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Cordel--> -- 16/11/2003 - 02:03 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Milagre do Algodão Colorido (Cordel)
Manoel Monteiro*

O algodão brasileiro
Do Litoral ao Sertão,
Na Paraíba, inclusive,
Vive uma transformação
Iluminando o presente,
Eis que chega finalmente
A GRANDE REVOLUÇÃO.

Mas desta revolução
Não sai guerreiro ferido,
Parque fabril devastado,
Monumento destruído,
Nela, um “mago sem condão”
Transmuta o BRANCO ALGODÃO
Em CAPULHO COLORIDO.

Verde, marrom e mais outras
Tonalidades e cores
Nascem, como por encanto,
Das mãos dos pesquisadores,
Essa dança colorida
Enche de esperança e vida
Os nossos agricultores.

No primeiro e no segundo
Quartos do século passado
O ALGODÃO ou o OURO
BRANCO, assim denominado,
Multiplicava interesses
Distribuindo benesses
Por vila, cidade, estado.

Mulher, homem, velho, moço
De toda e qualquer idade
Tinham nos algodoais
Por turno inteiro, ou metade,
Trabalho remunerado
Que o soldo bem empregado
Supria a necessidade.

As cantigas de trabalho
Com seus versos joviais
Estimulavam a colheita
Dos alvos algodoais,
Tornando a amena a labuta
Ajudavam na disputa
Pra ver quem colhia mais.

Piscar de olhos furtivos
Entre moço e rapariga
Era o começo inocente
Do namoro à moda antiga,
Num poetar sedutor
Trocavam juras de amor
No solfejo da cantiga.

Alegres cantavam
Quadrinhas rimadas,
Aqui vão algumas
Das que são lembradas...

Eu colho algodão
Tu colhes também,
Meu pé tem bastante
Já no teu não tem.

Apanho algodão
Pra ganhar dinheiro
Vender bem vendido
No mês de janeiro.

Com um fio longo
Que chega a Belém
Teço um lenço branco
Pra dar à meu bem.

Já tenho o dinheiro
Do meu algodão
Só falta você
Pedir minha mão...

Parece-me ver à tardinha
Chegando de uma a uma
As mulheres catadeiras
Com seus bisacos de pluma,
Quando a pesagem era feita
Pegavam toda colheita
E despejavam na ruma.

Em um recanto da sala
A tulha branca crescia,
Ganhava o dono da terra,
Quem plantava e quem colhia,
Ao final todos ganhavam,
Os capulhos compensavam
Quem comprava, quem vendia.

Um lençol branco cobria
O roçado na colheita
Eram capulhos alvinhos
Como uma colcha perfeita
Bailando ao sabor do vento,
Hoje, novo”pigmento”
A mesma paisagem enfeita.

Media-se o patrimônio
Dos fazendeiros de então
Pelo tamanho da terra,
O tanto de criação
E se dizia também
Fulano é rico pois tem
Tantos quadros de algodão.

O algodão resgatava
A conta que se devia,
Empréstimo feito de boca,
Farmácia, mercearia,
No caso de ter noivado
Depois do lucro apurado
O casório acontecia.

As bolandeiras modestas
E as usinas de porte
Beneficiavam fibra
Pilar, esteio e suporte
Da Região Nordestina
Que tinha na pluma aurina
Uma economia forte.

Contudo a grande importância
Do algodão, com certeza,
Era que todos lucravam
Sendo “sócios da empresa”
Que apesar de afanosa
De maneira harmoniosa
Massificava a riqueza.

Movidas a algodão
Vilas se desenvolviam
Portos se movimentavam,
Estradas se construíam
Pra carros e caminhões,
Trens penetravam sertões
Indústrias têxteis nasciam.

As cidades floresciam
Sob o sol de céu azul,
No auge do algodão
Algumas viveram em “pool”
Ganhando muita esterlina
E nessa fase CAMPINA
Foi chamada Liverpool.

As plumas do algodoeiro
Na sua fragilidade
Pode não parecer mas
Tem plural utilidade
E é amiga presente
No dia-a-dia da gente
Quer no campo ou na cidade.

O algodão ou Gossypium
Como dizem os entendidos
Faz desde os panos mais simples
Aos mais finos tecidos
E se for hidrofilado
É próprio pra ser usado
Na limpeza dos feridos.

Faz short, sunga e cueca,
Bermuda, calça e calção,
Paletó, smook, fraque,
Saiote, saia, saião,
Meia, gravata e colete,
Soutien, cinta e corpete,
Carpete e pano de chão.

Cortina, coberta e fornha,
Ponchos, xales, aventais,
Macacões para o trabalho,
Batas para os hospitais,
Lenços, lençóis, edredons
Com algodão ficam bons
Por ser fibras naturais.

Lembro com muita saudade
A minha avó fiadeira
Que girando o fuso tosco
Passava a manhã inteira
Fazendo rolos de fio
Pra tecer rede e pavio,
Panos de espreguiçadeira.

Lembro a sala iluminada
A gás e sua fragrância
A chama do candeeiro
Numa pequena distância
Com a luz dispersa e baça
Salpicando de fumaça
Os sonhos da minha infância.

O candeeiro de flandre
Pendurado na parede
Com o seu pavio aceso
De gás não matava a sede,
Moroso bruxuleava
E com sombras desenhava
A silhueta da rede.

O simples pavio aceso
Com seu precário lampejo
Era o algodão presente
Na vida do sertanejo;
O carro de boi gemendo
Levando pluma e trazendo
Não ouço mais e nem vejo.

A safra do algodão
Era um autêntico presente,
Dinheiro pra todo mundo
E era um dinheiro quente
Que aos poucos foi minguando,
O ouro branco acabando
Quebrou as pernas da gente.

O Sul e outros países
Modernizaram a lavoura
Tornando a monocultura
Pueril competidora,
Para liquidar com tudo
Disseminaram o bicudo
Uma praga aterradora.

Aí nosso agricultor,
Na maioria, pequeno,
Sem a tecnologia
Sem concurso do veneno,
Sem dispor duma semente
Imune a praga emergente
Perdeu de vez o terreno.

O plantador do algodão
Viu-se envolto nessa teia
Repetindo-se de novo
A mesma ocorrência feia
Da tragédia anunciada
Que armou uma emboscada
Para Delmiro Gouveia.

Delmiro Gouveia ousou
Um dia desafiar
Os tentáculos do “trust”
Da linha de coslturar,
Bravamente resistiu
Mas ao final sucumbiu
Sem forças para lutar.

Das garras desse monstrengo
Dificilmente se escapa
Mas desta vez o Nordeste
Saiu no “braço e no tapa”
Em defesa do algodão
Foi buscar a munição
Nos arsenais da EMBRAPA.

Muita gente que estava
Sem outras perspectivas
Desiludidas de tudo
Completamente nativas
Com o algodão se repondo
Estão felizes compondo
Novas fontes produtivas.

O agricultor do Sertão,
Brejo, Cariri, Agreste,
Está muito satisfeito
Com o resultado do teste
Do ALGODÃO COLORIDO
Quem prenuncia florido
Áureos tempos pra o Nordeste.

Depois de uma pesquisa
Exaustiva e persistente
A EMBRAPA de Campina
Conseguiu uma semente
Da qual a pluma extraída
Longa, forte e colorida
Dá um tecido excelente.

Ao fim de teste e mais teste,
De muitos experimentos
Em busca de descobrir-se
A genes dos elementos
Surgiu com muita vantagem
Uma excelente linhagem
Desses retrocruzamentos.

Assim três belas nuances
Dum VERDE muito bonito
Nasceram dessas pesquisas
E, convencido acredito
Que muitas outras virão
Para alegrar o Sertão
Outrora triste e aflito.

Nasceu a BRS
VERDE água, uma excelência
No preço em dólar, que é mais;
Também por sua aparência,
Comprovado RENDIMENTO,
Fibra de bom COMPRIMENTO,
Brevidade e RESISTÊNCIA.

Isso se deve aos técnicos
Daqui e do Ceará
E de Uberlândia, em Minas,
Pois tanto aqui quanto lá
Todos estão trabalhando
Nova aurora abreviando
Para a manhã que virá.

A EMBRAPA cria vida
Sem alarde, bem sutil,
Dando ao campo brasileiro
Auspicioso perfil,
Se alguém agrega valores
São esses pesquisadores
Orgulhos do meu Brasil.

Graças à eles estamos
Dando passada segura,
Aprendendo colher certo,
Fazer a semeadura,
Seguindo à risca o processo
Vai ter imenso sucesso
Nossa cotonicultura.

Algumas regras primárias
São necessárias seguir:
O ALGODÃO COLORIDO
Não deve se imiscuir
Junto ao branco plantado
Que pode ficar tentado
A também se colorir.

O mais certo é eleger
Áreas predeterminadas,
Ou eleger municípios
Onde as sementes plantadas,
Se do tipo colorido,
O branco fique retido
Em zonas bem afastadas.

A distância de mil metros
Duma a outra plantação
Deve ser obedecida
Pois dada a coloração
O processo se complica,
Dificulta e prejudica
Boa polinização.

Essa precaução è para
Não degenerar a cor
Pois vento, ave e abelha
Como polinizador
Faz seu trabalho direito
Mas a pluma desse jeito
Perde em beleza e valor.

75 centímetros
é bom como espaçamento,
entre as fileiras, 1 metro,
está no regulamento,
a cova rasa é pedida,
se for usar herbicida
pode cavar a contento.

Não deixe caído ao chão
Botão pequeno ou graúdo
Para não disseminar
O pervertido bicudo
Que nosso lucro solapa,
No mais, consulte à EMBRAPA
Lá eles lhe explicam tudo.

Lembre: o controle das pragas
É importante e você
Deve faze-lo seguindo
Direitinho o M I P
Que é, Manejo Integrado
De Pragas, já consagrado
Em tudo quanto se lê.

Com ALGODÃO COLORIDO
Não pode ser diferente,
Talvez seu consumidor
Seja bem mais exigente;
Compreendeu-se afinal
Que tecido natural
Faz bem ao corpo da gente.

Todo esforço da EMBRAPA
Há de ser recompensado,
Erros, acertos, dinheiro,
O longo tempo empregado
Ao final se equilibra
Pois o preço dessa fibra
É bem melhor no mercado.

O manuseio da pluma
Do algodão colorido
Exige cuidados simples
Para não ficar sortido;
BRANCO fica separado,
VERDE e MARROM doutro lado
Misturar não faz sentido.

Ter cuidados nas sementes
Pra não misturar, senão,
Ao fazer novo plantio
Vai ter a decepção
De cor em variedade
Pois a promiscuidade
Causa a CONTAMINAÇÃO.

A colheira deve ter
Início pelo BAIXEIRO,
Depois no MEIO, e então,
Faz-se a cata do PONTEIRO;
As colheitas separadas
Dão cores mais destacadas
E ao vender, mais dinheiro.

A coloração NATURA
Corresponde certamente
Ao cotonicultor
Que ECOLOGICAMENTE
CORRETO plantou, colheu,
Beneficiou, vendeu
Por um preço diferente.

Não é preciso, mas vou
Alertar ao pessoal
Que hoje qualquer produto
Cultivado ao natural
Sem agrotóxico no chão
Vai ter melhor cotação
No Mercado Mundial.

Quem produz sem artifícios
Vai ganhar por seu estilo,
Venderá fácil e melhor
Pois todos vão preferi-lo;
A cotação registrou
Que à cinco dólares chegou
O preço pago por quilo.

Não é por serem “bonzinhos”
Que pagam esses preços bons
É que o mundo prefere
Para as confecções
Adultas e juvenis,
Roupas íntimas, infantis
Esses tipos de algodões.

Uma rede trabalhada
Com ALGODÃO COLORIDO
Atura uma vida inteira
Pela trama do tecido,
Fora os balanços elásticos
Promete sonhos fantásticos
E repouso garantido.

Manter o homem no campo,
Dar emprego na cidade,
Preservar a natureza
É uma necessidade,
Algodão de cor faz isso
Porque tem um compromisso
Com nossa prosperidade.
(*) o autor é bom cordelista paraibano, com inúmeros cordéis publicados. Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Possui uma Cordelaria Poeta Manoel Monteiro em Campina Grande: à rua Vigário Virgínio, 52 – bairro do Santo Antonio- cep 58103-340- fone: (083) 341-6536. É bem atuante na área de literatura popular.
Já publiquei outros trabalhos dele, aqui na usina de letras.











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