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Ensaios-->BREVE METODOLOGIA DA CRIATIVIDADE -- 05/01/2008 - 23:25 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
BREVE METODOLOGIA DA CRIATIVIDADE

Délcio Vieira Salomon

Este texto, com objetivo didático, tem como referência:

1- SALOMON, Délcio Vieira. Problema e serendipidade. In: A maravilhosa incerteza. São Paulo: Martins Fontes, 2000, cap. 10, p. 287 –316.
2- VIDAL, Florence. Problem - solving: metodologia geral da criatividade (Problem-Solving. Méthologie génerale de la créativité). São Paulo: Bestseller, 1973.
3- DUALIBI, R.;SIMONSEN Jr., H. Criatividade & marketing. São Paulo: Abril McGraw-Hill, 1990.


1 O PROCESSO CRIADOR


A criatividade será vista aqui enquanto processo - ‘o processo criador’- e em função da problematização, voltada para a produção científica como um todo (notadamente para desenvolver a pesquisa e a formação da teoria e nas chamadas ‘descobertas científicas’), na aplicação da ciência, no desenvolvimento da tecnologia, sobretudo a de ponta, e numa gama ampla de setores em que se exige do ser humano ‘soluções criativas’ para determinados tipos de problema. Apesar de não referir-me ao pensamento criador no domínio da atividade estética, julgo oportuno aproveitar esta síntese feita por Frederick Lamson Whitney do capítulo XIII - La investigación de tipo creador - de seu Elementos de Investigación (The Elements of Research - 3 ed. 1970):

O tipo criador de pesquisa se realiza em função do pensar reflexivo e no domínio dos valores estéticos. Utiliza-se fundamentalmente o enfoque estilístico na análise da experiência humana. Valoriza-se o produto estético em função dos padrões de qualificação pessoais. Seu objetivo é a beleza juntamente com a verdade. O pensamento criador legítimo surge em função das fases usuais da atividade mental na concepção e resolução de um problema. Difere dos demais tipos de reflexão pelo fato de que o sentimento inicial é talvez mais penetrante e mais contínuo ao longo do processo integral. O produto estético se acha presente no desenvolvimento desde o começo. Possui todos os graus da emoção da posse pessoal imediata. Constituem uma classificação possível da objetividade do método e do processo no domínio da estética a obra do prosador, a do poeta, a do dramaturgo, a do compositor musical, o do libretista, a do compositor de ópera, a do coreógrafo da dança, a do pintor, a do escultor, a do arquiteto. Na esfera da produção estética existe unidade e complexidade. Mas há um objetivo comum - a beleza - sempre presente. O processo do artista ‘genial’ é o do pensar reflexivo, inspirado e constantemente impregnado de profunda sensibilidade. Os tipos puros são talvez a exceção. Assim a opera combina literatura, música, e dança. A dança individual e o balé produzem-se em função da música, do drama, da poesia e demais formas estéticas. Todas formas são únicas, mas relacionadas entre si. Os critérios sobre a pesquisa criadora legítima, além das atitudes e dos métodos próprios do pensar reflexivo, compreendem um intenso, penetrante e contínuo tom sentimental, um objeto constantemente presente, e um enfoque explicito da experiência, além de uma compreensão explícita, da verdade em forma de beleza como objetivo, a satisfação de padrões estéticos pessoais, uma filosofia estética básica, a atitude estilista na análise do meio ambiente, além de uma inventiva intencional cada vez maior à medida que se aproxima do fim concreto dentro de uma ordem de objetividade. (WHITNEY, 1970, p.204 - 304)

Deter-se na criatividade é deter-se na problematização. O que é, pois, o problema sobretudo para os estruturalistas que se ocupam do ‘problem-solving’?

Primeiro, consideram o problema como situação-de-fato, na qual o ser humano sente resistência, falha, dificuldade, tormento, insatisfação, frustração. Não basta, porém, esta percepção, para que haja o estado ou se inicie o processo de problematização. Há necessidade de que seja acompanhada da intenção efetiva de vencer os obstáculos, melhorar e transformar a situação de fato em questão.

Na origem do problema há sempre estado de tensão e troca especificada e necessária com o meio. Manifestando-se a necessidade de uma troca, cria-se uma tensão e imediatamente desencadeia-se um processo de procura (o mesmo que pesquisa) do(s) meio(s) de extinção da tensão. Para a corrente estruturalista com fundamento fenomenológico e dialético, não existe o problema em si.(1) Importa lembrar Vidal: “Um problema só existe, se pode detectar-se em alguém (indivíduo ou grupo de indivíduos, considerado como um todo) uma estrutura efetivamente sob tensão e sentida como tensão” (VIDAL, 1971, p. 24) (2)

Sem a tensão pode-se criar falsos problemas ou mesmo problemas artificiais, cuja solução torna-se, além de ociosa, freqüentemente improvável ou sem que seja procurada por alguém.

Segundo o estruturalismo, importa que os problemas individuais e os de grupo, sobretudo os de grupos estruturados, sejam detectados por dispositivos tais que possam ser formulados como problemas reais e não simplesmente suspeitos, antes de aplicar-lhes as técnicas do ‘problem-solving’. Assim o ponto-de-partida do processo de problematização em função da criatividade é a estrutura sob tensão que, por sua vez, define o ponto-de-chegada ou objetivo a alcançar.

Por isso para os defensores do método do ‘problem-solving’ estruturalmente empregado visando a desenvolver a criatividade, há de respeitar-se os seguintes princípios:

1º) A estrutura sob tensão define os objetivos a alcançar. Há necessidade de identificar o ‘afeto inicial’ para dar-se legitimidade ao problema.

2º) A cada objetivo haverá sempre um nível de exigência. Para que um problema seja formulado corretamente nem sempre é necessário rigor absoluto de precisão. Freqüentemente exige-se flexibilidade. Tal flexibilidade permite introduzir na extinção da tensão ou do afeto inicial um mecanismo de fechamento. Acomodar-se com uma certa aproximação é próprio de toda matéria viva. Assim a célula procura alimentar-se não com determinada proteína, mas com certa classe de proteína. Esta recomendação de flexibilidade reflete, de certo modo, os primeiros passos propostos no Guia de Formulação do Problema indicado no Como Fazer uma Monografia (p.200 - 202 e p.259 -64) (3)

3º) O nível de fechamento deve ser conhecido e justificado.

Se observarmos nossa realidade cotidiana, notaremos que a maioria de nossos problemas raramente é definível em termos de níveis de fechamento nítidos e precisos. Diante da necessidade de solução de um problema, procuramos sempre o nível de fechamento que nos satisfará. Mesmo na vida profissional é difícil agir manipulando os problemas racionalmente. Este o motivo por que Florence Vidal nos chama a atenção para o seguinte detalhe:

(...) além de raramente se saber quem experimenta, com autenticidade, a tensão de origem, ignora-se, no mais da vezes, o nível de fechamento a ser fixado aos objetivos. Esta noção de fechamento sobre o objetivo é naturalmente do maior interesse no método chamado ‘gestão por objetivos’. (VIDAL, 1971, p. 28-9)

Há problemas e problemas. Sabemos que o real oferece freqüentemente resistências, algumas até insuperáveis; motivo por que nem sempre se consegue extinguir os afetos como se desejou desde o início da problematização. Daí ocorrer o uso de mecanismos que, ao invés de atingir a superação propriamente dita, tornam os problemas sublimados, quando não apenas imaginados (sem nenhuma correspondência com a realidade). Tanto no nível individual e pessoal como no coletivo e profissional há necessidade de penetrar fundo no processo da problematização, para detectar a natureza exata do sistema de intenções que deve existir na base do problema.

Este o motivo por que escolhi o trabalho de Florence Vidal - Problem-Solving - Metodologia Geral da Criatividade - 1975 (tradução do original francês: Probem-solving - méthodologie générale de la créativité - 1971) como principal referência sobre problematização e criatividade, assumindo a responsabilidade de apresentar ao leitor mais do que um comentário sobre ele, uma espécie de resenha crítica - o que evidentemente é uma forma de, ao valorizar sua abordagem, recomendar sua leitura. Apesar de propositadamente extrapolar os limites de uma recensão, minha intenção é motivar o leitor à sua consulta.

Seu método tem como uma das primeiras técnicas o exame para saber se o problema já foi formulado; e, caso o tenha sido, em que condições e quais foram os fins perseguidos e o motivo por que o problema já foi solucionado antes. Este exame prévio conduz a um primeiro método geral, segundo Vidal “ligeiramente escandaloso para o espírito, mas de inegável utilidade”:

colocar o problema em discussão por uma operação agressiva que denominaremos ‘crítica radical’. Começar por negar ao problema todo interesse, toda consistência, toda existência, eis o que pode permitir desembaraçar-se ‘ex abrupto’ de um monte de problemas falsos e inconsistentes, dos quais o mundo em geral e as empresas em particular, estão atravancadas (VIDAL, 1973, p. 30)

A crítica radical pode ser atingida mediante abordagens, desde a dirigida diretamente ao problema bruto (indagando a origem, tempo e modo de sua formulação), passando pela crítica da linguagem e do equacionamento em que é expresso, inclusive com formulação de antiproblemas, até a agudização das contradições inerentes ao problema como recomenda a dialética marxista. Esta última abordagem é a principal da crítica radical, a ponto de muitos considerarem o método do ‘problem-solving’ expressão do processo dialético.


