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Artigos-->CIDADÃOS E LEITURA -- 24/11/2012 - 11:51 (Marcelino Rodriguez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


CIDADÃOS PRIVADOS DE LITERATURA



Marcelino Rodriguez



O que vou escrever aqui, talvez você pense ser pouco importante, mas lamentavelmente a realidade aqui exposta afeta a vida de seus filhos e netos; gostaria, portanto, que esse fato lhe tocasse a ajudar a mudar o quadro da maneira como o livro e a leitura como hábito é negligenciado no Brasil e com isso, claro, também os escritores e outros produtores de cultura.

Os brasileiros são cidadãos privados de literatura. Ou seja, desconhecem as tradições básicas do pacto civilizatório. Além disso, apresentam desconhecimento quase que completo da inteligência simbólica e do próprio funcionamento do mundo social, revelando um comportamento primário, com fraca empatia humana, intolerância diante das diferenças, unilateralismo mental e pelo que se conversa no país e vemos no dia a dia, não se pode esperar criação de grandezas humanas. Embora ,é claro, existam sujeitos excepcionais aqui e ali, a massa do povo nasce, cresce e morre sem instrumental de cérebro para apreciar uma obra de profundidade média. Pior, os sujeitos excepcionais encontram um terreno muito pedregoso para vingar. O homem comum não vê o intelectual como portador de algum tipo de riqueza ou diferencial. Estamos falando de massas, não de exceções; com isso, com essa falta de cidadãos leitores, o subdesenvolvimento se mostra evidente em todo desconforto que sentimos em nosso dia a dia. A vida é banalizada e o “tudo que move é sagrado” não pode existir em mentes unilaterais. A questão perante essa inoperância em formar cidadãos que despertem sensos humanos básicos (que fazem parte do ser humano) tais como empatia, imaginação, curiosidade e graça é : será uma condenação eterna do país, ter uma gente sem informação nem assunto? Será essa condenação eterna?

Somos agentes da história ou cidadãos inertes? Existe uma história muito tradicional do mundo da espiritualidade que Jesus vivia chamando um sujeito que estava em cima do muro, enquanto o diabo ficava quieto ouvindo seus ritmos. Jesus insistia em que o sujeito pulasse para seu lado, o diabo quieto. Até que chega uma hora que o sujeito pergunta ao diabo porque ele também não o chamava.

-- O muro é meu, meu caro.

Portanto, caro leitor, não existe meio termo entre luz e trevas; não se pode agradar a dois senhores. Em vinte anos, entre 1980 a 2000, teve mais homicídios no país que a maioria das guerras. Com certeza, os praticantes dessas mortes, ao menos noventa e cinco por cento deles, com toda certeza, não eram leitores. Seu filho ou neto poderia ser uma das vítimas. A indiferença, no caso do Brasil, não favorece o bem e sim ao mal. Uma quantia incalculável de dinheiro e bem estar social se perde com um pouco subletrado.



Direitos Reservados





O Homem Romântico



Réquiem por Taiguara





O homem romântico, em geral, não é compreendido pelas demais pessoas do mundo. Parece ingênuo, mesmo tolo. Vou basear-me, para tentar caracterizar o Homem Romântico, em Taiguara, incompreendido já na sua época; houve mesmo quem o achasse melodramático pela canção "Hoje", que me parece extremamente atual.



"Hoje, homens da aço esperam da ciência

Eu desespero e abraço a tua ausência.../

Eu não queria a juventude assim perdida

Eu não querida andar morrendo pela vida"



(Hoje)





Só que o homem romântico é um tipo superior de homem. Por favor, entendam que não me refiro à um fenômeno literário apenas, que, no nosso caso específico, foi o que sofreram os chamados poetas do "mal do século", que foi um caso datado, sem querer desmerecê-los. Falo do romântico atemporal, o próprio arquétipo do cavaleiro valente, do homem honrado e ético.



"Sorriso bom, só de dentro

Ninguém é bom sendo o que não é

Pra ser feliz com mentira

Melhor que eu chore com fé"



(Piano e Viola)



Além de uma visceral autenticidade, o que mais poderia caracterizar o Homem Romântico? Colin Wilson, em prefácio à um livro de H. P. Lovecraft, conta a seguinte história, para diferenciar o Homem Romântico do homem prático.



Um navio vai em alto mar, em viagem tediosa, carregando toda uma tripulação condenada, apenas, numa viagem sem fim, a descascar batatas. De repente, toda tripulação começa a ouvir um canto misterioso, vindo das profundezas do oceano. Os homens práticos, desconfiados de que aquilo poderia ser um delírio perigoso, voltam as costas aquele canto e seguem, na viagem interminável, descascando suas batatas. Os homens românticos, presumindo que aquele som mavioso poderia ser o canto das sereias, mergulham fundo no oceano, abandonando o navio, partindo em busca do maravilhoso, do desconhecido.



