Usina de Letras
Usina de Letras
165 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62190 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50597)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cordel-->Sobre as origens e a história do Cordel -- 17/11/2003 - 09:45 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Porque nas minhas consultas sobre as origens e a história do Cordel se me deparou este tão interessante trabalho, desenvolvido pelo estudioso Carlos Cicero de Lacerda Alencar, considero que a sua exposião aos usuários cordelistas da Usina, pelo menos àqueles que carecem de informação ou ainda não têm experiente calejo na modalidade, será de bastante utilidade e quiçá sirva de incentivo aos que sobre este exercício ainda não tenham logrado propensão. Foi pois com todo o gosto que me dei à tarefa de recolhê-lho para aqui disponibilizá-lo.

oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

ORIGEM DO CORDEL 


    Afirmar com exatidão sobre a origem de  uma manifestação de cultura popular é uma tarefa muito difícil, pois  não existem registos, fatos, documentos. As informações são de livros feitos por pesquisadores ou recolhidas em entrevistas informais, e,  muito facilmente, a complexidade do assunto pode cair  no subjetivismo inexato. Mas com o material que temos, vamos à pesquisa.   

     Literatura de cordel existe desde os tempos medievais na Península Ibérica, com esse mesmo nome. 

    Como diz Candace Slater em A Vida no Barbante pg 9: 

"O livreto ibérico floresceu no século XVI, quando laços entre Espanha e Portugal eram particularmente estreitos. (entre 1580 e 1640 Portugal fez parte da Espanha) Essas composições impressas - conhecidas como pieglos sueltos na Espanha e folhas volantes em Portugal- Eram originalmente uma espécie de depósito geral para baladas tradicionais e novas por autores conhecidos.. Ninguém sabe exatamente quando, em que quantidade e sob quais condições esses livros penetraram no Brasil- Colônia"

    O Cordel Ibérico é diferente do nordestino, como afirma o professor Carlos Francisco Moura, em seu livro "Teatro a Bordo das Naus Portuguesas nos Séculos XV, XVI, XVII e XVIII", do Instituto Luso Brasileiro de História. Segundo ele, esse tipo de literatura podia ou não ser impressa, ou seja, muitos trabalhos eram manuscritos. O conteúdo era diversificado: autos religiosos, histórias profanas, peças teatrais. Ele lembra também que Gil Vicente, considerado o pai do teatro português, teve quase todas as suas peças editadas em folhetos de cordel, por serem mais baratos. O cordel também foi utilizado de forma política, pois muitos ironizavam o poderio da Igreja Católica medieval por meio de suas histórias e contos profanos;  claro, sem a identificação do autor. 

O cordel daquela época poderia ou não ser em versos. Quando em versos, eram feitos em quadras, décimas ou sextilhas. Como a imprensa era muito recente e cara,  o cordel era alternativa muito barata de produção  tipográfica. O cordel brasileiro é escrito invariavelmente em versos. 

     Em "Vaqueiros e Cantadores" pg 25, Câmara Cascudo ao transcrever o romance da Donzela Teodora, que correu todo o sertão,  o qual existe, entre tantas outras, uma versão portuguesa. Diz: "A originalidade da  versão sertaneja do Brasil é ser em versos, quando todas as outras conhecidas se mantêm em prosa"

    Percebemos algumas palavras de origem medieval nos versos da literatura de cordel:

Livreto

Autor

Estofe

As Diabruras do Homem

No País da Bicharada

Vidal santos

Ó musa dona lira

Do poeta talentoso

Da inspiração e fonte

Do verso maravilhoso

Dai-me a força de sansão

Ilustrando a narração

Dessa estória de trancoso

História do príncipe Formoso

Rodolfo Coelho Cavalcante

A Fonte da poesia

Dá Força ao pensamento

Para que o trovador

Dentro do conhecimento

Possa narrar um romance

De e sofrimento

História de João e o pé de Feijão

Klévisson Viana

Peço a viloa encantada

A poética inspiração

Que conduza minha pena

Pra narrar com emoção

A história de um rapaz

E um mágico pé de feijão.

