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Ensaios-->Índios Krahô-Kanela: um breve histórico. -- 27/11/2008 - 08:19 (Giovanni Salera Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ÍNDIOS KRAHÔ-KANELA: UM BREVE HISTÓRICO

Os índios Krahô-Kanela, assim como diversos outros grupos indígenas do Brasil, têm uma extensa e árdua história em busca de seu reconhecimento como etnia indígena e pelo direito às suas terras.
Até o presente, existem pouquíssimos registros da história dos índios Krahô-Kanela. Os poucos estudos antropológicos enfocando esse grupo indígena tratam-se de relatórios técnicos solicitados pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) para identificação e delimitação da Terra Indígena Mata Alagada, que foram elaborados na época em que pleiteavam essa Terra. Além disso, existem alguns poucos relatos sobre esse grupo indígena que foram divulgados em jornais e revistas de circulação local. Assim, reunimos tais informações e apresentamos aqui uma síntese da história desse grupo indígena para que todos possam conhecer melhor esses índios.
Um grupo de índios Krahô e Kanela, liderado por Florêncio Caboclo, parte do sul do Estado do Maranhão em meados da década 1920. Nesse processo de re-territorialização, o grupo se estabeleceu em três localidades por períodos variados de tempo: Serra do Carmo (1933 a 1949), Mumbuca, (1949 a 1959), Atoleiro (1959 a 1960), até que, em 1960, encontram espaço que reunia as condições para se reproduzirem, física e culturalmente, segundo suas expectativas coletivas. Desse modo, os índios Krahô-Kanela se estabeleceram na localidade da “Mata Alagada”, ali se territorializando. “Mata Alagada”, dentro da trajetória Krahô-Kanela, foi o espaço eleito como constituidor de novo território, desse modo ficou marcado e foi simbolicamente vinculado ao grupo. No ano de 1977, depois de um conflito com fazendeiros daquela região, eles foram expulsos dessas terras e passaram a habitar a periferia de Dueré, cidade mais próxima ao local que habitavam. Os fazendeiros que os expulsaram, obtiveram ilegalmente as ações de título daquelas terras com a ajuda de autoridades do extinto IDAGO (Instituto de Desenvolvimento Agrário de Goiás), e estabeleceram ali a Fazenda Brahma.
Em 1984, os Krahô-Kanela solicitam reconhecimento e assistência da FUNAI, que abre então o “Processo de Delimitação e Reconhecimento da Terra Indígena Mata Alagada”. Três anos após, em 1987, uma parte do grupo foi conduzida pelo Órgão Indigenista ao Parque Indígena do Araguaia, no interior da Ilha do Bananal, área onde atualmente habitam os índios Karajá, Javaé, Tapirapé e Avá-Canoeiro; a outra parte se dispersou por cidades próximas como Gurupi, Lagoa da Confusão, Formoso do Araguaia e Cristalândia.
Em 1994, há o início da ação de retirada dos posseiros que ocupavam o interior da Ilha e nessa época, por volta de 1996, inicia-se também a negociação da retirada dos Krahô-Kanela daquela localidade.
Em junho de 1999, eles deixaram a Ilha do Bananal e foram conduzidos pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para o “Projeto de Assentamento Tarumã”, no município de Araguacema, a cerca de 450 Km dessa região. Naquele lugar, o Governo Federal destinou-lhes uma porção de terra pobre e sem condições de subsistência.
Em 22 de setembro de 2001, eles retornam a sua antiga morada, onde acampam durante 5 dias próximo à sede da Fazenda Brahma, com o objetivo de tomar posse daquele lugar. Após uma ordem de despejo, foram novamente removidos para outra localidade. Agora, dessa vez foram levados para o “Projeto de Assentamento Loroti”, localizado no município de Lagoa da Confusão. Ali permaneceram por cerca de 2 anos, juntamente com integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Os índios Krahô-Kanela não estavam satisfeitos com a FUNAI e o INCRA, pois o “Processo de Delimitação e Reconhecimento da Terra Indígena Mata Alagada” estava parado. Assim, há um novo conflito na Fazenda Brahma, que causa uma grande repercussão junto à mídia Nacional, o que acaba despertando atenção para sua luta. Após esse conflito, em novembro de 2003, eles foram transferidos do “Projeto de Assentamento Loroti” para a “Casa do Índio” em Gurupi, sob os cuidados da FUNAI.