2 PROBLEMATIZAÇÃO E CRIATIVIDADE


A problematização na concepção estruturalista, por causa da influência da Gestalt, há de ser vista como configuração e esta noção implica a de esquema e campo. Para chegar-se a esta dupla concepção importa lembrar que a mente jamais trabalha com o real em sua manifestação íntegra. Para o ‘problem solver’ o real se apresenta de maneira muito mais modesta do que para o metafísico. Não entra nas especulações nominalistas também.(4) Alimenta a suposição de que o real existe e o aceita sem discutir. Mas o real não é abordado em seu conjunto e em sua integridade e sim de maneira recortada, isolada, delimitada, cujo interesse são apenas os fragmentos do real. Por isso o campo são os fragmentos que estão presentes na configuração com que se ocupa. Na venda de um carro, por exemplo, o campo abrange o grupo de compradores eventuais, um comprador X, o carro, o estado atual do mercado de carro.

Como não se trabalha com todo o campo, também não se trabalha com todos os campos. Para a mente as chamadas ‘estruturas mentais’ substituem os campos reais nela representados. Estas estruturas mentais são os ‘esquemas’ ou ‘modelos’ ou, como denomina Vidal, a IQSF (= idéia que se faz).

O esquema mental funciona para as pessoas tal qual o SuRS. Provavelmente o esquema mental (como o SuRS) pode ser um para o comprador do carro e outro para o vendedor. É oportuno lembrar que sobre um determinado campo há: esquemas individuais, esquemas categoriais, esquemas abstratos.

Por isso lembra Vidal:

A indiscutível clareza dos processos implicados não conduz absolutamente a subestimar as dificuldades da comunicação, nem a necessidade (metodológica) de trazer à baila, tantas vezes quanto necessário, a adequação do esquema ao campo, assim como a analogia ou a identidade dos esquemas que pertencem a dois indivíduos diferentes. (VIDAL, 1973, p. 41)

Entre os esquemas e os campos há um diálogo inesgotável. Pitorescamente Florence Vidal observa:

(...) o esquema C (científico) é orientado para o conhecimento. As mensagens emitidas pelo real são recebidas por um homem colocado na posição de observador, mais ou menos passivo ou ativo. Pode limitar-se a registrar as mensagens ou tentar interrogar o real. As interrogações tomarão geralmente a forma de esquema T, técnicas adequadas para ‘torturar’ o real e fazê-lo sair de seu mutismo (VIDAL, 1973, p. 53)

Como se observa a terminologia (configuração - esquema - campo etc) é toda em função do conceito principal: o de estrutura. Há necessidade, pois, de aprofundar um pouco mais este conceito.




3 CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA


Em toda estrutura há características externas (conjunto coerente de traços, manifestações, aspectos, pelos quais o objeto focalizado se distingue dos demais) - características de dependência do objeto em relação a sua própria estrutura e vice-versa - características periféricas (as que não são de dependência). Toda estrutura tem um modo próprio de organização. Há necessidade de distinguir estrutura de coleção. Coleção implica agrupamento de características apenas justapostas. Ex.: coleção de quadros (= coleção espacial) - as conquistas de Don Juan (= coleção temporal). Já estrutura implica articulação complexa de elementos, mas em relação uns aos outros, que se interrelacionam em função de uma organização.

É possível distinguir fundamentalmente objetos naturais e objetos fabricados. Objeto natural é estrutura espontânea. Objeto fabricado é estrutura mental superposta, associada a estruturas naturais. Uma pedra é uma estrutura natural. Já a estátua de Davi feita por Michelangelo é uma estrutura artificial ou fabricada.

Estes conceitos admitidos, dentro da visão estruturalista, proporcionam a aplicação da ‘análise estrutural’. Quando se trata de construir uma estrutura com o objetivo de reproduzir outra, o problema que se coloca é o da probabilidade (da construída reproduzir a original). Há de se levar em conta as características externas e as de dependência nos modos de organização, tal qual sempre afirmou a Gestalt em psicologia. Assim numa análise estrutural há de interessar-se pelo número, diversidade, estabilidade, variação individual, grau de coerência interna, visando a encontrar a ‘coerência interna’. A análise estrutural possibilita a crítica a um esquema técnico ou a um esquema científico para se encontrar novas aplicações para um produto.

Os defensores desta metodologia estruturalista do ‘problem-solving’ chegam ao extremo de afirmar categoricamente que tudo (portanto toda a realidade) é estrutura. Por isso se entende por que estes estruturalistas consideram os teóricos do ‘sistema’ como representantes do estruturalismo. Segundo eles o sistema, no sentido moderno do termo, é uma estrutura que funciona, pois comporta elementos que se poderiam denominar internos ou permanentes e elementos que os recebe (input). No interior, há uma configuração complexa com todas disposições concebíveis de campos, de esquemas, de elementos de modo de organização, de características externas intermediárias que se tornam características de dependência do elemento acima, sendo as características externas terminais o ‘output’ do sistema. Aliás, o próprio método apontado (como todo método para os estruturalistas) é uma estrutura. Por isso a metodologia do ‘problem-solving’ se resume na ‘análise estrutural do problema’.



4 SITUAÇÃO DE BLOQUEIO



Como se percebe, a aplicação do ‘problem-solving’ enfatiza a necessidade de se descrever exaustivamente as configurações nas quais pode estar ou nascer um problema. A metodologia a ser empregada na solução de um problema não há de ser pensada como um conjunto de técnicas rígidas. Aqui também se impõe a defesa do método como condição necessária, mas não suficiente e, sobretudo, a flexibilidade na escolha das técnicas de solução. Os próprios autores do ‘problem-solving’ reconhecem que a prática e a psicologia ensinam que mais vale seguir não importa qual caminho do que se deixar encerrar numa situação de bloqueio.

O perigo deste encerramento no bloqueio é que nossa mente neste estado é levada geralmente a sentir o mundo desabar a seus pés: o ‘desabamento da totalidade das estruturas’ como gostam de chamar a tal situação os estruturalistas. Uma situação fatalmente acompanhada de medo (medo de tornar-se ridículo, dos comentários dos outros, de que seu problema é único e não tem solução etc). O medo, de acordo com a psicologia, impede a solução racional ou a mais indicada. Surgem soluções negativas, filhas do apavoramento.

Fiel ao estruturalismo e à Gestalt, Florence Vidal propõe sistematizar um método de ‘problem-solving’, a partir das noções fundamentais (campo - representações mentais do campo ou ‘esquema C’ e elementos que inserimos no campo para que sofra determinadas modificações - ou ‘esquema T’) e levando em conta os aspectos estruturais, sob os quais analisamos as estruturas (os campos e os esquemas), ou seja: elementos, modos de organização e características externas.

Segundo Vidal: “Todo problema é conseqüência de defeito, de falha verificada, donde decorre o desejo de fazer a situação melhorar, de levar a estrutura considerada a um estado diferente”. (VIDAL, 1973, p. 74)

A teoria do ‘problem-solving’ leva em conta a necessidade lógica que todo indivíduo tem de fazer corresponder o campo interior ou as estruturas mentais ao campo exterior. Mas não se pode esquecer que existe um outro ‘real interior’ completamente diferente deste campo interior há pouco aludido. Usando o mecanismo de autoconsciência o indivíduo constata que existem dois reais com os quais entra em contato: um externo que chama de Real e outro interno que chama de Eu. Este real interno para o indivíduo, mas externo para os outros, é uma estrutura bastante complexa, sujeita às mesmas operações do real externo.

Depois de estabelecidas estas noções, importa como entrada na metodologia do ‘problem-solving’ constatar as dimensões a explorar. São apontadas duas dimensões:

1a) A primeira se refere diferencialmente ao campo, ao esquema C, ao esquema T, indo de um ao outro, constituindo assim quatro linhas de ação.

2a) A segunda possibilita a construção de um quadro de dupla entrada, em que nas fileiras colocam-se as quatro linhas de ação e nas colunas os elementos - os modos de organização e as características externas. Imaginando-se a possibilidade de existir o caso ‘zero’ ou seja o caso em que o processo estrutural não tem nenhum ponto de partida, ter-se-ão vinte grupos de combinações dentro do referido quadro.



5 ABORDAGENS METODOLÓGICAS E TÉCNICAS OPERACIONAIS


Entrando no método do ‘problem-solving’ propriamente dito, há de lembrar-se que este método não é o único para desenvolver a criatividade, mesmo entre os que têm como ponto de partida a problematização. Tem-se que concordar com Florence Vidal, ao afirmar:

A pesquisa em metodologia - chamada geral - tem por finalidade a economia do pensamento (no duplo sentido do termo ‘economia’: boa administração e despesa inútil evitada) em todas as situações em que está implicada a noção do problema (VIDAL, 1973, p. 91)

Enquanto método geral o ‘problem-solving’ é uma estrutura espaço-temporal. Como tal consiste numa determinada maneira de organizar elementos e operações em seqüência temporal a fim de solucionar o problema que exige criatividade. Por isso é considerado como pertencente ao universo da psicologia. Afinal trata-se das leis da mente, especialmente as formuladas em termos estruturais.

Este método geral tem sido encontrado por pensadores singulares como Aristóteles, Descartes, Bacon. Mas a história mostra-nos que há uma proliferação de métodos. Caberia a uma metodologia geral ordenar e classificar tais métodos. Uma boa classificação dos “problem-solving” há de levar em conta os processos psicológicos fundamentais. É o que nos proporciona a classificação proposta por Florence Vidal, tendo como suporte três abordagens preliminares e sete grupos de técnicas operatórias.

