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Ensaios-->Livro didático e propaganda política -- 03/10/2007 - 09:08 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Livro didático e propaganda política

ALI KAMEL (*)

O Globo - 02/10/2007 – PÁGINA 7 – 1º CADERNO

Ainda os livros didáticos, um problema mais grave do que eu imaginava. Para 2008, o MEC me informa que já comprou mais de um milhão de exemplares do livro de História 'Projeto Araribá, História, Ensino Fundamental, 8', a ser distribuído na rede pública a partir de janeiro. Para ser exato, 1.185.670 exemplares, a um custo de R$5.631.932,50. É agora o campeão de vendas.

Sem dúvida, o livro tem um pouco mais de compostura que o 'Nova História Crítica', que analisei há 15 dias, mas, em essência, apresenta os mesmos defeitos e um novo, gravíssimo: faz propaganda político-eleitoral do PT. Na unidade 3, 'A Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa', o livro diz o seguinte, logo na abertura, sob o título 'Um sonho que mudou a História': 'Em 1º de janeiro de 2003, o governo federal apresentou o programa Fome Zero. Segundo dados do IBGE, 54 milhões de brasileiros vivem em estado de pobreza. Em nenhum país do planeta existem tantos pobres vivendo entre pessoas tão ricas (...). Por que, apesar de tantos avanços tecnológicos, pessoas continuam morrendo de fome? É possível mudar essa situação? Os revolucionários russos de 1917 acreditavam que sim. Seguros de que o capitalismo era o responsável pela pobreza, eles fizeram a primeira revolução socialista da História. Depois disso, o mundo nunca mais seria o mesmo. Hoje, passado quase um século, o capitalismo retornou à Rússia, e a União Soviética, (...) não existe mais. Valeu a pena? É difícil responder. Mas como dizia um membro daquela geração de revolucionários, é preciso acreditar nos sonhos.'

Entenderam a sutileza? Os alunos são levados a acreditar que não há país no mundo com mais pobres do que o nosso (os autores se esqueceram da Índia, para citar apenas um?). E que o Fome Zero seria o sonho de 1917 revivido.

Por uma questão de espaço, publico apenas na internet uma análise completa sobre como o livro trata o socialismo e o capitalismo, simpatia extrema pelo primeiro, crítica aguda contra o segundo (o leitor encontra essa análise em www.oglobo.com.br/opinião). Aqui vou me concentrar na novidade do livro, naquilo que mais espanta: a propaganda político-eleitoral.

Depois de relatar o sucesso do Plano Real no governo Itamar, o livro explica assim a vitória de FH sobre Lula nas eleições de 1994: 'Uma habilidosa propaganda política transformou o candidato do governo, Fernando Henrique, no pai do Plano Real.' Sobre os resultados do primeiro governo FH, o livro contraria tudo o que os especialistas dizem sobre os efeitos imediatos do Plano Real: 'A inflação foi controlada, mas a um preço muito elevado. O desemprego cresceu, principalmente na indústria, elevando a miséria, a concentração de renda e a violência no país.' Herança maldita é pouco.

Depois de contar como o governo foi obrigado a desvalorizar o real, o livro diz que o segundo mandato de FH trouxe duas conquistas no campo social: ampliou as matrículas no ensino fundamental e reduziu a mortalidade infantil. Mas o capítulo termina assim: 'O PT chegou ao poder com a responsabilidade de vencer um enorme desafio: manter a inflação sob controle e combater a desigualdade social no Brasil, onde 54 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza.' Como os autores disseram no início, o sonho não acabou.

O livro termina com oito páginas sobre a fome no mundo e no Brasil. As causas da fome, apontadas pelo livro, são as dificuldades de acesso à terra, o aumento do desemprego e a divisão desigual da renda. Depois de repetir que 'o nosso país tem fome', o livro 'esclarece': 'O combate à fome é o principal objetivo do governo Lula, que tomou posse em janeiro de 2003. Para isso, o governo lançou o Programa Fome Zero. A implantação do programa tem como referência o Projeto Fome Zero - uma proposta de política de segurança alimentar para o Brasil, um documento que reúne propostas elaboradas pelo Partido dos Trabalhadores em 2001. Leia agora parte desse documento.'

E as crianças são então expostas a 52 linhas do documento de propaganda partidária elaborado em 2001 pelo Instituto da Cidadania, do PT. E a nenhum outro.

