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Poesias-->VISTA PARA O TEJO -- 25/02/2003 - 00:25 (JOSE GERALDO MOREIRA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:131233622207585000
VISTA PARA O TEJO



Sabes, às vezes um homem pára,

vê aqueles que a ele se assemelham

e pergunta: Deus, se sou isso

como te apiedarás de mim?



E eu, que tenho passado toda a minha vida

a ver e a olhar, muito mais a ver,

me debato em meu leito

à procura da forma ou jeito

que embale meu coração

arrebatado.

Na madrugada, ouço o canto dos bêbados.;

no dia, escuto máquinas,

sem tempo para atencionar-me em mim mesmo,

em mim, que passo ileso entre as lâminas

e durmo, a salvo, no gume da navalha

enrodilhado em mim próprio

ouvindo o tempo passar nos quartos de dormir.



Cada côvado desta casa

tem seu simbolismo e importância.

Nos leitos, que hoje se intelectualizam,

homens sem grei amaram.

Da profunda cova rasa retiraram

os homens de hoje, que se amofinam.

Os homens que aqui dormiram, amaram e morreram,

(muito mais amaram, vê-se pelo tamanho da casa)

eram homens sem medo

que povoaram com deus a outra metade do mundo,

esfolaram prata de cada pele,

semearam seu sangue em veias alheias

à procura do ouro que a todos incendeia.



Às vezes, vem-me essa angústia de saudade

de um tempo de têmperas diferentes

de homens moldados a valentia e cansaço

de dobrar, com fogo, a pureza de outras gentes.

E essa minha angústia, ou saudade, é violenta.

Então minhas mãos espremem gargantas

dilaceram costas, sacrificam inocências

como se castigassem a mim,

que tenho muito mais olhado que visto.



Na prôa do gume, bocejo.

Estico braços e pernas, recolho-me

teso: dobres de sino emparedam-me.

O tempo expulsa de si as horas

que expulsam o homem do presente

lacrando-o em suas memórias.

Eu, acá sentado, com os olhos longe,

sou homem sem futuro e de presente adormecido

sonhando com o lado de lá, d’além mar,

quando, no segredo, havia muito a inventar.

Hoje, desnudaram os gestos

e pintaram com outras cores os sígnos.

E para que se veja o que há atrás de cada homem

É preciso muito arder para desfazer as camadas de tinta

com que o tempo os impermeabiliza.

Resta o mistério são as mulheres

que o tempo pinta. E elas se limpam,

nunca ficam estáticas

presas ao sabor da história ou da liça.

Elas se movem, céleres, e se livram.



Ah, eis que um amigo me acena, de longe,

a mão ensandecida pelas palavras:

hullô, Ricardo (Mandela, Walt Whitman)!

Toda liberdade que ali confluencia.

O desejo de guerra, paz duradoura,

do milagre do pão, negaceiam:

Heil, Ricardo (Llorca (espíritos se agitam)



Ergo-me. Firmo os braços entalhados

no espaldar do assento

suspendendo o corpo do sentimento.

Saio. Caminho heterogêneo

pelas ruas de São Sebastião.

Em frente a cada passo, um sobressalto,

um salto, degrau, mímicas de pedras.

Desapareço na multidão.

Mas, quem caminha anônimo

não sou eu.



Quem sou ficou sentado naquela cadeira

olhando o cais pela vida inteira

à espera de que na boca da barra

surgissem mil galeras mil naus apinhadas de ingleses

que viessem povoar direito

as margens desse Rio que nasce no Tejo.

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