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Ensaios-->A Instalação da Academia Passo-Fundense de Letras -- 07/05/2008 - 22:44 (Academia Passo-Fundense de Letras) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No dia 7 de abril de 1938 foi fundado o Grêmio Passo-Fundense de Letras, por um grupo de intelectuais sob o estímulo do escritor Sante Uberto Baribieri.
A entidade realizou intensas atividades que culminaram com a criação da Biblioteca Pública Municipal, a introdução do Movimento Tradicionalista Gaúcho, na Região, e a instalação da Universidade de Passo Fundo. Passados 23 anos de sua criação, o Grêmio se transformou em Academia Passo-Fundense de Letras, durante sessão solene realizada no salão da Biblioteca Pública, no prédio onde hoje o sodalício está precariamente instalado, após reforma de qualidade questionável.
Pela ata de Instalação da Academia e pelo noticiário de O Nacional e Diário da Manhã, sabe-se que os atos tiveram ampla repercussão, sendo transmitidos pelas duas rádios locais de ondas médias, Passo Fundo e Municipal, e filmada pela reportagem da TV-Piratini.
A solenidade foi aberta pelo acadêmico José Gomes, que passou a direção dos trabalhos ao então presidente da Academia Sul-Rio-Grandese de Letras, Arthur Ferreira Filho, um dos fundadores do Grêmio Passo-Fundense de Letras, que formou a mesa com autoridades representativas do Município, entre as quais, o juiz Diretor do Foro, o presidente da Câmara de Vereadores, o prefeito Benoni Rosado e líderes religiosos.
Arthur Ferreira Filho deu posse aos acadêmicos que ocuparam as primeiras cadeiras do novel sodalício. Também foi empossada a primeira diretoria acadêmica, assim constituída: presidente, Celso Fiori; primeiro vice-presidente, Túlio Fontoura; segundo vice-presidente, Mário Braga Júnior; secretário geral, Arthur Süssembach; subsecretário, Paulo Giongo; tesoureiro, Verdi De Césaro; tesoureiro adjunto, Rômulo Cardoso Teixeira; bibliotecário, Jurandyr Algarve e bibliotecário adjunto, Gomercindo dos Reis.
Dois longos discursos foram pronunciados, na oportunidade. O primeiro pelo presidente Celso da Cunha Fiori, salientando a importância do ato.
Além dos pronunciamentos de Celso da Cunha Fiori e Arthur Ferreira Filho, duas outras manifestações tornadas públicas com referência à Instalação da Academia Passo-Fundense de Letras merecem lembrança: Dois acrósticos, poemas em que os versos se iniciam com as letras dos nomes homenageados. Escreveu-os o poeta Gomercindo dos Reis, que os publicou em O Nacional de 7 de abril de 1961. O primeiro dedicado à população de Passo Fundo, sob o título de ACADEMIA PASSO-FUNDENSE DE LETRAS; o segundo ao presidente do sodalício, CELSO DA CUNHA FIORI, um dos advogados mais conceituados da Região.
Pelo significado dos mesmos para a história local são transcritos abaixo.

ACADEMIA PASSO-FUNDENSE DE LETRAS
ACRÓSTICO

Homenagem à Comuna, pela instalação, hoje, da Academia Passo-Fundense de Letras.

Avante, brasileiros, para a frente,
Com os cursos primários, secundários,
A instruir o forasteiro, e a nossa gente,
Dando Academia e grêmios literários!
Eleva, ó rio-grandense, a nossa terra,
Maravilhosa, aos píncaros da glória!
Invicta, vai além, na paz se aferra,
Altiva e já com as palmas da vitória!

Pára e contempla a nossa pátria, agora:
As Campinas, seriemas a cantar...
Seus ranchos, o tropeiro estrada afora,
Sua gloriosa Bandeira a tremular,
Os campos, os trigais, a lua da aurora!

