Todo o tempo do Mundo
( para Isabel que vê os anjos de Wim Wenders )
Tinham eles para viver à sombra e contemplar a árvore.
Nudez pública para olhares outros que não os seus.
Observados por anjos, pois estavam presos em terra.; pois não tinham asas.
Delas sentiam falta para girar no paraíso.; e isso fazia-os infelizes.
Círculo menor, olhares oblíquos, sempre observados.
Folhas pisadas, esmaecidas, caídas, frutos não comidos.; faltavam-lhes asas. E isso fazia-os infelizes.
Olhares torcidos à altura dos olhos.; apenas... Só os tinham para a árvore, momentos únicos em que não pensavam em asas.
Tinham todo o tempo do mundo para estar no céu, para não ter fome.
Tinham tudo para não pensar em asas... descobriram-as por acaso.; um descuido de um anjo caído .
Fome de luz, de asas, de subir além-árvore, olhares cruzados à linha de cinturas.; fome, desejos...
Nunca teriam asas.; nunca estiveram lá, olhares esvoaçantes não os deixaram perceber.
Foram condenados a se reproduzir em silêncio.; pois não eram anjos.
Cal, Ago-10-1998.
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