O Fome Zero, que não conseguiu sair do papel, vira História.

Tudo isso distribuído gratuitamente pelo governo federal a mais de um milhão de alunos. Isso é possível? Isso é republicano?

Não acredito que o presidente Lula aceite que propaganda política de um único partido seja distribuída com o uso de dinheiro público como se fosse aula de História. Não acho também que o MEC concorde com isso.

Fica aqui o alerta.


Três detalhes.

O livro, deliberadamente, confunde pobreza com fome. A OMS admite até 5% de pessoas magras em qualquer população (os geneticamente magros e, não, os emagrecidos pela falta de alimento). O Brasil tem 4% de magros e, em pouquíssimas áreas, esse percentual chega a 7%; a Índia tem 50%. A fome no nosso país é, portanto, um fenômeno localizado, na casa das centenas de milhares de pessoas, nunca na casa dos milhões.

O livro, que se bate contra a globalização e o neoliberalismo, foi impresso na China. Usando uma linguagem que poderia ser a dos autores, 'roubando empregos brasileiros'.

E, por último, para que o leitor tenha certeza da péssima qualidade do projeto, sugiro uma visita à página 83 do livro de geografia para a oitava série, da mesma coleção (1.087.059 exemplares, ao custo de R$4.859.153,73). Lá, num texto sobre o Islã, está escrito que a corrente sunita é a mais moderada e que 'a xiita ou fundamentalismo islâmico é a mais radical'. Sim, eles acham que o xiismo e o fundamentalismo são sinônimos. Sim, eles ignoram que a Al-Qaeda, a manifestação mais brutal do fundamentalismo, é sunita. No mesmo texto, está escrito também que a Arábia Saudita, o berço do sunismo radical, é... xiita.

Pobres de nossas crianças.


(*) ALI KAMEL é jornalista.


*

BLOG
Reinaldo Azevedo

http://veja.abril.uol.com.br/blogs/reinaldo/2007/10/esquerdopata-esquerdocnico-ou.html

'Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem'
Robert Musil em O Homem sem Qualidades

Terça-feira, Outubro 02, 2007

Esquerdopata, esquerdocínico ou esquerdiota? Ou os três?

O ministro da Educação, Fernando Haddad, participou, nesta terça, de uma solenidade no Ministério da Saúde. À saída, indagado pelos repórteres sobre a manipulação ideológica dos livros didáticos, que vem sendo apontada pelo jornalista Ali Kamel (ver post abaixo), respondeu: “Não é uma opinião generalizada. O programa livro didático é muito elogiado; tem sido aperfeiçoado ao longo dos anos, e nós temos que respeitar a pluralidade de opiniões, né?” E emendou: “O MEC não professa ideologias. O MEC é guardião da liberdade e vai continuar sendo guardião da liberdade...” E achou que sua contribuição ao equívoco ainda era pequena, daí ter optado pelo complemento: “O Ministério da Educação só compra livros que são escolhidos pelos professores. Então, tem três soluções: manter a liberdade, censurar os livros ou trocar os professores. Eu fico com a primeira.”

Há várias coisas somadas aí. A menos grave, acreditem, é a apologia da ignorância em nome da pluralidade e da democracia. Leiam o texto de Kamel. Além da empulhação ideológica, há também o erro estúpido. O ministro que tem “Haddad” no sobrenome acredita ser mera questão de liberdade de opinião afirmar, por exemplo, que a Arábia Saudita é um país xiita ou que os xiitas são mais “radicais” do que, por exemplo, os sunitas da Al Qaeda.

Mas vamos à questão que é mais grave. A estupidez esquerdopata, esquerdocínica e esquerdiota afirma que democracia se resume à vontade da maioria — vale a “democracia hitlerista”, por exemplo; ou “democracia mussolínica”; ou, por que não?, chavista? Vejam lá: porque os professores escolheram (falarei já desse método), para ele, parece bem. Pergunta simples e direta? E se escolherem um livro fascista? Pode? Ou, sob certas circunstâncias, a “vontade da maioria” seria coibida em nome de outro valor, e o nosso homem não veria mal nenhum em “censurar' os professores? Aliás, não precisaria muito: um livro didático que apontasse o petismo não como a solução dos problemas — como faz aquele analisado por Kamel —, mas como um criador de casos teria alguma chance de ser adotado?