Feliz do homem que tiver um dia,
Um trator, a mulher, o sol e a lua...
Não precisa falar na Academia,
Dizer a prosa, ou verso, que extenua.
Em defesa da pátria estremecida,
No comércio, na indústria, na pecuária,
Saberá lutar e vencer na vida,
Em Batalha gloriosa e voluntária!

Dá a tua alma, dá o teu peito varonil,
E avante, pelas glórias do Brasil!

Lutar e repelir o mau poder,
Esse que ao povo e à pátria causa danos,
Tratarás na tua memória até morrer!
Rui Barbosa já disse, há muitos anos:
A força do direito há de vencer
Sobre o direito da força dos tiranos!...
Gomercindo dos Reis
7-4-1961.

PRESIDENTE CELSO DA CUNHA FIORI
ACRÓSTICO

Dedico ao presidente e demais confrades que elaboraram os Estatutos da Academia Passo-Fundense de Letras.

Para lutar, subir, ser dos primeiros,
Redigir Estatuto ou Catecismo,
Em toda parte existem timoneiros,
Severos, sempre cheios de idealismo!
Irmanados, avante, brasileiros,
Dando exemplo de união e de civismo!
Eu vejo alguns dinâmicos pioneiros,
No leme, a dirigir, com heroísmo;
Tendo ainda pela frente alguns nevoeiros,
Estão desviando a barca de um abismo!

Cabe ao digno confrade, ao Presidente
Eleito, e a todos nós, da Academia,
Leva-la sempre avante, para a frente,
Sem faltar às sessões e ouvir um dia
O acadêmico falando a pouca gente...

Digno confrade e amigo hoje disperso,
Atende o meu apelo feito em versos:

Com fé, com esperança e persistência,
Unidos e a lutar, com galhardia,
Nenhum revés nos deterá a existência
Honrosa e útil esta Academia,
A sua marcha gloriosa, em evidência!

