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Cordel-->UMA CASCATA DE RIMA FAZ VIBRAR O CORAÇÃO -- 18/11/2003 - 18:29 (José de Sousa Dantas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UMA CASCATA DE RIMA FAZ VIBRAR O CORAÇÃO
Severino Feitosa (SF) e João Paraibano (JP), na AFRAFEP, em 14/11/2003

Presentes na Cantoria: JOSÉ ALVES SOBRINHO, cantador decano com 82 anos; SANTANA – O cantador, que se tornou famoso no Brasil com o Forró Pé de Serra; JURANDIR DO SAX, que canta o Bolero de Ravel, no Pôr do Sol, na praia do Jacaré, em Cabedelo – PB.

TEMAS DESENVOLVIDOS PELOS REPENTISTAS

·BAIONADA INICIAL
·EXALTANDO O REPENTISTA, DECANO JOSÉ SOBRINHO
·COMO É A CANTORIA
·A SITUAÇÃO DE VELHO
·ESCUTAR CANTORIA SEM BEBER É DORMIR UMA NOITE E NÃO SONHAR
·A BANDEJA É NECESSÁRIA, NÃO TENHA RAIVA DE MIM
·A SAUDADE DA VIOLA
·UMA CASCATA DE RIMA FAZ VIBRAR O CORAÇÃO
·O POETA É UM SER ILUMINADO QUE FAZ VERSO COM ARTE E SENTIMENTO
·JESUS SALVA A POBREZA NORDESTINA COM TRÊS MESES DE CHUVA NO SERTÃO
·TODA CASA DE TAIPA ABANDONADA GUARDA UM GRITO DE FOME DENTRO DELA
·NÃO CONHEÇO ESQUERDISTA QUE NÃO MUDE, QUANDO PEGA NAS RÉDEAS DO PODER
·A VIDA PIOR DO MUNDO É MELHOR DO QUE MORRER
·FINALMENTE AGRADECENDO


BAIONADA INICIAL

SF
Nas emoções de quem canta,
eu vou ver se me atino,
descobrir mais uma curva
na rota do meu destino,
PRA VER SE MINHA MÃO PEGA
NA MÃO SANTA DO DIVINO.

JP
Mais de um irmão nordestino,
eu vejo comparecer,
o movimento dos dedos
faz a viola gemer,
E O JUÍZO ORDENA AS FRASES,
QUE A BOCA ESPERA DIZER.

SF
Eu tenho que percorrer
toda rota do metrô,
ultrapassar as montanhas,
sem ter medo do platô,
que eu só acerto uma ida,
se eu souber por onde vou.

JP
Cada um irmão que chegou
achou o portão aberto,
nosso verso sai sem rumo,
da cidade pra o deserto,
como juriti com medo
dum tiro que passou perto.
.............
JP
O pinho no peito preso
solta os primeiros ponteios,
e os nossos primeiros cantos,
como forma de gorjeios,
tirando ponta de espinhos
dos ferimentos alheios.

SF
Entre bonitos e feios,
só tem um que DEUS lapida,
o que nasce na certeza
de descobrir a jazida,
mas eu me sinto é exposto
na galeria da vida.

JP
De matéria combalida,
não vou dirigir bengala,
vou trocar pranto por riso,
pra dar de presente à sala,
nem que eu não ache a botija,
não deixo de procurá-la.

SF
Eu sei que o vento embala
as asas do passarinho,
leva o cisco da estrada,
arranca o talo do ninho,
como eu tiro repente
das cordas velhas do pinho.

JP
Em cada corda do pinho,
eu amarro uma canção,
não tem coisa mais bonita
do que JESUS na visão
e o batuque da viola
por cima do coração.

JP
Não me falta resistência,
tenho o DEUS pra me ajudar,
se eu vim do ventre chorando,
JESUS me ensinou a cantar
e eu gostei tanto do canto,
que eu me esqueci de chorar.

JP
Canto o sentimento alheio,
pra não pensar em complôs,
mãe tá morta, pai tá velho,
pra ir pra cova depois,
enquanto eu possuir vida,
canto a saudade dos dois

SF
Eu não aprendi depois,
que o meu pai teve fim,
suas rosas se abriram
e se fecharam em meu jardim,
quando eu deixar de cantar,
meu DEUS que será de mim.

JP
Tudo o que quero pra mim
é a flor dos arvoredos,
gemido de sete cordas
da carapuça dos dedos,
e uma mulher de vergonha,
para esconder meus segredos.

SF
Eu faço calo nos dedos
nessas cordas desiguais,
cantar é o meu ofício,
o meu símbolo é sempre a paz,
nesse desenvolvimento,
que o meu juízo traz.

JP
Tudo o que eu quero é paz!
pra não viver de aperreio,
a minha estrofe bonita,
saída de um toque feio,
céu em cima, terra embaixo,
nosso trabalho no meio.

JP
Aos poucos vou marchando,
pra cova que nos consome,
com suor matando a sede,
o verso matando a fome
e o povo atrás de papel,
para decorar meu nome.

JP
Se faltar o que comer,
meu verso quebra o jejum,
em cada respiração,
eu quero verso comum,
e um pedaço de sertão
enganchado em cada um.

SF
O que eu acho comum
é enfrentar o sol quente,
me banhar na correnteza,
e me sentar no batente,
abrir os olhos pra o mundo,
e poder CANTAR REPENTE.

