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Ensaios-->A ARTE DE PULAR A CERCA -- 27/11/2008 - 10:45 (MARIA AICO WATANABE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ARTE DE PULAR A CERCA


Maria Aico Watanabe


Toda vez que alguém pula a cerca está incorrendo em infidelidade e traição ao seu parceiro sexual.
Infidelidade e traição são palavras com significados diferentes, embora uma sempre envolva a outra. Infidelidade significa não ser fiel, faltar à lealdade para com o parceiro sexual, enquanto traição significa ajudar o inimigo do relacionamento. Todo infiel está traindo o parceiro sexual.
O contrário da infidelidade, a fidelidade, supõe que os parceiros sejam monogâmicos. A monogamia tanto entre os animais como entre as pessoas não é considerada natural nem normal, sendo muito rara.
Atire a primeira pedra quem souber de alguém que tivesse sido fiel durante os 50 anos de vida matrimonial. Não vai haver lançamento de nenhuma pedra. As pessoas que “juram” serem fiéis aos seus parceiros deveriam é ser mais sinceras.
Quem pula a cerca é sempre uma pessoa casada ou com união estável com o parceiro sexual.
As razões biológicas da infidelidade masculina são: 1. o desejo do macho em depositar seus espermatozóides em mais de uma vagina; 2. ter filhos com mais de uma parceira sexual; 3. espalhar seus genes na população.
As razões biológicas da infidelidade feminina são: 1. o desejo de ter seus óvulos fecundados por mais de um macho; 2. o desejo de escolher machos geneticamente melhores que o seu parceiro sexual; 3. o desejo de ter filhos geneticamente variados.
Dadas essas razões biológicas, a infidelidade que leva machos e fêmeas a desejarem ter mais de um parceiro sexual é algo evolutivamente desejável.




A infidelidade e a traição são amplamente encontradas entre aves e mamíferos, isto é a maioria de suas espécies não são monogâmicas. Mesmo em animais que tradicionalmente eram considerados monogâmicos, como os cisnes, águias, esquilos, vem sendo provado que isso não é verdade.
Ao pular a cerca com fêmeas solteiras, os machos tem a certeza de que seus espermatozóides encontrarão óvulos ainda não fecundados, então ele tem a garantia de estar fazendo um investimento genético seguro. Mas, como a fêmea virgem é uma incógnita reprodutiva, está correndo o risco de encontrar uma fêmea estéril, o que significa entrar num beco sem saída, geneticamente falando.
Ao pular a cerca com fêmeas casadas, seus espermatozóides terão que competir com os espermatozóides dos maridos das amantes, pelos óvulos. Por outro lado, esses machos correm o risco de encontrar óvulos já fecundados, o que seria um investimento genético perdido. Em alguns pássaros, o macho que pula a cerca com fêmea acasalada, bica a cloaca da última, para que ela ejete para fora o esperma do macho anterior. Com isso está garantindo que SEUS espermatozóides e não do macho anterior vão fecundar os óvulos da fêmea. Além disso, pular a cerca com fêmeas casadas oferece a garantia de que os filhos que terão com a amante serão cuidados pelo corno. Mas também, ao pular a cerca com fêmea casada, o macho está correndo o risco de ser agredido pelo corno. É para isso que puseram chifres na cabeça dos cornos, para que eles pudessem atacar o rival ?
Fêmeas de animais preferem pular a cerca com machos casados, pois pode ter a certeza da qualidade genética do amante: se ele conseguiu parceira sexual é porque é macho geneticamente superior, portanto em condições de lhe fornecer os melhores espermatozóides.
Arrumar amante solteiro é arriscado, pois macho solteiro é uma incógnita genética e o fato de serem solteiros é sinal de que são geneticamente inferiores.



