Usina de Letras
Usina de Letras
262 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10302)

Erótico (13562)

Frases (50483)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->Lula tentará o 3º mandato já -- 06/11/2007 - 15:27 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LULA TENTARÁ O 3º MANDATO JÁ

por Paulo Moura, cientista político.

'O Príncipe' de Maquiavel foi escrito em 1513 e publicado em 1532. Trata-se do mais importante clássico da teoria política moderna. Desde então, qualquer indivíduo adulto com mais de dois neurônios entre as orelhas perdeu o direito à ingenuidade ao interpretar a lógica das ações dos profissionais do poder. O general prussiano Carl Von Clausewitz, estudou aprofundadamente as guerras napoleônicas e se tornou o mais importante teórico da guerra moderna.

No clássico 'Da Guerra', Clausewitz afirma: 'a guerra é a continuação da política por outros meios'. Na guerra travam-se jogos de força através da violência bruta e visam-se subjugar o inimigo pela imposição de perdas materiais e humanas. Na política se busca a imposição da vontade de uns sobre outros através de outros meios. A influência, a dissimulação, a indução, o disfarce, o fingimento, a mentira e a hipocrisia são armas dos profissionais do poder para induzir o outro ao erro na seqüência de lances do xadrez político.

Por isso, o procedimento recomendável ao analista e ao estrategista consiste em desvendar a lógica da ação; dos gestos, atitudes e movimentos efetivamente executados no tabuleiro do jogo. A retórica é sempre meia verdade, já dizia Aristóteles cerca de 500 anos antes de Cristo. Logo, cabe ao interpretador do jogo buscar as verdadeiras intenções nas lacunas do discurso; nas palavras não ditas. O procedimento metodológico do analista, portanto, deve recorrer a três procedimentos básicos: a) O jogo do psicanalista; b) O jogo do campeão de xadrez; e, c) O jogo do Scherlock Holmes.

O psicanalista analisa as falas do paciente em busca do que ele esconde. Nas lacunas esconde-se o trauma. O campeão de xadrez olha para o tabuleiro com raciocínio matemático. Mapeia todos os passos anteriores, seus e do adversário; analisa todas as possíveis jogadas futuras, suas e do adversário. Projeta os virtuais cenários implícitos à lógica das ações que seu raciocínio detecta como prováveis, na suposição de que o outro tentará, sempre, o lance que mais o favorece. E finalmente, com os jogos do poder são jogados por vários jogadores, alguns dos quais operam camuflados através da manipulação de prepostos, o terceiro recurso é o do olhar do Scherlock, que inicia a investigação de um crime aparentemente insolúvel fazendo-se duas perguntas-chave: A quem o crime interessa? O que ganha o criminoso oculto?

Diante disso, constata-se que interpretar o jogo estratégico de um profissional do poder pelas palavras explicitadas é um comportamento, no mínimo ingênuo. Burrice seria o termo mais adequado, se a suposta ingenuidade não estiver escondendo algo. Nem todos os seres humanos agem assim. Mas, todos aqueles que já foram 'picados pela mosca azul' sofrem dessa 'doença', ainda que as circunstâncias, por vezes, mantenham o 'vírus' da política encubado no organismo de quem, um dia, revelou gosto pelos jogos do poder.

Robert Dahl (1988) classificou os tipos de inserção dos indivíduos nos jogos de poder. Segundo ele, são quatro os tipos de envolvimento com a política, cada um deles correspondendo a formas específicas de orientação para ação: a) o estrato dos indivíduos que têm poder; b) o estrato dos indivíduos que buscam o poder; c) o estrato político dos cidadãos com acesso ao conhecimento e que participam da política sem almejar o poder; e, d) o estrato apolítico, integrado por aqueles que não participam da política por impossibilidade ou desinteresse.

A interseção no espaço situado entre o estrato político e estrato apolítico é de difícil caracterização. Desde a pré-história o homem se agrupa para enfrentar as adversidades da vida. Mesmo no tempo dos bandos nômades os agrupamentos humanos estratificavam-se em líderes e liderados. O uso da violência de uns sobre outros definia a forma da seleção dos líderes. A norma vigente, portanto, era a lei do mais forte.

Segundo Aristóteles os seres humanos são 'animais políticos'. Não nos basta estar em grupos. Precisamos viver em cidades (polis). A vida na polis dá origem a problemas inexistentes em núcleos familiares ou aldeias. A cidade cria problemas que requerem decisões sobre o destino coletivo. Assim nasceu a Política. Na acepção nobre do termo, fazer Política é participar das decisões coletivas sobre o destino da cidade ou da nação. Os seres humanos têm, portanto, capacidade de raciocinar estrategicamente; planejar e perseguir metas.

