Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50669)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->PROJETO MÚSICA ERUDITA -- 06/09/2012 - 10:54 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


 



PROJETO MÚSICA ERUDITA



 



L. C. Vinholes



 



Em agosto de 1979, o Centro de Documentação e Pesquisa da Funarte_edn1" name="_ednref1" title="">[i] anunciou o projeto intitulado “A produção cultural brasileira nos anos 70” no qual estava inserida a “parte relativa à composição e criação na música erudita”, conforme registrado na Declaração de 20 de agosto daquele ano, assinada pelo compositor Edino  Krieger_edn2" name="_ednref2" title="">[ii], Coordenador do Pró-Memus. Do mesmo documento consta a indicação de Paulo César de Amorim Chagas_edn3" name="_ednref3" title="">[iii] como responsável pelo levantamento e compilação dos dados que atenderiam a tal iniciativa.



 



Em correspondência circular nominal, de 21 do mesmo mês e ano, Paulo Chagas contatou os compositores brasileiros informando sobre a pesquisa que realizava tendo em vista atender ao referido projeto e, ao mesmo tempo, acrescentando que “face à ampla divulgação que será dada à obra (edição de 20.000 exemplares distribuídos em bancas de jornais), achei conveniente abrir um espaço para que os próprios compositores possam se manifestar e dessa maneira fornecer explicações de seu trabalho a um público que, como sabemos, desconhece em sua maioria a produção de música brasileira”. E continua: “Neste sentido, peço-lhe o favor de responder a estas três perguntas de caráter pessoal de maneira que melhor convier: 1 – Como componho? 2 – Por que componho? 3 – Para quem componho?”. E conclui: “Peço-lhe ainda para enviar-me as respostas com máxima urgência, pois tendo em vista a publicação ainda este ano, o trabalho deverá estar pronto antes do final de setembro. Agradecendo, antecipadamente, à sua colaboração, envio-lhe o meu endereço para onde deverão ser remetidas as respostas”.



 



Ciente da importância da colaboração que Paulo Chagas estava comprometido a prestar às pretensões do projeto do Centro de Documentação e Pesquisa da Funarte, respondi, em 12 de setembro do mesmo ano, a carta que recebera no dia anterior, na qual fiz comentário, anunciei um projeto e formulei um pedido, conforme parágrafos 2º,5º e 6º, que transcrevo a seguir:



 



 “É bem como você diz em sua carta: ‘um público que, como sabemos, desconhece em sua maioria a produção da música brasileira’. Não acredito que explicações de compositores a este público vá solucionar o problema que todos nos enfrentamos, razão pela qual decidi ser breve e sucinto, na esperança de não abusar do tempo deste mesmo público que considero com muito respeito”.



 



“Estou sempre às ordens e aqui também espero poder contar com a colaboração sua e de todos os nossos colegas, pois estou planejando uma exposição de música contemporânea brasileira_edn4" name="_ednref4" title="">[iv], no modelo da que organizei em Tóquio em 1977”.



 



Na impossibilidade de, pessoalmente, adquirir, nas bancas de jornais, exemplar da publicação pela qual você esta trabalhando, peço-lhe, encarecidamente, enviar-me um exemplar da mesma através do professor Paulo Affonso de Moura Ferreira, presidente da nossa SBMC_edn5" name="_ednref5" title="">[v] e assessor do DDC_edn6" name="_ednref6" title="">[vi] do Itamaraty, informando-me, para pagamento imediato, o custo da mesma.”



 



Estas foram minhas respostas ao projeto da Pró-Memus:



 



1 - Como componho?



Pelo menos desde 1956, quando escrevi Tempo-Espaço I e II, peças para violino, viola e violoncelo, tenho procurado realizar trabalho preocupando-me com a estruturação, com a concretização de uma linguagem baseada em princípios que surgiram como fruto de anos de pesquisa e artesanato. Os seus fundamentos foram por mim expostos em três conferências realizadas na Escola Livre de Música da Pró-Arte, em São Paulo, em setembro daquele ano. Enquanto isto acontecia, escrevia também algumas obras utilizando a técnica dodecafônica, na qual encontrei limitações similares às existentes nas linguagens dos modalismos e tonalismos que a precederam. Interessa-me uma linguagem que me permita criar uma obra aberta, sem barreiras e restrições, uma espécie de caleidoscópio, plural, a obra sem compromissos, na qual os tempos sejam somados e o tempo não seja apenas dividido, uma obra que não cercea as possibilidades que possam vir a serem nela descobertas e discutidas por quem por elas se interesse. Assim, neste espírito, surgiu, até agora, a maioria do que escrevi, tudo para música de câmara. Componho também de parceria com os intérpretes de meus trabalhos de música aleatória, a qual Gilberto Mendes afirma ter sido eu pioneiro no Brasil. Esta música quando tratada seriamente, é dificílima de ser idealizada. A meu ver, não acredito que muito pode ser feito no campo da música aleatória. Eu mesmo ainda tento. Fascinam-me os seus aspectos temporísticos. Acabo de formular um trabalho de música aleatória para ser realizado por vozes, como parcela de colaboração às comemorações do Ano Internacional da Criança.



