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Ensaios-->Memorial do Comunismo: Volta aos anos 70 -- 01/08/2007 - 15:27 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Volta aos 70

Janer Cristaldo (*)

http://www.baguete.com.br/coluna.php?id=225413&nome=janercristaldo
07/04/2003

Algum leitor ainda lembra dos anos 70? Quando quem quer que dissesse que Cuba financiava os ditos movimentos revolucionários no Brasil era tido como porco imperialista? As ligações das esquerdas com Cuba – e não só Cuba, mas com Moscou, Pequim, Argel, Praga – eram óbvias. Mas ai de quem ousasse afirmar o óbvio. Era imediatamente inserido no índex das esquerdas. Fosse escritor, não tinha mais editora. Fosse jornalista, não tinha mais jornal. Na época nasceu inclusive um gênero literário, os relatos de viagens à Cuba. As livrarias chegaram a instalar estantes especiais para abrigar o novo gênero. Quem inaugurou este filão foi Fernando Morais, em 1976, com A Ilha, livro-ícone das esquerdas, que logo despontou como bestseller. Claro que o livro não falava dos assassinatos de Castro, dos milhares de prisioneiros políticos, das torturas e da ditadura. Se falasse, não seria bestseller.

Fernando Morais mais tarde escreveu Olga, suposta biografia de uma oficial do Exército Vermelho, postada no Brasil a mando de Stalin, e vista pelo autor como uma heroína e mártir, vítima de Getúlio Vargas e do nazismo. O autor faturou altas somas com sua literatura ao gosto da época. Seus editores também, afinal nenhuma lei proíbe neste país publicar livros que mentem. Hoje, Morais escreve uma biografia de Antônio Carlos Guimarães. Se pagar bem, que mal tem?

Mas falava de Cuba. Caía também muito mal na época dizer que alguém era agente do governo cubano. Ou que Cuba fornecia armas e treinamento à guerrilha brasileira. Pois não é que, semana passada, um conhecido agente dos serviços de segurança cubanos, José Dirceu, atual chefe da Casa Civil, declarou alto e bom som que a geração que chegou ao poder com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve muito à Cuba? Lembrou ainda que nos anos do regime militar a esquerda teve a solidariedade de Cuba com sua “mão amiga” e seu “braço forte”:

- A geração que chegou ao poder com Lula é devedora de Cuba. E me considero um brasileiro cubano e um cubano brasileiro.

Em bom português: o chefe da Casa Civil do atual governo admite, urbi et orbi, que a ascensão do PT ao poder se deve aos bons ofícios da mais antiga ditadura do continente. Verdade que esqueceu – ou propositadamente omitiu – de dizer, que antes mesmo de os militares tomarem o poder, Cuba já estava enviando armas para a guerrilha brasileira. E esta é a pedra de toque do PT. Não pode admitir que a intervenção de Cuba era anterior a 64. Se admitir, cai por terra sua tese de que a guerrilha foi uma reação ao regime militar. Quando o que ocorreu foi exatamente o contrário.

Nada como o poder para tornar seus detentores mais falantes. Justo nestes dias, em que 78 “dissidentes” cubanos, presos em março passado, são acusados pelo regime de “atos de traição” e arriscam uma prisão de dez anos até a prisão perpétua. Dissidentes é o eufemismo preferido pela imprensa para designar opositores políticos, militantes de direitos humanos, escritores e jornalistas independentes. (O leitor, se lê jornais, já deve ter notado que dissidentes só existem em países socialistas). Diplomatas e jornalistas estrangeiros tentaram assistir aos processos em Havana, mas não tiveram acesso aos tribunais. A esta Cuba que manda para a cadeia quem quer que faça oposição ao regime, diz-nos o cubano-brasileiro José Dirceu, o PT deve sua vitória. Na Europa e Estados Unidos, a imprensa e entidades de direitos humanos protestam contra a escalada da ditadura. No Brasil, profundo silêncio.

Não bastasse o comovido preito prestado pelo chefe da Casa Civil à ditadura cubana, Oliver Stone lançou há pouco, no festival de cinema de Berlim o mais recente hagiológio ao ditador, Comandante. Durante três dias, o cineasta americano acompanhou o ditador – perdão, o líder cubano – e disto resultou um documentário de 90 minutos. Interrogado sobre a existência de tortura em Cuba, Castro negou sua existência. Esperaria o cineasta que el Comandante admitisse ser um torturador? Esta pergunta deveria ser dirigida aos ditos dissidentes, personagens que Stone não se preocupou em entrevistar. Quanto à sua condição de ditador, coisa que a imprensa brasileira mal ousa falar, Castro já parece admitir. “Será mau ser um ditador?” – pergunta-se ao final do filme. El Comandante acha que não. “Vi os Estados tornarem-se muito amigos de alguns ditadores”. Ícone dileto da imprensa, Castro já pode dar-se ao luxo de se assumir como tal. É intocável.

Não bastasse o filme de Oliver Stone – que certamente será visto e aplaudido por este grande amigo e admirador de Castro, o presidente Luís Inácio Lula da Silva – estaremos financiando Os Diários da Motocicleta, o novo road movie de Walter Salles, aquele senhor oriundo de uma família de banqueiros que, na hora de produzir seus filmes, não pede financiamento ao banco do papai, mas vai buscá-lo no bolso do contribuinte brasileiro. O roteiro é baseado no livro De Moto pela América do Sul, diário de uma viagem de Che Guevara pelo continente, em seus 23 anos, quando o futuro apparatchik argentino sob as ordens de Moscou sequer imaginava que um dia seria celebrado como santo, San Ernesto de la Higuera. Se o leitor quiser um dia ler uma coletânea de fracassos, leia uma biografia do Che. Fracassou em todos seus projetos, exceto em Cuba, esta mesma Cuba que meio século após sua luta continua mandando para o cárcere quem quer que se oponha à vontade do soberano da ilha. Ou seja, a única vitória do Che revelou-se um desastre colossal.

Não bastasse esta homenagem ao colecionador de fracassos, que certamente constituirá material didático para as Comunidades Eclesiais de Base e para a guerrilha católica do MST, a Ediouro está publicando Outra Vez, continuidade do diário do homem que, não contente de levar uma ilha ao desastre, queria afundar o continente todo. A viagem começa em 1953, na Bolívia, e termina no México, onde Che conheceria Fidel Castro, em 1956. Ou seja, nestes dias de PT no poder, pelo jeito teremos um revival dos 70. Se a história da África já se tornou matéria obrigatória nas escolas, não seria de espantar que alguma viúva saudosista proponha uma nova disciplina, a história de Cuba, para manipulação das gerações emergentes.

Triste país este nosso. Há 14 anos caiu o Muro de Berlim, há 12 anos desmoronou a União Soviética. Alheias à história que passa sob seus narizes, nossas elites insistem em cultuar os últimos remanescentes empedernidos de uma doutrina que provocou a morte de apenas cem milhões de pessoas no século passado.


(*) Janer Cristaldo é jornalista, escritor e tradutor.


Obs.: Que maldita ditadura militar era essa, que permitia que os jornais, as universidades e os centros culturais fossem comandados por comunas? Isso prova que nunca existiu uma ditadura pra valer no Brasil, mas uma 'ditabranda', expressão inventada pelo jornalista e ex-deputado Márcio Moreira Alves. Se no Brasil tivesse existido uma ditadura pra valer, os comunas nunca teriam dominado, ainda na década de 1970, os meios de comunicação social (F. Maier).



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