De Tanto Ser
...Uns tantos momentos vividos não foram
suficientes para perceber tudo.; para ter o
máximo de recordações. Aqui e ali, os
olhos embotavam-se em visões sem datas,
sem vestígios.; em silêncio.
Na visão de mundo em que vivia
perdido em reminiscências cotidianas,
como ondas, como passos que não via,
que avançavam incontidas.; doidivanas.
Ter não tinha por que temer,
as lembranças estavam lá porta a dentro,
vestígios à mostra, licor de menta, pra ter
gosto delas, sentí-las de perto, fel, cruento.
O relógio partiu às seis, junto com o trem.
Apito vespertino de quem foge às pressas,
de não deixar vestígios, badaladas e amém,
do campanário branco a se perder depressa.
Come-ferro, cospe-fogo, estômago em brasas,
o destino que o levasse, desatino, viu depois.
Tempo de se consumir, dando asas
à imaginação, já então muito depois.
Tinha que ter falado, palavras de trinta anos.
Não tinha mais a formação lógica
impostas em frases no espelho.; de enganos.
Morreu o sorriso na boca trágica.
De tanto ser, experimentando viver
sem essas lembranças, por não ter esquecido-as.
Entornar a garrafa não ajudaria esquecer
que não deveria ter estado lá.; vivido-as.
Cal, Set-21-98.
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