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Artigos-->Educação do sim, do não e do talvez -- 02/11/2012 - 16:03 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Educação do sim, do não e do talvez



 





Faço parte de uma geração que se ressente da educação recebida. Somos filhos da ditadura militar, nascidos após o golpe de 1964. Crescemos num ambiente de medo disfarçado por um crescimento econômico mentiroso. Ouvíamos muitos “nãos” sem justificativas. Era “não” porque era “não”. A autoridade paterna – e materna também – era exercida como forma de nos proteger de perigos oficiais e outros nem tanto que rondavam nossas casas. Tinha gente sendo presa, gente sumindo, mas tudo isso era muito longe da vida do cidadão mediano. Poucos eram os politizados, poucos os conscientes de que o regime militar era exceção e não regra. Mesmo sem saber do que se tratava aquele tanque de guerra desfilando nas avenidas vez ou outra, por via das dúvidas, nossos pais nos proibiram de quase tudo. Não pode porque não pode.



            O ressentimento dos quarentões de hoje já foi tratado em caras sessões de terapia junguiana. Nossa geração agora é de adultos com filhos de dez, quinze e até vinte e poucos anos. Somos os educadores, enfim, ainda que a educação seja, infelizmente, cada vez transferida para as escolas, mas esse é outro assunto. O assunto aqui é: os filhos da ditadura no papel de pais do século XXI. Podemos afirmar que criamos nossos filhos melhor que nossos pais? Haveria muito para analisar antes de dar uma resposta definitiva a essa pergunta. Como não tenho muito espaço-tempo nesta edição dominical, vou começar a discussão com a conclusão que deveria aparecer só no final: nossa geração não assumiu de verdade o papel de educador. Não somos melhores que nossos pais. Erramos outros erros e erramos mais e de forma mais danosa. 



            Talvez seja simplório explicar assim: ouvimos muitos nãos sem justificativa e, em vez de buscar as razões de tanta proibição, abraçamos o sim, mas o sim igualmente sem justificativa. Saímos do discurso “não pode porque não pode” para o outro, mais desastroso, “pode porque pode”.  Como pais, somos incapazes de dizer não às muitas solicitações de nossos rebentos. Quer mais doce? Pode. Quer brincar até mais tarde? Pode. Quer comer só hambúrguer? Pode. Quer, com onze anos, chegar em casa às cinco da matina? Pode. Quer beber uma cervejinha com os amiguinhos de treze anos? Pode e mamãe até compra para vocês.



            Afirmei que o “sim” sem limites é pior que o “não” baseado apenas na autoridade. Ambos estão longe do ideal, mas na vida louca que nos envolve hoje, o sim irracional é destruidor. O não de nossos pais nos aborrecia, mas evitava, por exemplo, que o consumo de álcool e droga começasse aos 12 anos de idade. O nosso sim, também a título de exemplo, transforma nossos meninos e meninas em alcoólatras e drogados bem antes dos quinze e com o aval e a “supervisão” de pais e mães.



            A geração do sim, nossos filhos, terá muita dificuldade para enfrentar o mundo real, repleto de nãos.  Fico imaginando como eles irão se sair como pais e mães. Não dirão sim? Não dirão não? Estará nascendo a geração do talvez?  Talvez.



            Adenda: é preciso discutir um dos efeitos da educação do sim, o qual já foi antecipado neste texto: pré-adolescentes alcoólatras e drogados com anuência da família. Fica para a semana que vem.



 




Jefferson Cassiano é professor e publicitário. Ocupa a cadeira 31 da Academia Ribeirãopretana de Letras


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