Observa-se entre os animais que as fêmeas casadas com machos atraentes traem menos que fêmeas casadas com machos pouco atraentes. No Homo sapiens , mais uma razão para os homens tratarem de serem “bons de pinto”. As fêmeas de animais tendem a copular de preferência com machos dominantes, como acontece entre os leões-marinhos, e rejeitar os machos subordinados.
Alguns machos subordinados, geneticamente inferiores, forçam a barra obrigando as fêmeas a copularem com eles, caracterizando o estupro, que assim não é fato observado exclusivamente nos seres humanos. Estupro é assim, algo praticado por machos geneticamente inferiores, machos perdedores, rejeitados pelas fêmeas.
Os cornos do reino animal costumam ser sexualmente menos atraentes e são os que perderam a competição sexual para os amantes mais atraentes de suas parceiras. Os cornos por sua vez, são poucas vezes bem sucedidos quando eles tentam pular a cerca.
Machos geneticamente superiores, de alta qualidade sexual além de terem menor probabilidade de virarem cornos, estão mais livres para pular a cerca, pois não precisam gastar tempo se preocupando em vigiar suas fêmeas. Em chimpanzés são considerados machos de alta qualidade sexual, os dotados de pênis mais longos que lhes permitem depositar seus espermatozóides mais no fundo da vagina que outros machos de pênis curto, isto é, mais perto dos óvulos.
Muitos machos vigiam, protegem as fêmeas, suas parceiras sexuais, para reduzir as chances de elas pularem a cerca. No homem, o cinto de castidade é o meio mais convincente de impedir que a fêmea pule a cerca.
Mas é verdade também que no jogo amoroso, as fêmeas também exerçam vigilância sobre os machos, com o mesmo propósito de impedir que eles pulem a cerca.
Em seu desejo de pular a cerca, os machos lutam para depositar seus espermatozóides em mais de uma vagina e controlar os outros machos para impedi-los de depositar seus (deles) espermatozóides na vagina de sua fêmea.


O trato genital das fêmeas apresenta pH ácido, hostil aos espermatozóides, e além disso existem nele fagócitos, que são células que englobam os espermatozóides. Os espermatozóides além de enfrentar o pH ácido da vagina, os fagócitos prontos para predá-los, tem que percorrer um longo percurso até chegarem aos óvulos. A razão evolutiva para as fêmeas dificultarem (embora não conscientemente, é claro) a vida dos espermatozóides é o de ter seus óvulos fecundados pelos espermatozóides geneticamente de melhor qualidade. Mas existe o risco de a fêmea não ter seus óvulos fecundados, se colocar dificuldades em excesso. Estabelecendo um paralelo comportamental, é por isso que mulher difícil demais corre o risco de morrer solteirona.
As fêmeas sempre tem certeza de os filhotes são seus; os machos jamais podem ter certeza absoluta: tem que confiar na palavra das fêmeas.
Os machos se esforçam para dispensar cuidado à prole, desde que tenha um mínimo de certeza de que os filhotes são deles e não de outros machos. Em raras espécies de mamíferos cujas fêmeas são monogâmicas, verifica-se que os machos são bons pais para os filhos. Cuidado paternal não é observado entre as espécies cujas fêmeas não são sabidamente monogâmicas.
O padrasto é um ser que é obrigado a ter atitudes altruístas, de ter que cuidar da prole de outro macho. Como o altruísmo é raro na natureza, raros são os bons padrastos, afetuosos e protetores de seus enteados. Aliás, na espécie humana, muitos padrastos agridem seus enteados, chegando a estuprar suas enteadas, o que é noticiado amplamente nos meios de comunicação.
A recusa em assumir o papel de padrastos é observada entre os macacos langur, onde os novos machos que destronam os anteriores, matam todos os filhotes do bando. Isso força as fêmeas a entrarem no cio novamente, o que lhes dá a oportunidade de serem pais de novos filhotes, agora seus. Quando a substituição dos machos



