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Ensaios-->O desastre do aparelhamento do Estado -- 01/08/2007 - 11:35 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O desastre do aparelhamento do Estado

Jarbas Passarinho (*)

Jornal do Brasil, 31 de julho de 2007

Não direi que, nos governos democráticos contemporâneos, temos tido todos os ocupantes de primeiro e segundo escalões do Executivo sido tão competentes quanto deles se exigia a função que exerceram. Seria indelicado citar nomes, mas a grande maioria de auxiliares era competente.

Conheço um mestre de obras, já de idade avançada, que costuma dizer que o operário se conhece pela maneira de pegar na ferramenta. Mas a administração petista tem posto em funções importantes do Executivo pessoas que ocupam essas posições exclusivamente pelo mérito de serem militantes do PT. Só para dar um exemplo da maior atualidade, veja-se a quem está entregue a Anac, a julgar pela farta referência a ele feita pela mídia. Dizem-no incapaz de dirigir uma agência da importância da Anac, agravada pelos graves problemas que têm afetado, até de modo terrivelmente dramático, os dois maiores desastres da aviação brasileira em todos os tempos.

Além da possível responsabilidade na tragédia com o avião da TAM, que causou a morte de mais de 180 passageiros e tripulantes, os jornais mostravam na mesma ocasião uma festa onde sobressaía uma senhora tragando charuto em exibição de seu belo porte em meio a admiradores do convescote. Ocorre que é diretora da Anac, a compensar a sua estafante tarefa numa noite de confraternização, exatamente no momento em que no aeroporto de Congonhas o pânico popular dominava as testemunhas visuais do terrível acidente.

Terá sido, guardadas as diferenças de natureza cruel e imoral, situação semelhante ao do assessor íntimo do presidente da República, comemorando precipitadamente, aliás, o que considerou a ausência de responsabilidade do governo no desastre horroroso. Provas de nível baixo de comportamento.

Parece que essa gente se instruiu na história grega da vocação obscena, pois a essas suas provas de insensibilidade prazerosa acrescenta-se a frase da sexóloga ministra do Turismo. O sofrimento das famílias enlutadas ou dos passageiros tomados da desorganização nos aeroportos, com atrasos da ordem de 11 horas para a decolagem ou do puro e simples cancelamento dos vôos, só merece desses altos funcionários do governo a exibição dos decotes da ilustre fumante de charutos certamente cubanos da quota de presentes do companheiro Fidel, o gesto obsceno em que é familiarizado o ministro leigo do Itamaraty do B e as aulas de sexologia vividas como compensação por vítimas de seqüestros com violência sexual. Isso vindo de quem explorou zombeteiramente a advertência de Paulo Maluf aos seqüestradores: 'Seqüestra, mas não mata'.

Raymond Aron, em seus Estudos sociológicos, lembrando procedimentos humanos na Revolução Francesa, diz que 'a burguesia constituía uma minoria privilegiada na sociedade pré-revolucionária que ocupava, antes da Revolução, posições de comando e de prestígio. A revolução deu aos burgueses o poder político antes próprios do rei e dos nobres. Mas, ao assumir esse poder, os burgueses mantiveram-se como burgueses. Ao contrário, os proletários deixam de viver como proletários no dia em que dirigem uma fábrica, um truste ou um ministério. Os burgueses no poder permanecem burgueses. Os proletários, no poder, deixam de sê-lo'.

Neste país não houve revolução, mas apropriação do poder. O aparelhamento do Estado, como técnica gramsciana de ocupar o poder, misturou proletários e burgueses e está dando no que dá, contribuindo, pela incapacidade, para os desastres; divertindo-se com as agruras do povo ou comemorando com gestos habituais ao seu nível de intimidade. Despreza centenas de cadáveres para comemorar suposta irresponsabilidade do Estado acusado, através das estatais envolvidas, pela entrega do aeroporto antes de concluídas as obras, por não ter feito na pista a ser utilizada as ranhuras do cimento que servem, na aterrissagem com pistas encharcadas de água da chuva, de auxílio suficiente para frear o avião e drenar a água.

Isso somente não terá sido suficiente para derrubar a aeronave, mas seguramente contribuiu para o tremendo desastre que se soma ao da colisão do avião da Gol com o jato Legacy, contribuindo fortemente para desfazer a tradição de segurança de que a aviação comercial do Brasil gozava no mundo.


(*) Jarbas Passarinho é escritor e foi ministro, senador e governador.



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