Olho para Vênus numa noite gostosa, bela, céu limpo. O frio menos intenso favorece a admiração do domo celestial coberto de diferentes flashs luminosos. Vênus perto do poente e Lua se aproximando do nascente. Beleza pura! Logo teremos Lua Cheia. Dias atrás, Lua e Vênus dividiam o mesmo espaço celeste, em Leão. Hoje, com o Sol em Câncer, a Lua caminha para Capricórnio para fazer uma Lua Cheia dentro de alguns dias. Enquanto isso, Vênus brilha no céu, poderosa! E, sabendo que Vênus se encontra na constelação de Leão, a estrela da manhã brilha mais do que nunca. Ah, penso, se eu pudesse falar com Vênus... Eu diria que adoro este céu de inverno iluminado pela luz venusiana. E que há pontos em que precisamos conversar e nos entender. Não sei bem como e nem porque, mas o silêncio me incentiva a continuar a admiração e o murmúrio. Você, minha Vênus querida, não representa a doce Afrodite, aquela que, de acordo com os mitos, é nascida da espuma do mar? Você não é aquela que traz todos os deleites sexuais, as alegrias sensuais? Você não é a deusa do amor? Então, aproveito o instante mágico para lhe perguntar: onde nós, seres humanos, estamos errando, minha querida Vênus? Ah, se eu pudesse lhe perguntar mesmo, certamente gostaria de saber se o modelo de amor que adotamos aqui na Terra é o mais adequado. Você está me dizendo que eu posso falar consigo? Como é isso? Bem, não importa... Querida Vênus, me responde, então, se esse modelo que assumimos nos leva ao atrator coerente que tanto buscamos, a nossa realização pessoal e divina. Diga-me, responda-me, por favor. Será que o que dizemos que é pecado em termos de amor, paixão, sensualidade e sexo, tudo que você tão bem representa, não foi uma invenção de alguns homens para que pudessem continuar comandando seus semelhantes através da repreensão e da culpa? E não poderia ser que desde então, o ser humano estaria vivendo esse arquétipo coletivo sem dele ter consciência? Como, minha donzela, o sensual natural e divino poderia ser pecado? Como a beleza da pura sensualidade poderia estar na contramão da evolução do ser humano? Há algo errado por aí, eu sei. Você poderia me dizer nesta noite maravilhosa algo sobre isso? Ao menos você poderia me sussurrar algo, uma dica, uma pista? Você acha, por exemplo, que Jesus não seria o Cristo se tivesse tido um romance com Maria Madalena? E se teve, porque o ser humano tem tanto medo disso? Onde estaria o erro, o pecado? Isso seria uma blasfêmia ou a blasfêmia estaria no desprezo de tal possibilidade? Puxa, olha só as perguntas que eu lhe faço. Que coisa... Perguntas que eu jamais lhe faria anos atrás. Acho que cresci, minha querida Vênus, por isso ouso lhe falar. Quem ousa perguntar, já está próximo de saber, não é mesmo? Mesmo que eu não esteja ouvindo nada concreto ainda, algo chegou a mim, eu sinto. Acho que esta minha fala não é um simples solilóquio. Diz Jung que um diálogo na busca de soluções se inicia com um solilóquio. No fundo, acho que estou ouvindo alguns rumores, sussurros, algumas luzes se fazem mais fortes que outras, me parece. Seriam as pistas que preciso? Humm, acho que sim... Estou indo bem, não? Afinal, novas perguntas abrem caminhos, novas frentes de evolução. Aos incautos que me vêem solitário e olhando para o céu, entretanto, eu digo que estou simplesmente maravilhado com o espetáculo e que gostaria muito de poder falar com Vênus.
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