JP
No calor da aguardente,
sinto o juízo agitado,
o verso nasce torcendo,
com meio quase envergado,
como agonia de cobra,
com espinhaço quebrado.

JP
No pé da serra rural
trabalhei de camponês,
nasci em 52,
já estou em 2003,
de tão feliz ainda sou
o artista de vocês.

EXALTANDO O REPENTISTA, DECANO JOSÉ SOBRINHO

JP
Quando eu canto na presença
de JOSÉ ALVES SOBRINHO,
pra mim estou vendo o cansaço
do bico de um passarinho,
querendo juntar os ovos
que o vento espalhou no ninho.

SF
Cantar pra JOSÉ SOBRINHO,
quase que de nada sei,
que ele já passou na terra,
algo que eu já passei,
hoje eu me sinto vassalo,
pedindo a bênção do rei.

JP
Eu vendo ZÉ, avistei,
aranha fazendo teia,
tatu pegando formiga,
peba escavando areia,
e o baião que a lata toca
quando o goteira está cheia.

SF
Tem a sua mente cheia
de repente e pantomina,
como o seu repente é grande,
mais brilha no nosso clima,
vejo a MONTANHA DE VERSO,
que o tempo passou por cima.

JP
Vendo ZÉ, eu sinto o clima,
depois que a terra gela,
a borboleta pousando
junto da rosa amarela,
que depois que mela as patas,
fica rodeando ela.

SF
Eu nele vejo a janela,
com seus versos refletores,
o jardim da providência,
circundando com as flores,
a grande universidade,
que DEU ALMA AOS CANTADORES.

JP
Eu lha vendo, vejo as cores,
que DEUS botou no pomar,
cada lamber do cabrito,
para aprender a mamar,
tocaiando os olhos dele,
pra o gavião não furar.

SF
Ele que soube cantar
tudo do meu continente,
a lua que nasce fria,
o sol que só cruza quente,
CADA ESPÉCIE DESTA TERRA
COLOCOU EM SEU REPENTE.

JP
Lhe vendo, vejo presente,
o fio que aranha borda,
paciência de mãe pobre,
bem cedo quando se acorda,
quebrando a ponta das unhas,
catando feijão de corda.

SF
JOSÉ SOBRINHO recorda
o seu tempo de menino,
cresceu na experiência,
cumprindo com seu destino,
UM EXEMPLO PARA A ARTE,
COM SEU TRABALHO DIVINO.

SF
A pessoa de JOSÉ
que conserva a sua messe,
cada livro é um exemplo,
cada verso é uma prece,
e a cabeça é um mistério,
que pouca gente conhece.

JP
Eu lhe vendo, sinto a prece
da boca da rezadeira,
a chuva jogando lodo
por cima da cumeeira
e o vento tocando gaita
nos pés de carrapateira.

SF
Ele que foi a palmeira
para o vento balançar,
as águas do oceano,
para o barco navegar,
hoje é um simples coqueiro,
olhando o verde do mar.

JP
Eu não pude acompanhar,
no primeiro passo seu,
a minha fama é pequena
o nome de ZÉ cresceu,
não conheci seu passado
mas ZÉ conheceu o meu.

SF
Ele nasceu e viveu,
numa terra diferente,
aprendeu a nossa arte,
e ainda muito inocente,
nos poros foram injetados
as benesses do REPENTE.

JP
Dizem que a voz estridente,
DEUS colocou no seu peito,
ensinou, aos três BATISTAS,
fazer repente bem feito,
só que OTACÍLIO morreu
e nunca aprendeu direito.

SF
Ele que teve o direito
de habitar esse planeta,
como POETA FOI MONSTRO,
como gênio em silhueta,
e o que a língua não disse,
ele disse na caneta.

JP
Fez padre fazer careta
e adoecer de enxaqueca,
me dizem que ZÉ no tempo
de DOMINGOS DA FONSECA,
cantava mais afinado
do que CIGARRA NA SECA

SF
Ele que cantou a seca
e a tristeza de moquém,
tinha o mundo na vista,
na cabeça, um armazém
e se afastou da arte
sem apanhar de ninguém.

JP
Tocando e cantando bem,
quebrou do filho o jejum,
está faltando um dos dois olhos,
que é muito pelo comum,
talvez dentro tenha três,
já que fora falta um.

SF
Foi forte como simum,
pra poeta, foi espanto,
além da nossa linguagem,
falou mais de um esperanto,
e se a voz ainda voltasse,
cantava do mesmo tanto.

JP
Esse aí falou de santo,
de cego dizendo oi,
soldado vestindo farda,
vaqueiro pegando boi,
e eu só sou um quebra-galho
à vista que o Senhor foi.

SF
Por tudo que ele foi
no MUNDO DA POESIA,
o seu corpo foi a prova
e sua cabeça sadia,
e continua o general
no quartel da cantoria.

JP
Não lhe faltava POESIA,
talento e toada linda,
de Patos pra João Pessoa,
de Recife pra Olinda,
eu tentei me levantar,
mas tou me arrastando ainda.

SF
Ele sempre teve vinda,
aqui em todo lugar,
foi um poeta erudito,
com o verso popular,
e O PRIMEIRO REPENTISTA,
QUE A RÁDIO BOTOU NO AR.