Falando a todos, em reunião festiva,
Irmanado hoje e pelo tempo afora,
Oferto um verso à nossa gente altiva,
Rogando a Deus que a Academia, agora,
Imite aquela flor, a sempre-viva!...
Gomercindo dos Reis
7-4-1961.
A importância de Celso da Cunha Fiori para a cultura passo-fundense não foi ainda devidamente reconhecida. A sua biografia está por ser escrita. Foi um dos advogados mais brilhantes que o Foro de Passo Fundo já conheceu, professor e diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo, também foi presidente do Grêmio e da Academia Passo-Fundense de Letras.
Celso da Cunha Fiori nasceu em Pelotas em 1905. De família humilde, ainda criança, precisou trabalhar, exercendo as funções de aprendiz de sapateiro, alfaiate e telegrafista. Cursou Direito, lecionando Latim e Português no Instituto Ginasial, atual Instituto Educacional, de Porto Alegre. Mais tarde transferiu-se para Passo Fundo, onde permaneceu até seu falecimento. Aqui, além da advocacia e do magistério superior, destacou-se como político, desportista e líder de sua classe.
Ao ser empossado como primeiro presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, a 7 de abril de 1961, pronunciou discurso que teve ampla repercussão e que transcrevo a seguir:
“Exmo. Sr. Presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Letras,
Meus senhores e minhas senhoras,
Senhores Acadêmicos,
Agradeço a honra do comparecimento a esta sessão solene e festiva do brilhante escritor e historiador Arthur Ferreira Filho, alta expressão na vida literária do Estado, presidente da Academia Sul-Rio-Grandese de Letras.
Atendendo o nosso convite para vir presidir o ato de instalação da Academia Passo-Fundense de Letras, emprestou à entidade que surge o prestígio de sua credenciada autoridade.
A escolha e o endereço do convite não constituiu mero acaso, mas foi a consideração de ser o Sr. Arthur Ferreira Filho a mais indicada personalidade literária do Estado para presidir os trabalhos de instalação de uma Academia que se constituiu do antigo Grêmio Passo-Fundense de Letras, por ele fundado, há mais de vinte anos, quanto prefeito deste município.
Esta biblioteca, em cujo recinto hoje nos reunimos, cheios de entusiasmo e de fé, foi também por ele fundada durante sua administração e, entregue ao Grêmio Passo-Fundense de Letras, vem há muitos anos, distribuindo as messes de seus frutos à mocidade estudiosa de Passo Fundo.
Agradecemos a distinção e a honra a nós concedida.
.........................
Colho a pedra que nos seria jogada na mão ousada e impetuosa de crítica desassombrada e digo: detém-te e considera conosco.
Não somos a contrafração (sic), nem o arremedo, nem estamos dispostos a representar a paródia.
Estamos cônscios da distância imensa que nos separa da Casa de Machado de Assis e da Academia Sul-Rio-Grandense de Letras.
Lançamo-nos no empreendimento temerário e arrojado de transformar o modesto Grêmio de Letras fundado em 1939, numa Academia de Letras, na intenção de acompanhar o progresso desta região, lançada vitoriosamente no ensino superior, prestes a constituir-se em Universidade.
Longe sempre estivemos da arrogância e da vaidade e jamais demos ouvidos à voz da eterna serpente que, desde os longínquos tempos do Paraíso, segreda aos ouvidos da humanidade a frase instigadora para o caminho da perdição: “sereis como deuses!”
Nesta hora, cumprindo um dever para com a nacionalidade, estamos unidos num só pensamento, que consiste em despertar o gosto pelos estudos nacionais, tratando de salvar de poderosos invasores a língua pátria, relicário de nossa tradição, meio de comunicação espiritual, principalmente neste sul do país e norte do Estado, de grandes correntes de imigração estrangeira.
A Academia que se constitui será uma linha de barragem na defesa da língua, para que não seja suplantada pelo alinigienismo (sic), como temia Coelho Netto, desaparecendo, ou subsistindo como rude dialeto.
E, de mim, que dirás?
Não julgues que pretendo por um só instante representar o papel de Joaquim Nabuco.
Lembro-me muito bem do que aconteceu ao Bobo que foi sentar-se no trono de Ricardo Coração de Leão.