 



2 - Por que componho?



Levando em consideração apenas o que ainda se verifica no Brasil, onde os direitos autorais do músico são letra morta; onde a edição de uma partitura é problemática e cara; onde a apresentação da criação musical é dificultada pelas deficiências e ineficiências e pelos interesses e desinteresses; onde as plateias são mantidas bitoladas e engajadas; onde os músicos, para sobreviver, vivem de acertos e acomodações; onde uma partitura não pode concorrer com um livro, um óleo, uma gravura ou uma escultura; onde o analfabetismo e a educação primária ainda servem à exploração; onde os problemas da educação e da cultura, inclusive a musical, por anos sem fim, ficam nas mãos de autoridades com formação alheia às causas da Cultura e das Artes; é difícil justificar e responder por que componho. Talvez não seja inexato afirmar que, até agora, compus por teimosia. Ou quem sabe, ainda por necessidade vital de comunicação.



 



3 - Para quem componho?



Componho primeiramente para mim mesmo, como exercício e por encontrar nesta atividade intelectual uma forma de realização pessoal. Componho também para uma plateia que sei ser reduzida e com a qual encontro motivos para estar satisfeito. Componho para uma plateia que tende a crescer e que gosta de participar e não de consumir fórmulas.



 



 



O fato de, até hoje, não ter sido informado se o projeto da Funarte foi concretizado e disponibilizado ao público e nem mesmo ter recebido o exemplar solicitado, leva-me a tornar públicas as respostas que, há exatos 33 anos, dei ao questionário para que as gerações contemporâneas conheçam o posicionamento que tive na década de 1970, face à problemática que os compositores (e artistas em geral) enfrentavam, idêntica a dos dias atuais. Não pode ser esquecido que em 1979 o Brasil ainda vivia sob o jugo da ditadura militar instalada em 1964 quando a livre expressão do pensamento e a liberdade de criação artística foram cerceadas, registrando-se dificuldades inflacionárias, recessão, crescente endividamento externo, fim do “milagre econômico” e início da chamada “abertura política institucional” com a revogação recente do Ato Institucional nº 5. Tudo isto pode ter sido responsável pela não concretização do projeto da Funarte.



 



 



 



 



 









_ednref1" name="_edn1" title="">[i] Fundação do Ministério da Educação e Cultura.





_ednref2" name="_edn2" title="">[ii]Nasceu em Brusque, SC, em 1928, teve como mestres a Edith Reis, W. Nowinsky (violino). H. J. Koellreutter, Darius Milhaud, Aaron Copland, Peter Menin, Lennox Berkeley(composição); trabalhou nas rádios Ministério da Educação e Cultura e Roquette Pinto; foi diretor da Rádio MEC, da Orquestra Sinfônica Nacional e da Divisão de Música da Funarte. Mereceu títulos e medalhas ao longo da sua carreira, no Brasil e no exterior; ocupa a cadeira n. 34 da Academia Brasileira de Música para a qual foi eleito presidente em 1997. Sua produção, vista como neoclássica com leve tendência nacionalista, inclui obras para piano, orquestrais, música de câmara e coro à capela, entre outras.





_ednref3" name="_edn3" title="">[iii] Formado pela Universidade de São Paulo, com MA e PhD respectivamente pelo Conservatório Real de Música e  pela Universidade de Liége, Bélgica. Natural de Salvador, BA (1953), compositor, teórico e pesquisador com mais de uma centena de obras para balé, óperas, musica para conjuntos instrumentais e vocais, peças pra orquestra, música eletrônica e computacional. Foi diretor de som do Estúdio de Música Eletrônica da Emissora de Rádio e Televisão da Alemanha Ocidental (1990-1999). Uma de suas obras mais recentes é Radiance, para orquestra, encomendada pela orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo com primeira audição em 30 de setembro do mesmo ano.





_ednref4" name="_edn4" title="">[iv] A exposição de Música Contemporânea Brasileira, realizada em Ottawa em janeiro de 1980,contei com a colaboração não só da Funarte, da SBMC e do Itamaraty, mas também de inúmeros compositores que, individualmente, enviaram suas obras - partituras, discos, artigos, fotos etc. -, material que, posteriormente e com o assentimento dos autores, foi distribuído aos conservatórios e departamentos de música das universidades canadenses.





_ednref5" name="_edn5" title="">[v] Sociedade Brasileira de Música Contemporânea.





_ednref6" name="_edn6" title="">[vi] Divisão de Divulgação Cultural.




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 10Exibido 754 vezesFale com o autor