Chico Rodrigues, primo de ZÉ SOBRINHO, relembrou esse fato, Otacílio certa vez disse:

ZÉ ALVES sofria muito,
quando a trindade chegava,
eu apertava de um lado,
do outro, LOURO apertava
e DIMA por ser doutor,
o serviço completava.

Aí eu disse a Otacílio:

Quando ZÉ ALVES cantava,
a trindade estremecia,
você ficava inibido,
LOURIVAL nada dizia,
o doutor trazia pronto,
mas apertado esquecia.

COMO É A CANTORIA

SF
CANTORIA ainda é
sem ingresso na entrada,
o povo se aglomera
para escutar a toada,
e cantador é como doido,
que não tem medo de nada.

JP
Essa arte é abençoada,
pelo DEUS, que eu tanto louvo,
elogiada por velho,
criticado pelo novo,
e o pão da nossa família
vem da vontade do povo.

SF
Repentista chama o povo,
mas fica na incerteza,
tem que ter o candeeiro,
a cesta em cima da mesa,
quanto mais ele decanta
não se esquece da tristeza.

JP
O pão da nossa despesa,
do meu trabalho depende,
todo repentista escravo
aos pés do próximo se rende,
muito mais feio é roubar,
rico rouba e ninguém prende.

SF
A cantoria depende
duma grande clientela,
chamada por telefone
ou recado que se apela,
e o poeta é o escravo
vai sobrevivendo dela.

JP
Se falta voz na goela,
depois que a língua gagueja,
um cordão desafinado,
ambiente sem bandeja,
ESTÁ QUEBRADA A ORIGEM
DA POESIA SERTANEJA.

SF
A viola e a bandeja,
cantador de qualidade,
o público quase apresenta
em pequena quantidade,
se deixar de ser assim,
perde a sua IDENTIDADE.

JP
Meu povo tenha bondade,
se queixando a gente apela,
venha pagar nossas frases,
o brilho da nossa goela,
que a roça pesa muito
e eu não vou voltar pra ela.

SF
CANTORIA É COISA BELA,
RICA DE INSPIRAÇÃO,
que bons repentistas cantam,
amor, tristeza, paixão,
e foi assim que eu aprendi
nos carrascais do sertão.

JP
Escrever uma canção,
eu passo um dia inteiriço,
a viola é minha arma,
POESIA, o meu serviço,
cabo de enxada faz calo
e eu morri com medo disso.

JP
Eu até sopa de bredo,
já tive na refeição,
enxada afrouxava a cunha,
e eu batia com tição,
vendo a tisna da madeira
mudando as cores da mão.

JP
Tinha a fava misturada
com pedaço de preá,
guardava a cabaça d’água
na noite de gravatá,
e bebia a água quente
com enxame de arapuá.

JP
Nosso dom é poderoso,
nossa cantoria é rica,
FEITOSA enxugue o suor,
que está descendo de bica,
mexa nas economias,
veja a coisa como fica.

A SITUAÇÃO DE VELHO

JP
Vem um tema de saudade
do presidente ZÉ COSTA,
que disse que homem velho,
em todo canto se encosta,
entre SONHOS, PESADELOS,
o tempo pinta os cabelos
da cor que a gente não gosta.

SF
Do trabalho, ele se encosta,
se acaba a disposição,
6 horas já está querendo
uma rede e um colchão,
nem lê mais o evangelho,
fica como carro velho,
só pega no empurrão.

JP
Depois do homem ancião,
não diz mais que é cabra macho,
que o cabelo começa
caindo o fio do cacho,
adoece em todo clima,
A PRESSÃO É LÁ EM CIMA
E OUTRA COISA É LÁ EMBAIXO.

JP
A pressão baixa pra zero
o enfarto é quase certo,
não liga mais pra mulher,
com o corpo mal coberto,
COM O PAVIO APAGADO,
só cai na cama emborcado,
pra mulher não chegar perto.

SF
Não tem mais destino certo,
toda hora é engembrado,
pensa em adquirir amor,
mas por ninguém é amado,
anoitece cochilando
e amanhece roncando,
nem lembra que é casado.

JP
Tem que andar escorado,
se não cai quando caminha,
sente dores no pescoço,
na coluna e na espinha,
vai pra cama e não faz nada
QUAL MANDIOCA ENCRUADA,
MUDA A COR, MAS NÃO COZINHA.

SF
Com uma mulher novinha,
se ele levar pra o ninho,
não age nem com VIAGRA
com whisky, nem com vinho,
depois que perder o brilho,
se aparecer um filho,
pode ver que é do vizinho.

JP
Depois de ficar velhinho,
cabelos cor de algodão,
pra dar um passo precisa
da escora do bastão,
E AQUELA PEÇA QUE EU FALO,
é como crista de galo,
SÓ CRESCE EM BUSCA DO CHÃO.

SF
Faltando disposição
para dar uma carreira,
quer diminuir gordura,
caminhando na esteira,
sem ossos e sem tutanos,
daqui a 60 anos,
eu estou dessa maneira.

MENTIROOOSO !

JP
Muda a cor da cabeleira,
sem trocar de personagem,
a alma se arrepende,
corpo perdendo a coragem,
a boca enfeitando a sopa,
e o corpo esperando a roupa
da derradeira viagem...

SF
A velhice é uma filmagem,
em grande velocidade,
a tristeza lhe atrofia,
a saudade lhe invade,
sua saudade é medonha,
NA HORA QUE DORME SONHA
NO QUE FEZ NA MOCIDADE.

