Adjetivada
maria da graça almeida
Sou substantivo concreto, simples(?), feminino e
muito. Quero adjetivar-me com pedaços de
vileza, surtos de pecado, temporárias ignomínias
e qualidades que me ponham assanhada,
mesmo que com elas eu me exponha
à crueza das pedradas.
À noite quero ser viciada, notívaga despudorada;
ao amanhecer, insinuante, maliciosa matutina .
À luz crepuscular, libidinosa vespertina,
atrevida e lasciva.
E, diuturnamente, dominadora e imperativa;
sádica e contundente.
Quero ser alguém -com ou sem licença-
em quem não se pressinta a pieguice
de postular a louvação à vida
e a presença dos ausentes,
através de atitudes contidas
em virtudes permanentes.
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