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cronicas-->Fritz e os coqueiros -- 25/06/2000 - 10:33 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Deus dá privilégios segundo critérios próprios, as vezes difíceis de compreender. Dizem que ele não erra mas, com todo o respeito, acho que vez por outra ele esquece os critérios e distribui uma ou outra amostra grátis. Eu, por exemplo, sou beneficiado por estas liberalidades. Tenho junto à casa em que moro dois belíssimos coqueiros que, não bastasse a sombra e a decoração, dão cocos. Mais que isso, não são altos, permitindo que qualquer destreinado como eu possa apanhá-los. Ainda mais: os cocos tem água como poucos e estão sempre disponíveis.

Talvez por interesse, me afeiçoei a eles e desenvolvemos uma amizade como poucas. Sempre que posso, fico um pouco lá com eles, sentado, sem fazer nada, ou no máximo observando os periquitos que se alimentam nas palmeiras, ou o bem-te-vi tomando água. As vezes leio um jornal ou revista e comentamos as notícias. Nestes momentos me comporto como nas caminhadas que fazia com meu amigo Fritz (outro privilégio).

As caminhadas com Fritz não tinham compromisso com o relógio mas o roteiro não comportava muitas variações. Um comentário aqui, outro ali e, aos poucos, íamos discutindo os assuntos do momento, relevantes ou não. Mesmo com roteiro constante, Fritz sempre achava algo novo que acabava motivando nossos comentários. Mais meus que dele. Fritz em geral respondia com monossílabos, embora sempre com uma expressão que dispensava palavras. Quem o conheceu sabe que ele não era de muita conversa. Muito dispersivo, queria ver tudo, saber de tudo o que acontecia pelo caminho. Eu, menos curioso, ia mais interessado na conversinha mansa. Mais prático, cabia a mim desviar dos automóveis, pois o roteiro não era tão bucólico quanto posso estar sugerindo. No retorno sempre tínhamos assunto para comentar com Inajá ou Juliana.

As conversas estes meus amigos coqueiros são muito curiosas, pois embora passem o dia todo ali (ou talvez por isto), tem uma sabedoria muito grande e sempre dão opiniões pertinentes. Acho que eles sentem no ar os acontecimentos, pressentem o futuro. Eles ficam me ouvindo por um bom tempo. Depois, é só ficar quieto um pouquinho e ouvir seus comentários, sempre pertinentes embora muitas vezes inesperados. Claro que nem sempre ouço o que eu gostaria. Eles não poupam a crítica, as vezes brigam comigo, dizem isto e aquilo, mas com muita calma. Com Fritz era diferente, ele puxava, abraçava, as vezes gritava e embora chamasse Fritz, acho que tinha ascendência italiana. Não tinha esta paciência toda que os coqueiros tem comigo. Pena que não puderam se conhecer.

Amizades são assim mesmo, não há duas iguais. Cada uma tem sua característica peculiar, seu jeito de ser. Tem amizades que são assim, pequenas conversas no dia a dia, uma ajuda aqui, uma opinião ali, uma discordància ocasional, convivência, ajuste permanente. Outras não. As vezes fica-se anos sem poder falar com o amigo, sem notícias. Dificuldade de comunicação ou preguiça mesmo. As vezes um certo desleixo de parte a parte. Até isto a boa amizade comporta, mas perde-se muito. Há casos até de brigas entre amigos, coisa séria, causando um distanciamento por longo período, parecendo que a amizade terminou. Mas é só orgulho. Bem, nem todo amigo é inteligente e há casos de perda do principal por causa de detalhes.

Pode parecer estranha esta amizade com dois coqueiros. Especialmente se considerarmos que eu saio privilegiado trocando sua sabedoria, água, sombra e a decoração por um pouco de conversa fiada e um que outro abraço. Com Fritz era assim também, ele oferecia muito e eu pouco podia retribuir. Mas amizade verdadeira prescinde de comparações, critérios e atributos. Ela existe. Mesmo que os amigos pouco possam se falar.

Mesmo que um coqueiro não balance o rabo.

Escrito em 29.06.1999
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