As três abordagens preliminares que constituem uma espécie de ritual pré-operatório compreendem: crítica radical - gráficos esquemas-campos - análise estrutural
As técnicas operatórias se distribuem em sete grupos:

1º) Caracterização estrutural

Parte da constatação histórica de que o homem aprendeu, através de experiências desastrosas, desde a pré-história, que certo número de operações estava destinada ao fracasso, se não tomasse a precaução necessária em estabelecer e verificar uma ‘homologia’ estrutural entre esquemas e campos, entre campos e esquemas.

Este método se constrói mediante um questionário a partir do campo com o objetivo de formar o esquema, comparar o que é com o que deveria ser, conseguir detectar o problema mais urgente, identificar determinado problema, localizá-lo, situá-lo no tempo e no espaço e pesquisar as causas, através das mudanças descobertas. Como são técnicas baseadas em questionários, há necessidade de recorrer como suporte para a análise dos dados coletados à metodologia estatística (tabelas de freqüência, porcentagem, medidas de tendência central, amostragem, cálculos de estatística indutiva paramétrica e não-paramétricas, particularmente o emprego de estatísticas que visem à precisão e à validade do instrumento de mensuração).

A formulação do problema se faz sempre em função da caracterização estrutural do campo.


2º) Emprego de Estruturas Prefabricadas

Os métodos deste grupo referem-se à necessidade de criar-se ou inventar técnicas para a solução de um problema técnico ou científico. Supõe-se de antemão uma equipe de trabalho, cuja primeira tarefa é levantar a documentação para verificar se existe entre as ‘estruturas científicas ou técnicas’, clássicas ou prefabricadas, aquela que permite o problema formulado.

3º) Distanciação

Os métodos de distanciação partem da constatação já secular de que existem relações, às vezes, íntimas, às vezes complicadas, mas de tipo efetivo, outras de tipo afetivo ou associado entre o homem e o que ele criou, construiu, pensou e modificou.

Está em jogo aqui o processo de criação, em que o homem se envolve com um sentimento forte de personalização, transferindo para o objeto a projeção de si mesmo. Como disse Alain Robbe-Grillet, citado por Vidal: “o mundo das coisas está contaminado pelo espírito do homem que observa essas coisas. O mesmo objeto pode conter, conforme o olhar que o observe, tristeza, alegria, indiferença, hostilidade”. (VIDAL, 1973, p. 106)

Esse fenômeno ocorre, inclusive, com a linguagem: a mesma palavra, por motivos semânticos principalmente, muda de sentido conforme os indivíduos que a usam. É que todo objeto contém muito mais do que é representado pela estrutura mental correspondente.

Por isso os métodos de distanciação perseguem o objetivo de colocar os problemas numa situação tão pura e tão objetiva quanto possível. Usa-se freqüentemente a técnica da simulação para que o objeto criado seja examinado sob outras facetas possíveis e que não estavam presentes na estrutura mental de seu criador. Além da simulação é comum o uso das técnicas de animação, a de recusa, a de mudança, a do questionário genealógico, a da análise e a das ‘relações públicas’.


4º) Abordagem fenomenológica

Pelo método fenomenológico, a forma mais radical de captar-se a realidade e compreendê-la é a ‘epoqué’, de que me ocupei no capítulo sobre a fenomenologia. Por causa dessa herança a abordagem fenomenológica em ‘problem-solving’ aponta como principal técnica abandonar sistematicamente toda hipótese referente ao objeto com que nos ocupamos e só se interessar por mensagens por ele enviadas (VIDAL, 1973, p. 106)

Diante do objeto, o sujeito há de colocar-se na situação do receptor sem imaginação, realizar forte crítica das mensagens, através da modificação das próprias mensagens ou tentando recebê-las com novos olhos ou procedendo a uma recodificação lógica de todas as mensagens recebidas...Enfim proceder a depuração (simplificações sucessivas) da representação que se tem do campo.

5º) Exploração automática dos possíveis

A abordagem automática dos possíveis explora à exaustação a técnica da associação há muito tempo já detectada pela psicologia, sobretudo no estudo da memória.

Duas são as abordagens apontadas por Vidal:

1a. - Exploração de um liame insólito: feita mais ou menos ao acaso, tentando associar ao problema uma idéia, uma noção, um conceito que aparentemente nada tem a ver com ele, como foi o clássico caso da famosa publicitária Mary Wells Laurence ao associar a uma linha de produtos cosméticos chamada Love símbolos sexuais com embalagens inocentes.

É comum também recorrer à técnica da inversão do problema, ou seja, em tomar sistematicamente o caminho oposto ao natural, para detectar os absurdos aparentes ou mesmo reais e assim captar o que se torna excitante para a mente. Aqui no Brasil podemos constatar o uso efetivo desta técnica entre humoristas. Foi, sobretudo, muito utilizada por Nelson Rodrigues em suas novelas e contos e, hoje, por Luiz Fernando Veríssimo em suas crônicas e livros. Um dos clássicos deste jaez na literatura foi A carta roubada de Edgar Poe e mais recentemente o Furto do Obelisco de Alphonse Allais, ao imaginar ‘vazio’ o que todos têm o hábito de achar ‘cheio’.

2a. - Olhada circular nos vizinhos: a) recorrendo à técnica da enumeração, utiliza-se com abrangência as definições, sinônimos, antônimos, analogias, conceitos e imagens que as palavras sugerem; b) ou então à das combinações, em que estabelecendo-se as chamadas ‘matrizes de descoberta’, trabalha-se com a ‘exploração dos possíveis’.

Recentemente foi lançado o livro O Código da Bíblia de Michael Dronin. Pelo que pude apurar, seu autor, ou melhor, o matemático Eliyahu Rips que segundo ele, é o verdadeiro descobridor, utilizou praticamente a mesma técnica aqui apontada no computador e assim conseguiu detectar o que ele chama de código de alguma profecia que teria sido registrado pelo autor sagrado dentro do texto escrito.

Freqüentemente utiliza-se o processo semelhante aos das ‘palavras cruzadas’ de fazer ‘análises combinatórias’, recorrendo ao uso das ‘tabelas’, ou seja, explorando as com binações de fileiras e colunas. Uma forma de ressuscitar as coordenadas cartesianas ao trabalhar com problemas traduzidos em idéias, conceitos e palavras.

Não se pode, entretanto, deixar passar desapercebida esta colocação de Vidal: “A experiência (em pesquisa física, em gestão de empresas, etc) mostra que não é preciso dar a palavra aos informantes, antes que o bom senso e a metodologia tenham dado a última palavra”. (VIDAL, 1973, p. 113)

6º) Métodos orientados para o pesquisador

A meu ver está neste grupo a melhor contribuição do ‘problem-solving’ de Florence Vidal. A autora coloca os métodos orientados para o pesquisador em sete seções.

Na primeira - Estereótipos esterilizantes - chama a atenção para o hábito que adquirimos de repetir respostas aprendidas, sem com isso exercitarmos nossa criatividade.

Na verdade, a tendência em repetir ‘o aprendido’, em condensá-lo, cristalizá-lo em certezas é tão forte quanto o hábito. Caminho seguro, monótono, fácil. E perfeitamente antinômico da criação que é choque, revisão, ruptura. A humanidade, em matéria de estereótipos, nunca esteve tão perto do ridículo (VIDAL, 1973, p.117)

Na segunda - Os métodos e o pesquisador - preocupa-se com a formação do pesquisador, sobretudo, com o processo ‘pedagógico’ que objetive impedir que ele se enterre, com obstinação no caminho simplista das evidências recebidas. Como experiente metodologista lembra que

os métodos mais elaborados são apenas uma ferramenta da qual o indivíduo se serve. Sua destreza pessoal é tão importante quanto a diversidade e abundância de sua panóplia-para-pensar (...) É claro que a utilização freqüente dos métodos enumerados, mais os que omitimos ou esquecemos, é de natureza a formar o pesquisador (é forjando que se torna ferreiro). Entretanto, são meios mais específicos que suscitam e mantêm esta flexibilidade-mobilidade do espírito, indispensável a todo indivíduo em situação de pesquisa ou de ‘problem-solving’.(VIDAL, 1973, p.117)

Sinto-me à vontade em reproduzir esta colocação de Vidal, sobretudo, porque traduz a essência de minha concepção de metodologia exposta no capítulo 2 de A maravilhosa incerteza.

Na terceira - Algumas atitudes favoráveis - recomenda-se ao pesquisador manter diante do problema a atitude de ‘agressividade rabugenta’, ou seja, diante dos próprios achados o ‘problem-solver’ deve tomar sucessivamente o papel do advogado benevolente até o limite da má-fé e, em seguida, do promotor público empenhado em destruir uma argumentação.

Na quarta - Voltar à infância - estabelece-se um convite de colocar-se frente ao problema como a criança frente ao mundo: a criança, em sua espontaneidade e por não ter sido ainda deformada pelos estereótipos sociais, é naturalmente criadora, exploradora, experimentadora e se revela capaz de surpreendentes respostas, muitas tidas como ‘malcriadas’.

