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Ensaios-->Curso para ser feliz? Leia Lord Richard Layard -- 18/05/2008 - 13:48 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os felizes que paguem impostos

http://www.ver.pt/conteudos/print.aspx?CmS=122

As sociedades mais ricas não são mais felizes. Habituamo-nos muito facilmente a novos níveis de riqueza. E estamos constantemente a comparar o nosso nível de rendimentos com o do vizinho do lado, o que produz, em muitos casos, ansiedade e infelicidade. Afinal de contas, o que devem os governos fazer para tornar as suas sociedades mais felizes? Questões que Richard Layard, economista britânico de renome, tenta responder no seu livro “Happiness: Lesson from a new science”

POR HELENA OLIVEIRA

© www.istockphoto.com

“Aqueles que dizem que o dinheiro não compra a felicidade, simplesmente não sabem aonde devem ir fazer compras”. Esta frase da actriz Bo Derek ilustra bem a noção há muito aceite que o dinheiro, mesmo que não compre a felicidade, ajuda muito. Mas estudos recentes demonstram que a relação dinheiro-felicidade não é assim tão linear como seria de supor.

Nos últimos 50 anos, os rendimentos na Europa, Estados Unidos e Japão, ajustados à inflação, mais do que duplicaram. Adicionalmente a este crescimento de riqueza, as sociedades vivem vidas mais longas, de maior qualidade, graças aos avanços na medicina e a um conjunto inúmero de bens de consumo que tornam a vida mais fácil e mais agradável. Tudo isto devia ser suficiente para que as populações afortunadas se sentissem mais felizes. O que não acontece, de acordo com vários estudos realizados nos países ricos. O paradoxo é o seguinte: um indivíduo que se torna mais rico, torna-se igualmente mais feliz; mas quando a sociedade como um todo enriquece, ninguém parece ficar mais feliz por causa disso.

Nos últimos anos, o estudo da “felicidade” – em oposição a medidas economicistas mais convencionais como o valor do PIB – tem vindo a atrair uma atenção cada vez maior por parte de investigadores de várias áreas. Richard Layard, um dos economistas mais prestigiados do Reino Unido, responsável pelo centro de estudos económicos da London School of Economics e membro da House of the Lords, pretendeu resolver este paradoxo no seu livro “Happiness: Lessons from a New Science”. A teoria central do trabalho de Layard é a seguinte: se realmente desejamos ser mais felizes, o que é que temos de fazer de forma diferente? Em primeiro lugar, há que enumerar as condições que geram a felicidade e depois unir todos os esforços para a produzir, algo que, depois de vários anos de estudos, tenta elucidar nesta obra.

Layard pertence a um grupo de economistas que se sentem insatisfeitos com a forma como a escola económica neo-clássica calcula o bem-estar. Quanto tentam prognosticar os desejos humanos e a felicidade, os economistas da velha guarda olham muito mais para aquilo que as pessoas fazem do que para aquilo que dizem. Se, por exemplo, uma pessoa escolhe trabalhar 90 horas semanais e é “sovina” em relação ao seu tempo de lazer, então podemos aferir que é o trabalho que a faz feliz – ou pelo menos mais feliz do que optar por tempo extra para o lazer: de outra forma, essa pessoa não trabalharia tanto. Por outras palavras, são as acções que revelam as preferências “verdadeiras”, mesmo que essa pessoa confesse a um investigador que preferiria ter mais tempo livre para passar com os seus filhos (o que é conhecido pela sua preferência “expressa”). Para uma melhor aproximação aos níveis de satisfação que as pessoas demonstram em relação às suas vidas, os economistas confiam em inquéritos, apesar dos resultados subjectivos que estes possam apresentar (um viciado em heroína desempregado poderá afirmar que se sente absolutamente feliz enquanto receber a sua dose diária de droga, ao mesmo tempo que um homem próspero poderá considerar-se infeliz se for extremamente ambicioso, por exemplo).

Desta forma, Lord Layard segue a linha dos economistas comportamentais, que se socorrem das técnicas e visões dos psicólogos e que tendem a dar maior crédito aos desejos e sentimentos expressos pelas pessoas e não verdadeiramente às suas acções. Layard junta na sua investigação contribuições da psicologia, da sociologia, da neurociência, da filosofia e da sua própria disciplina para resolver o paradoxo da riqueza que não traz felicidade. E as explicações são várias.