JP
Fica como tempestade,
soprando ares de abrolhos;
pelas entranhas do peito,
as saudades são de molhos,
aparecendo outro tanto,
NÃO FALTA ENCHENTE DE PRANTO
NA CORRENTEZA DOS OLHOS.

SF
As saudades são de molhos,
que aparecem a todo instante,
tem remédio controlado,
necessita de um calmante,
vai se sentir num deserto,
de quem esteve tão perto,
vai viver muito distante.

JP
Tenta recordar que antes
levava uma vida bela,
depois de velho sem sangue
já sente a pele amarela,
pressão alta e pranto baixo,
cada ruga é um riacho,
pra lágrima descer por ela.

SF
Todo duro, se atropela
com o peso da idade,
o cabelo fica branco,
com um lençol de saudade,
filho torna-se inimigo
e pode não ir pra o abrigo,
por muita felicidade.

JP
Perto dos 100 de idade,
um homem, sabem vocês
que o rosto pega mostrando
um sinal de impalidez,
cabelo pintando a trança,
JESUS fazendo a cobrança
dos crimes que a carne fez.

SF
Sozinho mais de um mês,
é outra decepção
porque lhe falta carinho,
mais amor, mais emoção,
faz um príncipe encarcerado
nas paredes do pecado,
no cárcere da solidão.

JP
Depois do homem ancião,
quando ele pode olhar,
admirando uma moça,
quando avista ela passar,
acha graça quando passa,
como quem vê uma garça,
sem chumbo para atirar.

JP
Até um riso no pranto,
sem querer tem que trocar,
se disser uma piada
pra uma mocinha no bar,
ela diz, no seu ouvido,
SAI DAQUI VELHO ENXERIDO,
VAI CONHECER SEU LUGAR

ESCUTAR CANTORIA SEM BEBER É DORMIR UMA NOITE E NÃO SONHAR

JP
O poeta nasceu com tanto brilho,
que um verso que faz, de nada ensaia,
no momento que está levando vaia,
pensa ser nenhum tipo de elogio,
eu na noite que estou cantando frio,
quando um copo tiver para esquentar,
que é mais fácil o poeta se inspirar
no momento do álcool lhe aquecer.
Escutar cantoria sem beber
é dormir uma noite e não sonhar.

SF
Sem tomar uma dose de cinzano,
licor, dreher, whisky, ron, cachaça,
é ser músico, cantar em qualquer praça
e não ter um teclado e nem piano,
é fazer uma troca com cigano,
e um canudo do curso não levar,
dar um voto a um parlamentar
que não tem liderança no poder.
Escutar cantoria sem beber
é dormir uma noite e não sonhar.

JP
Eu não bebo só água de cabaça,
que do álcool também sou dependente,
se faltar uma dose de aguardente,
eu começo a tremer no meio da praça
se faltar uma dose de cachaça,
peço duas de WISKY lá no bar,
quem está frio, só pensa em se esquentar
e a borracha não vai se encolher
Escutar cantoria sem beber
é dormir uma noite e não sonhar.


SF
O repente na noite divertida,
pra o poeta que pega no instrumento
para mim só terá contentamento,
com direito a um copo de bebida,
mas não tendo eu comparo a sua vida
com um minuto tristonho de azar,
a mulher toda noite se zangar
não querer no seu corpo se aquecer.
Escutar cantoria sem beber
é dormir uma noite e não sonhar.

JP
Para um repentista de talento,
fazer verso sem ter uma bicada
é partir pra voltar no meio da estrada
é ver cobra esquecendo de São Bento
ou sair pra fazer o casamento,
levar chifre na porta do altar,
pegar sua semente pra plantar
ver o mesma no chão apodrecer.
Escutar cantoria sem beber
é dormir uma noite e não sonhar.

A BANDEJA É NECESSÁRIA, NÃO TENHA RAIVA DE MIM

SF
Eu faço a transformação
da cantiga sertaneja,
para falar da bandeja,
que é a nossa salvação,
já circulou no salão,
pra nossa crise ter fim,
cantiga boa é assim
repercute em qualquer área.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

JP
Repentista é andorinha,
quando não voa, veleja,
necessito da bandeja
na presença sua e minha,
eu com dinheiro não vinha,
como estava liso, vim,
se eu não ganhar, acho ruim
saio pobre dessa área.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

JP
Não vamos perder a paz,
quando a renda não aumenta,r,
tem um que bota cinquenta,
um outro, cinco reais,
nós todos somos iguais,
entre o começo e o fim,
entre o grande e o mirim,
não vejo estrada contrária.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

SF
Porque o nosso repente
é a arte de viver,
não sonho com o poder
e nem de ser presidente,
já ganhei tanto presente,
que a crise teve fim,
se continuar assim
faço até reforma agrária.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

JP
Meu povo não seja ingrato,
entenda os dois menestréis,
se não tiver cem, seus dez
já enfeitam nosso prato,
se eu não poder ir de jato,
voando igual Zé Pelim,
pego a Itapemirim,
fora da rodoviária.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

SF
Não canto por outras zonas,
minha arte, é a cantoria,
eu vivo de poesia,
as musas são minhas donas,
não quero ir pra o Amazonas,
pra sofrer com maruim,
que eu não sou guaxinim,
para morrer de malária.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

JP
Meu povo por caridade
me perdôe que eu sou pedinte,
se não quiser me dar vinte
divida, dê-me a metade,
que não tem propriedade,
pra plantar palma e capim
adule governo ruim,
pra fazer reforma agrária.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

SF
Eu vim mostrar o meu dom,
realizando esse show,
toda galera pagou,
pagou até o garçom,
esse exemplo é muito bom,
que ajuda ao nosso festim,
nossa casa é sempre assim,
sempre foi mais atuária.
A bandeja é necessária,
não tenha raiva de mim.