Em todas as sociedades há uma parcela considerável de indivíduos desinteressados e não-participantes ativos na política. Independentemente das variações entre sistemas políticos, em tempos históricos distintos, mesmo em sociedades em que vigora a democracia, a abstinência política está presente em diferentes graus de intensidade. Os estudos atuais de comportamento político comprovaram que cerca vinte a trinta por cento dos eleitores em condições de votar preferem abster-se nas eleições nacionais. Um número maior ainda se exime da participação política, sem sequer acompanhar assuntos de interesse público na mídia. Para Dahl, isso se explica pelo fato de esses indivíduos avaliarem que: a) participar não lhes trás ganhos que estimulem investir tempo com política; b) não há diferença entre as propostas dos políticos que buscam seu voto; c) sua eventual participação não muda o resultado das ações políticas da sociedade com um todo; e) o que o governo pode fazer em seu benefício independe de seu envolvimento político; f) seu conhecimento da política é insuficiente para lhe proporcionar ganhos com a participação; e, g) há obstáculos à participação que não vale a pena tentar superar.

Nos integrantes do estrato político, o mesmo não se constata. Esses indivíduos, embora não se exponham à competição pelos postos de poder, vêem a política com outros olhos. Para esses, as recompensas da participação compensam; há diferenças entre os que competem por seu voto; sua participação contribui para mudar os resultados do jogo; sua eventual omissão pode lhe ser insatisfatória; seu suposto conhecimento e capacidade podem influenciar debate público; e, os obstáculos à participação são de fácil transposição.

No estrato seguinte há dois substratos; um grupo de indivíduos que buscam o poder e outro, de indivíduos que exercem liderança apenas. Há diferença entre uma coisa e outra, portanto. Para Dahl, o status sócio-econômico explica as diferenças de poder de influência entre indivíduos. São eles: a) a desigualdade de acesso a recursos; b) as diferentes capacidades; e, c) os diferentes incentivos ao uso de meios para adquirir poder de influência. Por isso, o envolvimento político de indivíduos com melhor padrão sócio-econômico apresenta índices mais elevados. Mesmo assim, há diferenças entre os níveis de envolvimento de indivíduos com status e acesso a recursos similares. Ou seja, há indivíduos com mesmo perfil que se envolvem mais do que outros nas tentativas de obtenção de poder e influência sobre os governos.

Dahl classifica esses indivíduos em três categorias. Na primeira, inclui os que buscam o poder, por interesse altruísta; o que não os exime de terem que perseguir o poder para fazer o bem comum. Mesmo assim, não há analista que se atreva a afirmar que esta é a única ou principal motivação para o interesse humano pela busca do poder. Na segunda categoria incluem-se aqueles que buscam o poder para satisfazer seus próprios interesses. Maquiavel dizia que são três os motivos que levam os indivíduos à política: a) o prazer de dominar; b) o prazer na glória (reconhecimento público, fama); e, c) o poder como forma de acesso à riqueza. As três possibilidades não são excludentes entre si.

Max Weber, e depois dele a psicologia pós-freudiana, questionam a hipótese de que a busca pelo poder se oriente apenas pela lógica racional apenas. Os desejos humanos podem levar a conflitos de consciência naqueles que se envolvem com a política, induzindo à perda dos critérios racionais de orientação das ações. A paixão; o ódio; a vingança e certas privações na infância também podem explicar a lógica de certas ações. Privações típicas que provocam esse efeito envolvem a carência de afeição e respeito, o que produz deficiências de auto-estima na criança. Na vida adulta, o indivíduo que foi vítima desse tipo de privação poderá buscar compensação no exercício da dominação.

Segundo Laswell, os indivíduos que buscam o poder nem sempre o buscam no governo. O poder que motiva cada um pode estar em diferentes organizações (Igreja, empresas, escolas, etc.). As perdas psicológicas que motivam a busca pelo poder podem induzir a comportamentos outros, como a resignação, o auto-isolamento, ou mesmo, o suicídio. A baixa auto-estima também pode levar à busca de outras formas de compensação. A busca do poder por esse tipo de motivação psicológica pode levar a ineficácia na conquista de resultados, pois pode provocar rejeição e desconfiança. Estudos de comportamento político revelaram que a autoconfiança e a eficácia na construção de resultados costumam estar associados a altos níveis de participação política.

Nenhuma dessas motivações exclui aquelas anteriormente caracterizadas. Todas elas devem estar no menu de opções a que o estrategista recorre para escapar das armadilhas do óbvio. Independentemente das motivações de cada um, sabe-se que alguns indivíduos se envolvem com a política mais do que outros, desconhece-se a abrangência e profundidade dos fatores psicológicos e das circunstâncias que motivam os indivíduos à busca pelo poder, as características culturais, sócio-econômicas e políticas de cada sociedade podem motivar a busca pelo poder, tanto pelas razões listadas por Maquiavel, como pela busca de segurança, reverência, respeito, afeição, dentre outros tipos de recompensas. De maneira geral, constata-se que a busca pelo poder pode combinar múltiplos fatores conscientes, nem todos conhecidos e/ou assumidos pelos jogadores políticos. Não há comprovação de que os indivíduos que buscam o poder tenham personalidades semelhantes.

Resta, então, analisar os indivíduos que têm poder, sabendo-se, de antemão, que nem todos que perseguem o poder o alcançam. Por outro lado, aponta Dahl, há indivíduos que possuem ou exercem o poder sem que pretendessem conquistá-lo. Há pelo menos duas explicações para isso: a diferença nos recursos utilizados por uns e outros, e a diferença na eficiência com que uns e outros empregam os recursos de que dispõem. O investimento de cada um na busca do poder nem sempre corresponde a resultados proporcionais ao dispêndio. Isto é, o indivíduo que investe mais recursos nem sempre obtém os melhores resultados, ou mesmo o resultado perseguido. O contrário também vale. Baixos investimentos podem produzir resultados desproporcionalmente maiores, já que a luta política obedece a circunstâncias nem sempre passíveis de controle.

As variáveis externas (conjuntura; fatos inusitados), podem influenciar o jogo para além da vontade e da competência dos jogadores. Além disso, diferentes indivíduos agem de diferentes formas na disputa pelo poder. Uns podem ser mais obstinados, disciplinados, metódicos e organizados do que outros. Mesmo assim, nem sempre esses alcançam os melhores resultados devido à impossibilidade de controle da gama de variáveis intervenientes no tabuleiro dos jogos de poder.

Embora exista uma variedade infinita de motivações, Dahl evidencia cinco fatores para a classificação do 'homem político':

a) o caráter e/ou a personalidade do indivíduo;
b) a cultura geral e política de cada um;
c) a maneira pela qual o indivíduo adquiriu a orientação para o envolvimento com a política;
d) a situação, as experiências e as circunstâncias que envolveram a trajetória de cada um; e,
e) as situações enfrentadas por cada indivíduo em momentos históricos específicos.

Dependendo desses fatores, então, há indivíduos com inclinações democráticas e outros com inclinações autoritárias, indivíduos com perfil de agitadores e outros com perfil de negociadores, e, finalmente, outros com inclinações pragmáticas as mais variadas.

Sob esse ponto de vista, portanto, quaisquer indivíduos que atingiram o grau de envolvimento que Lula alcançou na vida, se orientam pelo desejo incontido de poder. Por qualquer ângulo de análise que se observe o 'animal político' Lula, seja pelo viés psicanalítico, seja pelo viés da racionalidade política, não há dúvidas de que ele quer seguir no cargo em que está.

Lula se embriaga com as mordomias do cargo. Devido à extrema privação que viveu na infância, persegue o oposto e busca no poder a satisfação insaciável daquelas carências. Lula está cercado de gente que quer o poder a qualquer preço, independentemente dos fins para garantir a perenidade da condição conquistada, que se transformará em perda irrecuperável se Lula decidir se aposentar após o fim desse mandato.

A conjuntura política e econômica, pelo menos por enquanto, lhe é absolutamente favorável. Seus adversários estão em frangalhos. Ou são fracos, ou são burros, ou estão comprados.

Todos, invariavelmente, sabem que se Lula se candidatar de novo, sob as atuais circunstâncias, está reeleito. Logo, se a maioria está comprada, apoiar Lula é a garantia da continuidade da boquinha. Lula movimenta todas as pedras para garantir sua permanência eterna no cargo. Só falta comprar alguns senadores da suposta oposição – especialmente do PSDB – para arrematar a jogada. A compra da aprovação da CPMF é compra casada.

A aprovação da emenda da reeleição é questão de preço e oportunidade. As emendas já tramitam na Câmara dos Deputados, que está na mão do PT. O Senado, sob a presidência do PT, está em vias de se vender. Na dúvida, Lula mandou seu compadre, desde sempre, sindicalista criado sob sua asa no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tramitar a aprovação de um decreto legislativo (aprovado por maioria simples, isto é, com 50% + 1 dos presentes), convocando um plebiscito para emendar a Constituição, caso o Senado não se venda.

Lula, portanto, marca por zona, o campo todo. E há quem tenha coragem de escrever e dizer em público que Lula não quer a reeleição, sustentando seus argumentos na retórica de Lula. Ou são ingênuos, ou são burros, ou são comprados. Não acredito na primeira dessas três hipóteses.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui