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Artigos-->Ideologia x Emprego -- 08/03/2002 - 02:06 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ideologia X Emprego

Comparando duas gerações



Marcelo Rodrigues de Lima



"E o sinal está fechado para nós que somos jovens." Com esse verso Elis Regina canta as incertezas da juventude da década de 60, na letra da música "Como nossos pais".

Eram anos loucos. Tudo estava aberto a discussão. De política à posição da mulher na sociedade. Do uso das drogas à tomada do poder utilizando armas.



" - Um dia eu estava sozinho na beira da estrada, fumando", recorda Antonio Calmon. "Ele chegou e pediu: *Deixa eu experimentar essa porra* , E sumiu.

Calmon ficou imaginando o que seria a cabeça já naturalmente delirante de um gênio como Glauber Rocha em contato com a maconha. Que visões! Que idéias! Que planos! Seria certamente uma viagem inesquecível.

De repente, Glauber apareceu. Calmon deu um pulo: "- E aí Glauber?" Sublinhando cada palavra como se elas o tivessem conduzido ao nirvana, o genial criador de "Deus e o diabo na terra do sol" respondeu: "- Bati uma punheta!"

A tão esperada viagem do mais revolucionário cineasta brasileiro não levou além do alcance da mão."



Avaliando tudo isso hoje, encontramos muitas falhas e problemas no que diz respeito a posturas ideológicas e o que foram feito com elas. Muitos comentam, por exemplo, que o comunismo no Brasil só não deu certo porque os brasileiros que o queriam implantar não souberam adapta-lo a nossa

realidade.

Mas, estudos e avaliações distantes à parte, não podemos desprezar a coragem que era exigida para se viver naqueles anos.

Para nós, que apenas

podemos viver isso pelo o que os livros nos contam, resta apenas tentar entender. Mas o fato é que fazendo isso, é impossível não compararmos nossa juventude com a daquela época.

Existe uma diferença muito grande. Em uma visão primária do assunto, podemos até dizer que a nossa é marcada pela falta de ideologia e a outra pelo excesso dela.

"Nós estávamos dispostos a morrer e morreremos", dizia César Queirós Benjamin, ou Cesinha, como era conhecido o garoto de 14 anos que passou 5 anos na prisão, dos quais três e meio na solitária por fazer oposição a ditadura.

Como é possível

compararmos um jovem que na década de 60 arriscava sua vida em nome daquilo que acreditava e o de hoje que apenas luta por um emprego, e vê isso como a única saída

para a crise por que passa?

É um trabalho difícil já que temos que considerar que os tempos são outros, no que se refere à ideologia dominante.

Naquele período Cesinha podia discutir Marx e todos os movimentos estudantis que agitavam a França. Era um tempo propício para estudar e debater. Para conhecer e tentar errar o mínimo possível, já que se viam lutando contra a repressão.



"Os jovens de 20 ou 25 anos (em Paris) não se contentavam mais em se apossar do futuro....eles queriam dominar o presente, e não só na França. Movida por uma até hoje misteriosa sintonia de inquietação e anseios, a juventude de todo o mundo

parecia iniciar uma revolução planetária.

No Brasil, o chamado Poder Jovem ensaiava igualmente a sua tomada de poder e perseguia a sua utopia. Também aqui, em 68, ter menos de 30 anos era por si só um atributo, um valor, não uma contingência etária."



Hoje, atrás de teorias que ensinam como arrumar e manter o emprego, os jovens são obrigados a por suas ideologias de lado, pois se não o fizerem, ficam de fora do mercado de trabalho e infelizmente não existe nenhuma fórmula que nos ensine a

sobreviver excluídos dele.

Uma pessoa que viveu no período da censura declarada poderia explicar muito melhor como as coisas aconteceram. Da mesma maneira que nós, quando formos pais da próxima geração, poderemos explicar a eles este tempo de falta de emprego.

Mas o interessante nestas comparações é que podemos encontrar uma coisa que nos é similar à geração "ditadura", isto é, a situação miserável do Brasil. A fome é a mesma. O problema com o latifúndio é o mesmo. A educação precária idem . A falta de incentivo à cultura e a saúde inexistente são iguais.

E a pergunta que fica em tudo isso é a seguinte: "Por que é que vivemos com os mesmos problemas e não fazemos nada?".

Muitas respostas podem ser formuladas, com base em comparações ou não, mas é impossível negar que a falta de uma ideologia forte que contraponha tudo isso que vivemos hoje, faça falta.

As pessoas que viveram e arriscaram como Cesinha ou Glauber, talvez não tenham conseguido muito, no que diz respeito a conquistas políticas. Mas só o fato de terem criticado, imaginado e colocado suas teorias em prática, já representa muito. Muito mais que debater teorias "enlatadas" em faculdades que nos preparam para o mercado de trabalho e não para refletirmos sobre ele.

E se o "sinal" estava

fechado para os jovens como Elis, para nós está mesmo difícil de encontra-lo, o que no fundo, é bem pior.





Ps. Os trechos em itálico (entre aspas) são partes extraídas do livro "1968, O ANO QUE NÃO TERMINOU, A aventura de uma

geração" de Zuenir Ventura.

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