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Ensaios-->Lula, o Capitão do Mato, a serviço de Fidel Castro -- 09/08/2007 - 08:28 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Capitão do Mato

por João Nemo (*) em 08 de agosto de 2007

Resumo: No caso dos atletas cubanos que desertaram, o governo brasileiro comportou-se como um verdadeiro capitão do mato, devolvendo os escravos ao seu senhor rapidamente, sem maiores questionamentos.

© 2007 MidiaSemMascara.org


É o dono do matagal
É guardião do embornal
É o chefe da guarnição.
Ele é da casa real
Ele é quem briga com o mal
Ele é o meu Capitão...

(Paulo César Pinheiro/Vicente Barreto)


Os órgãos de propaganda dos países comunistas sempre tiveram uma dificuldade intransponível a superar no seu proselitismo político: explicar porquê tantas pessoas, se puderem, saem correndo do paraíso seguro que oferecem para se aventurar no vale de lágrimas do perverso capitalismo. Era assim em todos os países do leste europeu; era assim, principalmente, na Berlim dividida por um muro equivocadamente comparado com outros que têm sido propostos recentemente [*]. O muro de Berlim não era para tentar barrar a entrada de imigrantes ilegais, como se propõe a ser um muro na fronteira americana com o México; também não era para criar barreiras para palestinos indesejados nos assentamentos judaicos. Nesses casos, por antipáticos que sejam, falamos de obstáculos para alguém entrar quando não é desejado. No muro de Berlim havia tecnologia e polícia, com ordem de atirar, visando impedir pessoas de sair. Esses regimes se consideram proprietários das pessoas e na sua lógica distorcida, quando alguém os rejeita é como se estivesse roubando. Na verdade, a res furtiva é o próprio fugitivo.

Temos no Caribe, ainda, uma espécie de reserva de preservação desse modelo exótico, que fora de lá não morreu, mas tornou-se camuflado e esquivo. Às vezes mais camuflado, como nos sonhos dos nossos petistas, e sempre esquivo até firmarem a mão no poder com a segurança que almejam. Só o Napoleão de hospício venezuelano alimenta fantasias regressivas de retorno a um padrão mais puro. Deus permita que sejam apenas fantasias e assim as chamarei enquanto tiver esperanças de vê-las frustradas.

Já fiz menção aqui, certa feita, ao meu primeiro patrão: o relojoeiro rumeno que, quando ainda não era crime admitir menores, contratou-me para servir de office-boy. Graças a ele tive minhas primeiras responsabilidades; graças a ele freqüentei os sebos do centrão velho de São Paulo durante minhas incursões de trabalho, gastando o dinheiro da condução e retornando a pé para a Rua da Mooca. Bom exercício para o corpo e para o espírito. Mantive com ele uma relação de amizade e carinho que só se encerrou quando os anos o levaram, como já levaram tantas coisas que me foram caras. Durante as longas conversas que mantínhamos, sem que interrompesse o trabalho fascinante dos antigos relojoeiros, montando com a lupa num dos olhos as pequenas peças suíças, ele muitas vezes satisfazia a minha curiosidade relatando os episódios vividos durante a Guerra e a sua permanência no país ocupado pelos russos e mutilado pelo regime. Considerava-se, apesar de tudo, um afortunado em ter podido sair, quando tantos outros não haviam tido essa oportunidade. A descrição das peripécias e riscos a que algumas pessoas se submetiam tentando, se possível, levar ao menos alguns objetos e valores, superam em muito as cenas do filme produzido por Andy Garcia - 'A Cidade Perdida' - que retrata o início do regime em Cuba. Só conheci dois rumenos de nascimento na minha vida: ele e o escritor Constantin Virgil Gheorghiu, autor do livro 'A Vigésima Quinta Hora'. Em ambos os casos, notei um sentimento de amor intenso pelo seu país de nascimento. Era como se falassem de um ser vivo pelo qual nutriam uma espécie de amor carnal e, também, expressavam a mesma melancolia e sentimento de injustiça para com o destino que a história havia reservado a esse pedaço de chão.

Quando vejo os cuidados e artifícios usados pela delegação cubana para evitar deserções, o volume desproporcional de supostos 'dirigentes', a retenção de passaportes, o tipo de relação controlada que mantém nos contatos, recordo com facilidade os relatos do meu velho amigo e patrão. Salvo engano, o último acesso que tiveram à internet foi a armadilha que revelou a necessidade de uma saída atabalhoada e às pressas, com todo o ridículo decorrente, inclusive, de não irem receber merecidas medalhas.

Hoje pela manhã acordei com os comentários de um dos melhores jornalistas políticos que temos: José Nêumanne Pinto, com quem tive o prazer de conversar uma vez já há uns bons anos. É culto, inteligente, capaz e corajoso. Eu diria que hoje dispomos de poucos assim. Criticava, com propriedade, o fato da nossa Polícia Federal ter sido usada, sob as ordens do grande pensador jurídico e ministro Tarso Genro, para deter e devolver às autoridades cubanas os dois pugilistas fujões que pensaram poder evadir-se aqui e mostrava como isso foi triste, mesquinho e vergonhoso; como foram ignorados quaisquer princípios dos tão falados direitos humanos. É como se o governo cubano fosse, após os jogos, a uma seção de achados e perdidos e esta lhes devolvesse objetos de sua propriedade casualmente extraviados. Alguns jornais noticiaram que os atletas estavam arrependidos. Eu também estaria se tivesse sido pego.

José Nêumanne, porém, fez uma comparação que me parece indevida. Cita, para mostrar a incoerência da esquerda, o fato de que teriam sido vítimas de um ato supostamente parecido com os da tal 'Operação Condor' que, como todos sabem, foi um esquema de cooperação entre as polícias dos regimes militares vigentes no Cone Sul para alcançarem os opositores armados do regime. Sem entrar no mérito do que diz respeito aos regimes de então, o fato é que essas vítimas da dita Operação Condor, afinal, eram acusados de seqüestros, roubos a bancos, detonação de bombas etc. Ou seja, até que fossem inocentes, o que não me parece ser o caso, estavam 'acusados' de crimes. Ora, de que estão acusados os atletas evadidos de Cuba? Se fossem criminosos, mesmo em um regime de plena democracia, todos apoiaríamos a colaboração entre polícias embora, até nesses casos, sejam necessários rituais jurídicos de extradição.

O governo brasileiro prestou-se, na verdade, a um papel muito pior. A comparação correta é com os antigos Capitães do Mato: aqueles homens que recapturavam os escravos fugidos e os devolviam ao proprietário e à justiça se fosse o caso. Os atletas foram capturados, sem documentos porque sem documentos os deixaram e devolvidos aos 'proprietários' rapidamente, sem fazer marola. Ninguém mexeu uma palha por eles, exceto o ministro, é claro, já que estavam arrependidos.

Se eu fosse cubano e atleta, esqueceria as outras modalidades e estaria treinando canoagem, no que eles se mostraram bastante competitivos e, afinal, talvez seja mais seguro remar até Miami do que tentar escapar em países como o nosso, onde clandestinos são bem vindos apenas se forem 'companheiros'.


[*] http://www.youtube.com/watch?v=qwX4jTuyicg&mode=related&search

http://www.youtube.com/watch?v=4FfeF_KZENI&mode=related&search=


(*) João de Oliveira Nemo é sociólogo e consultor de empresas em desenvolvimento gerencial.



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