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Ensaios-->Memorial do Comunismo: A volta da ditadura czarista -- 09/08/2007 - 09:34 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os assassinos

por Jeffrey Nyquist (*) em 09 de agosto de 2007

Resumo: A saída de Putin do tratado CFE é vista como um gesto dramático que indicaria a sua desaprovação aos planos da OTAN para o sistema antimísseis. Todavia, é mais que apenas um gesto. É o primeiro passo de uma seqüência mais longa.

© 2007 MidiaSemMascara.org


Você pode ter êxito em silenciar-me', explicava Alexander Litvinenko em seu leito de morte num hospital inglês, 'mas esse silêncio vem com um preço'. Ele se dirigia ao seu assassino, o presidente russo Vladimir Putin. 'Você provou ser tão bárbaro e sem escrúpulos quanto os seus críticos mais hostis têm afirmado. Demonstrou não ter qualquer respeito pela vida, pela liberdade ou por qualquer outro valor civilizado. Você se revelou indigno do seu cargo, indigno da confiança de homens e mulheres civilizados.' Stalin dizia que uma morte era uma tragédia, enquanto um milhão de mortes eram mera estatística. O massacre do povo checheno não conseguiu despertar o Ocidente. Mas a morte de Litvinenko foi uma tragédia que chamou a atenção do mundo, ressaltando o mal que emergiu em Moscou. Privadamente, autoridades britânicas admitiram ter sido o Kremlin que enviou os assassinos que envenenaram Litvinenko com material radiativo polônio-210, em novembro de 2006. Eu trago esta história à tona, mais uma vez, por causa da indecência do presidente Bush, que considera Putin seu 'amigo'. Se reunir-se com Putin, se louvar a 'franqueza' de Putin é algum tipo de estratégia, então esta é duplamente vergonhosa. Receber um parceiro traiçoeiro não é estratégia alguma. Chamar a tudo isso de 'realismo político' é miopia suicida. Os EUA já trilharam esse caminho antes, quando Roosevelt confiou em Stalin, quando Nixon e Carter acolheram Brezhnev e quando Reagan abraçou Gorbachev. Só que a situação agora é pior. As estruturas usadas para conter a Rússia desmoronaram diante da suposição de que a Rússia é uma democracia emergente. No momento em que o ditador russo rompe o Tratado de Armas Convencionais na Europa (CFE), a OTAN é incapaz de responder adequadamente. O presidente Putin agora terá não apenas o porrete, mas também a cenoura (i.e., petróleo e gás), com os quais conduzirá a Europa à submissão.

O realista político, caso fosse verdadeiramente realista, saberia que o regime da KGB na Rússia se vê em face de uma transição difícil nos próximos meses. Putin deve deixar o cargo e novas eleições devem ser realizadas. Mas como pode ser isso? Se a história de Júlio César nos ensinou alguma coisa, é que um criminoso poderoso não pode desistir do poder sem se expor à instauração de um processo. Ele se apegará ao poder por questão de sobrevivência pessoal. Este é precisamente o caso de Putin e dos capangas que o servem. Mais e mais, o sangue nas mãos de Putin fica visível a todos, incluindo o povo russo. Os seus crimes estão sendo colocados em evidência, na Rússia e no exterior. As explosões de apartamentos em Moscou em 1999, que precipitaram a segunda guerra da Chechênia são, quase certamente, obra dele. O assassinato da jornalista Anna Politkovskaya é bastante óbvio, tanto quanto a morte de Alexander Litvinenko. 'Você pode ter êxito em silenciar um homem', declarou Litvinenko, 'mas um bramido de protesto reverberará pelo mundo...'.

Um assassinato leva a outro. Você explode apartamentos em Moscou e, para consolidar o seu regime, joga a culpa em terroristas. E então, quando investigadores começam a escavar certos detalhes suspeitos, você os mata – tal como o legislador Sergei Yusenkov, Anna Politkovskaya e Alexander Litvinenko. Você envia assassinos para matar Boris Berezovsky, o magnata russo exilado que continua a financiar essas mesmas investigações. Como eu já disse, um assassinato leva a outro; um massacre leva a outro; uma guerra leva a outra: o modus operandi assume o controle. Se a sua casa se assenta sobre uma mentira e alguém a questiona, então a sua última linha de defesa é o assassinato. Como certa vez assinalou Alexander Solzhenitsyn, o regime comunista na Rússia sobreviveu 'não porque não tivesse havido luta contra ele a partir de dentro, não porque as pessoas renderam-se docilmente a ele, mas porque ele é forte de forma inumana, inimaginável no Ocidente'. E, assim, o Kremlin não irá simplesmente regurgitar o assassino de Politkovskaya. Putin não entregará os assassinos de Litvinenko. Eles são essenciais à manutenção do seu regime. Se eles fossem revelados, o regime estaria condenado. Este é o abc da situação.