O homem romântico é um aventureiro, mas não um irresponsável. O amor é sua prioridade máxima na vida; não o amor apenas por uma mulher, mas pelas causas artísticas, sociais, políticas; na verdade, ele está empenhado em concretizar uma utopia qualquer. O Homem romântico, ao contrário dos práticos, não é um comerciante, é um comunitário. Preocupa-se, responsabiliza-se, não compete; alegra-se em praticar a solidariedade, não para receber aplausos. Praticar o bem é uma guerra particular dele, tanto como sua alegria. O reconhecimento que espera são as amizades que conquista, o sorriso de uma criança ou a paz profunda, a sensação do dever cumprido. É claro que sofre decepções, tristezas profundas, mas ninguém se lhes iguala em entusiasmo.



"Eu desisto, não existe

Essa manhã que eu perseguia

Um lugar que me dê trégua ou que sorria

E uma gente que não viva só pra si"



(Universo Do Teu Corpo)



`Vai, não espere venha a vida em suas mãos

Faz em fera a flor ferida e vai lutar

Pro amor voltar/

E o mundo inteiro vai ser teu"





(VIAGEM)



Por apoiar-se em valores reais, a força do romântico é incomensurável. Por ser sincero, faz amigos com facilidade; por ser amoroso, conquista o amor do povo; por ser confiável, conquista a proteção dos poderosos. Como o amor e a generosidade são o seu lema, pois ignora preconceitos, o homem romântico vive em qualquer lugar como se fosse sua casa.



"Hoje a minha pele já

Já não tem cor

Vivo a minha vida

Seja onde for"





(O Sonho Não Acabou)



Fernando Pessoa dizia que é preciso ser prático para ser gerente de uma fábrica de tachinhas, mas é preciso ser romântico para criar um mundo. Entendam que quando falo "prático", não me refiro ao estereotipo fácil. Eu sei que pensar dá trabalho, mas é preciso. É possível realizar-se utopias. O romântico é um sonhador, não um deslumbrado. Não creio que Taiguara, o romântico da vez, haja tido maiores problemas com suas contas.



Romântico é aquele que aceita suas visões, seus sentimentos. É aquele que age por paixão, não a paixão que escraviza, mas a que liberta. Não teme a loucura, pois sabe que quem quiser fazer-se de sábio neste mundo, tem que fazer-se de louco. O homem romântico sofre de uma curiosidade insaciável; quer saber de tudo, lê de tudo, acumula sabedoria das mais variadas fontes. Uma vez perguntaram a Chopin, ao vê-lo com uma pilha de livros sobre vários assuntos, se ele não tinha medo de enlouquecer. A resposta?

- "Bem, se eu não ficar louco, serei um gênio."



E a mulher, que papel desempenha para o homem romântico? O fim último desta vida terrena, sua conquista máxima. O refúgio da sua solidão, o seu consolo no desencanto. Alguém que ele ama e protege como a sua Igreja; o amor é a religião do romântico. Cavaleiro, homem algum pode tratar melhor uma mulher; fraterno, ninguém pode ser melhor companhia. O próprio mundo feminino justifica-se pelo homem romântico, que o honra e protege.



`"Nessa rede ela prendeu

Minha dor civil, minha solidão

Nessa rede eu vi nascer

Minha liberdade"



(Maria do Futuro)





"Vem que eu digo

Que estou morto

Pra esse triste mundo antigo

Que meu corpo, meu destino, meu abrigo

São teu corpo amante amigo em minhas mãos"



(Universo Do teu Corpo)





E agora, enfim, diante da realidade, que é a de que a humanidade não é exemplo de bondade para fera alguma, que o número de egoístas e insensíveis é infinitamente maior e que, nos tempos que correm, apequenam-se cada vez mais, vítimas da peste emocional a que William Reich já alertara, como pode subsistir o homem romântico? Qual o segredo da sua sobrevivência? Simples: a grandeza de sua própria alma.



O homem romântico vive no seu próprio mundo. Apenas passa por este, deixando algumas flores do seu ideal maior, que seria a realização plena de sua humanidade. Mas ele é muito roubado pelo caminho, em termos de criação. Sofre uma solidão insuspeitada, pois tem olhos de águia. Vê e presente coisas que passam despercebidas ao outros. De modo que ele morre, quando não completamente desiludido, satisfeito por saber que a morte pode ser uma nova utopia, uma nova aventura, ainda que a do descanso eterno.



Certa vez, no programa Sem Censura, a apresentadora perguntou a Taiguara porque ele havia deixado o país. Com um sorriso enigmático, grandeza de menino, ele responde:



- "Não posso viver num país que não compartilha das minhas idéias.



E, ali, pude compreender o quanto um homem pode ser grande e, um país, pequeno.



Marcelino Rodriguez é Eescritor hispano-brasileiro, autor do livro Bom Dia, Espanha!
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