Quando fui eleito por meus pares para primeiro presidente, recebi o mandato avaliando devidamente o que significava. Sabia que a intenção da escolha era entregar a presidência a algum capaz, pelo trabalho e pela dedicação, de levar a cabo a tarefa difícil de instalar a Academia nacitura (sic), esboçada somente nas aspirações e no ideal de vinte passo-fundenses destemerosos.
Não foi, portanto, o critério se superiores qualidades ou virtudes no âmbito das letras que me conduziram ao posto.
Só o destino caprichoso explica coisas com esta, estarmos a presidir ato de tamanho vulto, tão grande expressão, verdadeiro momento histórico na vida intelectual e cultural de Passo Fundo.
Afianço que o mandato foi cumprido e declaro que a Academia Passo-Fundense de Letras é uma realidade, de fato e de direito.
Embora Bejazet, embora Tamerlão, cumpre-se o destino.
Senhora Crítica,
Não nos jogues ainda a tua pedra.
Vou ao encontro da pergunta: poderá uma modestíssima Academia do Interior, composta de elementos sem expressão apreciável nos meios literários, representar as grandes e nobres aspirações que a própria natureza da corporação impõe?
Pode. E não faremos o papel de Ícaro dos pampas, improvisando asas de cera de aptidões frustradas, na tentativa de alcançar as alturas do Sol de sinceras aspirações.
O novel acadêmico que hoje aqui comparece sem bagagem literária, há de erguer o fraco à altura do seu peito, voltar-se-á para o caminho infinito de muitas esperanças, ou ficará à margem das estradas, como estas cruzes que às vezes encontramos, marcando a atitude dignificante de quem instituiu a cadeira que as novas e futuras gerações disputarão.
Os começos difíceis não nos intimidam, como não detiveram a idéia de Lúcio de Mendonça em 1896, na Redação da Revista Brasileira.
Naquela época as dificuldades eram tantas que chegou-se a levantar a ideado poder público nomear os primeiros dez acadêmicos e, embora tendo como modelo a Academia Francesa, tinha entre suas finalidades a fundação da Academia Brasileira, a impressão de obras literárias que não encontrassem editor.
Tencionamos começar por aí.
Incentivaremos a produção de obras e trabalhos literários, embora de caráter regional e de limitado interesse local.
Auxiliaremos sua vinda à luz da publicidade, pondo em último plano o interesse econômico da publicação do livro.
Nos lançaremos às coisas mossas, aos motivos daqui, fazendo um convite às novas gerações para conhecer o Brasil, amar e defender o que é brasileiro, num Estado em que os estudantes e o povo vão conhecer Montevidéu, Buenos-Aires e o Chile, antes de conhecer Rio de Janeiro e Brasília.
Vamos cultuar os vultos do passado, daqui de Passo Fundo, Antonino Xavier e Oliveira, Gabriel Bastos, Prestes Guimarães, Nicolau de Araújo Vergueiro, já escolhidos como patronos desta Academia.
Erico Veríssimo, Manoelito de Ornelas, Vianna Moog, Arthur Ferreira Filho, Darcy Azambuja, Ernani Fornari, Augusto Mayer, Damasceno Ferreira, Lindolfo Collor, Getúlio Vargas e muitos outros receberão as honras que merecem e consagrarão as cadeiras do sodalício serrano.
Aos jovens que se iniciarem, sempre inclinados ao classicismo e à imitação dos escritores estrangeiros, nós diremos com Catulo que basta de Pan e de Netuno, que é tempo de deixar Byron, os franceses, a Rússia e outros Estados.
Deixa a Grécia, deixa a Itália.
Deixa a Fonte de Castália que de há muito já secou.
Vem beber as águas puras desta cacimba que é tua.
E, neste ponto, se a Crítica ainda duvidar das nossas intenções, se tiver restrições aos fins a que nos propomos, que aproveite enquanto riscamos a areia do chão com arabescos incertos e hieróglifos vacilantes, temerosos do seu poder destruidor e inicie a nossa dilapidação.
........................
Moços, amantes das letras, estudantes, intelectuais, passo-fudenses, gente da região serrana!
Ao instalar a Academia Passo-Fundense de Letras não estou ordenando que servos de libré abram vetustas portas de ferro e de bronze, rangendo os gonzos, para oferecer passagem a uma nova casta, constitutiva de uma nova nobreza – a aristocracia das letras,
