indiscutivelmente derivada da desastrada atuação do Estado, que exorbitou no que pôde: na regulação, na emissão de moeda, nos gastos públicos e na determinação imperativa de empréstimos para pagadores duvidosos, gerando a bolha imobiliária. Dizer que a crise nasceu do mercado e das regras de movimento da sociedade capitalista é menos que burrice, é má fé.

Nem também é discutível a sua dimensão, já de proporções mundiais e profundas. Não se pode ser leviano diante da gravidade do momento. Essa crise já é a mais séria desde 1929 e deixará seqüelas por muitos anos.

Também é indiscutível que a saída da crise envolve a atuação do Estado, seja porque este tem o monopólio da emissão de moeda, pois se trata, antes de tudo, de uma crise de crédito, seja porque reformar o Estado se tornou tarefa de urgência. Sem a emissão monopolista não há como ser restabelecido o volume de crédito necessário para a superação da crise. Da mesma forma, é imperativo discutir a atuação e o tamanho do Estado. Se essa crise trouxe algo de bom é colocar essa questão para reflexão, mesmo que a maior parte dos economistas, os que supostamente têm os instrumentos para a superação da crise, partam do suposto de que o Estado deve aumentar.

A questão técnica não pode subordinar a questão ética.

Se admitimos que o tamanho e a exorbitância Estado estejam na raiz do problema, segue-se logicamente que seu crescimento não pode ser a solução, mas sim, o agravamento das coisas. O problema é que o debate na grande imprensa e mesmo na academia parte de supostos falsos, que levam a soluções falsas. É preciso restabelecer o primado da lógica e do princípio de realidade para nortearem a discussão.

Quero aqui focar na questão do crédito. Em tese, para que o crédito seja restabelecido nem o Estado precisa crescer além do tamanho que já tem e nem é necessário quebrar as regras morais da sociedade capitalista. Economistas como Krugman recomendam não deixar que as grandes corporações problemáticas vão à bancarrota, como a GM e o Citibank, beneficiárias do “boom” econômico artificial, bem como lamentam que o banco Lemann Brothers tenha sido liquidado. O equívoco econômico aqui se soma ao equívoco moral.

Essas grandes corporações tomaram decisões erradas, incharam custos, pagaram rendimento a acionistas, diretores e gerentes desproporcionais aos resultados obtidos. Então sancionar essas decisões com créditos abundantes e baratos, ou subscrição de capital, mesmo que condicionado a mudanças nas suas práticas corporativas, será um ato de profunda imoralidade. É dar dinheiro para maus gestores, que poderia ser utilizado ou para sanear o Estado ou para apoiar empresas sólidas e sérias.

Aqui o ato econômico são é também o ato revestido de plena moralidade. Ou deveria ser.

Para mim é essa a questão central, que deveria ser o dilema de consciência da equipe econômica de Barack Obama. Executar os atos morais é o caminho mais curto para a saída da crise. Praticar imoralidades é prolongar a crise até o limite do insuportável. Veremos nos próximos meses essa dança em torno da moralidade e o que dela emergir tornará o presidente eleito ou um estadista ou um vilão aos olhos da história.

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