ocorre quando as fêmeas já estão grávidas dos filhotes dos machos anteriores, estas se tornam sexualmente receptivas, mesmo na vigência da gestação, permitindo serem copuladas pelos machos novos. Quando os filhotes nascem, esses novos machos os criam como se fossem seus, enganados pelas fêmeas, e sem saberem que estão assumindo o papel de padrastos.
Os machos sempre estão correndo o risco de serem enganados pelas fêmeas, de criar filhos de outros machos. Isso teria sido a base do argumento para o homem da Antiguidade exigir a virgindade da mulher antes do casamento.
No Homo sapiens , a infidelidade masculina é bem mais tolerada que a feminina e até aceita, enquanto a feminina muitas vezes é condenada. Talvez a base moral para essa condenação se repouse no fato da dúvida sempre cair sobre a paternidade e não sobre a maternidade.
Além disso, as fêmeas humanas são mais cautelosas, pensam duas vezes antes de traírem seus machos. O macho traído poderá rejeitá-las, recusar a continuar depositando seus espermatozóides na vagina delas, de não lhes fornecer mais alimentos, de retirar o cuidado paternal à prole. E ainda, o corno e o amante podem estabelecer um pacto, ambos rejeitando a fêmea por causa da promiscuidade sexual dela e assim, ela estaria correndo o risco de ficar sem nenhum macho. Para elas é melhor ficarem com um pássaro na mão que dois voando.
A infidelidade masculina é até incentivada nas sociedades humanas, pois o homem que tem mais de uma parceira sexual desfruta de mais sucesso e status entre seus amigos que homens monogâmicos. Ter mais de uma parceira sexual é considerado sinal de masculinidade entre os homens. É machismo sim, mas é a natureza do homem.
Machos polígamos costumam dispensar pouco cuidado paternal aos filhotes, pois estão é mais ocupados em procurar fêmeas com quem copular. Isso é observado entre as aves-do-paraíso, com machos polígamos. Entre outras espécies de aves-do-paraíso supostamente monogâmicas, os machos são pais exemplares.
A poliginia, a posse sexual de várias fêmeas por um macho dominante ou geneticamente superior é a prova mais contundente da infidelidade masculina.
Por outro lado, a poliandria, a posse sexual de vários machos por uma fêmea é extremamente rara na natureza.
Na poliginia, com poucos machos superiores ficando com várias fêmeas, sobram na população vários machos solteiros, já que o número de machos é o mesmo que o das fêmeas. Isso acontece entre os cervídeos, onde machos solteiros, sexualmente excitados, mas privados do acesso às fêmeas, envolvem-se com relações homossexuais.
Na monogamia, tanto machos superiores como inferiores, dispõem de uma só fêmea.
Na espécie humana, nas primeiras sociedades compostas de caçadores-coletores que viviam nas savanas africanas, ocorria a monogamia, pois com escassos recursos disponíveis na natureza, poucos machos conseguiam se sobressair para ter a posse de várias fêmeas.
Com o advento da agricultura, tornou-se possível a produção de alimentos em abundância, e alguns indivíduos conseguiram se sobressair, tornando-se mais ricos e poderosos que outros. Com isso, esses machos passaram a possuir várias fêmeas, instalando-se a poliginia. Durante toda a Antiguidade, reis e outros poderosos ficaram famosos por terem possuído centenas de esposas e concubinas.
O estabelecimento da Revolução Industrial, trouxe um tipo de “nivelamento por baixo”, embora alguns chefes de indústrias tivessem mantido riqueza e poder. Consequentemente, as sociedades humanas voltaram a ser monogâmicas. Isso aparentemente, pois homens e mulheres sempre continuaram pulando a cerca, tendo mais de um parceiro sexual, portanto.
A estratégia sexual da poliginia leva o homem a ter filhos com o maior número possível de parceiras que ter muitos filhos com uma só parceira, privilegiando-se a quantidade em vez da qualidade.