Tanto quanto uma crise econômica se aproxima dos EUA, uma crise política se aproxima da Rússia. As duas crises estão interligadas. O assassinato de Anna Politkovskaya e o envenenamento de Alexander Litvinenko prenunciam uma inevitável cadeia de eventos na Rússia – tanto quanto os expurgos de Stalin prenunciaram a Segunda Guerra Mundial. O Kremlin sabe o que está por vir, o que não pode ser evitado. A ditadura na Rússia está num caminho bem determinado, firme na interpretação de que a liberdade ao estilo ocidental é o inimigo. Portanto, o Kremlin precisa (1) explorar a crescente fraqueza estratégica americana e (2) evitar a desestabilização política que adviria do questionamento da legitimidade de um regime criminoso. Mesmo que o público russo permaneça adormecido e obediente, isso se dará apenas pelo recurso a eventos cuidadosamente planejados. E a lógica dos eventos deveria ser óbvia a todos. Por uma questão de política interna, o Kremlin precisa demonizar os Estados Unidos, rotulando a América como a sua 'principal inimiga'. Precisa também aumentar as tensões internacionais. Precisa desviar a atenção dos seus crimes, e fará isso acusando os Estados Unidos de crimes ainda piores. As acusações contra o escudo antimísseis da OTAN na Polônia são apenas o começo. Outras se seguirão. As alianças que a Rússia vem construindo com a China, Venezuela, Irã, etc., desempenharão o seu papel no devido tempo.

Os especialistas ocidentais pensam que a Rússia pode ser gradualmente trazida de volta à congregação democrática. Eles imaginam que a Rússia pode ser transformada, lentamente, numa parceira sólida e aquiescente. Mas isso não é o que dizem as cartas do jogo. A história é uma grande professora e mostra que a KGB, não importando o nome que levava, sempre esteve por perto: com Stalin, no fim da liberalização econômica (NEP) nos anos 20; ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando Moscou prometia democracia à Europa Oriental; depois que Khrushchev denunciou os crimes de Stalin e anunciou uma política de coexistência pacífica; e depois da aparição do 'comunismo com uma face humana' na Tchecoslováquia, em 1968. As promessas eram sempre enganosas e foram sempre rompidas. O pouco que é concedido é usado como engodo, como isca. Sob qualquer ditador, o Kremlin tem o seu método: reverte a liberalização econômica dos anos 20 com episódios tais como a grande fome da Ucrânia e os expurgos stalinistas nos anos 30; anuncia a democracia na Europa Oriental enquanto ali estabelece várias ditaduras comunistas; denuncia Stalin e alardeia a coexistência pacífica, para em seguida erguer o Muro de Berlim, armar o Vietnã do Norte e instalar mísseis em Cuba; finalmente, esmaga a liberalização tcheca sob colunas de tanques.

Vladimir Putin cancelou o Tratado de Armas Convencionais na Europa (CFE) porque as forças armadas russas estão sendo renovadas. Elas agora têm novas armas, soldos melhores e moral elevado. Enquanto isso, a OTAN não está preparada. Os Estados Unidos não estão psicologicamente preparados. A saída de Putin do tratado CFE é vista como um gesto dramático que indicaria a sua desaprovação aos planos da OTAN para o sistema antimísseis. Todavia, é mais que apenas um gesto. É o primeiro passo de uma seqüência mais longa. Com mais algumas acusações e reclamações, o líder russo pode iniciar a movimentação de divisões blindadas na direção do Ocidente. Ele pode aplicar pressão militar direta para incrementar a pressão econômica. Ele pode apertar a Europa. Ele pode entrar na Sérvia e trazer os sérvios para dentro da própria Federação Russa. Ele pode reafirmar a antiga 'esfera de influência soviética'. Ele pode empregar um tipo de chantagem sutil ao assassinar seus críticos por toda a Europa.


© 2007 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM.


(*) Jeffrey Nyquist é formado em sociologia política na Universidade da Califórnia e é expert em geopolítica. Escreve artigos semanais para o Financial Sense (http://www.financialsense.com/), é autor de The Origins of The Fourth World War e mantém um website: http://www.jrnyquist.com/


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