J.B. Oppenheimer, citado por Vidal, confessou um dia: “As crianças que brincam na rua poderiam resolver alguns dos meus grandes problemas, porque possuem modos de percepção sensorial que eu já perdi há muito tempo”. (VIDAL, 1973, p. 118)

Na quinta - o extralógico - a título de comprovação de que o extralógico existe, mas não sabemos explicar, Vidal recorda o célebre ‘sonho de Descartes’, a declaração de Gauss de ter descoberto a regra da teoria dos números não por laboriosas pesquisas, mas pela ‘graça de Deus’, os insights, as intravisões, as sínteses súbitas reveladas por Poincaré, Kekule, Stevenson etc. É um fenômeno que geralmente ocorre na área do subconsciente e provavelmente acontece por efeito de associações inconscientes, muitas vezes até em estado de não-vigília.

Como lembra a autora, nossa mente parece um ‘iceberg’, cuja zona visível representa cerca de 1/10 da massa total, os outros 9/10 até hoje não foram explorados, mas não deixam de ser constatados, a ponto de Einstein, de acordo com a citação da autora, ter confidenciado um dia: “Não creio que as palavras da linguagem escrita ou falada desempenhem o menor papel no mecanismo do meu raciocínio, que se apóia em imagens mais ou menos claras de tipo visual e às vezes muscular”. (VIDAL, 1973, p. 120)

Na sexta - E a serendipidade? - a autora alude ao fenômeno da serendipidade de que me ocupei no capítulo 10 de A maravilhosa incerteza. Cita dois caos que merecem ser registrados como acréscimo aos já comentados. O primeiro é o de Bequerel que estudava a ação dos sais de uranilo, depositados numa placa fotográfica exposta à luz. No dia 26 de fevereiro de 1896, devido ao mau tempo, o cientista guardou a placa e o sal de uranilo numa gaveta escura. Ao revelar a chapa notou que ela estava mais fortemente impressionada do que se tivesse estado exposta ao sol. Acabara de descobrir a radiatividade. O outro caso é o de Anderson em 1932 ao estudar os raios cósmicos com auxilio de uma câmara de Wilson. Para maior comodidade deslocou o eixo da câmara de 90 graus. Obteve um clichê surpreendente em que se inscrevia a trajetória de uma partícula leve de carga positiva: o posítron.

Como todos que se ocupam da serendipidade levanta a costumeira indagação: - serão descobertas por acaso? E responde:

Pode ser, mas que não favorece ninguém. Os presentes do real não são dados, e isso parece estar provado, senão aos que são capazes de aceitá-los. No Serendip das Ciências e das Artes recomenda-se a disponibilidade da atenção, a faculdade renovada de espanto etc. (VIDAL, 1973, p. 121)


7º) Métodos combinados

Assim se rotulam os métodos deste grupo por combinarem técnicas utilizadas nos métodos já vistos. Entre os vários existentes citados por Vidal, basta como ilustração os três seguintes:

1 - Situações hipotéticas - criado por John Arnol do M.I.T: uma espécie de dinâmica de grupo em que os participantes eram convidados a se transportarem para um planeta imaginário, Arturus IV, com condições atmosféricas peculiares, gravidade duas vezes maior que a terrestre e habitado por criaturas-pássaros. Os alunos participantes eram provocados a inventar para a população daquele planeta carros, máquinas e habitações.

2 - Até as raias do absurdo - é citado o exemplo da Companhia Bell que organiza concursos entre seus pesquisadores para premiar as invenções mas extraordinárias e extravagantes de aparelhos e máquinas.

3 - Métodos sinéticos - o principal é o criado por William J.J. Gordon quando foi coordenador de pesquisas do grupo de Arthur D Little. Gordon ficou impressionado com os resultados das pesquisas, que iam desde os muito criativos até os mediocres. Preocupou-se então em descobrir em que consiste realmente o processo criador. Reuniu cientistas, artistas, juristas para trabalhar interdisciplinarmente no mesmo problema dentro de uma dinâmica de grupo. Com o grupo o objetivo principal era descobrir por que caminhos o homem chega ao momento M da descoberta. Usou a técnica de obrigar a todos trabalhar em voz alta, gravando cada reunião em fita K7.

Pertence a este método o tão conhecido ‘brainstorming’.


6 SINTESE FINAL DO “PROBLEM-SOLVING”


Vidal termina o capítulo sobre os métodos de ‘problem-solving’ com um minidiscurso do método, que, segundo ela resume toda a metodologia geral do ‘problem-solving’. Merece ser transcrito:

Faça a enumeração exata dos objetos do seu estudo e coloque-os em ordem (esquemas e campos), observe quais os fios e vínculos que ligam esse objetos uns aos outros (análise estrutural); não aceite como problema ou como objeto senão o que foi reconhecido como tal (crítica radical); retire do objeto qualquer forma simples, que permitirá encontrar-lhe algum parente (caracterização estrutural) e procure esse parente no museu - biblioteca - necrópole do saber e da experiência dos homens (apelo de estruturas prefabricadas). Imitando os Antigos, atribua ao objeto uma alma ‘quase divina, isto é , não completamente humana’ e anote-lhe as palavras (distanciação). Abandone imediatamente essa ficção e considere simplesmente o que diz, desafiando-o de toda hipótese sobre o que ele é, como o aconselha Newton (fenomenologia). Tome tudo o que tem e coloque-o em algum moinho que o tornará talvez uma figura espantosa (exploração automática). Fique confiante, pois é ferrando que nos tornamos ferreiros (métodos orientados para o pesquisador) e aplique, ao mesmos tempo, se puder, dois ou três desse sábios preceitos (métodos combinados).(VIDAL, 1973, p.127)


Uma das grandes preocupações dos estudiosos da psicologia da inteligência tem sido a existência de pessoas tidas e havidas como gênios criadores. Sem remontar aos filósofos antigos que já se ocuparam do assunto, vamos deparar com estudos sistemáticos desde 1930. Assim podemos citar, entre as dezenas de cientistas do comportamento humano: Spearman, Guilford (que conseguiu registrar 23 anos de pesquisa, 186 publicações sobre inteligência criadora), Torrance, Taylor, Smith, Ghiselin, Terman, Gough, Tottschaldt, Thurstone, Holand, McKinnon, Ellison, Yamamoto, Cattell, Eisenman, Platt, Darbes, Getzels, Jackson Mooney, Razik, como representantes dos pesquisadores que se dedicaram ao estudo da inteligência e da criatividade através de testes.

Apesar de todo o arsenal teórico e metodológico já desenvolvido, até hoje não se conseguiu com precisão científica resposta à pergunta fundamental: - o que os sujeitos tidos como geniais e criadores têm de comum e em que grau o têm?

Há, entretanto, como ‘consenso’, que determinadas características surgem em quase todos com maior ou menor grau de intensidade, de modo a permitir que o gênio criador seja uma personalidade multiforme, onde sobressaem: independência - autonomia - flexibilidade - percepção intuitiva, chegando em alguns a ser extrassensorial - maleabilidade cognitiva e facilidade ideativa - capacidade de formar conceitos acidentais (próxima da ‘serendipidade’) - curiosidade - grande extensão de interesses - senso de humor - sensibilidade estética - empatia - fortes interesses simbólicos - gosto pelo risco - personalidade complexa, chegando às vezes a uma síntese de qualidades contraditórias - autoestima - julgamento independente - pouca tensão interior ou pouca ‘angústia subjetiva’- tolerância - certa agressividade ‘disciplinada’. Um leque de aptidões, que, apesar de sua abrangência, está a indicar uma coisa curiosa constatada por vários pesquisadores, embora negada por outros: o grau elevado de criatividade num sujeito nada tem a ver com Q.I. elevado.(5)

Psicólogos há que estudaram a criatividade à luz da teoria psicanalítica. Cahen, por exemplo, chegou a apontar o inconsciente como o lugar da criatividade. Os depoimentos de Poincaré ilustram sobremaneira como o inconsciente trabalha em momentos de não-vigília associando idéias que durante a vigília o sujeito não foi capaz de realizar. A própria psicologia científica ainda está engatinhando quanto ao estudo dos chamados fenômenos Psi.

Os especialistas em criatividade constataram ainda que a personalidade criativa manifesta em alto grau a capacidade de aceitação (saber aceitar o que acontece) e atenção ao ‘aqui e agora’ (freqüentemente traduzido como gosto pela vida, atenção ao presente).

Independente da existência de ‘gênios criativos por natureza’ (ou de pessoas que nasceram assim superdotados), recorrendo-se sobretudo à psicologia é possível desenvolver-se uma metodologia da criatividade.

Neste ensaio tive oportunidade de reproduzir a mais original: a do ‘problem-solving’ com as várias técnicas que a compõem. Se o leitor deu a devida atenção à exposição (como alertei: toda calcada no texto de Florence Vidal), terá percebido que se trata realmente de algo inovador no campo da pedagogia, como no da formação do cientista, na administração empresarial e, sobretudo, no desenvolvimento de projetos de pesquisa.

A metodologia indicada para o trabalho em equipe praticamente se reduz ao uso mais amplificado possível do ‘brainstorming’ (ou simplesmente ‘brainstorm’) - ‘tempestade cerebral’- uma técnica que surgiu paralelamente à dinâmica de grupo, muito difundida no mundo empresarial norte-americano e, por efeito influenciador, na Europa e na América do Sul. Sua concepção é muito simples, podendo ser, inclusive, identificada com a própria definição que os dicionários de língua inglesa registram, como a do Longman: “the act of meeting with a group of people in order to try to develop ideas and think of ways of solving problems” (sessão de discussão de um grupo de pessoas a fim de tentar desenvolver idéias e opinar sobre meios de resolver problemas)

Para que a sessão de ‘brainstorming’ seja eficaz e produza resultados esperados, importa observar certas regras básicas, principalmente as duas seguintes:

1a) a liberdade de todos os participantes expressarem qualquer idéia ou pensamento que lhes ocorrerem durante a sessão

2a) a não-permissão de ‘análise selvagem’, ou seja: nenhum participante pode criticar a idéia ou a verbalização de outro participante.