A promiscuidade sexual feminina é vista de forma diferente da masculina, que é tolerada pela sociedade.
Mulher que vai para cama fácil, bastando um beliscão do macho na traseira dela, é popular entre homens que estão à procura de aventuras sexuais de curto prazo, mas não faz sucesso entre os homens que estão procurando mulheres para relacionamento duradouro. Conquistar vários parceiros sexuais não melhora a reputação da mulher, que passa a ser chamada de “puta” pelos homens.
Homens evitam casamento com mulheres fáceis, pois estão correndo alto risco de virarem cornos. Assim, mulheres promíscuas costumam ter pouco sucesso em estabelecer relacionamentos estáveis de longo prazo. Mulheres não-promíscuas, “sérias” são consideradas pelos homens “para casar” e as promíscuas “para foder”.
A principal causa (90%) dos divórcios é a infidelidade, principalmente a feminina.
Nos Estados Unidos, 44% dos homens revelaram terem tido relações extraconjugais em alguma época de suas vidas de casados, enquanto 25% das mulheres assim se declararam.
Na Austrália, 10 a 15% das crianças são “ilegítimas”, isto é, estão sendo criadas por homens que não são seus pais verdadeiros. Há muito corno por lá, então.
Quem pula a cerca tem que buscar um lugar seguro para se esconder do parceiro sexual da amante e por em prática a infidelidade. Os motéis são os lugares especialmente criados e neutros para atender os puladores de cerca. Mas também existem os pulares de cerca que gostam de emoção, de correr altos riscos de serem surpreendidos pelo parceiro sexual da amante, transando na cama do marido dela.
O fracasso da monogamia pode ser atestado pelo sucesso que as novelas de televisão fazem na sociedade, e novelas nada mais são que histórias de infidelidade e traição, gerando rios de dinheiro e fama para os autores e atores.
Romances famosos de escritores do passado como “Madame Bovary”, de Flaubert, “Anna Karenina” de Tolstoi e “O amante de Lady Chaterley”, de Lawrence também tornaram seus personagens puladores de cerca, verdadeiros heróis.

E quando o último a saber fica sabendo ?
Quero terminar o ensaio oferecendo meu ombro amigo ao marido traído e à esposa traída.
A reação varia conforme o gênio da pessoa: decepção, choque, perplexidade, revolta, raiva, indignação, conformismo e até aceitação, mas sempre com um sentimento de fracasso. A pessoa traída poderá ficar mais ou menos abalada, dependendo de sua estrutura psicológica. Perguntam-se por que, como isso foi acontecer com elas, de quem é a culpa.
Após reavaliar a relação, podem decidir por uma separação, ou continuarem juntos.
Se resolverem continuar juntos, o parceiro traído deverá fazer de tudo para reconquistar o companheiro que pulou a cerca. No caso das mulheres, se forem mais bonitas, mais “sexy” que a amante, usem seus encantos para trazer o marido de volta à sua cama.
A parceira traída pode tentar se vingar do marido infiel, arrumando um amante também.
Em casos extremos, o parceiro traído pode ter reações violentas, matando o amante ou mesmo a esposa infiel também, o caso acabando portanto em tragédia.
Esposas ultrajadas, por maior que seja sua raiva e indignação, não cortem o pinto dos maridos que pularam a cerca. Isso é castigo cruel demais para o homem que fica impedido de transar com mais ninguém pelo resto da vida.
Além disso, você deve ser suficientemente cautelosa, prudente e comedida para considerar a possibilidade de arrependimento dele e ele voltar aos seus braços. E se você já tiver cortado o pinto dele ...











REFERÊNCIAS


BARASH, D. P.; LIPTON, J. E. 2007. O Mito da Monogamia. Fidelidade e Infidelidade entre Pessoas e Animais. Rio de Janeiro, Editor Record, 320 p.

MANETTE, D. 2005. Ultimate Betrayal – Recognizing, Uncovering and Dealing with Infidelity. Square One Publishers, 112 p.

MILLER, S. L. 2008. Coping with romantic betrayal: Sex differences in responses to partner infidelity. Evolutionary Psychology 6 (3): 413 – 426

PITTMAN, F. 1993. Beyond betrayal: Life after infidelity. Psychology Today. 2 p.




Jaguariúna, 20 de outubro de 2008.


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