Democracia supõe instituições duradouras e um estado que, ao menos, se esforce para ser neutro. É próprio do regime que seja vincado por este ou por aquele partido que está no poder, já que se distinguem as políticas públicas. Mas esse vinco há de ser de superfície. Não se concebe que, em nome da vontade da maioria, se possa ensinar uma mentira. Leiam isto: “Em 1º de janeiro de 2003, o governo federal apresentou o programa Fome Zero. Segundo dados do IBGE, 54 milhões de brasileiros vivem em estado de pobreza. Em nenhum país do planeta existem tantos pobres vivendo entre pessoas tão ricas”. Não temos aí uma mera questão de opinião. Temos uma fraude.

Ou ainda: “Por que, apesar de tantos avanços tecnológicos, pessoas continuam morrendo de fome? É possível mudar essa situação? Os revolucionários russos de 1917 acreditavam que sim. Seguros de que o capitalismo era o responsável pela pobreza, eles fizeram a primeira revolução socialista da história. Depois disso, o mundo nunca mais seria o mesmo. Hoje, passado quase um século, o capitalismo retornou à Rússia, e a União Soviética, que nasceu da Revolução Russa de 1917, não existe mais. Valeu a pena? É difícil responder. Mas como dizia um membro daquela geração de revolucionários, é preciso acreditar nos sonhos.” Viram só? Os revolucionários socialista eram, assim, uma espécie de antecipação de Betinho, eventualmente um pouco mais sanguinários. Nota: as duas maiores fomes da história foram impostas ao “povo” por revolucionários socialistas: por Stálin, com a coletivização forçada da agricultura, e por Mao Tse-Tung, com seu “Grande Salto Para a Frente”. A afirmação, pois, é uma picaretagem, uma falsificação histórica, uma mistificação ideológica.

Mas Haddad, o “democrata”, acredita que é preciso ficar atento à opinião do que ele pretende seja uma maioria. E acusar de censor quem aponta a fraude. Não é por acaso que, nas universidades federais que estão sob o seu comando, a mistificação também corra solta. Já demonstrei aqui o que andam fazendo com os vestibulares nessas instituições. Trata-se de testes ideológicos. Já disse: sou eu só aqui, de bermuda e chinelo. Já passou da hora de o jornalismo investigar como é feita a seleção desses livros:
- quem os envia aos professores?;
- Há uma pré-seleção?;
- as editoras fazem seu lobby nas escolas e aguardam a resposta dos professores?;
- quem é o encarregado, no ministério, de ouvir os professores?;
- participa quem quer?
- quando e em quais casos um livro pode ser retirado do programa?

Questão de fundo

Sim, é preciso voltar às teorias do pai do totalitarismo perfeito, Antonio Gramsci, aquele segundo quem as verdades do “partido” deveriam se consolidar como um “imperativo categórico”, um “laicismo moderno”. Isso está em curso. Os professores saem da universidade com os miolos entupidos de submarxismo — no caso das lojinhas disfarçadas de faculdade, sustentadas pelo ProUni, nem isso — e depois vão escolher livros, comprados pelo estado, que serão distribuídos aos estudantes. Os professores-autores, por sua vez, repetem as mesmas falsidades que lhes foram sopradas aos ouvidos no curso de graduação. E o ciclo se fecha. E depois nos espantamos todos que a escola brasileira seja tão ruim.

Haddad, à diferença do que diz, não está “mantendo a liberdade”. Está é estimulando a indústria da ignorância e da mistificação ideológica. Compreendo: ele é parte disso e só por isso é ministro da Educação. É um dos esbirros de um projeto de poder. A pluralidade em nome da qual ele fala é discurso único: de esquerda.

PS: Um leitor me manda um questionamento: “Ué? Mas existe livro que não esteja contaminado?” Ele faz a pergunta e sugere, em seguida, que há certo exagero na crítica. Eu tendo a responder assim: é bem possível que inexista um livro imune à empulhação. Mas isso só aumenta o tamanho do problema.


Por Reinaldo Azevedo 17:08


Obs.: Para ler os comentários dos leitores, acesse http://veja.abril.uol.com.br/blogs/reinaldo/2007/10/esquerdopata-esquerdocnico-ou.html.



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