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Cronicas-->A Festa da Usina III -- 21/09/2002 - 23:30 (Rodrigo Contrera) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por Rodrigo Contrera

Enquanto esperava encontrar alguém, ou que alguém o encontrasse, Contrera optou por se acomodar em algum canto daquele imenso salão repleto de usineiros para observar com calma o que se poderia esperar de uma conversa com algumas figuras por todos tão conhecidas.

Notou o quão difícil era distinguir os semblantes e os andares particulares. Quase todos pareciam jovens, quase todos pouco atentos ao bem dizer ou ao bem escrever, embora uns poucos permanecessem isolados declamando versos ou improvisando peças em literatura de cordel.

Divisou ao longe o engenheiro Mingão. Domingos Oliveira Medeiros. Estava conversando em uma roda de vários, sem transparecer no rosto se concordava ou não com os argumentos do sujeito ao lado, mas - ao que parecia - prestes a colocar sua mão na cumbuca. Alto, bem apessoado, de paletó e gravata, Mingão parecia - ao longe - uma daquelas figuras sempre dispostas a trocar idéias mas se e somente se com isso tivessem alguma oportunidade de impor as suas próprias, sempre contudo com a desculpa de tudo ser democrático. Não deixava de sê-lo, claro. Devido a essa sua aparente disposição, Domingos criava simpatias tão rapidamente como antipatias, e se sempre havia aqueles com os quais ele conseguia entabular conversas sempre havia também outros que preferiam não compartilhar do seu papo.

Domingos não parecia reparar no Contrera, que ao longe observava-o atento. Não parecia sequer sentir o quão opressivo era todo aquele mundo, agora expresso naquele extenso salão, em meio a salgadinhos e guaraná diet. Domingos parecia absorver-se na idéia, no debate. Ah, se ele soubesse o quão acostumado a essa falsa camaradagem o Contrera estivera nos longos últimos anos, quase toda a última década.

Fato é que algo de espantoso parecia abarcar todo aquele grupo de que o Domingos, dentre outros, participava. E esse algo de espantoso era que por mais que o debate corresse solto, por mais que todo mundo tivesse seu tempo para argumentar, por mais que todo mundo ouvisse atentamente, sempre mais longe todos afastavam-se de qualquer ponto em comum. Era como se as palavras servissem de anteparo tal qual o escudo servira de defesa ao Russell Crowe de Gladiator. Era como se as palavras expostas por cada um criassem universos estanques e independentes que nada mais no mundo pudesse conectar. Era por isso que, sempre que alguém discordava do colega - o que era a regra -, outro terceiro comentava que democracia era assim mesmo. Era também por isso que todo mundo daquele grupo só estava interessado, no fim das contas, em achar uma forma de incluir algum item restritivo na chamada proposta para melhoria do Usina de Letras, de autoria, como não poderia deixar de ser, do mesmo engenheiro Mingão. Era por isso que o bem apessoado Domingos era por alguns cognominado - pejorativamente, ao que parece - o auto-ensimesmado síndico do Usina. Como se aquele grupo de gente precisasse de síndico, como se todos aqueles batalhões precisassem de uma carta de intenções, quando apenas queriam trocar umas idéias, ou falar à toa, por que não.

Tão imerso estava nessas suas impressões que o Contrera mal reparara no copo vazio de guaraná que tentava inutilmente beber. Empertigou-se, porém, e saiu agora à cata de outro àngulo que lhe permitisse observar atentamente aquele imenso circo social por um lado tão interessante mas por outro tão espantosamente opaco a qualquer análise criteriosa assumida de fora.

© Rodrigo Contrera, 2002.
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