VELHO SÓ TRATA SAUDADE !
José Alves Sobrinho, repentista com 82 anos de idade, declamando de improviso, em 14/11/2003

O homem da minha idade,
ainda com inteligência,
não tem mais suficiência,
que agrade a sociedade,
pisa com dificuldade,
os nervos estão exauridos,
embora os cinco sentidos,
com sacrifício é maior,
que até pra ouvir melhor,
tem que tapar os ouvidos.

A SAUDADE DA VIOLA

ADEUS VIOLINHA,
até não sei quando,
eu sempre fico pensando
que nunca irei cantar mais;
e carrego por lembrança
a nossa eterna amizade
a tristeza e a saudade
e os soluços reais.

Por motivo justo,
que eu deixei claro,
de ti me separo,
minha querida;
porém não esqueço,
que dias melhores,
me destes os maiores
momentos da vida.

Me lembro contigo,
ainda menino,
muito pequenino,
sem força e sem planos;
e dessa união
meu sonho de criança,
encheu-me a esperança
dos meus quinze anos.

Levaste-me a salas,
de ilustres e nobres,
de ricos e pobres,
burgueses, ricaços,
no mundo dos sonhos,
eu tive a glória,
construí minha história,
contigo em meus braços.

Andei pelo mundo,
vivi muitas vidas,
mulheres, bebidas,
castelos de sonhos,
sem nunca pensar,
na realidade,
da adversidade
dos dias medonhos.

A aurora foi bela,
pura e verdadeira
foi tão passageira,
com estradas abertas,
e as horas alegres
são mais de orgias,
e as horas vazias
são horas desertas.

Adeus mocidade,
velhos companheiros,
legítimos guerreiros,
pra luta da vida,
eu levo lembrança
e muita saudade,
da nossa amizade,
tão boa e querida.

Em tu violinha,
amada e querida
guarda a minha vida,
nos seus belos tons;
e muito obrigado,
pelo que me deste,
tudo que fizeste,
nos momentos bons.
...............
A musa fugiu,
veio o esquecimento,
mas o pensamento
ainda esta vivo,
não posso lembrar,
mas posso gozar
o meu lenitivo.

Se o passado foi,
o poema também,
mas na alma ainda tem
o dom consciente;
se toda minha lavra,
fugiu da palavra,
eu faço REPENTE.

Eu muito agradeço
a consideração
do colega irmão,
SEVERINO FEITOSA,
e o grande porta
JOÃO PARAIBANO
que não tem engano,
seu verso é uma prosa.

E neste ambiente,
seleto e distinto,
satisfeito me sinto,
lembrando o repente.

Amigo FEITOSA,
pessoa distinta
por DEUS me consinta,
que eu leve saudade.

Risonho ambiente,
cheio de POESIA,
mas chegou o dia,
que nele cheguei,
fiquei satisfeito
de ouvir cantoria,
tanta poesia,
que eu nunca encontrei.

Os dois cantadores,
que na mocidade,
com facilidade,
cantam com jaez,
é bem trinta anos,
isto contribui,
foi que nunca fui
igual a vocês.

MUITO OBRIGADO !

UMA CASCATA DE RIMA FAZ VIBRAR O CORAÇÃO

JP
Também disse a minha nora,
todo cantador que sofre,
tem no coração um cofre,
onde a humildade mora,
traz um brilho da aurora,
a luz da imaginação
e um pouco de gratidão
para o povo que ele estima
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

SF
Para o homem que interpreta,
que vive de POESIA,
na arte que canta e cria
se comporta como atleta
parece que o poeta
vem de outra dimensão,
quanto mais aplausos dão
mais o poeta se anima.
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

JP
Como é lindo o cantador,
beijando a flor numa rama,
limpando os pingos de lama,
que o vento jogou na flor,
escutando ao sol se pôr
da cama sua canção,
faltando ajuda do chão,
DEUS manda as graças de cima.
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

SF
Ter uma vida diferente,
para qualquer criatura,
que está na amargura,
que perdeu a pretendente,
que quando escuta repente,
muda de situação
afasta da solidão,
que ao coração dizima.
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

JP
Quando vejo ZÉ SOBRINHO,
eu lembro Hercílio Pinheiro,
Louro e Pinto do Monteiro,
Manuel Xudu, Canhotinho,
Dimas, Antônio Marinho
a Miguel de Solidão,
Otacílio, Mergulhão,
e João Severo de Lima.
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

SF
Qualquer oportunidade,
passando pela garganta,
todo repente quem canta,
vem para matar saudade,
com tanta ansiedade,
com tanta transformação,
a força que chega ao chão
é DEUS que manda de cima.
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

JP
Eu acho o verso tão lindo,
que eu vendo este trabalho,
pra mim estou vendo um galho,
com uma flor virgem se abrindo,
uma galinha seguindo
os rumos que os pintos vão,
quando sente o gavião
abre as asas e cai por cima.
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

SF
Quem gosta de POESIA
de poeta cantador,
vai acalmar sua dor,
freqüentando cantoria,
que na hora a dupla cria,
na força da inspiração,
o tema da pretensão,
que torna uma obra-prima.
Uma cascata de rima
faz vibrar o coração.