A inveja dos “vizinhos”
Em primeiro lugar e seguindo o raciocínio de Layard, uma das explicações reside na “habituação”: as pessoas ajustam-se muito rapidamente a alterações nos seus padrões de vida. Desta forma, embora as melhorias em termos de rendimento as façam realmente felizes durante algum tempo, o efeito desvanece-se rapidamente. Uma consideração que é suportada por estudos realizados com vencedores da lotaria, por exemplo. Nos seis primeiros meses, os seus níveis de felicidade aumentam, mas passado esse tempo são raros os que dizem sentirem-se mais felizes e há até quem confesse ser mais infeliz do que antes de ter ganho o dinheiro. O mesmo se pode aplicar a um exemplo mais simples: há 30 anos um sistema de aquecimento central era considerado um luxo, enquanto actualmente é encarado como algo essencial ou, mais recentemente ainda, o mesmo se passa com a invasão dos telemóveis nas nossas vidas. Quem consegue viver sem eles actualmente?

Uma segunda e ainda mais importante razão devido à qual o dinheiro não torna automaticamente as pessoas mais felizes prende-se com o facto dos seres humanos tenderem a comparar o que têm com aquilo que os outros possuem. Num estudo famoso realizado com alguns estudantes de Harvard esta questão torna-se evidente. Foi-lhes perguntado se prefeririam (a) ganhar 50 mil dólares por ano enquanto outros ganhariam metade dessa quantia ou (b) ganharem 100 mil dólares anuais enquanto os outros ganhariam o dobro dessa quantia. A esmagadora maioria escolheu a primeira hipótese. Ou seja, sentir-se-iam felizes com menos desde que estivessem em melhor posição do que os seus pares. Ou, por outras palavras, o dinheiro torna as pessoas infelizes quando comparam o seu rendimento com os dos outros. As pessoas ricas são mais felizes – mas não devido à dimensão absoluta da sua riqueza, mas porque simplesmente têm mais que os outros. Não é a riqueza absoluta que serve de medida para a felicidade, mas sim a riqueza relativa.

O princípio do poluidor-pagador
A rivalidade em termos de rendimento torna aqueles deixados para trás mais infelizes ao mesmo tempo que confere felicidade extra aos “vencedores”. As implicações desta realidade é que os esforços que as pessoas fazem para se sentirem mais felizes trabalhando mais arduamente por forma a ganharem e a gastarem mais são, em parte, auto-destrutivas: elas ganham mais dinheiro, mas porque o mesmo também acontece aos outros, não se sentem mais felizes. Esta infelicidade que o rendimento extra de outra pessoa pode infligir aos outros, argumenta Lord Layard, é uma forma de poluição, um dos princípios principais do seu livro. Seguindo o seu raciocínio, uma pessoa ao trabalhar 90 horas por semana pode, na verdade, aumentar o seu rendimento, mas está a ser responsável por outras pessoas se sentirem mais insatisfeitas com o seu próprio rendimento. Estas podem ser encorajadas a trabalhar mais horas apenas para poderem acompanhar o rendimento do “vizinho”, diminuindo o tempo que devotariam à família, à comunidade e ao tempo de lazer.

Layard junta na sua investigação contribuições da psicologia, da sociologia, da neurociência, da filosofia e da sua própria disciplina para resolver o paradoxo da riqueza que não traz felicidade