A nossa atitude é a de um gesto largo, de acolhedores braços abertos, num convite amplo, sincero, feito a todos, cheio de entusiasmo e de fé.
Convido-os a entrar.
Nada de imitações, nenhuma escola, nenhuma filosofia.
Um único dogma: crês no êxito!
A única heresia: perder a esperança!”
O discurso de Celso da Cunha Fiori foi intensamente aplaudido. A seguir, Arthur Ferreira Filho, historiando a criação do Grêmio Passo-Fundense de Letras e a trajetória do movimento até sua constituição em Academia, pronunciou o discurso abaixo:
“Entre as recordações que conservo desta cidade, a que mais avulta no patrimônio afetivo de minha memória, é aquela que recebeu a lembrança dos saraus literários que realizávamos na redação do DIÁRIO DA MANHÃ, então localizado onde é, atualmente, a Casa Yankee, que foi lá pelo ano de 1936.
Mais tarde aqui chegou a figura aportada de Sante Uberto Barbieri, hoje Bispo de sua religião em Buenos Aires. Vinha em Missão da Academia Rio-Grandense de Letras.
Fundou-se, então, o Grêmio Passo-Fundense de Letras que, logo passou a funcionar nesta mesma casa.
Lembro-me de seus dias de festa.
Recepcionávamos Agripino Grieco, que nos deu encantadora palestra sobre homens de letras de Portugal, recepcionávamos Margarida Lopes de Almeida, a consagrada declamadora de fama universal, e De Paranho Antunes, Januário Coelho da Costa e Manuel Duarte, os três últimos da Academia Rio-Grandense.
Agora foi o Grêmio transformado em Academia, passando os gremistas a integrar a nova instituição.
Infelizmente já não são todos. Alguns faltam à chamada: Gabriel Bastos, Nicolau Vergueiro, Antonino Xavier, Gomide Heitor Silveira, Arlindo Luiz Osório.
Por eles responde a nossa saudade.
Presentes estão, neste momento histórico da entidade, alguns antigos companheiros da primeira fase: O professor Celso da Cunha Fiori, nosso presidente; o jornalista Túlio Fontoura, nosso vice-presidente; o professor Verdi De Césaro; o professor Mário Braga Júnior, o professor Sabino Santos, o poeta Gomercindo dos Reis; o professor Aurélio Amaral; o professor César Santos, meu colega de Academia Rio-Grandense; o sr. Píndaro Annes; o professor Rômulo Teixeira. E outros que vieram depois, trazendo ao Grêmio o vigor de sua capacidade intelectual, como o desembargador Reissoly José dos Santos, diretor da Faculdade de Direito; o jornalista Arthur Sussembach; o dr. Paulo Giongo; o dr. Mário Lopes; o jornalista Carlos De Danilo Quadros; o escritor Jorge Cafruni; o dr. Mário Hopp, o jornalista Saul Sperry César, o reverendo Bispo José Gomes e o dr. Jurandyr Algarve, a quem devo a gentileza, acima de qualquer agradecimento, de me haver escolhido para patrono da cadeira que dignamente ocupa.
Tais são os integrantes do Grêmio Passo-Fundense de Letras, todos portadores das melhores credenciais que vão constituir o quadro da nova Academia.
Nestes mais de vinte anos de existência o Grêmio tem cumprido plenamente sua missão de estimular o culto das belas letras, de congregar os homens que, possuindo talento literário, possuem, também, espírito associativo capaz de conjugar esforços em prol da cultura.
Acho oportuno referir a uma circunstância interessante: deste Grêmio já saíram três Bispos: um da Igreja Católica, Dom José Gomes, Bispo de Bagé, a quem tive a satisfação de conhecer como secretário-geral da Casa e dois da Igreja Evangélica, os Reverendos drs. Santo Uberto Barbieri e José Pinheiro.
Isso prova muito. Prova o alto nível de moralidade e de espiritualidade que vem imperando nesta instituição.
No momento em que o Grêmio se eleva à situação de Academia, um convite de nossos presidente e vice-presidente foi buscar-me para presidir esta solenidade excepcional que ora marca uma transformação no curso de nossas atividades.
Agradeço a Deus ter me permitido viver esta hora.
Compartilhando do vosso júbilo, exultando convosco, aqui me encontro ao vosso lado quando a instituição de que fui o primeiro presidente, se eleva a uma categoria mais alta.
O Grêmio Passo-Fundense de Letras não se extingue, pelo contrário, transforma-se, vitalizando-se, ganhando em importância e amplitude.