 Além de Musa, Lira, Trovador e Pena,  também é comum encontrar nas narrativas de cordel palavras como menestrel e camponês, que, evidentemente nos remetem à Europa Medieval. 

Diz Bráulio Tavares em A PEDRA DO MEIO DIA. São Paulo: Editora 34, 1998. P.74 

"Os temas do Maravilhoso no cordel são parecidos com os da literatura infantil no meio urbano. Na cultura das grandes cidades, existe uma separação entre a literatura "realista" dos adultos e a literatura "fantasiosa" das crianças; mas, no sertão, as crianças, os velhos e os adultos envolvem-se com o mesmo grau de intensidade com as estórias fantásticas narradas nos folhetos de cordel.

O leitor não deve estranhar se, num desses folhetos, o autor disser que num palácio do Oriente come-se macaxeira, ou então que no casamento da princesa os músicos tocam sanfona. O escritor de cordel mistura, sem a menor cerimônia, seu próprio mundo e o mundo de seus personagens"

 Em alguns folhetos temos ainda a presença de citações que nos lembram as novelas de cavalaria:

 

Folheto

Autor

Versos de estrofes

Os Quatro Sábios do Reino e a Princesa Encarcerada

Manoel D’almeida Filho

Assim num reino distante

Há uns dois séculos passados...

A Vitória do Príncipe Roldão no Reino do Pensamento

Severino Gonçalves de Oliveira

Neste livro aqui se vê

Um drama misterioso

Do rei mais caricativo...

Os mistérios da princesa dos sete palácios de metais

Mamoel D’Almeida Filho

Nas terras de um reinado

A linda princesa Maia...

 

A princesa Rosalina na Cova dos ladrões

Manoel D’Alemida Filho

Este romance é um desses

Que há muitos anos passou-se...

O Rei, a Pomba e o Gavião

José de Souza Campos

Junto com os seus ministros

Percorria as suas terras

 

    Traços dessa herança Ibérica- medieval são muito correntes nas narrativas de cordel, como na verdade, em grande parte dos folguedos populares. A cavalhada, que é teatro a cavalo, conta a luta de Mouros e Cristãos. 

     Concluo, lembrando que o cordel brasileiro nos chegou indiscutivelmente, através dos colonizadores e que, aqui no Brasil, no Nordeste tomou uma dimensão muito própria, fincada na tradição popular e oral.

O que disseram alguns poetas populares 


Slater, Candace, A vida no barbante: a leiteratura de cordel no brasil / tradução de Octávio Alves Velho. - Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1984.

               Rodolfo Coelho Cavalcante- Rio Largo - AL, 1919.

“Aprendi muito lendo todos esses livros de pessoas eruditas. Mas quando elas começam a falar de nós poetas como descendentes dos menestréis medievais marchando pela Europa afora com aqueles chapéus e campainhas gozados, aí tenho de discordar. Dizem que o folheto nasceu em algum lugar de Portugal, mas eu digo que ele é nordestino, que foi inventado aqui mesmo. Não, senhor, o cordel tem suas raízes do mesmíssimo solo onde você e eu estamos de pé. Realmente, agora pergunto: o que mesmo poderia ser mais brasileiro?”  

Francisco de Souza Campos - Timbaúba- PE, 1920.

“Por que todos esses professores vêm aqui, fazendo-nos perguntas? Ora, não sei com certeza, mas suponho ser por haver tanta gente instruída e com todo dinheiro que precisa e que no entanto não sabem escrever um único verso. Aí você tem o poeta, um pobre diabo que nunca foi à escola, que tem dificuldade para juntar umas moedas para o pão ou para a passagem de ônibus, e que senta e escreve uma estória que deixa a todos maravilhados. Portanto, em meu modo de pensar, o que todas essas pessoas querem exatamente é entender como o poeta faz suas estórias. Estão ansiosas por saber como ocorre tal milagre. (2)

 

[ CODERLON ][ O que é Cordel? ][ História do Cordel ][ O que é xilogravura? ][ Biblioteca ]

[ Autores ][ Envie seu Cordel ][ Album de Xilogravuras ][ MP3 Cabaçal ][ Sobre ]
 
 

História

Dois ilustres folcloristas brasileiros, Luis da Câmara Cascudo e Manuel Diéges Júnior, trouxeram, contribuição ao problema da origem da nossa literatura de cordel. Cascudo em vários ensaios e livros, sobretudo no seu "Vaqueiros e Cantadores" e "Cinco Livros do Povo", e Manuel Diéges Júnior especialmente no ensaio "Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel". Eles nos mostraram a vinculação dos folhetos de feira, a partir do século XVII, com as "folhas volantes" ou "folhas soltas", em Portugal, cuja venda era privilégio de cegos, conforme informava Téofilo Braga.

    Na Espanha, o mesmo tipo de literatura popular era chamado de "pliegos suletos", denominação que passou também à América Latina, ao lado de "hojas" e "corridos". Tal denominação, como se sabe, é corrente na Argentina, México e Nicarágua, Peru. Segundo a folclorista argentina Olga Fenandéz Lautor de Botas, citada por Diéges Júnior, estas "hojas" ou "pliegos sueltos", divulgados atravésde "corridos , envolvem narrativas tradicionais e fatos circunstanciais - exatamente como a literatura de cordel brasileira.

    Na França, o mesmo fenômeno correspondia à "littèratue de colportage" - literatura volante, mais dirigida ao meio rural, através do "occasionnels", enquanto nas cidades prevalecia o "canard". Na Inglaterra - é informação de Jean Pierre Seguin, através de Roberto Benjamin -, folhetos semelhantes aos nossos eram correntes e denominados "cocks" ou "catchpennies", em relação aos romances e estórias imaginárias; e "broadsiddes", relativamente às folhas volantes sobre fatos históricos, que equivaliam aos nossos folhetos de motivações circunstanciais. Os chamados folhetos de época ou "acontecidos".

    Num ensaio intitulado "Origens da Literatura de Cordel", nós alongamos as notícias dessas origens do folheto de cordel não só no século XVII, na Holanda, como aos séculos XV e XVI na Alemanha. Foi através do ensaio da pesquisadora Marion Ehrhardt, intitulado "Notícias Alemãs do Século XVI sobre Portugal", publicado na revista "Humboldt" (nº 14, Hamburgo, 1966), que chegamos a essa evidência.

    Examinando folhetos sobre assuntos portugueses do século XVI, que resistiram ao tempo, - através de enfoque exclusivamente histórico - Marion Ehrhardt nos fornece informações suficiente para cortejo entre velhos folhetos germânicos e a literatura de cordel.

    Na Alemanha, os folhetos tinham formato tipográfico em quarto e oitavo de quatro e a dezesseis folhas. Editados em tipografias avulsas, destinavam-se ao grande público, sendo vendidos em mercados, feiras, tabernas, diante de igrejas e universidades. Suas capas (exatamente como ainda hoje, no Nordeste brasileiro), traziam xilogravuras, fixando aspectos do tema tratado. Embora a maioria dos folhetos germânicos fosse em prosa, outros apareciam em versos, inclusive indicação, no frontispício, para ser cantado com melodia conhecida na época.

    Já a respeito dos panfletos holandeses, tivemos as primeiras notícias através do prof. José Antônio Gonçalves de Mello, nossa maior autoridade em história do domínio holandês no Nordeste brasileiro. Ele examinou panfletos ("pamflet", em holandês) do século XVII, concluindo sobre o seu contudo: "Os temas tratados, pelo menos em relação ao Brasil, que são os que unicamente conheço, são políticos, econômicos, militares, quando não são terrivelmente pessoais. Um relativo à Guiana então holandesa, relata um crime, no qualestão envolvidos personagens que vieram em Pernambuco. Há-os em versos, mais a maioria em prosa, sendo freqüente a forma de diálogos ou em conversas entre várias pessoas. Uns só de uma folha; a maioria contém entre 10 a 20 páginas, em tipo gótico". Tudo isso mostra à evidência que, embora tenhamos recebido a nossa literatura de cordel via Portugal e Espanha, as fontes mais remotas dessa manifestação estão bem mais recuadas no tempo e no espaço. Elas estão na Alemanha, nos séculos XV e XVI, como estiveram na Holanda, Espanha, França e Inglaterra do século XVII em diante.