Para Layard, este comportamento é algo similar à poluição ambiental, na qual a acção de uma pessoa (ou de uma empresa) é prejudicial a outrem. A solução que o economista encontra para lidar com este problema é, aparentemente, simples: cobrar mais impostos para que o poluidor possa interiorizar o custo das suas acções. Desta forma, um dos conselhos que Layard apresenta para aumentar a felicidade humana prende-se com uma maior carga de impostos aos “mais felizes” por forma a atenuar a denominada “rat race”, ou seja, a competição feroz para manter ou melhorar a nossa posição na carreira ou na vida social, que se reduz a uma rotina estafante e exaustiva que não deixa lugar ao lazer. E, voltando ao estudo de Harvard acima citado, em relação ao lazer, os resultados são opostos. Embora as pessoas valorizem o seu rendimento em relação ao dos outros, o mesmo não parece ser verdade no que respeita ao tempo de lazer. Aos mesmos estudantes de Harvard que responderam ao questionário foi-lhes pedido que escolhessem entre (c) duas semanas de férias, enquanto os outros teriam apenas uma e (d) quatro semanas de férias contra oito semanas para os seus pares. Nesta questão em particular, a grande maioria optou pela segunda opção. Por outras palavras, a rivalidade das pessoas no que respeita ao rendimento não é extensível ao lazer. Para Layard, o resultado desta constatação é que as sociedades desenvolvidas tendem a trabalhar demasiado para poderem consumir mais bens materiais e, desta forma, consumirem menos tempo de lazer. Daí que o aumento dos impostos possa ser uma boa medida a implementar nas sociedades ricas porque desencorajaria as pessoas a trabalhar demasiado, encorajando-as, ao invés, a passarem mais tempo com as famílias. “Será que desejamos mesmo que as pessoas trabalhem mais quando a maior fonte de felicidade reside nos relacionamentos?”, perguntou Layard num encontro de líderes mundiais em Davos.

Voltando aos impostos dos felizes que causam infelicidade nos seus pares. Para Lord Layard, se o objectivo primordial dos governos é maximizar o bem-estar (isto é, a felicidade) da sociedade enquanto um todo, então estamos perante uma série de implicações controversas para as políticas públicas. A teoria económica convencional argumenta que a tributação de impostos “distorce” a escolha entre lazer e rendimento. Os impostos reduzem o incentivo para se trabalhar uma hora extra em vez de se ir para casa ou para colocar um esforço extra na esperança de uma promoção. Mas Layard defende que as pessoas têm tendência para trabalhar demais. Por isso, os impostos são desejáveis e sugere uma taxa de imposto marginal na ordem dos 30 por cento para lidar com a “poluição” que o rendimento extra de uma pessoa inflige nos outros e o mesmo se aplica à habituação. Esta percentagem traduz-se num nível típico de tributação na Europa (levando em conta tanto os impostos directos como os indirectos).

Esta teoria vai ao encontro do que a maioria dos economistas pensa em relação aos altos impostos cobrados na Europa. Nos Estados Unidos, é permitido aos trabalhadores ficarem com uma porção maior do rendimento decorrente de uma hora extra de trabalho. E muitos economistas são da opinião que é por isso que os americanos trabalham mais do que os europeus. Nas duas últimas décadas, a média anual de horas de trabalho aumentou ligeiramente na América, mas decaiu significativamente na Europa: os europeus continentais trabalham actualmente e em média 15 por cento a menos de horas do que os seus congéneres americanos. Ou seja, as taxas altas de impostos, argumenta-se, debilitaram a competitividade europeia. Mas a análise de Layard sugere uma visão alternativa: não são os europeus que estão a trabalhar pouco, mas sim os americanos que trabalham demais, impelidos pela escolha de mais rendimento em detrimento do lazer, devido a uma necessidade de se manterem ao mesmo nível ou suplantarem o dos seus pares. Os impostos elevados na Europa encorajam os trabalhadores a optarem por mais lazer em detrimento do trabalho. Se tivermos em conta apenas o valor do PIB, a performance económica americana é claramente superior à europeia. Mas o PIB, como já foi dito, é uma medida económica imperfeita para se avaliar o bem-estar. A felicidade exige lazer bem como consumo material. Os americanos até poderão ser mais ricos que os europeus, mas serão mais felizes?

A argumentação de Layard em relação ao poluidor pagador de impostos resume-se ao seguinte principio: apenas impostos mais elevados poderão forçar as pessoas a pararem de competir e a encontrarem um equilíbrio saudável e feliz entre trabalho e vida pessoal.

Novas políticas para a felicidade
A mensagem principal que Lord Layard pretende transmitir no seu livro é que a felicidade depende de muito mais variáveis do que simplesmente o mero poder de compra. Ela depende dos nossos gostos, que são adquiridos a partir do ambiente em que nos inserimos – e de todo o contexto social em que vivemos. Desta forma, quando se avaliam políticas que aumentam o poder de compra, é absolutamente imprescindível que se leve em linha de conta esses outros efeitos. Mas afinal de contas, o que torna realmente as pessoas felizes? A resposta não é surpreendente, nem original: rendimento, trabalho, vida privada, comunidade, saúde, liberdade e filosofia constituem os sete pilares fundamentais de uma vida feliz e equilibrada. E o trabalho de Layard consiste em comparar os demais factores em relação ao rendimento e, de acordo com os resultados a que vai chegando, ligá-los em termos de políticas a serem implementadas pelos governos. Ou seja, se o elo entre o PIB e a felicidade deixar mesmo de existir, um dos principais objectivos das políticas governamentais no sentido de colocar esta medida de avaliação da felicidade das sociedades numa trajectória ascendente será, obviamente, posta em causa.

É urgente uma nova abordagem para o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, que nos leva novamente à necessidade de alterar os mecanismos de tributação de impostos e a uma alteração nas prioridades culturais, para que a performance (neste caso, o PIB) seja colocado num lugar adequado.


Tomemos como primeiro exemplo o trabalho, a segurança no emprego e o stress. Seja qual for o país a ser estudado, o desemprego é, para a maioria das pessoas, um enorme desastre. Este desastre está relacionado não só com a comparação em relação às pessoas que estão empregadas, mas essencialmente quando observamos as pessoas à medida que estas passam de empregadas e desempregadas. É um desastre similar a um casamento desfeito: em ambos os casos, deixa-se de se ser necessário. O que é um contraste significativo em relação às hipóteses apresentadas por muitos economistas que consideram que a maior perda derivada do desemprego é a perda de rendimento para a sociedade como um todo. Mas Layard defende que, mais do que a perda de rendimento, é a perda psíquica que o desemprego representa para o indivíduo, razão pela qual uma baixa taxa de desemprego deverá constituir um objectivo primordial para qualquer política governamental, se se quiser ter em conta a felicidade de uma sociedade. O mesmo se passa quando as pessoas estão empregadas e se sentem mais felizes quanto mais seguro for o seu emprego, algo que cada vez é mais raro na actualidade. O que nos leva a uma outra questão: como é possível que não possamos ter maior segurança agora que as sociedades são mais ricas do que a que sentíamos quando os níveis de rendimento eram mais baixos? Uma resposta poderá estar na globalização que, supostamente, reduziu o potencial de empregos estáveis. E, como principio, um país pode sempre aceitar ordenados reais mais baixos se esse for o preço a pagar pela segurança que todos parecemos preferir.

Mas existe também a questão do ritmo do trabalho. Para aumentar a performance, os trabalhadores sentem uma pressão crescente para atingir objectivos, o que conduz a níveis desmesurados de stress. Pode-se contudo, argumentar, que este foi o ritmo de trabalho que as pessoas escolheram. Por exemplo, os advogados americanos trabalham agora mais arduamente do que costumavam, mas um estudo levado a cabo em várias firmas de advogados demonstrou que estes preferiam trabalhar menos por menos dinheiro. Contudo, é sabido que o primeiro que propusesse esta modalidade seria taxado como alguém com níveis reduzidos de empenhamento. Desta forma, é urgente uma nova abordagem para o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, que nos leva novamente à necessidade de alterar os mecanismos de tributação de impostos e a uma alteração nas prioridades culturais, para que a performance (neste caso, o PIB) seja colocado num lugar adequado.