O POETA É UM SER ILUMINADO QUE FAZ VERSO COM ARTE E SENTIMENTO

JP
Cada verso que o repentista faz,
para mim tá presente em toda hora,
no tinido do ferro da espora,
na passada que vem dos animais,
na cor verde que tem nos vegetais
nas estrelas que têm no firmamento,
tá na cruz do espinhaço do jumento,
e no vaqueiro correndo atrás do gado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.

SF
O poeta é um gênio que crepita
no espaço azul esmeraldino,
percorrendo as estradas do destino,
sem saber o planeta aonde habita,
sua mente pra o canto é infinita,
cada verso que faz é seu sustento,
é quem sabe cantar o parlamento,
sem ter voto pra ser um deputado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.

JP
Uma vida vivida no sertão,
uma fruta madura já caindo,
um relâmpago na nuvem se abrindo,
um gemido do tiro do trovão,
meia dúzia de amigos no salão,
nem precisa de um piso de cimento,
minha voz, as três cordas do instrumento,
o meu quadro de louco está pintado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.

SF
O poeta é um simples mensageiro,
que acaba uma guerra e um conflito,
ele sabe cantar o infinito,
todas pedras que têm no tabuleiro,
a passagem do fim do nevoeiro,
que ultrapassa o azul do firmamento,
que conhece o impulso desse vento,
todas as rosas que enfeitam o nosso prado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.

JP
Foi mamãe que me deu a luz da vida
e me ensinou a viver da humildade,
eu nasci para ter felicidade,
porque toco na lira adquirida,
POESIA me serve de bebida,
um concerto me serve de alimento,
uma pedra me serve de assento
e todo rancho de palha é meu reinado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.

SF
O poeta é uma criatura
que procura mostrar, no seu caminho,
toda uva do fabrico de vinho,
e toda planta que faz nossa fartura,
é quem sabe cantar a amargura
da pessoa, que está num sofrimento,
é quem sabe cantar o regimento
do quartel, que JESUS é delegado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.

JESUS SALVA A POBREZA NORDESTINA COM TRÊS MESES DE CHUVA NO SERTÃO

JP
Eu agora preciso de mudar,
de miséria, canseira, fome e peste,
pra falar do inverno no nordeste,
quando o campo começa a se enfeitar,
o relâmpago começa a clarear,
com o embalo da máquina do trovão,
se vê rama cobrindo o próprio chão.
jitirana cobrir toda faxina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

SF
Não precisa serviço de emergência,
pra pobreza encher sua barriga,
o inverno tem tudo que se abriga,
com a safra da santa providência,
o campônio prepara a residência,
pra ter milho, arroz, fava e feijão,
o relâmpago que brilha o nosso chão
tem a mão de JESUS que ilumina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

JP
Como é lindo vê chão que o pé machuca,
um matuto amolando enxada e foice,
um jumento no mato dando coice,
espantando uma nuvem de mutuca,
um matuto levando uma arapuca,
um moleque tecendo um alçapão,
a mãe pobre espremendo requeijão,
se molhando no soro quando mina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

SF
Se em dezembro ele está no desespero,
o campônio da seca ainda é réu,
o relâmpago que corta lá no céu,
vai mostrar que a chuva é de janeiro,
se encontra no mês de fevereiro,
melancia, maxixe e o feijão,
e a espiga de milho faz pendão,
que parece cintura de menina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

JP
Como é lindo se ver nuvem escura,
o trovão parecendo uma metralha,
uma rosa brotar em cada galha,
uma fruta caindo de madura
cururu esperando tanajura,
que inventa voar, mas cai no chão,
a goteira zoando no galão,
só se cala depois que a chuva afina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

JP
Vê-se a chuva espalhando o temporal,
nuvens brancas, cinzentas e vermelhas,
com o chiado das águas pelas telhas,
as abelhas buscando o roseiral,
uma vaca tremendo no curral,
uma cabra berrando no oitão,
uma nuvem emendando o céu no chão,
parecendo com pano de cortina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

SF
Jitirana se enrosca na favela,
o sertão se enchendo de fartura,
o campônio na sua agricultura,
não lastima, não chora, não flagela,
o vaqueiro prepara a sua sela,
pra montar no cavalo alazão
a coalhada espremida com a mão,
vê-se o soro que nele sai e mina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

JP
Tem banana pra fome do macaco,
tem resina pra fome do sagüim,
muitas flores brotando no jardim
o relâmpago cobrindo o céu opaco,
as formigas caminham pra o buraco,
enroladas no véu da escuridão,
as que vêm não se perdem das que vão,
o caminho eu não sei quem diabo ensina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

SF
O menino se cria mais sadio,
a família se esquece da tristeza,
que tem sobra de pão na sua mesa,
com a água que chega lá do rio,
o arroz que é da safra do baixio
as meninas despolpam no pilão,
e é tão grande o capulho de algodão,
que parece uma estrela pequenina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

JP
Como é lindo se ver o mangará,
bem cedinho no pé da bananeira,
a abelha colhendo mel e cera,
que é chamada até de arapuá,
cinco horas se vê a sabiá,
pinotando alegre pelo chão,
quanto mais ela engole pimentão
mais a voz fica alta, limpa e fina.
JESUS salva a pobreza nordestina
com três meses de chuva no sertão.