Fizestes muito bem, transformando-o na Academia Passo-Fundense de Letras.
E por que o transformastes?
Seria por vaidade, pensando em maior ressonância para vosso título literário?
Não. Foi por uma simples questão de dinamismo social. A transformação é menos obra vossa que da própria cidade de que o Grêmio sempre foi uma expressão.
Quando foi fundado o Grêmio? Quando Passo Fundo era apenas uma cidade de 15 mil habitantes, com três estabelecimentos de ensino secundário, um de ensino normal e algumas escolas primárias.
E hoje? Passo Fundo conta com 60 mil habitantes, uma Faculdade de Direito, uma Faculdade de Economia, uma Faculdade de Filosofia, e já com autorização para o funcionamento de uma Escola de Agronomia, e as medidas preliminares à fundação de uma Faculdade de Medicina, uma Faculdade de Odontologia e um Instituto de Belas Artes, isto é, a um passo da Universidade.
Ora, não devendo a cultura literária retardar-se em relação à cultura universitária, porque uma é complemento da outra, natural é que o Grêmio evoluísse na mesma proporção.
O que dá importância a uma cidade é sua situação de capital não no sentido de sede de Governo, mas no sentido geral de cabeça de uma região, de centro de um território vasto e povoado.
Passo Fundo é a capital de uma vasta região, extensa como o Estado de Sergipe. Todo o norte rio-grandense e quase todo o oeste catarinense lhe são tributários.
Capital econômica por suas indústrias, pelo seu comércio, pelo seu sistema de transporte; capital da cultura pelos seus estabelecimentos de ensino, por suas escolas superiores, pelo seu corpo jurídico, pelo seio corpo médico, pelos seus escritores.
Capital da cultura por esta Academia.
E eu disse, há pouco, que a cultura literária deve ser inseparável da cultura universitária. Direi mais. Deve ser inseparável de qualquer atividade intelectual.
Em todas as profissões destacam-se aqueles que, ao valor profissional, ajustam a cultura literária.
Entre os peritos brasileiros podemos citar Rui Barbosa, João Luis Alves, Clóvis Beviláqua, Alfredo Pujol, João Neves da Fontoura, Afonso Arinos, membros da Academia Brasileira, entre os médicos que pertenceram à mesma instituição máxima de nossas letras Francisco e Aloísio de Castro, Miguel Couto, Osvaldo Cruz, Afrânio Peixoto. Entre engenheiros foram Euclides da Cunha, Carlos de Laert, Otávio Mangabeira. Militares, o Visconde de Taunay, Lauro Müller, Dantas Barreto, para só citar os que pertenciam à Academia.
E entre nós, quem não ouviu falar no ilustre professor Olinto de Oliveira, primeiro presidente da Academia Rio-Grandense, Mário Totta, Sebastião de Leão, Raul de Bitencourt?
E ninguém dirá que a cultura literária, e a prática da literatura, estorvasse as atividades profissionais, de qualquer deles. Ao invés disso, deu-lhes, realce, deu-lhes brilho.
Porque, - sejamos francos -, a cultura literária constitui o polimento, o verniz que distingue o homem em qualquer meio em que atue.
Um grande médico, um grande jurista, um grande engenheiro, será muito maior se possuir um mínimo de cultura literária para atenuar-lhe as arestas.
Houve um herói da primeira grande guerra, o marechal Hindemburgo, que se orgulhava de nunca ter lido um único livro de literatura.
Não nos convenceu semelhantes razões de orgulho.
Preferimos César que escreveu os comentários; preferimos Napoleão que na Campanha do Egito, assinava suas proclamações, Bonaparte, general em chefe e membro do Instituto; preferimos Jofre e Foch, membros da Academia Francesa; e o nosso Osório, poeta espontâneo, e o nosso Conde de Porto Alegre, membro do Partenon Literário e fundador do Instituto Histórico.
Nem todo mundo pode ser escritor, nem é preciso ser escritor para possuir cultura literária. Esta não se adquire escrevendo, mas lendo.
Há pessoas que nunca escreveram uma crônica, nem um verso, e conhecem mais literatura do que muitos, cujos nomes se ostentam em lombadas de livros.
O essencial, para o homem culto, para o homem civilizado, é que conheça literatura, é que leia, porque a literatura é arte, e a arte embeleza a vida.