Uma das outras questões apontadas por Layard no seu livro diz respeito à mobilidade geográfica, que ilustra um problema que surge quando determinadas políticas são adoptadas porque aumentam o PIB, embora tenham efeitos negativos nos níveis de felicidade. Os economistas são, em geral, a favor da mobilidade geográfica, na medida em que esta desloca as pessoas de sítios onde são menos produtivas para outros nos quais podem aumentar a sua produtividade. Mas para Layard, é claro que a mobilidade geográfica aumenta as brechas familiares bem como a criminalidade. Se as pessoas são mais “móveis”, sentem-se menos ligadas às pessoas com quem costumavam viver e o crime é mais comum. As evidências demonstram que o crime é mais baixo quando as pessoas confiam umas nas outras e que as pessoas demonstram um maior grau de confiança se menos pessoas mudarem de local e a comunidade for mais homogénea. Ao mesmo tempo, uma incidência mais elevada de doenças mentais é mais comum se o grupo onde se estiver inserido pertencer a uma minoria. Desta forma, se a mobilidade possui todos estes custos, deverá ser levada em linha de conta antes dos europeus serem forçados a equiparar os seus graus de mobilidade geográfica aos dos Estados Unidos. Layard chama ainda a atenção para o facto das doenças mentais deverem ser incluídas no Sistema Nacional de Saúde. Para o autor, esta é uma prioridade. Em resumo, qualquer que seja a política que afecte o rendimento, tem efeitos também na felicidade através de canais não relacionados directamente com esse rendimento. A mobilidade aumenta o rendimento que, por sua vez, aumenta a felicidade. Mas também reduz a segurança das famílias e das comunidades, reduzindo, desta forma, a felicidade. E não é possível possuirmos políticas positivas a não ser que optemos por um programa de investigação quantitativa tendo em conta todos os canais não relacionados com o rendimento que afectam o bem-estar dos humanos.

Uma das mais robustas conclusões patente nos estudos levados a cabo por Layard indica que as pessoas que acreditam em Deus são mais felizes


A doutrina “Eu primeiro” reduz a felicidade
Segundo Layard, existem dois aspectos importantes na nossa filosofia de vida, centrais para atingirmos a felicidade: a forma como interagimos com nós mesmos e a forma como interagimos com os outros. Obviamente as pessoas são mais felizes se forem capazes de apreciar aquilo que têm – seja lá o que for – e se não estiverem sempre a fazerem comparações com os outros. Diferentes pessoas possuem diferentes maneiras de disciplinarem as suas mentes e os seus estados de espírito – desde a terapia cognitiva, à meditação, aos 12 passos dos Alcoólicos Anónimos... As pessoas encontram conforto a partir do seu interior e muitas pessoas apelidam este conforto de Deus. Na verdade, uma das mais robustas conclusões patente nos estudos levados a cabo por Layard indica que as pessoas que acreditam em Deus são mais felizes. A crença em algo é meio caminho andado para a felicidade. E se olhamos para os últimos 100 anos, a mais óbvia alteração nas nossas tem sido o declínio das nossas crenças religiosas, causado pelo progresso da ciência darwiniana, que acabou por remover a sanção do pós-vida. Contudo, e durante algum tempo, o efeito dessa mudança foi mascarado pela ascensão do socialismo enquanto código moral que envolvia a obrigação mútua. Mas o fracasso deste socialismo em acção conduziu a um vácuo que tem sido preenchido por um individualismo, em muitos casos, extremista. O individualismo tornou-se assim a ideologia dominante na cultura ocidental desde o final da década de 70. Mas a perseguição de um auto-interesse individual não é uma boa fórmula para a felicidade pessoal. Na verdade, a doutrina que reza que o objectivo principal do ser humano tem de ser o auto-progresso é uma fórmula que produz ansiedade.

Desta forma, encontramo-nos numa situação de vácuo moral, onde não existem conceitos concordantes em relação à quantidade de não-egoísmo que uma pessoa deve ter ou daquilo que constitui uma sociedade boa. A sociedade boa é aquela onde as pessoas são mais felizes. E a acção correcta é aquela que produz a maior das felicidades.

Esta não é, contudo, uma visão bem aceite entre os filósofos, muito embora estes não ofereçam nenhuma teoria alternativa que nos ajude a resolver os nossos dilemas morais. Existe um enorme perigo que o princípio “Eu Primeiro” polua a nossa forma de vida, agora que o castigo divino já não fornece a sanção da moralidade. Se isso acontecer, todos seremos menos felizes. Desta forma, precisamos de uma filosofia mais clara. Se valorizamos a nossa própria felicidade, será justo que valorizemos igualmente a felicidade dos outros. O objectivo óbvio é a maior de todas as felicidades – para toda e qualquer pessoa. Se todos perseguirmos esse objectivo, seremos todos menos egoístas e todos mais felizes.


Artigo originalmente publicado na revista Ganhar, um suplemento do jornal de Negócios





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