As sessões de brainstorming geralmente têm duas partes. Na primeira, de duração variável entre dez a trinta minutos, a tarefa do grupo é individualizada e visa ao cumprimento das duas regras básicas acima apontadas. Assim cada membro tem a liberdade de expor as idéias ou pensamentos que lhe ocorrerem, procurando também ele não censurar a si mesmo, do mesmo modo que não pode censurar ou criticar as idéias e opiniões dos demais. Na segunda, o coordenador da sessão, que anotou todas as falas, devolve ao grupo cada uma e procede junto com o grupo à sua análise, de modo a reduzir as contribuições a um feixe de soluções viáveis e ordenadas hierarquicamente diante do problema colocado para discussão do grupo.

O sucesso do ‘brainstorming’ depende de vários fatores, todos inerentes à constituição da equipe:

- a equipe deve ser composta por seis a oito pessoas a fim de evitar-se o ‘efeito Babel’, o tumulto, a dispersão
- de acordo com Benne e Sheats uma equipe formada para o brainstorming deverá poder contar com indivíduos com características tais que logo se identifiquem os seguintes tipos: o energizante - o caçador de informação - o fornecedor de informação - o contribuinte com iniciativas - o elaborador - o manifestador de opinião - o crítico-avaliador.

Quanto às características do grupo e às atitudes dos participantes para o trabalho em grupo deverá ser enfatizado:

- conscientização do grupo de que seu trabalho é mais vantajoso do que o trabalho solitário, sobretudo quando se parte da hipótese de que o grau de informação de um grupo bem selecionado será sempre maior do que o conjunto de informações que um só indivíduo possui; (6)

- o grupo há de ser necessariamente pluridisciplinar e, se possível, interdisciplinar;

- todos os participantes devem ter em mente que a experiência de trabalho em grupo é particularmente emocionante, sobretudo quando o grupo está motivado;

- cooperação e competição devem harmonizar-se na equipe e todos devem estar atentos para o fato de que nenhum grupo ‘per se’ resolve o problema, para cuja solução foi o grupo convocado; para atingir o objetivo da harmonização entre cooperação e competitividade, o brainstorming não há de permitir a ‘análise selvagem’, nem proporcionar o ‘strip-tease’ psicológico (ainda que este possa vir a acontecer);

- trata-se de um grupo especial: visa a desenvolver a originalidade e a criatividade, mas não é um grupo de decisão; por isso é preferível que se crie outro grupo encarregado de classificar, avaliar e selecionar as soluções originais do grupo de “brainstorming”;

- espécies de máximas hão de funcionar durante as sessões como: “o essencial do trabalho em grupo é permutar informações” – “quando alguém fala, é preciso não apenas calar, mas escutar” – “se há honra em saber, não há desonra em não saber” – “quando surge uma idéia, mas vale adorá-la do que queimá-la” – “não expulse a loucura, pois ela fugiria a galope”.



8 CRIATIVIDADE E MARKETING



Uma das áreas, em que o emprego de métodos para desenvolver a criatividade tem sido mais valorizado e com grande repercussão, é, sem dúvida, a do ‘marketing’, notadamente pelas agências de publicidade e pelos cursos de formação de publicitários.

Um dos melhores trabalhos sobre o assunto publicados no Brasil é o livro de Roberto Duailibi e Harry Simonsen Jr. - Criatividade & Marketing - da McGraw-Hill, 1990. Merece como o de Florence Vidal uma resenha, mas ao interessado no tema, sua leitura é recomendável, por sua clareza, domínio do assunto, originalidade de abordagem e por ser, particularmente, um excelente manual didático.

Trata-se de um texto que resultou de anos de pesquisa e de entrevistas com pessoas realmente criativas. Ciente de que o estudo da criatividade exige muita documentação os autores não se intimidaram e aceitaram o desafio de varar a ‘montanha de livros e de papéis’ que se coloca diante de quem se propõe o estudo da mente humana criadora, como advertia Don Fabun (The Journal of Comunication Arts, v.10, n.3, 1968) mas concluíram que a base desta montanha é formada de pouquíssimos volumes de fatos baseados em experimento e observação.

Na apresentação feita por Victor Civita nossa atenção é despertada para a criatividade como fator importantíssimo no desenvolvimento da empresa. Os autores insistem na necessidade de uma reação em cadeia através dos escalões de uma empresa, visando à obtenção de novas idéias. Para o processo criativo há de valorizar-se mais o esforço do que a confiança cega na intuição. Há de aceitar-se como verdadeiro o pensamento de Thomas Edison, segundo o qual tudo depende de 99% de transpiração e 1% de inspiração.

Tal qual fazem todos os especialistas em criatividade, os autores partem do conceito de criatividade como ‘técnica de resolver problemas’ e, com a visão voltada para o mundo empresarial, consideram toda empresa como a solução criativa para uma angústia gerada por um problema.”O homem de negócios identifica uma necessidade não satisfeita, ou mal satisfeita, e vê nela a oportunidade de obter uma recompensa”. (DUAILIBI, 1990, p.1)

A angústia de que falam corresponde à tensão colocada por Florence Vidal como a geradora do problema que, por sua vez, inicia o processo criador. Realmente há íntima relação entre tensão, angústia, motivação e criatividade. Freud viu a criatividade como originada de um conflito dentro do inconsciente: para ele cedo ou tarde o inconsciente produz a solução para o conflito. A fantasia, a imaginação criadora é impulsionada pelo id insatisfeito.

Fazendo eco aos estruturalistas e à Gestalt, os autores repetem George S. Kneller e Max Wertheimer, para os quais o pensamento criador é fundamentalmente uma reconstrução de configurações estruturalmente deficientes.

Constatam que toda empresa surge a partir de uma crise em determinado momento e a empresa passa a ser em si mesma a solução encontrada através da abordagem criativa do problema que a gerou.

Daí o problema que eles mesmos levantam: - seria então possível ou indicado cultivar esta angústia e estimulá-la sempre durante todo o decorrer da vida daquela empresa?

De acordo com Galbraith os objetivos da empresa moderna são a sobrevivência e a expansão. Hoje contamos com a informática, os computadores para encontrarmos soluções criativas e atingir a otimização dos lucros nas empresas. Não há necessidade, portanto, de repetir o percurso dos fundadores da empresa. Nem teria sentido fazê-lo.

Mas até onde podem os computadores levar adiante trabalhos criativos? Duaili e Simonsen Jr. citam o conto The Artist of the Beautiful publicado na revista Techonology and Culture, onde se imagina um computador vivo, o autor nos transmite duas tendências de nosso tempo: mecanizar os seres humanos e humanizar as máquinas. Aguarda-se que no final as duas tendências se cruzarão, pois a convicção que ainda paira nos responsáveis pelas tecnologias avançadas, notadamente as de ponta, é que o homem é feito para pensar e a máquina para trabalhar.

Toda metodologia da criatividade, mesmo a voltada para o marketing deve pensar no homem não como um amontoado de sistemas, mas como pessoa que experimenta, sente e age.

Ainda que a tendência hoje seja reduzir o mundo a um sistema binário - o sim e o não - onde o mais ou menos é detestável, importa levar em conta e valorizar o desenvolvimento da parte intuitiva do processo de criação existente em cada ser humano.

A principal novidade de Duailibi e Simonsen Jr., ao lançar este manual de criatividade em marketing, é a Régua Heurística, por eles criada , cujo objetivo “não é oferecer construções pré-construídas, mas cumprir uma missão muito mais importante: identificar caminhos”. (DUAILIBI, 1990, p. 5)

Para eles como para todos aqueles que já vislumbraram a importância decisiva da problematização (ainda que não empreguem nunca este termo) no processo criativo, como nos demais processos, inclusive no da vida (como nos mostrou J. Delhomme neste trabalho - capítulo 7) é muito mais criativo ( acrescentaria ‘e muito mais importante’, para estender a todas as situações) saber formular perguntas do que encontrar respostas. E quanto maior o número de perguntas, maior nossa probabilidade de encontrar uma boa resposta.

Há de entender-se a criatividade como um processo heurístico e não como um processo algorítmico: enquanto os algorismos implicam verdades axiomáticas ou demonstradas matematicamente, a heurística resulta em verdades circunstanciais ou não matematicamente verificáveis. Sua técnica é baseada no processo do ensaio e erro. A heurística admite a contradição e deve viver dela. Ao defenderem essa posição os autores implicitamente defendem que a heurística é filha da dialética e jamais poderia submeter-se aos ditames de uma lógica formal como é a lógica matemática. Confirmam esta concepção recorrendo à heurística presente na sabedoria popular, onde os chamados provérbios ou ditos populares, justo por serem fruto da dinâmica ou da dialética da vida, são verdadeiros tanto na sua afirmação como na sua negação. Exemplo por eles lembrado: 'Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga” é tão válido quanto “Deus ajuda a quem cedo madruga”.

Daí por que, o tentar-se a sistematização da heurística para uso empresarial, houve freqüente recurso ao folclore popular para se concluir que uma das principais leis da heurística - também defendida pelos filósofos da ciência ao referirem-se à formação da teoria científica acrescentaria eu - é a Lei da Parcimônia (7). Segundo esta lei, de duas possibilidades para a solução de um problema, deve-se aceitar a mais simples: é a mais provável de estar certa.

Os autores apontam algumas heurísticas usadas nas empresas, quase todas procurando ditar regras contrárias ao senso comum e de caráter paradoxal em relação à lógica que existe por trás do pensamento estereotipado e formal, como a Lei de Friedric, que partindo do princípio de que a criatura humana mente, determina nada aceitar a priori - questionar tudo e sempre, a fim de poder derrubar preconceitos, superstições etc; as Leis de Murphy ( se puder acontecer uma só coisa errada, essa coisa acontecerá - deixadas a si próprias, as coisas sempre vão do ruim para o pior - se há alguma possibilidade de que várias coisas não dêem certo, aquela única coisa que não dará certo é a que causará o maior prejuízo - a natureza sempre toma o partido dos defeitos ocultos - se tudo parece andar bem, obviamente algo passou despercebido) a Lei da Obsolescência (se algo funciona, está obsoleto.)

Antes de apresentar a Régua Heurística, que é a grande novidade inventada por Duailibi e Simonsen Jr., este autores se ocupam em vários capítulos dos principais conceitos implicados na criatividade. Em seguida: do processo criativo - das funções da mente humana - das características da pessoa criativa em ‘marketing’ - das características da empresa criativa - dos fatores que inibem a criatividade - do treinamento para desenvolver a criatividade, para, então ocupar-se do processo criativo aplicado à empresa, donde surge a ‘Régua Heurística’.

Tratar de criatividade é tratar da descoberta (científica ou não) e da invenção (muitas vezes chamada ‘inovação’). Segundo Duailibi e Simonsen Jr.:

a) Criatividade - é o ato de dar existência a algo novo, único e original e, em se tratando do mundo empresarial, deve-se acrescentar: útil à empresa e a seu criador. Possui duas formas : descoberta e invenção.

b) Invenção ou inovação: associação de dois ou mais fatores para se chegar a um terceiro inteiramente novo. Ampère já dizia que “gênio é capacidade de perceber relações”.

c) Descoberta: encontro de algo que não se havia percebido antes, mas que já e-xistia.

identemente que são conceitos ou definições que não gozam de consenso ou unanimidade entre os teóricos e estudiosos. Além disso são conceitos intimamente relacionados entre si e com outros como: intuição - ‘insight’- imaginação - fantasia etc
No campo das conceituações e das definições, após percorrerem várias dessas categorias conceituais, estabelecem a aproximação de criatividade e ‘marketing’, para concluir:

Organização sistemática da criatividade dentro da empresa é aquilo que poderíamos chamar de marketing . O marketing é a interação e a integração de todos os fatores operacionais da empresa e de todas as suas atividades funcionais, orientados para o consumidor de seus produtos, idéias ou serviços, com os objetivos de tornar ótimos os seus lucros a longo prazo e prover condições de sobrevivência e expansão para a empresa. (DUAILIBI, 1990, p.76)

O referencial, portanto, não é só o processo produtivo, mas sobretudo a distribuição de bens de consumo, onde a concepção de ser humano é a do ‘homo oeconomicus’. Desenvolvem o que se poderia chamar a teoria do desenvolvimento pelo consumo, segundo a qual ‘a distribuição e o consumo deixaram de ser meros momentos de produção’ (expressão distorcidamente atribuída a Marx e extraída de um contexto bem diverso do aqui utilizado) ‘e passaram a ser os seus fatores determinantes’. Para os autores o deslocamento da ênfase da produção para a distribuição tomou conta do mundo inteiro, inclusive foi grande fator das mudanças operadas no Leste Europeu. A preocupação e o entusiasmo pelo ‘marketing’ toma conta de tal forma de seu pensamento que chegam a afirmar que o sucesso da ‘perestroika’ praticamente dependeu da capacidade dos sistemas de pro-dução dos países socialistas avançarem rapidamente para uma revolução de marketing. E na perspectiva da criatividade não têm escrúpulo em conceber como descobridor o executivo de marketing que consegue medir uma alteração existente no mercado e adapta sua empresa a essa demanda sensível.

Ao se ocuparem do processo criativo adotam a concepção dos psicólogos norte-americanos que, na esteira de Dewey, como James Webb Young , concebem a inteligência e a criatividade como o mesmo processo que pode ser descrito através de etapas (conforme se vê no capítulo 4 de A maravilhosa incerteza). Adotam sete etapas a saber: identificação do problema - preparação - manipulação - incubação - esquentamento - iluminação - elaboração - verificação.

Importa frisar a ênfase dada a ‘identificação do problema’, sobretudo quando evocam a conhecida afirmação de Dewey: ‘um problema bem definido já está 50% resolvido’ seguida da de Einstein, para quem ‘a mera formulação de um problema, freqüentemente, é muito mais essencial do que a sua solução, que pode ser simples questão de habilidade matemática ou experimental’; ‘levantar novas dúvidas, novas possibilidades, olhar velhos problemas sob novos ângulos requer imaginação criadora e é o que marca os avanços reais da ciência’.

Quanto às funções da mente centralizam sua exposição, por tratar-se de uma abordagem psicológica, no processo de associação de idéias.’ A associação de idéias se compõe basicamente de imaginação e memória. Desde os filósofos gregos, a associação de idéias obedece a quatro leis : a da contiguidade, a da semelhança, a da sucessão e a do contraste. Fundamentam-se sobretudo em Sir Joshua Reynold, para quem “a invenção nada mais é do que novas combinações daquelas imagens que já haviam sido previamente reconhecidas e depositadas na memória; nada pode ser feito do nada; aquele que não juntar material não produzirá combinações”. Colocam em confronto as duas grandes teorias modernas da psicologia: o behaviorismo e a Gestalt. Para os behavioristas como Skinner, não existe o ‘insight’, pois para ele a técnica de resolver problemas consiste sempre na habilidade de manipular variáveis que podem levar à emissão da resposta. Já para Gestalt, a experiência passada facilita a solução de problemas mas não é suficiente, há necessidade de insight e para se chegar ao insight precisa-se de algo mais do que a quantidade de informação necessária. Enfocando as funções da mente como as funções do cérebro humano recapitulam a clássica doutrina psicológica, segundo a qual nossa mente absorve (através da atenção), retém (através da memória), cria (visualizando, prevendo e gerando idéias) e julga (analisando, comparando, escolhendo). Enfatizando neste quadro a função de criar, evidenciam que, devido nossa tradição cultural e nossa educação, somos freqüentemente bloqueados na hora de criar e a principal causa é ter que utilizar duas funções ao mesmo tempo: a de criar e a de julgar. Este julgamento acaba funcionando como freio para novas associações. Assumem esta questão em tal grau de importância que ao dedicarem um capítulo sobre o modo de estimular a criatividade na empresa recomendam: ‘hora de criar, criar; hora de julgar, julgar’. E sem explicitarem recorrem à dialética (tal qual o fizeram os cientistas americanos, porém camuflando-a ao desenvolverem teorias sobre criatividade), notadamente quando concordam que é da quantidade que se extrai a qualidade: quanto maior o número de idéias colocadas ao nosso dispor, maiores as chances de encontrarmos aquela que realmente representará a solução do problema.

A partir do momento em que começam a ocupar-se do ‘Como estimular a criatividade na empresa’, penetram na metodologia da criatividade. Mais uma vez enfatizam a necessidade de começar pela problematização:

Há técnicas específicas para se estimular o aparecimento de idéias na empresa, especialmente quando há um problema definido a resolver. E essas técnicas podem ser utilizadas também para propor problemas - desde que admitamos que é mais criativo formular perguntas do que encontrar respostas. Estimular a criatividade dentro da empresa significa encontrar soluções para problemas e inventar novos problemas, sempre visando a otimização dos lucros.( DUAILIBI, 1990, p. 45) [sem grifo no original]

O método indicado não poderia ser outro senão o ‘brainstorming’ ou ‘brainstorm’, como preferem, justo por consistir numa sessão de livre associação e dividir a sessão em dois momentos (um para criar, outro para julgar). Como o fiz ao descrever o ‘brainstorming’, também os autores enfatizam a necessidade de proibir a ‘análise selvagem’ : ‘a característica principal do braisntorm é a ausência completa de crítica e o julgamento adiado’(p. 48).

Além do brainstorming clássico, são apresentados mais três tipos: a) o ‘reverse braisntorm’ (um ‘brainstorm’ ao contrário, onde só se procuram os defeitos de um determinado produto, idéia ou serviço) - b) o ‘synecticos’ (definido por seu criador - Bill Gordon - como “associação de idéias aparentemente irrelevantes, em que se procura não a quantidade como no brainstorming clássico e no ‘reverse brainstorm’, mas a qualidade; por isso os participantes devem ser profundos conhecedores de cada um dos aspectos do problema a ser resolvido, como em Cabo Kennedy, onde se reúnem no ‘synecticos’ um matemático, um físico, um engenheiro espacial, um técnico em eletrônica etc) - c) o ‘brainstorm individual’ (o indivíduo procura resolver determinado problema aplicando deliberadamente a técnica do julgamento adiado; a Régua Heurística criada por Duailibi e Simonsen Jr. ‘tem como objetivo estimular a criação individual com julgamento adiado’- é, portanto, um exemplo de brainstorm individual).