TODA CASA DE TAIPA ABANDONADA GUARDA UM GRITO DE FOME DENTRO DELA

JP
Numa casa de taipa a gente vê,
pelo vento cantando escancarado,
uma gata miando num telhado,
pela porta se avista o mussambê,
os rachões invadindo o massapé,
e o sereno é tão pouco que não gela,
uma gata lambendo uma panela
que procura comer, não acha nada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

SF
Este é o retrato da pobreza,
que o seu dono não acha cobertura,
com aspecto de quem tem amargura,
o seu cofre que tem é de tristeza,
sempre falta alimento em sua mesa,
o cuscuz e a carne na panela,
o vaqueiro vendeu a sua sela
despediu-se da casa e da boiada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

JP
Tantas casas de taipas que eu vejo
no querido sertão do Pajeú,
um boi magro comer mandacaru,
um bezerro caindo de aleijo,
vê-se um chincho de pau faltando queijo,
a coalhada não existe na tigela,
e onde tinha um cambito e uma sela,
tem a teia de aranha pendurada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

SF
Essa casa que foi como uma tenda,
todo gado malhava no terreiro,
se ouvia o aboio do vaqueiro,
uma seca enfrentava na contenda,
onde foi uma bonita fazenda,
hoje é uma casa tão singela,
a cabeça de boi numa cancela,
pra lembrar as manhãs de vaquejada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela
JP
Como é triste a cabana do roceiro,
já virando morada de abelha,
sem ter lodo cobrindo a plena telha,
nem o pasto por cima do terreiro,
onde tem uma porca no chiqueiro,
o que mostra é o osso e a costela,
mete a trompa com raiva da gamela,
fuça a terra deixando revirada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

JP
O curral quando cai ninguém remonta,
sem ninguém do salão para a cozinha,
no telhado se avista cada linha,
com cupim arranchado em cada ponta,
pelo dia o morcego toma conta,
pela noite a coruja é sentinela,
sem fechar o portão nem a tramela,
toda porta amanhece escancarada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

SF
A família o que tem é sofrimento,
só lhe resta a sua propriedade,
o transporte do sítio pra cidade,
se não for num cavalo é num jumento,
se a filha marcar o casamento,
vai faltar o vestido na capela,
e se o velho morrer não tem a vela,
o que a velha comprar, não sobra nada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela

JP
Essa casa parece palafita,
tá tostada também da luz do sol,
no telhado cantava rouxinol,
tá virando morada de catita,
onde tinha uma moça tão bonita,
esfregando os dois seios na janela,
hoje em dia uma gata magricela
caça rato nas brechas da calçada.
Toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela
Aplausos !

NÃO CONHEÇO POLÍTICO QUE NÃO MUDE, QUANDO PEGA NAS RÉDEAS DO PODER

JP
Vem um tema do nosso JOSÉ COSTA,
seu pedido está mais do que bem feito,
disse a mim que o político quando eleito,
vai fazer só as coisas que ele gosta,
quem escreve pra ele, é sem resposta,
que ao invés de ajudar, faz esquecer,
no começo foi tanto prometer,
mas depois vai faltando a virtude.
Não conheço político que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

SF
O político que ganha a preferência,
se elege com o voto do povão,
o transporte que usa é avião,
e o espaço é a sua residência,
esquecendo até da presidência,
nem ligando se o povo vai sofrer,
inda manda um ministro esconder
todas as verbas pra área de saúde.
Não conheço político que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

JP
Se viu LULA pregando pelas ruas,
prometendo enricar trabalhador,
falou tanto do seu antecessor,
garantindo impedir as falcatruas,
para 20 viagens, faltam duas,
e a pobreza é quem paga sem querer,
tanta gente sem ter o que comer,
precisando que o mesmo lhe ajude.
Não conheço político que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

SF
No início ele é muito valente,
não tolera receita e desacato,
vai na frente demais do sindicato,
pra poder defender a nossa gente,
veja aí esse nosso presidente,
que lutou muitas vezes pra vencer,
mas agora só pensa em esquecer
que já foi um torneiro “chei” de grude.
Não conheço político que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

JP
Quem não lembra de LULA em CAETÉS,
um torneiro mecânico em São Bernardo,
convidava a ajudar levar o fardo
desse povo que está andando a pés,
LULA fez de viagem mais de dez,
num jatinho a subir e a descer
e a pobreza deixando a padecer,
sem poder residir na terra rude.
Não conheço político que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

NÃO CONHEÇO ESQUERDISTA QUE NÃO MUDE, QUANDO PEGA NAS RÉDEAS DO PODER
Valdir Teles (VT) e Ivanildo Vila Nova (IV), extraído de outra cantoria

VT
Logo após ser eleito está mudado,
cada um tem direito a secretária,
segurança, assessor, estagiária,
gabinete com ar condicionado,
vai lembrar-se do proletariado,
com favela e cortiço pra viver,
ou será que não vai se aborrecer,
com esgoto, favela, lodo e grude.
Não conheço esquerdista que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