Deve-se ter em mente que o primeiro trabalho técnico enfocando esse grupo indígena foi realizado em meados da década de 1980, pelo Antropólogo André de Amaral Toral, do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Esse trabalho, por caracterizar o grupo Krahô-Kanela como “caboclos” ou apenas “remanescentes de índios”, acabou por influenciar a paralisarão do “Processo da Terra Indígena Mata Alagada por cerca de 15 anos, assim como fez com que tal grupo estivesse desamparado pela FUNAI, a qual passou, desde então, a considerar que a destinação de terras para essa comunidade fosse responsabilidade apenas do INCRA. Só com a realização do segundo trabalho técnico, em 2004, pela Antropóloga Graziela Rodrigues de Almeida, em um diferente contexto sóciopolítico, é que se possibilitou um devido reconhecimento a essa etnia.
Em outubro de 2005, a sociedade civil organizada reconheceu sua responsabilidade e sua dívida histórica para com este povo, os Krahô-Kanela. Através da criação do “Comitê pela Demarcação da Terra Indígena Mata Alagada”, as entidades que o compõem: CIMI (Conselho Indigenista Missionário), Centro de Direitos Humanos (CDH) de Palmas, Prelazia de Cristalândia, Casa 8 de Março, Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Arquidiocese de Palmas e de Porto Nacional, Igreja Anglicana, Organização Indígena do Tocantins (OIT), Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Centro de Educação Popular, CEBs, ONG Eco-Terra, ONG APA-TO, Centro Acadêmico da UFT buscam levar esta reflexão para o público com as quais atuam e apoiar concretamente a luta dos Krahô-Kanela.
Destacamos que um grande avanço nessa luta foi o apoio que os Krahô-Kanela receberam das outras etnias (Karajá, Xerente, Krahô, Apinajé etc.) do Estado, através da Organização Indígena do Tocantins (OIT). Nesse período, as lideranças dos índios Krahô-Kanela fizeram várias reuniões e manifestações em Gurupi, Palmas e, até mesmo, em Brasília, solicitando o reconhecimento de seus direitos.
Em todos esses momentos aos índios Krahô-Kanela eram feitos pedidos de calma e, além disso, eles sempre ouviam promessas de que o retorno às suas terras ocorreria em breve. Mas, chegava a data de cumprimento da promessa e o Órgão Indigenista sempre adiava a data, renovando novamente o pedido de calma e fazendo mais promessas. Isso foi se estendendo até que um dia, cansados de tanta falta de compromisso por parte das autoridades, eles resolvem agir novamente por conta própria. Assim, em julho de 2006, cerca de 29 anos após sua expulsão da “Terra Mata Alagada”, depois de uma história polêmica e conturbada, cerca de 100 índios Krahô-Kanela que residiam na “Casa do Índio” em Gurupi retornaram por conta própria para o local onde estabeleceram um vínculo simbólico.
Nessa época, aqueles índios que estavam estudando em Gurupi permaneceram na “Casa do Índio” até o fim do ano para concluírem o período letivo escolar. Ao final de 2006, todo o grupo foi para a Terra Indígena Mata Alagada, e a partir de 2007, os estudantes Krahô-Kanela receberam apoio da Prefeitura Municipal de Lagoa da Confusão que disponibilizou um ônibus escolar para conduzir diariamente os estudantes até a cidade, onde deram prosseguimento aos estudos nas Escolas locais.
Hoje a história de luta dos índios Krahô-Kanela serve de exemplo para diversos outros grupos indígenas e também para muitas comunidades formadas por minorias étnicas espalhadas pelo país que lutam pela garantia de seus direitos.

Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 288, p. 10, de 28/11/2008. Gurupi – Estado do Tocantins.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
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