É pelo embelezamento da vida que se distingue o homem civilizado daquele que, afundado no puro utilitarismo, revela-se um estagiário entre a civilização e a barbárie.
Visitando, ontem, pela segunda vez, a chácara do nosso ilustre presidente e meu bondoso hospedeiro, tive ocasião de dizer-lhe que encontrava naquela amável paragem um toque de beleza clássica.
Virgílio não desdenharia habitá-la.
Os dois pinheiros magníficos que servem de colunas ao pórtico, com as frondes altaneiras voltadas para os céus, valem bem o formoso carvalho de Torquato Tasso e as formosas faias, a cuja sombra o poeta latino escrevia seus versos imortais. SUB TEGMINE FAGI...
Não seria possível, sem grave culpa vossa, que esta cidade se tornasse uma capital de cultura e conhecimento científicos, e o Grêmio Passo-Fundense de Letras permanecesse apático, estaqueado, indiferente ao surto prodigioso que se processou e processa em torno de si.
Fizestes muito bem em promovê-lo à situação de Academia.
Prestigiai-a e engrandecei-a.
O encanto da vida está na coexistência humanista do útil e do belo. Dentro desse quadro há lugar para todos. Para os que semeiam o trigo e para os que cultivam as rosas. Para os que preparam o cimento, e os que lapidam as esmeraldas.
Colocai bem longe o vosso objetivo e esforçai-vos por alcançá-lo.
Estareis, assim, trilhando o caminho da perfeição.”
A solenidade coroava o esforço de um grupo de intelectuais que criara o Grêmio no 7 de abril de 1938 e andara plantando a semente do associativismo cultural em cidades da Região. De todo esse labor sobrou apenas a Academia Passo-Fundense de Letras. Melhor para Passo Fundo, que assumiu a vanguarda cultural de uma vasta área do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Ata de Instalação da Academia Passo-Fundense de Letras
Aos sete dias do Mês de abril do anos de mil novecentos e sessenta e um, às vinte horas, no salão da Biblioteca Pública Municipal, iniciaram-se os trabalhos da sessão de instalação da Academia Passo-Fundense de Letras.
Aberta a sessão pelo acadêmico José Gomes, foi a presidência dos trabalhos passada ao historiador, acadêmico Arthur Ferreira Filho, presidente da Academia Sul-Riograndense de Letras, fundador do Grêmio Passo-Fundense de Letras e da Biblioteca Pública Municipal, o qual veio a esta cidade como convidado especial para presidir os atos desta sessão solene. Pelo presidente foram convidados para fazer parte da mesa as seguintes pessoas: Dr. Eripedes Facchini, Centenário do Amaral, Bispo José Gomes, Revdo. Otto Gustavo Otto, Porf. Clory Trindade Oliveira, Jader Prates Chaves, Tte. Luiz Carlos Bitencourt e Hugo Vargas. Logo a seguir foi feita a chamada nominal dos integrantes da Academia Passo-Fundense de Letras, com menção aos seus respectivos patronos, os quais, à medida que eram chamados, iam ocupando os seus lugares. Foram os seguintes, por ordem alfabética, e seus respectivos patronos: Arthur Süssembach (Monteiro Lobato), Aurélio Amaral (Sante Uberto Barbieiri), Carlos de Danilo de Quadros (Assis Chateubriand), Celso da Cunha Fiori (João Maria Belém), César José dos Santos (Getúlio Vargas), Gomercindo dos Reis (Walter Spalding), Jorge Edethe Cafruni ( Francisco Antonino Xavier e Oliveira), José Gomes ( Dom Aquino Correa), Jurandyr Algarve (Arthur Ferreira Filho), Mário Daniel Hoppe (Gabriel Bastos), Mário Braga Júnior (Darcy Azambuja), Mário Lopes Flores (Augusto dos Anjos), Paulo Giongo (Ernani Fornari), Píndaro Annes (Prestes Guimarães), Reissoly José dos Santos (Rui Barbosa), Rômulo Cardoso Teixeira (Olavo Bilac), Sabino Santos (Erico Veríssimo), Saul Sperry Cezar (Álvares de Azevedo), Túlio Fontoura (Nicolau de Araújo Vergueiro) e Vérdi De Césaro (Raquel de Queiroz).


Paulo Monteiro é membro titular da Academia Passo-Fundense de Letras, ocupando a cadeira 32, que tem como patrono o poeta e jornalista Gomercindo dos Reis. Autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais e literários, seu endereço para correspondência e envio de livros para leitura e análise: Paulo Monteiro – Caixa Postal 462 – CEP: 99.001-970 – Passo Fundo – RS.
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