070185
À noite, os negros do Harlem
inventam sons para Martin L King.
Massageiam seus instrumentos
em profundos lamentos.
Um piano cego,
carregado de negros do Harlem
desvia-se dos destroços da discriminação.
Todas as vozes negras,
potentes vozes negras,
acompanham instrumentos
afinados por mãos ebanáceas,
construídos por mãos de azeviche,
deitados em colos de pixe.
Na prôa do cruzador americano
o marine assobia God Save America
guarnecendo postos de combate
na preparação do armagedon
Em Beverly Hills
morre um jovem por overdose
às vésperas dos treze anos
Em Moscow, um soldado russo
lê o Pravda, bebe vodka
contemplando o pôr-do-sol de seu rayban
Na Central do Brasil
um marujo
batuca um samba
premedita o breque.
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