    No Brasil - não mais se discute -, a literatura de cordel nos chegou através dos colonizadores lusos, em "folhas soltas" ou mesmo em manuscritos. Só muito mais tarde, com o aparecimento das pequenas tipografias - fins do século passado -, a literatura de cordel surgiu e se fixou no Nordeste como uma das peculiaridades da cultura regional.

    História do Cordel do Nordeste - Embora o tema (nomes e datas fundamentais em torno dos poetas populares do Nordeste) já tenha sido rasteado por numerosos autores, vamos resumir o que Átila de Almeida condensou, a propósito, em recente ensaio intitulado "Réquiem para a Literatura Popular em Verso, Também dita de Cordel", in "Correio das Artes" João Pessoa, 01.08.1982. 1830 é considerado historicamente, o ponto de partida da poesia popular nordestina. Em torno dessa data nasceram Uglino de Sabugi - o primeiro cantador que se conhece - e seu irmão Nicandro, ambos filhos de Agostinho Nunes da Costa, o pai da poesia popular.

    Nascidos na Serra do Teixeira (PB), entre 1840 e 1850, foram seus contemporâneos os poetas Germano da Lagoa, Romano de Mãe D´Água e Silvino Piruá. E já contemporâneo destes, Manoel Caetano e Manoel Cabeleira. São os mais antigos cantadores conhecidos, todos chegando à década que se iniciou em 1890.

    A década que começou em 1860 viu nascer grandes nomes, como João Benedito, José Duda e Leandro Gomes de Barros. Mais adiante, na década de 1880, nasceram Firmino Teixeira do Amaral, João Martins de Ataíde, Francisco das Chagas Batista e Antônio Batista Guedes. Depois dessa época até 1920 - afirma o escritor paraibano -, "a poesia escrita e oral se tornaram coqueluche e os poetas se multiplicam como moscas, principalmente nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará". Só nesse período foram registrados 2.500 poetas populares! O movimento editorial do cordel, como se sabe, inicia-se com Leandro Gomes de Barros, Chagas Batista e Piaruá. Embora acredite-se que Leandro e Pirauá começaram a publicar folhetos antes de 1900, não existem provas materiais desse fato. Em 1902, Chagas Batista publicou um folheto, em Campina Grande, que existe ainda hoje na Casa "Rui Barbosa", no Rio de Janeiro. Há um outro de Leandro, publicado no Recife, em 1904.

    A partir dessas datas, Leandro e Pirauá dominam o mercado de folhetos de cordel. Depois de 1910, surgem outros nomes de autores de folhetos, como Antônio da Cruz, Joaquim Sem Fim, Cordeiro Manso, Manuel Vieira do Paraíso, Antônio Guedes, Joaquim Silveira, João Melchíades, João Martins de Athayde. Na década de 20, emerge outra leva de poetas de bancada, como Romano Elias da Paz, José Camelo de Melo Rezende, Manoel Tomás de Assis, José Adão Filho, Lindolfo Mesquita, Moisés Matias de Moura, Arinos de Belém, Antônio Apolinário de Souza e Laurindo Gomes Maciel. Nas alturas de 1945, Átila de Almeida vislumbra o que chama de "germe destruidor no comércio de folhetos". Uma fase de decadência em conseqüência de novos fatos determinantes das transformações sociais, como o rádio, o cinema, a aceleração do processo de industrialização do País, a construção de Brasília, a facilidade de novos meios de transporte, estimulando as migrações internas no Brasil. Esses fatores alteram a mentalidade do homem rural nordestino, o grande consumidor da poesia popular escrita oral, ou cordel.

[ CODERLON ][ O que é Cordel? ][ História do Cordel ][ O que é xilogravura? ][ Biblioteca ]

[ Autores ][ Envie seu Cordel ][ Album de Xilogravuras ][ MP3 Cabaçal ][ Sobre ]

















































































Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui