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Ensaios-->Coitado do Keynes -- 01/11/2008 - 11:42 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Coitado do Keynes

Maílson da Nóbrega (*)

(Artigo da revista Veja)

'O estado é indissociável do sistema capitalista. Dele emanam as garantias de direitos de propriedade e de respeito aos contratos, que alinham incentivos para investir. Dele provém a defesa da concorrência'

No pós-guerra, muitas das intervenções do estado na economia eram tidas como uma aplicação prática das idéias de John Maynard Keynes. Nem sempre. Houve erros e maus resultados, em especial o aumento de inflação. Agora, diz-se que Keynes teria ressuscitado por causa do fracasso do livre-mercado e de sistemas financeiros desregulados. É uma conclusão apressada, baseada em falsas premissas.

Keynes foi um economista genial. Sua principal obra, a Teoria Geral (1936), é um dos mais influentes livros da história. Nela, Keynes reforçou a crítica que fazia desde os anos 1920, quando questionava a idéia de que o desemprego cairia com a redução dos salários. Para ele, em certas circunstâncias, o governo deveria adotar medidas para criar empregos.

Com a Grande Depressão, Keynes desenvolveu um de seus maiores insights. Para ele, a queda dos preços (deflação) induzia os indivíduos a esperar que eles caíssem mais, adiando o consumo. A taxa de poupança aumentava, ampliando o efeito das perdas com o colapso da bolsa de 1929, isto é, o esforço de poupar mais para repor níveis anteriores de riqueza. Com menores vendas, investia-se menos. Um círculo vicioso. A poupança superou o investimento e a economia ingressou em uma espiral descendente.

Keynes não admitia que essa espiral fosse natural nem que a depressão se resolvesse por si mesma ao longo do tempo. A saída era neutralizar o excesso de poupança via gastos públicos.
Essas e outras idéias lançaram novas bases para a intervenção na economia. A política fiscal deveria ser utilizada para compensar os altos e baixos dos ciclos econômicos. Tais propostas teriam inspirado o New Deal do presidente Roosevelt, o que tem sido posto em dúvida, pois o pleno emprego somente retornou com os gastos da II Guerra.

Os políticos se tornaram keynesianos, convencidos de que essas idéias legitimavam seu interesse por maiores gastos. Parte da esquerda virou keynesiana, o que lhe permitia não apoiar a União Soviética e manter as crenças socialistas.

Keynes legou uma nova forma de pensar a economia. De suas análises nasceu a macroeconomia. Ele não era de esquerda, socialista ou estatista. Dificilmente teria apoiado o primeiro-ministro britânico Clement Attlee na estatização de aviação, ferrovias, carvão, aço, energia, telecomunicações e gás. Tampouco aprovaria a estatização de bancos do presidente francês François Mitterrand.
Se houver risco de depressão, governos aumentarão os gastos, na linha proposta por Keynes. Nem todos poderão fazê-lo, caso o endividamento público fique insustentável. Não é tão simples.

A grande discussão dos próximos meses não será sobre as idéias de Keynes, mas sobre como re-regular o sistema financeiro. Aí tende a prevalecer o mínimo de realidade e profissionalismo. Como disse a revista The Economist, 'a idéia de que os mercados são totalmente desregulados é um mito'. Tem razão. Há regras para quase tudo: abrir o capital de empresas, operar bancos, produzir medicamentos e até para possuir um táxi.

Nessa discussão, outro primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que iniciou a capitalização dos bancos com dinheiro público, não proporá a reversão das privatizações de Margaret Thatcher. Outro presidente francês, Nicolas Sarkozy, não defenderá a estatização definitiva dos bancos.

Para o presidente Lula, Brown restabeleceu a influência do estado na economia. 'O coração do regime capitalista começa a ter um gostinho pelo papel do estado, que esteve desmoralizado nos últimos trinta anos', disse. 'Quando é que um filho adolescente vem atrás do pai? Quando ele tá sem dinheiro ou quando ele tá doente.' Perguntem a Lula se ele quer anular a privatização da Telebrás.

Hipérboles e metáforas à parte, o estado é indissociável do sistema capitalista. Dele emanam as garantias de direitos de propriedade e de respeito aos contratos, que alinham incentivos para investir. Dele provém a defesa da concorrência. A ele cabe coibir o domínio dos mercados por cartéis, monopólios e oligopólios. Sem regras do jogo boas e críveis, estabelecidas de forma legítima pelo estado, não há prosperidade.

Só a tortura dos fatos os levará a confessar a ressurreição de Keynes.


(*) Maílson da Nóbrega é economista


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