VT
Pode ser um sujeito agitador,
bóia-fria, sem terra, piqueteiro,
camarada comuna, companheiro,
se um dia tornar-se senador,
vindo até se eleger governador,
qual será o seu novo proceder,
vai mudar, vai mentir ou vai manter
as promessas que fez de forma rude.
Não conheço esquerdista que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

VT
No período que um adolescente,
quer mudar o planeta e o país,
através dos arroubos juvenis,
vira líder, orador e dirigente,
mas se um dia ele sair presidente,
o que foi nunca mais poderá ser,
aí diz que o remédio é esquecer
as loucuras que fez na juventude.
Não conheço esquerdista que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

IV
Todo jovem, a princípio é sectário,
atuante, grevista, condutor,
antagônico, exaltado, pregador,
um perfeito revolucionário,
cresce, casa e se torna secretário,
veja aí o que trata de fazer,
leva logo a família a conhecer
Disneylândia, Washington e Hollywood.
Não conheço esquerdista que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

VT
Quem vivia de luta e de vigília,
invasão, pinchamento e barricada,
através disso aí fez na escada,
pra chegar aos tapetes de Brasília,
vai pensar no progresso da família,
no que faz pra do posto não descer,
nunca falta quem queira se vender,
sempre acha covarde que lhe ajude.
Não conheço esquerdista que não mude,
quando pega nas rédeas do poder.

A VIDA PIOR DO MUNDO É MELHOR DO QUE MORRER

JP
Embora eu fique ancião,
vivendo em lugar incerto,
não quero caixão aberto,
nem vela acessa na mão,
nem que eu viva na prisão,
a polícia a me bater,
sem olhar o sol nascer
no meu torrão rude, imundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.

SF
Eu peço ao onipotente,
não mude a minha vontade,
não tenho medo da idade,
eu quero é chegar na frente,
se um dia em ficar doente,
sem poder locomover,
sem vontade de comer,
oiça curta e olho fundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.

JP
A morte tem lance ingrato,
da cova ninguém arranca,
ao invés da meia branca,
eu quero meia e sapato
eu tendo que bater, bato,
pra o rival não me bater,
que é melhor envelhecer
do que morrer num segundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.

SF
Mais alto do que os Andes
estou em todos terrenos,
não acompanho os pequenos,
fico do lado dos grandes,
disse assim JOSÉ FERNANDES,
que não vai se aborrecer,
não faltando o que comer,
outra coisa em não confundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.

JP
Na casa que eu estou morando,
quero escutar sem complô,
um neto olhando, vovô,
e eu perto lhe abençoando,
minha mulher implorando,
pra meu corpo não morrer,
e ouvir meu filho dizer,
papai já tá moribundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.

SF
Se eu tiver esse pecado,
não vou lamentar da vida,
se eu gostar de bebida,
um amigo é meu prezado,
eu posso comprar fiado,
se achar quem me vender,
e quando eu quiser beber,
passar um cheque sem fundo.
A vida pior do mundo
é melhor do que morrer.

FINALMENTE AGRADECENDO

JP
Eu pretendo agradecer
essa massa tão sadia,
ao Mestre JOSÉ SOBRINHO,
uma montanha de POESIA,
por ter sido a mola mestra
dessa nossa CANTORIA.

SF
Eu agradecer queria
ao gerente desse lar,
o nosso amigo ZÉ COSTA,
que apoia o nosso cantar,
porque em 2004
nós vamos continuar.

JP
ZÉ SOBRINHO vá pra o lar,
que lhe serve de aposento,
JESUS lhe tirou um olho,
mas não tirou seu talento,
dizem que o canário cego
canta com mais sentimento.

JP
ZÉ SOBRINHO vá dormir,
pra criar vitalidade,
você está faltando um olho,
o outro tem claridade,
se eu não alcancei seu nível,
quero alcançar sua idade.

SF
Porfírio é de qualidade,
JURANDIR é garantia,
eu tive a felicidade
de reencontrar Bahia,
uma criatura nobre
que há muito tempo não via.

JP
JOÃO FEITOSA que alegria,
revê-lo em nosso festim,
manda buscar VILA NOVA,
quando é pra cantar latim,
quando é pra falar em PEBA,
corre pra perto de mim.

JP
Mas, talento eu não confundo
e amanhã PARAIBANO
vai cantar com VILA NOVA,
na beira do oceano,
e o pior que é o dia
do poder republicano.

SF
Eu contigo me irmano,
nesta noite divertida,
ao caro Poeta DANTAS,
que também está de saída
esse é nosso baião,
agora por despedida.

JP
Ou que platéia querida,
que momento de alegria,
a sala esta quase cheia,
depois vai ficar vazia,
e digo a todos vocês
adeus até outro dia.

SF
Eu agradecer queria
a partir deste momento,
ao meu amigo CLÉSIO,
pelo seu comportamento,
que amanhã seu filho vai
para rever LIVRAMENTO.

JP
DANTAS, seu apartamento
lhe espera com prazer,
sua mulher se enfadou,
tá querendo adormecer,
e mulher sem paciência
vira fera sem querer.

JP
Saio pra beber no bar
whisky ou uma cerveja,
guarde arreio da cantiga
e vamos findar a peleja,
me acostumei tanto liso,
que me esqueci da bandeja.

VALEU, OBRIGADO, ATÉ A VOLTA!

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