A Régua Heurística merece ser considerada uma técnica criativa para o desenvol-vimento da criatividade, enquanto esta for vista como processo a ser conduzido individualmente, pois para o trabalho em equipe, não houve ainda método melhor do que o ‘brainstorming’. Aproveitando a mesma definição que Duailibi e Simonsen Jr. deram para ‘invenção’ ou ‘inovação’, é possível classificar a Régua Heurística: mais do que uma descoberta é uma excelente ‘invenção’.

O principal fundamento metodológico deste método de desenvolvimento da criatividade e visando a proporcionar a quem o aplica meio seguro de encontrar soluções criativas para o problema proposto é a retomada dos interrogativos (origem dos ‘categoremas’aristotélicos). Segundo os criadores da Régua Heurística:

Parte-se das seis perguntas básicas - aplicadas amplamente em jornalismo e em qualquer método de investigação - e que , em geral definem a maioria das questões que devem ser respondidas: Por quê? Onde? Quando? Quem? O quê? Como? ( Dualibi, p.102)

Por motivos óbvios não vou aqui reproduzir a Régua Heurística. O leitor interessado deverá procurar o livro Criatividade & Marketing de Roberto Duailibi e Harry Simonsen Jr., editado pela McGraw-Hill em 1990.

Como foi dito consiste muito mais em uma técnica do que em um método, pois pertence ao grupo de técnicas que formam o tipo 2 do método que Florence Vidal denominou de ‘olhada circular nos vizinhos’, que, além de recorrer à técnica da enumeração, utilizando-se com abrangência as definições, sinônimos, antônimos, analogias, conceitos e imagens que as palavras sugerem e que são provocadas pelos interrogatrivos (o quê? quem? onde? por quê? etc); lança-se mão das combinações, para estabelecer as chamadas ‘matrizes de descoberta’ e trabalha-se com a ‘exploração dos possíveis’. De fato a ‘tática’ de eficácia da Régua Heurística é justamente, numa espécie de tabela de dupla entrada, cruzar as 4 colunas: Perguntas Básicas - Perguntas Técnicas - Fatores Qualificantes e Modelo de Marketing com os conteúdos das linhas que são a enumeração dos desdobramentos dos significados dos títulos de cada coluna.

Curiosamente Duailibi e Simonsen Jr. acabam seu livro sem terminar. De propósito. Em minha ótica de leitor que leu o texto e muito refletiu sobre as idéias ali discutidas, esta decisão dos autores refletiu o que em nossos dias a maioria dos cientistas e filósofos da ciência tem constatado, quando se debruçam sobre o ‘processo da pesquisa científica’ (ou sobre a pesquisa científica como processo): a pesquisa começa com o problema e termina com novo problema e assim o processo prossegue indefinidamente (conforme foi visto e analisado em capítulo anterior, ao ser reproduzido e analisado o esquema de Bunge). Não há outra explicação ou justificação para que os autores de Criatividade & Marketing colocassem ao cabo e em letras de fonte 16, em itálico e negrito: Este livro não tem um final. A partir daqui o problema é seu.


10 MÉTODO DE ACELERAÇÃO DA CRIATIVIDADE DE OTACVIANO DE ALMEIDA


Na mesma linha da ‘régua heurística’, mas voltado para a redação do trabalho científico, ou melhor, para a metodologia do trabalho científico enquanto tratamento escrito, vale apontar uma técnica criada pelo Professor Antônio Octaviano de Almeida, doutor em Medicina, três vezes livre-docente da UFMG: em Fisiologia (1953), Técnica Operatória (1956) e Patologia Cirúrgica (1957); portanto, com grande experiência na produção de trabalho científico. Em 1988, a convite do Professor Octaviano de Almeida, participei, como professor de Metodologia de um Curso de Redação de Trabalhos Científicos patrocinado pela Associação Médica de Minas Gerais. O Dr. Octaviano de Almeida apresentou uma Comunicação sobre Aceleração da Criatividade na Redação de Trabalho Científico - A técnica dos esquemas sucessivos - Obtenção de soluções criativas.

Depois de ouvir sua comunicação e tendo lido o trabalho, confessei-lhe que merecia ser publicado e difundido sobretudo nos cursos de pós-graduação. Não sei se sua modéstia o levou a essa decisão.

Ao menos o núcleo de suas idéias merece ser aqui exposto.

Na justificativa da apresentação confessa que a técnica (corretamente não a denomina ‘método’) a ser comunicada decorreu da importância que sempre atribuiu à sistemática de Descartes (1637) para a racionalização do trabalho intelectual, sintetizada nos quatro preceitos do Discurso do Método. Sobretudo, porque Descartes, segundo Octaviano Almeida, desempenhou um papel de relevo para a evolução do pensamento humano, concorrendo para libertá-lo das peias do acatamento das verdades prontas, do ‘magister dixit’ e por ter valorizado as decisões pessoais com base no ‘bom senso de cada um’ (‘a coisa mais bem repartida no mundo (...) pois o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina bom senso, é naturalmente igual em todos os homens...’). Para Descartes a diversidade de opiniões e teorias entre os homens, não provém de serem uns mais racionais que outros, e sim por conduzirem os pensamentos por vias diversas e não considerarem as mesmas coisas’.

A técnica descoberta por Octavino de Almeida se resume, para efeito mnemotécnico na sugestiva sigla ROER: R - Rol de idéias; O - Ordenação; E - Expansão; R - Revisão.

Chama a atenção para o fato de que o ROER se refere à estruturação do trabalho cientifico. Depois de observar demoradamente a maneira como muitos redigem seus trabalhos científicos e revendo criticamente o que ele mesmo fazia, chegou à conclusão:

Á estruturação é a fase mais importante de uma redação e não apenas uma comodidade. Eco (1986) parece pensar da mesma maneira quando diz que uma tese deve começar pelo preparo do índice. Sendo assim é bom que a estruturação seja feita por escrito (...) manter a estrutura (...) apenas em nível mental (...) ou compô-la à medida que redige, sentirá a necessidade de modificá-la com freqüência e verificará que isso é incompatível com o trabalho de redigir, escolher termos e construir frases. (ALMEIDA, 1988, p. 2)

Para a maioria dos trabalhos científicos, por incorporarem a tecnicidade da apresentação, existe uma estrutura padronizada, como no caso da Medicina em que os capítulos se distribuem em: introdução - literatura - material e método - resultados - comentários - conclusões - resumo - bibliografia. Mas tais estruturas ‘prefabricadas’ só servem para trabalhos simples. Em trabalhos mais complexos ou mais abrangentes, verifica-se que não satisfaz. O autor, então, percebe que deverá preparar uma estrutura própria. Necessitará, portanto, de criatividade.
Em função da construção e comunicação de um trabalho científico há necessidade de atentar para os requisitos de ineditismo - singularidade autoral - originalidade - prazo fatal de termino e entrega.

Seu objetivo passa a ser: ocupar-se da originalidade, por dizer respeito à própria criatividade, ‘seja na concepção do trabalho, seja na redação e forma de apresentação’. Neste momento dedica várias páginas ao conceito de criatividade (contraposto sobretudo ao de inteligência), citando as contribuições de Santiago Freire (1972), Torrance, Claparede (1973). Mostra a diferença entre descoberta e invenção, vendo em ambas aspectos da criatividade (Galileu descobriu alguns aspectos da gravitação universal, mas inventou um modo de demonstrar o que descobrira). Para Octaviano Almeida, a descoberta pode ser casual ou dirigida, mas a invenção é sempre dirigida, embora confesse ser um tema controvertido.

Revela uma convicção: quem escreve, lida basicamente com idéias e assim necessita descobrir e inventar meios de estimular boas idéias.( ALMEIDA, 1988, p. 3)

Adota a teoria psicológica de que entre a identificação de um problema e o encontro de sua solução há um período de latência. Aceita a existência do raciocínio inconsciente, que faz parte do período de latência, fundamentando-se em Einstein, Freud e Poincaré (sobre as funções de Fuchs). Recapitula a teoria psicológica de Hull sobre convergência e divergência, por sua vez aproveitada por Guilford, ao classificar as atividades intelectuais em: cognição - avaliação - memória - produção convergente (em direção a uma resposta convencional, aceita) e produção divergente (em busca de outros caminhos ainda não trilhados). Recapitula as teorias filosóficas da origem das idéias (como a do inatismo e a teoria da aquisição pelos sentidos) para desembocar numa recomendação metodológica: ‘no âmbito da redação de um trabalho científico, o estimulo para uma idéia decorre sempre de outra idéia.’(ALMEIDA, 1988, p. 4)

Ao apontar para o uso do ROER afirma: “o estímulo (uma idéia) deve ser adequado para que a criatividade (outra idéia) surja ou se evidencie, mas ignoro a intensidade e qualidade necessárias para acelerar a criatividade” (ALMEIDA, 1988, p. 5)

Apesar de não ser possível obter provas através de pesquisa, sobretudo porque ter-se-ia que medir o tempo de latência, que seria a grandeza dimensionável, mas sem parâmetro de normalidade, recorre para gerar convicção à mesma prova interna de Aristóteles: a repetição do estímulo ou do reexame das idéias de uma lista é suficiente para acelerar a criatividade.

Resumindo o emprego das quatro fases dos esquemas sucessivos:
a) iniciar com um rol de idéias contidas em limites previamente estabelecidos (= rol de idéias ou esquema inicial);
b) em seguida ordená-las de acordo com a finalidade do trabalho (= ordenação das idéias ou novo esquema);
c) listar mais idéias correlatas ou mesmo antagônicas (= fase de expansão ou segundo novo esquema);
d) eliminar as que não se enquadrem nos limites de trabalho (= fase de revisão ou esquema final)
Como todos os que se têm ocupado da criatividade recomenda o ‘brainstorming’, que, em sua proposta deve ser usado na fase da expansão, pois é nesta fase que se consegue melhorar a terminologia, a argumentação, os conceitos e as classificações.

