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Ensaios-->O Primeiro Ciclo Econômico da Região Serrana -- 11/05/2008 - 14:39 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Rio Grande do Sul tem duas regiões fisiográficas bastante claras: a metade Sul, formada pela Campanha e a Depressão Central e a metade Norte, constituída principalmente pela Mata Atlântica. A esta segunda parte do Estado, sempre se aplicou o nome de Região Serrana. Modernamente, passou a ser conhecida através de diversos nomes, fomentados pela politicagem de lideranças políticas locais. Para facilitar a cata de recursos em Porto Alegre e Brasília, inventaram regiões que não correspondem à realidade.
O que caracteriza a Região Serrana, desde meados do século XIX, é a vocação agropecuária. Aqui se desenvolveram as principais culturas agrícolas; cada município serrano, para usar expressão consagrada pelos poetas regionalistas, é um verdadeiro “celeiro do Rio Grande” .
A região passou por diversos ciclos econômicos. O primeiro deles iniciou-se no ano de 1631 quando chegaram os primeiros brancos aqui fixaram residência. Eram jesuítas espanhóis que criaram a redução de San Carlos del Caapi. Sua localização ainda é discutida por historiadores e geógrafos, em função das divergências entre os mapas deixados pelos padres castelhanos e as mais avançadas notações geográficos. Alguns afirmam que o aldeamento ficava nas proximidades de Santo Cristo; outros, nalgum ponto entre Carazinho e Palmeira das Missões, perto do Jacuí Mirim.
Em 1632, os inacianos organizaram a redução de Santa Teresa del Curiti, também conhecida como Santa Teresa de los Piñales, quase na divisa dos atuais municípios de Passo Fundo e Mato Castelhano. Transferida, em 1633, para o Rincão do Pessegueiro, hoje Ernestina, às vésperas do Natal de 1637, acabou atacada por uma bandeira paulista. Os bandeirantes aprisionaram quatro mil tapes (índios guaranizados, possivelmente de origem andina), expulsando os religiosos espanhóis.
Durante esse curto período em que permaneceram na Região Serrana, os padres castelhanos introduziram bovinos, eqüinos e ovinos. Com a ocupação paulista, os dois primeiros tipos de gado, alçaram-se pelos campestres serranos, dando origem à Vacaria dos Pinhais, que exerceria importante papel econômico décadas mais tarde. Dos ovinos não restou notícia; possivelmente acabaram devorados pelos carnívoros silvestres.
Os espanhóis, porém, começaram a explorar uma abundante riqueza nativa: a erva-mate (Ilex paraguayensis). Em vários pontos, vastos ervais já eram explorados pelos tapes, que, através do nosso conhecido carijo, produziam a erva para o chimarrão, que era consumido em cuias (cabaças), feitas de porongo, planta das Cucurbitáceas (Lagenaria Vulgaris, Ser.), como nós hoje o bebemos, apenas com uma diferença: a bomba, chamada taquapi, feita de taquara.
Os jesuítas, de início, tentaram extinguir o consumo do chimarrão. Disseram que dentro da erva existia um demônio (Anhangá-puitã) e que os índios costumavam colocar veneno. Para desmentir esses ensinamentos, adotaram o hábito de que o mateador (aquele que faz e serve o mate), tome a primeira cuiada.
Impossibilitados de acabar com a bebida que se expandia entre os brancos e seus descendentes, os padres passaram a obter benefícios econômicos, com a produção de erva-mate pelos índios aldeados. Enviavam a erva-mate missioneira para Buenos Ayres, remetendo os lucros auferidos com o negócio para Roma e Madrid, onde ficavam os cofres da Ordem.
Os jesuítas estavam entre os homens mais estudados de sua época. Observadores atentos, verificaram que a erva-mate exigia terrenos especiais para crescer naturalmente; observaram, porém, que poderia ser cultivada em qualquer lugar. Encontraram a solução para o problema descobrindo que somente se reproduziam as sementes comidas pelos pássaros. Passaram a incentivar que os curumins, como eram chamadas as crianças, comessem as sementes. Com essa técnica germinativa desenvolveram grandes ervais. Em poucos anos aumentaram consideravelmente a produção da apreciada bebida.
Não conseguiram pôr em prática essa “nova tecnologia” na Região Serrana porque, depois de expulsos pelos bandeirantes, os caigangues ocuparam as florestas densas. Esses nativos do grupo Jê, inimigos históricos dos guaranis, do grupo Tupi, passaram a combater, também os espanhóis, jesuítas ou não, aliados dos adversários ancestrais.
Com a saída dos paulistas, os índios missioneiros, comandados por padres com experiência militar, faziam incursões aos ervais serranos, em grupos com várias dezenas de homens, portando armas de fogo.
A erva-mate era cortada de quatro em quatro anos. Sapecada e cancheada, conduziam-na os índios nas próprias costas até local seguro, onde era embarcada em canoas para Buenos Aires.
A produção da erva-mate deu origem ao primeiro ciclo econômico da Região Serrana, que se iniciou na década de 1630 e continuou até metade dos 1800, quando acabou suplantada pelo comércio de tropas para as feiras paulistas. Seja extraída dos ervais nativos; seja através de cultivo racional, a produção ervateira constituiu o nosso primeiro e mais duradouro ciclo econômico. Dos nossos quase quatro séculos de ocupação branca, ocupação que teve, naturalmente, avanços e recuos, a erva-mate foi, por cerca de 250 anos, o carro-chefe da economia.

(*) Paulo Monteiro, autor de centenas de artigos e ensaios sobre história e cultura do Rio Grande do Sul, pertence à Academia Literária Gaúcha, à Academia Passo-Fundense de Letras, da qual é presidente, ao Instituto Histórico de Passo Fundo e a diversas entidades culturais do Brasil e do exterior. Endereço para correspondência e envio de livros para leitura e análise: Paulo Monteiro – Caixa Postal 462 – CEP 99oo1-970 – Passo Fundo – RS.
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