Para evitar o escolho do excesso de idéias, aconselha sua redução, pois só assim o trabalho será exeqüível e publicável. E lembra que as fases de expansão e revisão pode durar vários dias. E no preparo dos últimos esquemas importa descansar, ‘pondo o trabalho de molho’ por algum tempo.

Recorrendo à teoria de Stein, lembra que a ‘idéia fixa’ (preocupação contínua com um assunto) pode ocasionar o que se denomina ‘redução da distância psicológica ao problema’, devido ao bloqueio de novas soluções, o que inevitavelmente dificulta o processo decisório. É citada a experiência de Scheerer em 1963: um problema é apresentado a várias pessoas, para que cada uma tente solucioná-lo individualmente. Para cada caso há um observador. Depois de algum tempo, aos observadores ‘despreocupados’ que estavam é proposto o mesmo problema. No fim comparando o tempo de observados e observadores na solução do problema, constatou que só 14% dos observadores fracassaram contra 50% dos observados. O motivo ficou evidenciado: os observados por se preocuparem demasiado com a responsabilidade da solução ficaram muito mais bloqueados.

Octaviano de Almeida termina sua comunicação indicando as condições que perturbam a criatividade (causas ambientais - insuficiências pessoais - falsa e real sensação de segurança) e faz considerações sobre a disciplina do raciocínio. Neste ponto chama a atenção para algo pedagógico de suma importância:

Uma das coisas mais importantes do ensino é a transmissão de uma forma particular de raciocinar, característica da profissão, da especialidade ou ‘escola científica’ (...) Leibnitz considera que mais importante do que a descoberta é o conhecimento do método empregado para obtê-la.. (...) o homem importante do ponto de vista científico não é o que mais memorizou. Como disse Houssay, é o que melhor e mais rapidamente se orienta frente a determinado problema. Isso mostra a importância da disciplina intelectual para acelerar a criatividade (ALMEIDA, 1988, p. 6-7)




11 CONCLUSÃO


Se o leitor acompanhou atentamente esta comunicação, terá notado que a preocupação desde o início foi mostrar que a problematização é condição necessária e ao mesmo tempo ponto-de-partida insubstituível na realização do processo criador como o é do processo do pensar reflexivo e do processo de pesquisar. Procurei extrair dos autores consultados os momentos em que, mesmo sem nunca terem usado o termo “problematização”, enfatizaram a necessidade de começar o processo pelo problema, por sua consciência, pela descrição e penetração em sua natureza, por sua identificação e definição e por sua correta e precisa formulação. Ou simplesmente pelo uso dos interrogativos com toda a riqueza de respostas que proporcionam.



NOTAS

(1) Fiz esta mesma afirmação no capítulo dedicado ao ‘fato e ao problemático’ de A maravilhosa incerteza. Realmente o problemático só existe na percepção do fato e não no fato em si.

(2) A verdade desta colocação se revela na corrente gestáltica que penetrou forte na psicologia educacional, a partir da década de 60, defensora de que ‘motivar é criar tensão’, em nada diferente da sabedoria popular: ‘carro apertado é que canta’. A teoria da ‘vaca satisfeita’, que acaba se acomodando e se tornando passiva, é oposta à da autêntica motivação.

(3) Recapitulando e resumindo estes passos: 1) formular o problema espontaneamente em forma de descrição ou dúvida, sem preocupação com a terminologia técnica, mas de forma clara - 2) em seguida, tentar um confronto e uma relação: a formulação anterior de um lado e, do outro, o contexto (embrião do ‘marco teórico de referência’) em que o problema deverá ser tratado, perseguindo assim uma segunda formulação já contextualizada, onde o recurso ao conhecimento especializado começa a ser atingido - 3) tentar a transformação da formulação até agora obtida em pergunta(s) logicamente bem formulada(s), obedecendo-se aos princípios da dialética para que a pergunta seja logica e corretamente formulada - 4) geralmente na fase anterior, o problema se desdobra em ‘subproblemas’, cada um representado por um tipo de pergunta; para cada pergunta tentar um esboço de resposta (futura(s) hipótese(s)) e, em seguida, ordenar os problemas formulados com suas respectivas hipóteses: ter-se-á assim o primeiro esboço estruturado do projeto da pesquisa ou do plano do tratamento escrito em que a pesquisa se converte - 5) a esta altura é provável que o marco teórico de referência já esteja elaborado ou, no mínimo, esboçado e com ele haverá a possibilidade de substituir a formulação do problema(s) por proposição(ões) tecnicamente precisa(s) ou apropriada(s) ao próprio marco teórico de referência adotado - 6) como perguntas, respostas, proposições envolvem conceitos, categorias e construtos abstratos, convém selecionar os mais relevantes e procurar defini-los, usando as técnicas metodológicas de definição, como as referentes à ‘definição operacional’, à ‘definição em paralelo’ etc 7) procurar as ‘referências empíricas’ do problema e de suas respostas, obviamente dependendo da natureza do problema (nem todo problema tem ‘referência empírica’, mas se o tiver, constitui grave lacuna num trabalho científico não evidenciá-la (sobretudo porque de acordo com a ‘referência empírica’ será escolhido o método apropriado para a pesquisa) - 8) alcançada a relação empírica dos conceitos ou do(s) problema(s) com a realidade a que este se refere(m), estabelece-se nova relação desta vez entre as respostas (ou hipóteses formuladas a esta altura já com rigor terminológico e técnico) e alguma teoria com o objetivo de mostrar até onde se decide aplicar ou aproveitar a teoria para esclarecer o próprio problema e quais os pontos de divergências - 9) tentar relacionar o (s) problemas e a(s) hipóteses com as técnicas que serão usadas para a coleta de dados, mensuração (caso seja usada) e sobretudo a documentação para o trabalho enquanto tratamento escrito da pesquisa - 10) se o passo anterior foi satisfatoriamente atingido, então se tem condição de planejar a pesquisa detalhadamente, ou seja, de fazer o projeto da pesquisa ou da monografia enquanto tratamento escrito de uma pesquisa.

(4) Especulação nominalista (em oposição ao conceptualismo e ao realismo) é uma referência a um tipo de idealismo surgido como emblemático na discussão filosófica e acadêmica do tempo medieval e que deixou traço até hoje. Para os nominalistas a realidade se reduziria a simples ‘flatus vocis’ (sopro da voz) - expressão irônica para dizer que tudo não passa de ‘nomes’, de ‘palavras’, de ‘linguagem’, não tendo nós nenhuma garantia que correspondam à realidade concreta e existente

(5) Realmente a questão é polêmica, justo porque tanto a inteligência medida através de Q.I (quociente intelectual) como a criatividade devem ser encaradas sempre dentro de um contexto e haverá necessidade de se estabelecer um SuRS comum para que a discussão não caia no vazio. Dentro deste enfoque, é possível dizer que ambas as correntes têm razão. Não acredito que um gênio criativo nas ciências, por exemplo, não seja superdotado, com Q.I elevado. Já em outros setores, como o das artes, dos esportes têm-se constatado indivíduos de Q.I. normal ou fronteiriço da faixa da normalidade e supercriativos: poderia citar como exemplo o grande jogador de futebol Garrincha, que encantou o mundo e foi um dos principais responsáveis pelo Brasil ter sido campeão mundial em 1958 e 1962. Sua biografia demonstra que era dotado de Q.I. normal ou mesmo um pouco baixo (talvez entre 80 e 90 na escala de Terman - Merril), mas era, nas suas jogadas, de uma criatividade até hoje insuperável. O aprofundamento da questão levaria o interessado a discutir a validade dos testes de inteligência, sobretudo o problema da influência do fator ‘escolaridade’ como condição para responder às questões dos testes, além, é claro, da revisão da definição de inteligência. É pitoresca a reação de Binet ao definir operacionalmente a inteligência - “é aquilo que meus testes de inteligência medem”..., mas não constitui a resposta ao velho problema que a psicologia até hoje enfrenta.


(6) Hoje nas universidades e nos centros de pesquisa já não se concebe o pesquisador solitário, como quem trabalha numa ‘torre de marfim’. O trabalho de pesquisa passou a ser sinônimo de trabalho de equipe e, nas ciências humanas e sociais, a tendência é ser a equipe interdisciplinar, quando não transdisciplinar

(7) Ocorre-me, entre outras referências, a passagem de Richard S. Rudner em ‘Filosofia da Ciência Social’ em que, ao tratar da elaboração da teoria social, diz: ‘(...) ainda que não possamos, na ausência de uma teoria apropriada, julgar um sistema definidor (...) existem (...) critérios para avaliar a preferibilidade desse sistema definidor sobre as alternativas. Dois desses critérios são: a) o grau em que as regras definidoras sistematizam os conceitos, ou, o que vem a dar no mesmo, o grau de simplicidade estrutural da base primitiva do sistema e b) o poder do sistema. O primeiro desses critérios, sistematicidade ou simplicidade de base primitiva, foi provavelmente um importante critério da aceitabilidade de teorias ao longo de toda a história da ciência (por muito que, em períodos mais remotos, a noção apropriada de simplicidade tenha realmente sido escassamente percebida). (p. 53)


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